Edições Anteriores
CONTROLE - QUESTÃO DE SEGURANÇA NACIONAL
rev 98 - abril 2006

Os prejuízos advindos do mal da gripe aviária na Europa e da febre aftosa no Brasil, com reflexo direto nos dois mais importantes segmentos da produção pecuária do país, trouxeram à tona uma constatação a respeitos das deficiências do governo brasileiro para lidar com os problemas que envolvem a saúde animal.

Mas, quem dera fossem esses os únicos problemas dessa natureza a causar prejuízos ao setor de pecuária. Além das doenças provocadas por vírus uma grande quantidade de outras espécies atacam os rebanhos de criação pelo país, causando estragos na mesma proporção, só que de uma formar mais silenciosa.

Na criação extensiva ou mesmo nos confinamentos o risco dos animais serem acometido por uma verminose ou por parasitas que agem externamente caso do carrapato, berne e da mosca-dos-chifres é constante.

Sendo assim o controle sistemático sobre o rebanho é apontado como condição fundamental para a manutenção dos índices de produção nas fazendas de criação. Agora, uma pergunta que se faz recorrente no campo é qual programa de controle sanitário que oferece a melhor relação custo beneficio ao produtor? Estudos realizados por empresas do setor e institutos de pesquisa, mostram que na relação de custos da propriedade o controle sanitário responde por 2% a 4%, valor considerado irrisório pelos especialistas para que o produtor negligencie a saúde dos seus animais.

Paulo Colla que é médico veterinário, por acompanhar grandes projetos de criação pecuária, fala que o primeiro passo para o produtor garantir um controle sanitário eficiente no rebanho, não importa o tamanho do projeto, é buscar o auxílio de um médico veterinário. Isso porque o grande objetivo de um controle estratégico no rebanho é sempre a prevenção. Segundo ele, o tratamento profilático é sempre muito mais barato do que o curativo que demanda investimentos em tempo, mão-de-obra e capital. “O produtor deve se pautar pela prudência”, exclama o veterinário que aponta a falta de um trabalho de extensão rural como o principal limitante para o desenvolvimento de algas regiões.

O professor Romário Cerqueira Leite do departamento de doenças parasitárias da escola de veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), comunga da mesma opinião. Para ele depois que os animais já estão apresentando sintomas não adianta mais o criador “correr atrás do prejuízo”. Nos últimos dois anos o pesquisador viajou por mais de 15 estados brasileiros, que juntos representam mais de 70% do rebanho de corte do país, para participar de simpósios e palestras sobre o protocolo “5,7,9” (referência aos meses do ano que se deve fazer a dosificações) desenvolvido pela equipe do professor Ivo Biachim, do Centro Nacional de Gado de Corte CNPGC, Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS.

Há muito tempo o CNPGC desenvolve pesquisas nos rebanhos da região do Brasil Central, com animais zebuínos e mestiços (½ sangue zebu x taurino), para avaliar qual a melhor relação custo benefício na aplicação dos vermífugos, destaca o professor. O resultado desse trabalho indica que o melhor esquema de controle de helmintos, para animais zebuínos, deve englobar o período seco do ano. A pesar das raças européias apresentarem uma maior fragilidade ao ataque desses agentes essa regra vale também para elas.

O professor da UFMG defende o controle estratégico com três dosificações anuais fixas, uma primeira no início da seca outra durante a seca e a última no início das águas. Quanto ao uso de outros protocolos ele acha que não é certo abrir polêmica quanto à eficácia de um ou de outro, pois o Brasil possui uma indústria farmacêutica séria e por isso o criador precisa mesmo é se preocupar com os medicamentos de procedência duvidosa (piratas).

Ambos os especialistas concordam que um controle sobre os parasitas depende de um estudo sobre as condições endêmicas que envolvem a propriedade. Não existe, nem pode existir, um calendário sanitário engessado pela resistência que esses agentes criam sobre o princípio ativo dos medicamentos. “Seria muita pretensão achar que é possível erradicar espécies que povoam a terra, muito antes do homem se quer existir”.

Os estudos sobre epidemiologia devem respeitar as variações climáticas, aporte de vermes nos animais, através de exames laboratoriais, além do índice das populações que vivem no ambiente. Esse último caso pode ser determinante para o controle das infestações no rebanho já que apenas 5% dos vermes chegam a parasitar o animal. O restante ou fica nas pastagens ou retornam a ela junto com as fezes dos animais infestados. O exame de OPG (exame de fezes) deve ser feito pelo menos a cada dois meses no rebanho. O professor da UFMG mostra que para se evitar gastos desnecessários o exame por amostragem é mais indicado. Uma forma de fazer isso é passar um lote pelo tronco e a cada dez animais pegar amostra de um. Isso vai possibilitar se ter um índice por amostragem bastante significativo para identificar a espécie e o grau de infestação.

Além desse controle é indicado também que o pecuarista faça dosificações estratégicas nos bezerros, a partir da desmama, e nas vacas na fase do periparto. No primeiro caso essa dosagem é importante para evitar a mortalidade precoce dos bezerros causada por vermes que parasitam o sistema gastro-intestinal. Já no segundo o risco não está tanto na perda do animal e sim no risco de infestação pela perda de imunidade comum nas vacas depois da gestação. Segundo Leite, uma vaca adulta defeca cerca de 10% do seu peso por dia. Ou seja, uma vaca adulta que pesa cerca de 500 quilos libera no pasto 50 quilos de fezes diariamente o que, nos casos de infestação, pode significar um grande risco de contaminação ambiental.

As perdas dependem da espécie. Por isso é importante que se faça a análise epidemiológica da propriedade. Quanto ao uso dos medicamentos, é importante que o pecuarista encare esse custo como investimento, insumo de produção, que vai lhe trazer retorno lá na frente. O problema é a cultura do pecuarista brasileiro de ainda olhar esses produtos como remédio, destaca.

O dia-a-dia das fazendas

No campo prático ainda são comuns as perdas precoces de animais nos rebanhos por problemas causados por verminoses ou por decorrência das chamadas doenças oportunistas que acometem os animais debilitados. E a melhor forma de se medir a gravidade do problema é acompanhar os índices zootécnicos comparando a pecuária comum daquela pratica com uso de tecnologias na sua gestão. Os índices de mortalidade do rebanho até a desmama, por exemplo. Na média nacional o índice gira entre 8% e 10%. Esse número nas propriedades que fazem uso do controle estratégico de pragas e doenças cai para 2%. Outro número que funciona como indicativo da importância dessas ferramentas para o produtor aumentar o giro da fazenda é o índice de fertilidade do plantel. Em muitas regiões do Brasil as fêmeas dão a primeira cria somente aos 48 meses. Em muitas fazendas que usam alta tecnificação esse tempo já foi reduzido pela metade para os 24 meses, com uma taxa de prenhes superior a 85%. A redução na idade abate dos quase 50 meses para 18 a 20 meses é outra conquista da pecuária moderna. Isso já possibilita para as propriedades apresentarem taxas de desfrute superior a 40% o que na pratica significa maior rentabilidade para o negócio do criador. Na fazenda Shangrilá, de Piraju, SP, o criador Marcos Graça, mantém um controle sanitário para seu plantel de 180 animais Santa Gertrudis PO (elite) e 120 animais ½ sangue (comercial) com tudo que tem direito. Marcos fala que para ele o bem estar dos seus animais vem em primeiro lugar. O protocolo seguido na fazenda segue as três vermifugações fixas para os animais no pós desmama, além das dosagens extras, feitas em períodos considerados críticos na vida dos animais.

Segundo Graça a preocupação é sempre com os parasitas externos, principalmente carrapatos e bernes, uma vez que o criador não tem problema com a mosca-dos-chifres. Ele explica que, o amplo espectro dos medicamentos usados no controle, permite que o controle sobre as verminoses seja feito de tabela. O gasto atual na fazenda com a sanidade do rebanho de matrizes comerciais é de R$ 40,00. Isso inclui as duas vacinas de uso obrigatório contra febre Aftosa, duas contra Raivas e duas contra Carbúnculo Sintomático, causador da manqueira. No rebanho elite o criador segue um protocolo adicional que eleva esse valor para mais de R$ 120,00, valor gasto com vacinas reprodutivas e outras aplicações extras de medicamentos.

A primeira dose é feita no bezerro até 24 horas depois do parto junto com a pesagem a trato do umbigo. A segunda aplicação acontece na ocasião da segunda pesagem aos 120 dias e depois somente na ocasião da desmama o que totaliza três vermifugações. A partir daí segue o calendário de três aplicações por ano até a fase do abate, explica Graça. No rebanho PO o intervalor diminui um pouco. Os bezerros recebem também as aplicações de segurança até 48 horas após o parto e depois são vermifugados a cada 60 dias até os 18 meses. Esse custo o criador diz não contabilizar por que os animais de pista são um hobby.

Na avaliação do consultor Mauricio Palma Nogueira, da Scot Consultoria a relação custo benefício para os pecuaristas que usam tecnologia é sempre positiva. Palma mostra a importância mercadológica do controle sanitário numa amostragem que pega os números do setor de 1995 até 2005. Nesses dez anos o rebanho passou de 158 milhões de cabeças para 191 milhões, crescimento de 20,89%. Os abates, em milhões de cabeças, cresceram 54,68% de 27,54 milhões para 42,6 milhões. A produção de carne por tonelada também cresceu passando de 6,1 milhões de toneladas para 9,7 milhões de toneladas, mostrando, inclusive, que houve aumento na produtividade, o que significa animais sendo abatidos mais pesados.

De acordo com o consultor na outra ponta está o criador muitas vezes esse tipo de informação não chega e quando chega não esclarece todas as dúvidas. E como quem paga a conta é o pecuarista é importante que esse trabalho de levar tecnologia para o campo seja mais pragmático por que se não tiver ganho o produtor não faz. “É preciso desmistificar na cabeça do criador que comprar medicamento veterinário não causa de problema na propriedade”,conclui Palma.


Edicões de 2006
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES