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RASTREADA - Lavoura
rev 173 - julho 2012

Empresas apostam no uso de rastreamento e monitoramento via satélite para garantir novos mercados e certificar produção

Há quase dois anos, a PepsiCo deu início a um amplo processo de rastreamento ambiental de seus produtores de batatas na América do Sul. A multinacional passou a ter em mãos dados como a qualidade de solo, água e das florestas nativas das propriedades de cada um de seus 320 fornecedores na região. A ação fazia parte da estratégia de sustentabilidade do grupo, iniciada dentro da empresa e que naquele momento se estendia à cadeia produtiva.

Para tanto, a companhia americana contratou uma empresa brasileira de rastreabilidade para fazer o diagnóstico dos seus fornecedores usando-se da tecnologia do mapeamento de áreas. Naquele momento, tão ou mais importante era saber se os produtores seguiam a legislação ambiental e trabalhista de seus respectivos países – em outras palavras, quão sustentáveis eles eram.

A rastreabilidade, que inclui o georreferenciamento das propriedades rurais – ou seja, o mapeamento via satélite – se tornou ferramenta indispensável para saber com precisão à localização não só da propriedade, mas de seus recursos naturais. “Cuidar da água, do solo e das florestas, passou a ser um ponto fundamental, afinal, é uma forma de garantir a sobrevivência das lavouras. E isso tem impacto direto na rentabilidade do produtor”, opina Manoel Ortiz, diretor na Imagem – Soluções de Inteligência Geográfica, localizada em São José dos Campos (SP). A empresa é uma das que oferece soluções de tecnologia e informação espacial, como softwares, imagens de satélites de alta resolução e mapas territoriais.

A tecnologia oferecida pela Imagem permite desde o monitoramento dos eventos climáticos até o cumprimento de leis ambientais. De posse das informações, o produtor poderá planejar desde o período ideal de colheita aos contratos de escoamento da produção. “O sistema funciona como uma espécie de ‘Google Earth’, em que as imagens de satélite das propriedades formam uma ‘base’ à qual são adicionadas informações. Entre elas, dados de solo e clima e especificações técnicas de cada cultivar”, afirma.

O movimento tecnológico começou há mais de dez anos, quando a tecnologia saiu das mãos da Nasa e ganhou o acesso global. Com isso, empresas desenvolveram projetos de monitoramento e gestão de propriedades agrícolas.  Com as imagens coletadas via satélite é possível enxergar o que os olhos não vêem. Há programas que permitem que as imagens sejam vistas com um nível de detalhe de dois metros, fornecendo ainda informações sobre a condição da cultura. “Em pouco tempo, identificar alguns problemas tão logo eles ocorram. A cada ano a tecnologia se aperfeiçoa”, antecipa.

Hoje, entre os clientes da Imagem estão grandes grupos, como a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). No entanto, lembra Ortiz, a tecnologia está sendo disseminada cada vez mais. “Antes, o custo operacional era muito elevado, porém, com o avanço tecnológico, o acesso é cada vez maior entre os médios produtores, que se unem para usar o monitoramento como, por exemplo, a Cooperativa de Guaxupé, de Minas Gerais”, diz.

Com o foco na inovação tecnológica, o Centro de Tecnologia Canavieira, de Piracicaba (CTC), que atua na área de pesquisa e desenvolvimento elaborou o projeto batizado de CTCSat. Por meio dele, é realizado o mapeamento e o monitoramento das áreas de produção de cana. “Até o momento, o projeto mapeou 3,5 milhões hectares”, diz Wander José Pallone Filho, pesquisador do CTC. “O CTCSat se transformou em uma ferramenta nas mãos dos nossos 150 acionistas. Em breve, as estimativas é manter um histórico da safra, mapear o plantio e até conhecer as variedade da CTC, que o produtor está plantando”, diz.

Além da agricultura, outro campo que está se apropriando da tecnologia é a pecuária. A AgroTools, de São José dos Campos (SP), é outra empresa que oferece aos seus clientes o mapeamento como ferramentas de gestão, análise e monitoramento de riscos, e que levou a novidade para a pecuária, desenvolvendo projetos de rastreabilidade da carne. Além das imagens por satélite, há, segundo dados da empresa, uma radiografia da propriedade para identificar riscos de um modelo de produção. Na carteira de clientes da Agrotools pontifica a Agropecuária Santa Bárbara, que possui 500 mil cabeças de gado no Estado do Pará.

Para quem não se lembra, há dois anos também o Ministério da Agricultura anunciou um investimento de R$ 1 milhão na implantação de um sistema de geomonitoramento por satélite para a fiscalizar o desmatamento de áreas preservadas e fazer o rastreamento de gado no Pará. A adesão ao monitoramento por satélite seria obrigatória no Estado. A área mais crítica incluía dentro do projeto 150 mil quilômetros quadrados, onde se localizava 12 mil fazendas produtoras.


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