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VACINAS - Os bons resultados da pecuária fazem mercado de saúde animal se fortalecer
rev 169 - março 2012

Em 2011, a projeção positiva da pecuária de corte alavancou os negócios das indústrias do setor, que já esperavam fechar o ano com resultados positivos. Com o preço da arroba chegando à casa dos R$ 100, os produtores atentos às oportunidades aproveitaram o período de euforia e de demanda aquecida para investirem na adubação da pastagem, em tecnologia de ponta e, principalmente, na aquisição de produtos de qualidade para a saúde dos animais.

Como resultado, esse mercado fechou o ano passado com um faturamento de R$ 3,4 milhões, ou seja, 16,3% a mais que 2010, quando faturou R$ 2,9 milhões, um incremento de 10,8% sobre 2009, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Grande parte desse faturamento se deve ao segmento da pecuária, que foi responsável por 56,1%, incluindo a pecuária de corte e leite, no qual os produtos biológicos, como vacinas, inclusive aftosa e antiparasitários, foram os destaques. O segmento da avicultura e suinocultura representou 15,6% e 15,0%, respectivamente. Apesar dos bons números, nem tudo foi o otimismo no setor. "O ano passado foi marcado por aumento dos investimentos e dos custos, com impacto negativo sobre a lucratividade do setor. Por ser insumo de produção o repasse para o preço é sempre dificultado, porque o produtor decide a compra com base na performance do produto, mas principalmente na relação custo x benefício", diz Emílio Salani, diretor de operações do Sindan.

O ano de 2011 também foi marcado com uma queda na venda das vacinas contra febre aftosa. O motivo seria a forte concorrência entre os laboratórios, como afirmou o diretor do Sindan. A justificativa seria a entrada de novas empresas no mercado, e que fez o parque fabril crescesse. Como as vacinas têm um prazo de validade relativamente curto, as empresas não tiveram outra saída senão ceder nos preços e desovar a produção.

Uma das grandes preocupações do Ministério da Agricultura é exatamente o investimento em saúde animal e, principalmente, em vacinação. Principalmente, a partir desse momento em que conseguiu a abertura de novos mercados exportadores e com a previsão das principais associações nacionais de criadores e exportadores é de que as exportações aumentem em 2012, sendo que a carne bovina na casa dos dois dígitos percentuais e a de suínos e aves, entre 2%. "O pecuarista tem que ter consciência de que o investimento com sanidade não é tão alto, principalmente quando comparado a outras despesas. Quem sabe gerenciar, percebe facilmente que não é economizando em saúde animal que obterá lucro. É justamente o contrário", afirma Salani.

Essa é a aposta das grandes gigantes do mercado de saúde animal, em 2012. A Pfizer Saúde Animal, uma das maiores empresas do setor veterinário no mundo, triplicou de tamanho nos últimos anos, impulsionada não só pelo crescimento do mercado, mas por aquisições de empresas e portfólios de produtos em nível global - entre as quais Synbiotics, a Alpharma e a própria Fort Dodge, todas em fase de integração. Em 2011, a companhia fechou o ano com receita de R$ 592 milhões, no Brasil. Só as vendas de medicamentos e vacinas para bovinos somaram R$ 332 milhões. Aves e suínos geraram R$ 94 milhões cada. "A demanda por proteína animal aumentou. Esse é o momento de investimento no campo", explica Elio Moro, gerente técnico da unidade de negócios bovinos, Pfizer Saúde Animal.

Segundo ele, todas as doenças causam um grande impacto. "As vacinas têm por objetivo preparar o sistema imunológico do animal para que esteja apto a responder e se defender do ataque dos agentes causadores de doenças, quer sejam vírus, bactérias ou mesmo toxinas dos agentes infecciosos. A maioria destas enfermidades pode ser evitada no País por meio da vacinação", diz.

O gerente técnico explica que felizmente, hoje o pecuarista brasileiro tem acesso a uma enorme quantidade de vacinas que são altamente eficazes no controle de quase todas as doenças importantes que podem acometer os bovinos e, consequentemente, causar perdas econômicas ao negócio. "Não há dúvidas de que a prevenção sempre foi e será a melhor e mais eficiente forma de prevenir várias doenças. É notório que fazendas que utilizam um bom calendário sanitário possuem um desempenho produtivo acima da média", diz Moro.

Outro gigante do mercado de saúde animal, a MSD Saúde Animal, resultado do processo de fusão entre a Merck & Co., Inc. e a Schering- Plough Corporation, fechou o ano de 2010 com um crescimento de 21,2%. "Em 2011, os números não poderiam ser diferentes. Crescemos 16% sobre o ano de 2010, acumulando um crescimento de 35%, quando o mercado cresceu 30% no mesmo período, sem incluir as vendas de vacinas de aftosa. As áreas de negócios que puxaram esse crescimento foram à pecuária e a suinocultura, que resultaram em um faturamento total, no Brasil, de R$ 424 milhões", diz Vilson Simon, diretor presidente da MSD Saúde Animal.

A empresa não divulga os dados de vendas de vacina aftosa, mas comenta que o desempenho de 2011 versus 2010 não foi o esperado pela entrada de novos participantes no mercado. "E a expectativa é que em 2012 o mercado de vacinas de aftosa recupere o seu desempenho devido ao reconhecimento pelos produtores e pela sociedade da importância da vacina de aftosa como fator de segurança nacional para a manutenção da competitividade brasileira no mercado mundial de carnes. O custo de vacinação contra a aftosa é um seguro de competitividade de altíssimo retorno para o pecuarista. Imagine o custo de um quadro de surto de aftosa para o Brasil e as implicações para o setor de carnes e a balança comercial brasileira", diz.

Sobre os novos desafios, Simon afirma que há um ambiente regulatório local e global, com o aumento das exigências e a elevação nos investimentos para o desenvolvimento, registro e lançamento de novos produtos. "De toda forma, acreditamos que o mercado veterinário brasileiro vai crescer o dobro do mercado mundial até 2017 e o Brasil aumentará sua participação no mercado global, que hoje é de 9%, para 11% em 2017. Atualmente o mercado global de saúde animal está na ordem de U$ 21 bilhões", afirma.

Mesmo com esses números, o setor de saúde animal, em suma, trabalha com um cenário de otimismo moderado para 2012. O diretor de operações do Sindan, Emilio Salani afirma que o mundo inteiro vai continuar carente de alimentos e nosso país segue sendo a opção viável de atendimento da demanda global por proteína animal de qualidade. "A crise econômica na Europa é preocupante e com desfecho ainda um tanto obscuro. A questão cambial precisa ser acompanhada com atenção, inclusive porque somos dependentes de matérias primas importadas. Apostamos no mercado externo das carnes, com perspectivas diferenciadas e positivas para carne bovina, de frango e suína. Apostamos, também, na necessária expansão da tecnificação da pecuária de corte, uma exigência para melhoramento dos índices zootécnicos, visando enfrentar a redução das áreas de pastagens e manter e obter adicionais ganhos de produtividade. Parte importante desta tecnologia está no insumo veterinário. A expectativa para 2012 é de um crescimento do faturamento da indústria de saúde animal da ordem de 5% a 7%", afirma Salani.

De olho nas aves

Segundo Maurício Hisano, gerente de mercado de avicultura da MSD Saúde Animal, a área da avicultura da empresa, em 2011, apresentou um crescimento de 17% em seus negócios no Brasil, subindo mais uma posição no ranking das indústrias farmacêuticas que atendem o mercado de avicultura, ficando entre as cinco primeiras companhias do Brasil. "Este crescimento sólido é resultado de um trabalho personalizado e com produtos diferenciados para o exigente mercado de avicultura brasileiro", diz Hisano.

Para continuar em expansão, a empresa pretende investir em lançamentos, como a Innovax®, vacina para o combate à laringotraqueíte infecciosa das aves. Segundo Alexandre Palma, gerente regional de avicultura da companhia, a linha é uma nova geração de vacina concebida pelo processo de engenharia genética. "Onde temos um vírus vacinal que chamamos de "Vetor" e neste é inserido genes que codificam estruturas antigenicas de outros tipos de vírus, formando assim uma vacina recombinante que irá proteger contra dois tipos de enfermidades. Primeiramente, lançamos a Innovax® ILT, que tem como vetor o vírus vacinal HVT da Doença de Marek e a inserção do gene do vírus da Laringotraqueite. A escolha do vírus da doença de Marek HVT é devido ao seu grande genoma e por apresentar uma replicação em todo o organismo da ave, garantindo uma proteção sólida durante toda a vida produtiva da ave", diz Palma.

Para a Pfizer, o segmento de vacinação avícola, a nova aposta é que as tecnologias do futuro serão a vacinação in-ovo e a imunização com múltiplos antígenos em DNA, customizados de acordo com a linhagem e a finalidade das aves. "Para aves adultas, as tendências nesta área estarão ainda relacionadas a outros métodos, como a imunização via ração, capaz de reduzir a mão de obra - que será cada vez mais escassa e de alto custo", diz Paulo Teixeira, team leader da unidade de negócios aves da Pfizer Saúde Animal. "Acreditamos ainda que a pressão dos consumidores em prol do bem-estar animal também deve implicar na mudança de alguns procedimentos em vacinação avícola. Atualmente, por exemplo, a maioria dos processos de manufatura continua a ser feita de maneira tradicional, com a replicação do antígeno viral em ovos embrionados ou cultivos celulares, em tanques de fermentação para bactérias. No futuro, deverá haver meios sintéticos que conservem a imunogenicidade das vacinas, mas que não necessitem de substratos biológicos vivos", diz Teixeira.

O foco neste segmento é justificável. Isso porque as exportações brasileiras de frango fecharam o ano com significativo aumento de recente frente ao ano anterior. O crescimento foi de 21,2%, totalizando US$ 8,253 bilhões, segundo dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef).


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