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PORQUINHO RELAX!
rev 95 - janeiro 2006

Granja no interior de São Paulo volta às origens e recria o sistema natural de criação, a base de muitos produtos homeopáticos e fitoterápicos.

Apostar nos produtos homeopáticos e fitoterápicos como uma única forma de tratamento veterinário e ainda obter, com isto, uma produção diferenciada. Foi isto que fez uma granja de suínos instalada no município de Salto, interior de São Paulo. Ao optar pelo tratamento com base em homeopatia e fitoterapia, a granja tinha expectativa de perder em produtividade. Mesmo assim, acreditando que no futuro receberia adicionais de preço pela produção de um suíno que considerava diferenciado, apostou na idéia. No entanto, esta queda não se confirmou e justamente o contrário aconteceu.

A Granja Querência (com 25 anos de experiência no ramo de suinocultura) mudou radicalmente a forma de tratamento dos animais, conduzindo a uma criação de suínos a excelentes resultados e se tornando uma referência principal quando o assunto é a criação natural. Lá, a 150 quilômetros da capital, seringas, agulhas, vacinas e antibióticos (alopatia) só entram se forem necessários, do resto, os animais são tratados com ervas naturais.

Segundo o diretor da Granja, Weber Dalla Vecchia, após cinco anos de trabalho lento e algumas adaptações, os resultados foram notados na produtividade. E as respostas, conseqüentemente, para este tipo de produção começaram a aparecer. Uma delas foi à comercialização de seus produtos para uma das maiores redes de varejo do País, o Carrefour. Além disso, a granja notou excelentes ganhos principalmente, na questão de números de nascimentos, índice de renite atrófica (IRA) e índice de pneumonia (IPP); estes dois últimos, embora não transmitidos aos humanos, são as maiores causas de perdas produtivas na suinocultura.

Quando questionado o real motivo da radical mudança de tratamento em comparação as demais granjas, o diretor da granja Weber Dalla Vecchia responde: “Foi uma busca por uma alternativa para atender à tendência mundial de eliminação do uso de antibióticos”, diz. Uma tendência, que segundo ele, principalmente com os chamados promotores de crescimento na suinocultura já estão sendo proibidos. “E se lá na Europa, as tendências sejam de coibir, no Brasil isto não deve ser diferente. Além disso, cada vez mais as pessoas procuram por alimentos naturais”, argumenta.

A aposta da Granja Querência, hoje com 1.000 matrizes de cio completo, foi alta e exigiu investimento em pesquisas, pois na época que começaram o processo, lembra o gerente Paulo Cesar Michelone, não havia literatura a respeito de homeopatia e fitoterapia. “Por isto, e com a ajuda dos funcionários fomos buscando desenvolver medicamentos eficazes para serem utilizados nos rebanhos”, relembra.

Hoje 50% do tratamento do plantel da granja é feito através de produtos homeopáticos e os outros 50% com fitoterápicos, como no caso específico dos promotores de crescimento. “Que nada mais é, o uso de ervas que tem a capacidade de controlar a flora intestinal e esta é a principal promotora de crescimento”, diz Paulo Cesar. “Quando o produtor aplica promotores de crescimento a base de ervas, oferece a chance do animal absorver aquilo que é necessário para ele e ao mesmo tempo interfere menos na criação”, argumenta.

Além disso, ainda que as condições da pocilga sejam cada vez melhores, é inevitável a existência de alguns pontos de stress. Para isto, as ervas estão prontas para ajudar. “Se nós, seres humanos, sofremos stress o tempo todo. Os animais também sofrem", diz.

Por isso com uma área de 50 hectares, sendo que 25 são destinados para o cultivo de ervas medicinais, a Granja Querência possui uma área muito específica para 15 das espécies mais cultivadas e consideradas como prioritárias. “Todas as ervas usadas são produzidas e industrializadas na própria granja. Aqui as mais comuns são a couve, o alecrim, a menta, o boldo, o picão, que fazem parte do tratamento fitoterápico”, conta o gerente.

Atualmente por uma busca de mais espaço para a suinocultura no mercado, a Querência aposta hoje também na difusão de sua filosofia de tratamento veterinário. Ou seja, a empresa quer vender a implantação de programas para produção de suínos com tratamento à base de produtos homeopáticos e fitoterápicos. Para isto, investe na produção de ervas secas. “Desta forma há como comercializar, manter a conservação e acima de tudo preservar a qualidade das plantas”, argumenta Paulo Cesar Michelone.

De acordo com o gerente, além de produzir as ervas “in natura”, hoje a Granja produz ervas que são misturadas à ração. “Nas instalações há galpões que servem para a secagem das plantas, que são secas naturalmente sem o uso de ventilação forçada. Aqui, até as plantas tem o período de secagem naturalmente, assim aproveitamos muito mais os princípios ativos de cada erva”, ressalta.

E os resultados obtidos na Granja, através destes produtos naturais, já são confirmados por pesquisas de mestrado e doutorado por alunos de universidades, como a USP de Pirassununga e a Unicamp, de Campinas. Segundo o diretor da Granja, Weber Dalla Vecchia, os resultados zootécnicos foram os melhores possíveis na questão de ganho de peso, fator crescimento, e na questão da saúde dos animais. “Nossa filosofia é também a de produzir animais muitos saudáveis para que não apresentem problemas”, diz Vecchia.

Na Granja Querência o tratamento especial começa pela matriz. Hoje, com a predominância das raças Landrace, Large White, Pietrain, Hampshire, cada etapa da vida do suíno, aqui recebe um cuidado específico. As fêmeas, por exemplo, no período de gestação, recebem uma quantidade de ervas que são adicionadas na ração. Após o nascimento dos leitões, as mães são alimentadas com couve, pois, segundo o gerente Paulo César Michelone, além de fixador de cálcio é também um laxante. Além disso, há um adicional de alface (rica em vitamina A, e que serve para acelerar a cicatrização do útero, além de ser anti-stress) e a beterraba, (rica em complexo B, que contém ferro e serve para evitar a anemia). O leitão, logo que nasce, é tratado do umbigo com uma pomada cicatrizante feito à base de ervas.

Na questão fitoterapia, Paulo Cesar lembra que o uso do boldo é importante e “entra” como auxiliar digestivo para os leitões, assim como a utilização de ervas como camomila, cidreira, melissa que são usadas como calmantes para os recém-nascidos. Outro bom exemplo é o brócolis. “Na questão de uma diarréia, um dos problemas na criação e a pneumonia também são tratados com ervas, entre elas, a terramicina (nome científico da erva e da medicação)”, explica o gerente da granja.

E, ao contrário do que todos pensam, lá na granja não há “cara feia” para receber o tratamento, mesmo até as ervas consideradas amargas, são a diversão dos suínos. “É possível ver que os animais ficam esperando a hora de degustar as ervas. O alvoroço está causado quando chega o carrinho carregado delas”, comenta Paulo Cesar.

De acordo com o gerente, que não entrega as fórmulas das ervas de maneira alguma, não basta apenas conhecer os princípios ativos da planta é preciso aplicar conceitos de farmácias, para que cada produto produzido esteja dentro da técnica e não somente da fé e da crença popular.

Outra característica observada depois da implantação do sistema foi que os medicamentos homeopáticos e fitoterápicos se refletiram em redução de custos, que hoje em média, segundo o diretor em torno de 20% no tratamento veterinário. “Com a adoção de medicamentos naturais, os custos com remédio caíram, o que gerou uma ligeira redução no custo de produção dos animais”, conta Vecchia.

Os resultados também trouxeram um tratamento diferenciado não somente no trato veterinário, mas como um todo, principalmente na mão-de-obra empregada na criação. Hoje, por exemplo, quem cuida da maternidade só são mulheres que são mães. “Elas têm mais ‘jeito’ de auxiliar as matrizes na hora do parto, na limpeza dos recém-nascidos e até ajuda nas mamadas, quando algum desgarrado foge da mãe”, conta o gerente Paulo Cesar.

Sorte dos suínos que vivem na granja, talvez. Lá, desde que nascem, eles recebem tratamento especial. Após a desmama, eles são encaminhados para a creche, a partir daí vão para a fase de desenvolvimento e engorda. “Dependendo do galpão que somam 1.500 metros, os suínos que chegam com 60 dias tem espaço adequado para ficarem. O espaço mínimo da fase de engorda, por exemplo, é de 60 metros quadrados”, conta.

“O animal criado de maneira ecologicamente correta, respeitando dentro do possível a liberdade do animal e a condição do conforto, produz mais e com melhor qualidade”, argumenta. Como a suinocultura é uma atividade prioritariamente realizada em pequenas e médias propriedades, uma criação como esta pode ser uma alternativa economicamente mais rentável, com os produtores sendo mais bem remunerados no mercado, apesar de tecnicamente mais adequada e ambientalmente correto, a produção pode custar mais cara. Aqui, a única diferença é com a alimentação “in natura” do produtor que acrescenta o fator distração dos suínos, o prazer de comer uma planta in natura.

Não é orgânico

O plantel da Granja embora receba um tratamento veterinário diferencial não pode ser confundido como orgânico. “O sistema orgânico exige que a ração fornecida aos animais, como farelo de soja, milho venha de uma produção orgânica, o que é economicamente inviável”, conta Weber Dalla Vecchia. “Na Querência, a alimentação é balanceada e os fornecedores são certificados e não podem vender nenhuma ração com promotor de crescimento embutido”, revela.


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