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AMENDOIM - O DESAFIO DOS PRODUTORES
rev 97 - março 2006

O amendoinzeiro (Arachis hipogea L.) é hoje uma das mais importantes oleaginosas, sendo a quarta mais produzida, perdendo apenas para a soja, o algodão e a canola. Participa com 10% da produção mundial de óleo comestível, com uma produção em torno de 23,5 milhões de toneladas/ ano, sendo os principais produtores a Índia, a China e os Estados Unidos. O Brasil já chegou a ser o sétimo produtor mundial de amendoim. Atualmente, a produção nacional é em torno de 150.000 t/ ano, sendo São Paulo o principal produtor, com 80% do mercado.

Para muitos produtores, o amendoim é uma cultura muito interessante e vem chamando a atenção de pequenos e médios agricultores, principalmente quando o assunto é a rotação de cultura com a cana-de-açúcar, além de ser uma cultura de ciclo curto, resistente à seca e de adaptabilidade ampla. Hoje, a tendência de aumento das áreas de cultivo de amendoim em outros Estados brasileiros, principalmente Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Bahia. “É uma cultura que pode beneficiar milhares de pequenos produtores, com 1,0 a 3,0 ha. O custo de produção é relativamente baixo na pequena produção, situando-se em torno de R$ 400,00/ha, com os maiores gastos com a compra das sementes e com mão-de-obra, que na pequena produção é familiar”, comenta João Luiz Furco, produtor da região de Dumont, SP, uma das principais regiões produtoras.

Na opinião de Furco, o amendoim serve, principalmente como rotação de cultura e se encaixa perfeitamente no ciclo de descanso de área destinada à cana-de-açúcar. “O ciclo do amendoim gira em torno de 120 a 130 dias. É a cultura exata para a rotação, principalmente porque arrasta para o solo toda matéria orgânica, como o nitrogênio, necessário para o cultivo da cana-de-açúcar. É um casamento perfeito”, diz o produtor, que há 20 anos investe nessa cultura.

De acordo com o produtor e hoje também empresário no ramo de doces e derivados de amendoim, o mercado desta semente oleaginosa ganhou forte expansão, principalmente após a crise ocorrida com o aparecimento da aflatoxina, uma substancia tóxica (derivado do fungo Aspergillus Flavus) que é prejudicial ao homem e aos animais, encontrada em grãos de amendoim com teor de umidade variando entre 9 e 35%. “O agricultor, o cerealista e o industrial tomaram consciência de que precisavam obter um produto de qualidade. Com isso, passaram a ter controle melhor, principalmente da umidade. Conseqüência disso, o mercado melhorou e hoje já estamos atendendo também ao mercado externo.

Impulsionados hoje pelos preços no mercado interno, os produtores prevêem um plano de crescimento da produção, com uma maior presença do produto nas prateleiras das redes de varejo. Além disso, o aumento das exportações e o lançamento de novas variedades, resistentes às doenças fazem com que amendoim já produza “bons frutos mercadológicos”, principalmente, com a influência das festas juninas. Período considerado a grande vitrine para o setor - quando as vendas aumentam de 30% a 40%.

O Inimigo do Amendoim

O problema das aflatoxinas, por exemplo, garantem os especialistas, nunca vai terminar. Porém, no Brasil, o fungo está bem controlado, diz o produtor. A aflatoxina é considerada substância cancerígena e provoca intoxicações que levam à morte de animais alimentados. Também pode provocar intoxicação no homem quando consumido na forma de grãos torrados ou de doces.

Segundo João Luiz, em um levantamento realizado no ano de 2005: de 100 amostras, 94 apresentaram conformidade (controle sobre o fungo Aspergillus Flavus). “Isto é um avanço muito grande quando se fala de contaminação no solo, que foge das mãos do produtor”. Após a colheita, na armazenagem, é bem mais fácil de se evitar o problema. Levando o produto para a secagem mecânica, o agricultor consegue abaixar a umidade dos grãos de 18 a 8,5%. Com isto, é eliminado de vez o risco de contaminação. De acordo com Furco, isto garante um bom produto e um preço diferenciado na comercialização. No entanto, este processo é um tanto oneroso, levando os pequenos produtores a buscar parceiros para realizar a secagem de forma cooperada.

“Em um país como o Brasil, líder mundial na produção de cana-de-açúcar, a cultura rotacional do amendoim tem bom potencial”, afirma Carlos Barion, presidente da ABICAB - Associação Brasileira de Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados.

O amendoim, que durante o ano de 2004 praticamente dobrou a produção, passando de 200 mil para 350 mil toneladas, em 77.000 hectares de lavouras, ainda tem espaço para crescer, dentro e fora do país.

A tecnologia a serviço do produtor

A operação de colheita na lavoura de amendoim pode  ser feita com base na cor interna da casca, cor da película característica da semente e ciclo da variedade. A colheita no momento adequado resulta em maior peso, melhor secagem, maior teor de óleo e maior  qualidade, sendo que estes fatores estão diretamente relacionados com a quantidade e qualidade do amendoim colhido. Da mesma forma que a antecipação da colheita diminui a produtividade e a qualidade do  amendoim. O atraso também provoca perda de vagens, germinação das sementes no interior dos frutos, facilita o ataque de pragas e aumenta os problemas com a aflatoxina.

Hoje, a tecnologia já permite medir a umidade doas grãos. “Um instrumento projetado para permitir sua utilização em qualquer local, onde se devem fazer medições rápidas de umidade, com grande confiabilidade”, explica o engenheiro Fernando Engelbrecht, da empresa Gehaka, fabricante do produto. De acordo com ele, no medidor é possível o produtor fazer a compensação de temperatura automaticamente, dispensando o uso de termômetro e tabelas. O processo é bastante simples: o operador seleciona o tipo de grão, pesa a amostra e despeja o produto no funil de carga do medidor. O amendoim, quando chega ao ponto de colheita, está normalmente com 45% de umidade. Quando está maduro fica com 18% de umidade. Este é o momento correto de levá-lo para a secagem e, por isso, a necessidade dos medidores de umidade de lavoura. “Imagina em uma plantação de amendoim a 400 km daqui, não dá para trazer a amostra”, comenta o engenheiro.


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