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A SOLUÇÃO É O PROTEINADO
rev 172 - junho 2012

A suplementação proteica aparece como grande aliada do produtor rural para o tempo da seca, período prejudicial aos rebanhos, pois é quando ocorre queda na qualidade das pastagens brasileiras.

Nos últimos tempos, para muitas pessoas, o proteinado - também chamado de mistura múltipla, pois é uma associação de suplemento mineral associado à fonte de proteína e energia que normalmente pode ser de origem vegetal proteico ou ureia, e que dentro do sistema digestivo transforma em proteína - aparece como o futuro da nutrição animal, pois pode ser dado o ano todo tanto para o sistema de confinamento, semiconfinamento e boi a pasto. Pesquisadores de diversas entidades têm suas opiniões formadas em relação a este assunto, que aparece para o produtor como uma possível solução não só para o futuro, mas para o hoje também.

O proteinado tem a função de ser uma suplementação dos rebanhos no período em que o pasto está mais escasso. Sabemos que durante o inverno, em função da seca, ocorre uma significativa queda na qualidade das pastagens em extensas áreas do território nacional. Além da menor oferta de alimento no pasto, dispõe-se de uma forragem pobre em proteína bruta e com teor de fibra muito alto, o que limita o aproveitamento e, consequentemente, o rendimento dos animais, devido a uma menor ingestão de matéria seca. Além disso, aquilo que é ingerido tem qualidade insatisfatória.

Devido a este fato da escassez de alimentos, os produtores podem ver constantemente seus animais sofrendo o “efeito sanfona”, ou seja, perda de peso considerável, o que faz aumentar o tempo até atingir o abate. Com o uso do suplemento mineral proteinado nesta época, o animal não perde peso, e, em certas vezes consegue ganhar alguns quilos.

A perda de peso verificada nesta época é causada não só por causa do baixo teor em proteína, mas também da redução do consumo de alimentos. A suplementação, mesmo que de pequenas quantidades de proteína, tem como objetivo uma melhor nutrição do rúmen e assim, indiretamente aumentar o consumo de alimentos, em face de melhoria da digestão deste material pelos microrganismos. De uma maneira diferente em relação à mineralização, a suplementação proteica consiste no fornecimento de nitrogênio não proteico, que é basicamente ureia. Na verdade, é um conceito modernizado do antigo sistema sal, ureia e mineral, mas muito importante do ponto de vista prático, pois corrigiu os inconvenientes do sistema antigo, tais como: consumo irregular, normalmente baixo, ocorrência de intoxicações e resultados erráticos, basicamente em função de um mau manejo deste suplemento.

O médico veterinário coordenador do departamento técnico da unidade São Sebastião do Paraíso, da Matsuda Minas, Diego Magri Bernardes diz que o custo benefício em relação ao proteinado é muito vantajoso para todos os tipos de produtores, do menor ao maior. “Existem diversas categorias de proteinado. O de farelo para fornecer nitrogênio é um produto de consumo de preço mais baixo, por exemplo. Conforme se eleva o nível de farelo, o preço aumenta também, porém, para o produtor é melhor. Além do custo diário, o que o animal consumir, ele pode ganhar em peso, com isso o custo beneficio se torna muito positivo”, explica.

Bernardes diz também que para cada caso é necessário um tipo de produto, um tipo de balanceamento. O uso destes produtos independe do tamanho do produtor, já que na época do período de seca, qualquer produtor vai ser beneficiado com este tipo de suplementação. “É sempre vantajoso trabalhar com o animal que não perde peso na seca. O produtor tem algumas vantagens como o ciclo mais rápido da produção do animal, a qualidade sensorial da carne vai ser melhor porque ele ganha peso e a vaca de cria vai ser melhor reprodutora, dando um bezerro por ano, coisa que não acontece se o animal perder peso nesta época”, finaliza o veterinário.

Para uma boa utilização dos proteinados, alguns requisitos são necessários. Por exemplo: é fundamental ter disponibilidade de massa, mesmo que seca; ter teor de proteína baixo (menor que 10 %); ter suplemento com balanceamento adequado de minerais; manejo adequado, com reposição constante do suplemento e, sem contar que o fósforo é fundamental para a reprodução, mesmo que na seca.

O pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste na área de nutrição de bovinos, leiteiros e de corte, Alexandre Pedroso comenta que o sal proteinado é um tipo de suplemento para uso quando o pasto é de baixa qualidade, situação típica da estação seca, quando a forragem apresenta elevado teor de fibra e baixo teor de proteínas. “Com o uso do sal proteinado, os animais recebem o nutriente que é mais limitante, a proteína. A suplementação deve ser ajustada, em termos qualitativos e quantitativos, em função da qualidade da forragem e da meta de desempenho que se quer para o rebanho”, declara.

Pedroso diz que se for bem utilizado, o sal proteinado não apresenta restrições e acrescenta que a recomendação de uso deve ser feita por um técnico competente, com experiência em nutrição e manejo de pastagens.

Em relação ao fato já citado de o proteinado ser considerado o futuro da nutrição, o pesquisador da Embrapa se mostra um pouco mais incerto, dizendo que não vê a situação dessa forma. Para ele, por exemplo, quando o pasto é de alta qualidade, com teores mais baixos de fibra e, principalmente, elevados teores de proteína (acima de 13-14% da matéria seca da forragem) a recomendação é fornecer suplementação energética, pois nesse caso o nutriente mais limitante é energia. “Há diversos trabalhos de pesquisa mostrando isso com muita clareza. O conceito da suplementação de animais em pastejo é fornecer via suplemento àquilo que o pasto não consegue suprir. Se a limitação principal é proteína, o suplemento deve ser proteico, mas se a limitação principal da forragem for energia, o suplemento deve ser energético. Dessa forma, entendo que o sal proteinado é uma excelente ferramenta para elevar a produtividade dos rebanhos nacionais, mas seu uso deve ser racional, e nos casos em que a limitação maior dos pastos seja a disponibilidade de proteína”, completa Pedroso.

ALERTAS PARA O USO DO PROTEINADO

O médico veterinário da Matsuda Minas, Diego Bernardes alerta os produtores em alguns quesitos indispensáveis no uso de produtos proteinados, devido à presença de ureia:

Disponibilidade de pastagem:
Deve haver matéria seca disponível mesmo de baixa qualidade (bucha, facho, macega), pois a função do proteinado é promover desenvolvimento as bactérias e essas vão digerir a pastagem ingerida. Se não houver pasto, isso não ocorrerá, além do risco do animal ingerir em excesso o produto por falta de alimento e poder intoxicar pelo consumo excessivo.

Cocho sem acúmulo de água:
Não há problema em o animal consumir proteinado molhado, nem mesmo consumir e logo beber água. O risco é quando há chuva e ocorre acúmulo de água no cocho. Assim toda a ureia é solubilizada na água empoçada e se caso algum animal chegar e beber quantidade elevada dessa água pode haver intoxicação pela ureia pelo excesso ingerido.

O ideal é que o cocho seja coberto, protegido lateralmente da chuva e principalmente furado, pois mesmo que chova forte não haverá poça de água.

Adaptação ao uso de ureia:
A ureia é degradada no rúmem e vira amônia. Essa amônia em excesso pode intoxicar o animal levando a morte. Porém se o animal ingere gradativamente dose crescentes de ureia, a amônia produzida é rapidamente utilizada pelos microorganismos do rúmem e assim não há acúmulo. E esses microorganismos precisam de um certo tempo para crescer e usar essa amônia excedente.

O processo de adaptação tem que ocorrer toda vez que o produto com ureia falte no cocho por mais de três ou quatro dias.

Deve-se usar na primeira semana uma parte do produto com ureia misturada a duas partes de suplemento sem ureia que já vinha sendo fornecido; na segunda semana usar uma parte do produto com ureia misturada a uma parte de suplemento sem ureia que já vinha sendo fornecido e daí em diante o suplemento proteinado é puro e de acordo com a indicação de uso do fabricante.


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