BIOTECNOLOGIA - PARCERIA IDEAL PARA A PRODUTIVIDADE
rev 105 - novembro 2006

Empresários brasileiros conferem, na prática, o que a biotecnologia pode oferecer para tornar a agricultura brasileira mais competitiva em quantidade e qualidade.
 
Com o intuito de conhecer novas aplicações na área de biotecnologia e estudar as tendências de uso futuro dessa tecnologia na agricultura nacional, um grupo de empresários cerealistas brasileiros esteve nos Estados Unidos em visita a empresas e centros de pesquisas agrícolas. Em cinco dias de encontros técnicos, concluíram que, de fato, a biotecnologia é um dos principais fatores que garantem a atual competitividade da produção agrícola americana no cenário internacional, tanto em produtividade como em qualidade.

De acordo com o grupo de empresários cerealistas, o uso da nova tecnologia vai além da simples produção de grãos. Seus efeitos benéficos se estendem para a produção de rações destinadas à pecuária, para a realização de fertilizantes e para a produção de biodiesel, contribuindo ainda com o meio ambiente, pelo menor uso de agroquímicos. “Com a ciência, podemos combater os problemas agrícolas em relação ao meio ambiente, provocados pelo uso de grandes quantidades de agroquímicos que hoje são utilizados nas lavouras”, observa Evaristo Lira Baraúna, da goiana Cereal Comércio Exportação e Representação Agropecuária Ltda., que participou da viagem.

Em Illinois, nos Estados Unidos, os brasileiros puderam conhecer especialistas em culturas FS/Growmark, assim como visitar fazendas de gado leiteiro como a Wilkening, fundada em 1928, onde hoje seu produtor cria vacas Holstening. Nas fazendas Kaufman, percorreram 280 hectares de milho e soja, ao lado do produtor Larry Kaufman, terceira geração de fazendeiros na propriedade, que compartilhou sua experiência de 40 anos no ramo com os visitantes brasileiros.

Eles também estiveram, no mesmo estado americano, nas Fazendas Grand View, onde são plantados mais de 2.160 hectares de milho, soja e trigo, e mantém uma armazenagem superior a 7500 mil toneladas de grãos. Ao final, visitaram a filial Allambra do Serviço Agrícola Madison, ligado ao Growmark. A Allambra dispõe de um armazém onde os agricultores da região encontram sementes, fertilizantes, combustível, e ração. Este estabelecimento armazena cerca de 6.700 mil toneladas de grãos e vende mais de US$ 5 milhões/ano de soja e milho.

O grupo brasileiro também teve acesso às novas pesquisas realizadas em solo americano, incluindo lançamentos, novos testes, e inovações do setor, no Centro de Pesquisas da Monsanto, em St Louis, Missouri. De acordo com Guilherme Nepomuceno Filho, diretor da Multigrain, empresa filiada à Associação Nacional de Exportadores de Cereais (ANEC), a reciclagem de conhecimento é sempre muito proveitosa. “Uma das apresentações mais interessantes que vi foi a das pesquisas realizadas para o desenvolvimento de variedades Bt. As perspectivas de alta produção com grande redução de custos são fantásticas”.

Os empresários cerealistas também participaram de discussões sobre as novas tecnologias e analisaram o mercado americano de produtos de biotecnologia, a partir de uma apresentação de Doug Dorsey, diretor comercial da Asgrow/Dekalb nos Estados Unidos. Para Ivo Riedi, presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra), a nova tecnologia fará com que os produtos agrícolas tenham maior valor agregado, abrindo novos mercados e gerando novas demandas. “A soja, por exemplo, será muito mais que uma commoditie, pois terá tolerância à seca e a insetos, além de passar a contribuir em outros setores, como o do biodiesel e da saúde humana”, afirma Riedi. “Os transgênicos são uma tendência mundial devido a expectativa de rentabilidade e preservação”, completa Nepomuceno.

Fernando Guerra, também da Acebra e que visitava os Estados Unidos pela quarta vez, ficou surpreso especialmente em relação aos avanços nas pesquisas biotecnológicas. Guerra acredita que toda a tecnologia que puder ser acoplada às sementes é vantajosa. “Em breve, o mundo inteiro será beneficiado com as tecnologias aplicadas à agricultura, toda a cadeia de alimentos será favorecida, do pequeno agricultor ao consumidor final, que terá acesso a um alimento de melhor qualidade”, declara.

Para Gilberto Borgo, representante da Associação dos Cerealistas do Rio Grande do Sul (Acergs), mais investimentos em tecnologia agrícola no Brasil poderiam melhorar inclusive os resultados econômicos da agricultura. “O setor agrícola teria maior lucratividade, com uma grande redução de custos motivada principalmente ao pouco uso de defensivos agrícolas”, acredita.

Pesquisa no Brasil, a preocupação.

A possibilidade de que as pesquisas que já são realizadas nos Estados Unidos possam ser feitas também no Brasil é outro ponto discutido por eles. Riedi, por exemplo, menciona a necessidade de o Brasil abrir-se mais para a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos de biotecnologia. “Para isso, deveriam se unir todos os setores da sociedade, de empresários do agronegócio a todos aqueles interessados na evolução agrícola brasileira”, declara o presidente da Acebra.

A comparação de estágios entre Brasil e Estados Unidos em relação a essa tecnologia também motivou comentários. “Voltamos nos sentindo desfavorecidos em relação aos avanços da ciência, o que não faz sentido já que o Brasil dispõe de capacitação para acompanhar todo esse desenvolvimento”, afirma Nepomuceno. Para Guerra, o problema é a demora do Brasil em entrar neste mercado. “Não podemos ficar esperando que as tecnologias cheguem aqui, precisamos ir atrás, reagir”, diz.

Para Cidemar Luiz Dalla Zen, diretor da divisa agrícola da Diplomata S/A, que também participou do grupo, a viagem foi proveitosa justamente devido ao fato de ter apresentado as diferenças entre os países. “Podemos ver que a biotecnologia é um caminho sem volta e que o Brasil está perdendo tempo ao não regulamentar a biotecnologia aqui. Sem contar que o mundo passa fome, e poder combatê-la e ainda prevenir doenças com a aplicação de biotecnologia em sementes, isto é muito interessante”, finaliza.


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