Edições Anteriores
ALGODÃO - Por uma fibra de mais qualidade
rev 172 - junho 2012

A organização de cotonicultores e pesquisadores de Mato Grosso do Sul busca o desenvolvimento de uma lavoura que renda o algodão desejável pela indústria. A tecnologia eles já têm, só resta agora o clima ajudar.

Mato Grosso do Sul é o Estado do País onde se registra a maior média em termos de produtividade na lavoura algodoeira nos últimos dez anos, segundo o levantamento histórico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Tanto como o produto em caroço – 3.732,8 quilos por hectare (kg/ha) – como a pluma – 1.442,2 kg/ha – despontam com as mais altas médias no País quando o assunto é em rendimento por área plantada. O problema das últimas safras, incluindo a deste ano, tem sido as chuvas próximas às épocas de colheita, o que deprecia a qualidade do produto.

Com o objetivo de melhorar a qualidade da pluma, desde o início da lavoura até a certificação do produto final, a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (Fundação Chapadão), sediada no município de Chapadão do Sul (MS), tem servido de referência a produtores sul-mato-grossenses, mato-grossenses e goianos. “Estamos organizados de tal forma que podemos atender o cotonicultor da região através de visitas à propriedade, bem como na avaliação de métodos de cultivos que possam refletir no incremento da produção”, destaca Edson Pereira Borges, engenheiro agrônomo e diretor executivo da Fundação Chapadão.

Além do algodão, a entidade trabalha com estudos e avaliações de cultivares na área de soja, milho, girassol, entre outras plantas que possam refletir em conhecimento para ser repassado aos produtores rurais. A unidade se transforma numa autêntica vitrine de na qual se pode ver qual a melhor variedade, manejo e época de plantio adequados para a otimização dos investimentos aplicados à lavoura.

Quanto mais quente melhor

Um dos pontos primordiais para o melhor estabelecimento da cultura está no planejamento da época adequada de semeadura. Esse fator influenciará que a colheita fique situada numa época seca, além de se reduzir os riscos de perdas por excesso ou déficit de chuvas nos estádios críticos da planta. “Nesse sentido, a planta poderá atuar melhor, propiciando a produção de uma fibra de maior qualidade quando as temperaturas estiverem mais altas”, explica Jefferson Luis Anselmo, pesquisador da área de fitotecnia da Fundação Chapadão. “Os frutos madurecem mais rapidamente e a fibra fica mais longa sob essas condições, que podem ser de 28°C a 34°C – esta seria a faixa ideal para o desenvolvimento da fibra do algodão”.

O atraso na época de semeadura a partir do dia 8 de janeiro prejudica a produção de algodão, de acordo com um estudo feito por Anselmo na safra 2008/2009. O resultado foi de perdas que giraram de 2,31 a 2,99 arrobas por hectare de algodão em caroço por dia de atraso na semeadura. O pesquisador indica que o plantio deve ser estabelecido na primeira quinzena de dezembro.

A importância da temperatura é justamente o que faz o diferencial na qualidade da fibra. Justamente por essa condição que na Bahia, polo inicial da produção de algodão no País, é registra os melhores rendimentos porcentuais da pluma obtida no campo.

A interferência desse fator climático relaciona-se também com o ciclo da planta, especificamente no amadurecimento dos frutos – as maças, que guardam o capulho, ou as fibras de algodão. Conforme a temperatura se torna mais baixas o evento demora mais para ocorrer. Do crescimento e maturação da maçã, com temperaturas médias de 30°C demora-se apenas 40 dias para ocorrer a maturação do fruto, por exemplo.

Temperaturas altas, inclusive à noite, também influem positivamente na obtenção de um produto de melhor qualidade. De acordo com Anselmo, nesse caso, essa condição favorecerá o processo de elongação da fibra bem como o aporte maior de celulose.

“É justamente nesse ponto que incide uma das maiores queixas ao sistema de cultivo do algodão adensado, que em geral é planejado para a época de inverno. Nessas condições, a qualidade da fibra será muito inferior à obtida na safra de verão. No entanto, é válido ponderar que este sistema surgiu como um alento aos produtores numa época em que não havia mais esperança com a fibra devido a alta incidência de doenças e custos elevados da produção”, destaca o pesquisador.

O sistema ainda está em fase experimental, portanto ainda não há cultivares específicas para o cultivo adensado. Espera-se que futuramente, com o melhoramento, cultivares possam ser utilizadas para oferecer melhores ganhos em qualidade também.

Produto final

A fibra de algodão é classificada com base em suas características intrínsecas e extrínsecas, as características intrínsecas são geralmente muito importantes para a fiação. Entre as propriedades físicas estão os parâmetros de comprimento da fibra, a uniformidade de comprimento (UI em %) e a taxa de fibras curtas representando a proporção de fibras de comprimento inferior a 12,7 milímetros ou 0,5 polegadas; também está relacionada a resistência da fibra, o complexo de maturidade-finura (Índice Micronaire), e a cor composta da refletância ou brilho que representa a capacidade do algodão a refletir a luz (Rd, em %), e do Índice de amarelamento (+b, sem unidade).

A classificação do algodão segue um regulamento técnico definido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através da Instrução Normativa 63, de 05 de dezembro de 2002, que trata da Identidade e Qualidade para a Classificação do Algodão em Pluma.

A classificação pode ser visual, pela qual se define o “padrão”, e é baseada sobre características de fibras extrínsecas (preparação, impurezas) e intrínsecas (cor), de acordo com o documento que se baseia numa classificação global para o algodão. O padrão chamado de base é o 41-4. Um algodão 31-3 é um produto de melhor qualidade do que o 41-4, enquanto o 51-5 é um algodão pior. O classificador utiliza referência de padrões físicos para definir o padrão de classificação visual. O primeiro dígito representa o tipo (preparação, de 1 à 7), o segundo a cor (1 à 4), e o último a folha (contaminação 1 a 7).


Edicões de 2011
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES