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PECUÁRIA - Os preços das carnes decolaram tanto aqui como lá fora
rev 167 - janeiro 2012

O ano que terminou foi atípico. O primeiro semestre teve preços elevados, sendo mantido o ritmo da entressafra do ano anterior. Entretanto, em meados de 2011, os efeitos da crise econômica externa e a desaceleração da economia brasileira começaram a pesar sobre os preços da pecuária, em grande parte do segundo semestre, foram menores que no primeiro. Recentemente, esse foi o diagnóstico realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Esalq/USP, sobre uma conjuntura geral do mercado da pecuária. Segundo dados da entidade, no balanço, fica claro que 2011 não teve o mesmo desempenho de 2010, mas não se pode dizer que foi um ano ruim para a pecuária. E talvez, não tenha sido.

De modo geral, o setor de carnes foi o principal exportador do agronegócio no mês de dezembro de 2011, com um patamar de US$ 1,28 bilhão em vendas ao exterior, ou 18,3% do total exportado pelo agronegócio brasileiro no período. O valor representou um crescimento de 13,8% em relação aos US$ 1,12 bilhão exportados pelo setor em dezembro do ano anterior. Dados do Ministério da Agricultura apontou que os principais responsáveis pelos valores comercializados foram a carne de frango, com US$ 650,1 milhões em vendas, e a carne bovina, com US$ 413,7 milhões exportados. Em dezembro de 2011, o setor de carnes registrou crescimento tanto das quantidades embarcadas (6,1%) quanto do preço médio comercializado (7,3%).

No ano de 2011, só os embarques de carne totalizaram 1,097 milhão de toneladas, 10,8% a menos que em 2010, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Apesar da queda registrada dos volumes, a receita com as exportações de carne bovina cresceu 11,65%, saindo de US$ 4,814 bilhões, em 2010, para US$ 5,375 bilhões no ano passado. Dados da entidade apontam que a Rússia se manteve como a principal compradora da carne brasileira, abocanhando 22% do mercado, ou seja, importando mais de 226 mil toneladas entre janeiro e novembro. "De modo geral, o ano foi considerado positivo para a indústria exportadora de carne", diz Fernando Sampaio, diretor executivo da Abiec.

Segundo Sampaio, fatores foram pontuais para a queda da exportação, como por exemplo, a carne brasileira teve alta de preços lá fora e como consequencia houve um recuo no volume exportado, não só por conta dos preços, mas também pela queda na demanda, motivada, em parte pela crise econômica europeia. "Em contrapartida, houve um crescimento de consumo do mercado interno, graças ao aumento da renda da população", diz Sampaio.

No próximo ano, um dos desafios apontados pela indústria de exportação será buscar abertura em novos mercados e expansão nos mercados já existentes. "Além das negociações para a reabilitação de unidades exportadoras brasileiras pela Rússia, o país está de olho nos mercados da Turquia, México e Angola", diz Sampaio. "Esperamos alcançar o volume de US$ 6 bilhões, em 2012", afirma.

E se em time que está ganhando não se mexe. Para alguns analistas do setor, 2012 promete ser ano ainda bom, principalmente no mercado interno, porém com alguns pequenos ajustes. "Porém, não será tanto quanto o ano passado", diz José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP. Segundo Ferraz, o mercado interno segue aquecido e poderá ter reflexos de um novo posicionamento devido à crise lá fora. "Exportações menores deixaram os preços internos competitivos. Com isso, o brasileiro consumiu de 35 a 36 quilos em 2011, 9% mais do que em 2010", justifica Ferraz.

Frango brasileiro pede passagem

Recorde, recorde e mais recorde. A avicultura brasileira nunca se utilizou tanto desta palavra para mostrar os resultados positivos que encerram o ano de 2011. As exportações brasileiras de frango fecharam o ano com significativo aumento de receita frente ao ano anterior. O crescimento foi de 21,2%, totalizando US$ 8,253 bilhões, segundo dados da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), anunciados no dia 9 de janeiro, em São Paulo. Em volume, foram vendidas ao exterior 3,942 milhões de toneladas no ano, aumento de 3,2% em relação as 3,820 milhões de toneladas embarcadas em 2010. Os números finais da produção de carne de frango fecharam em 13,058 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 6,8% em relação a 2010 e um recorde na história do setor.

Com este desempenho, o Brasil, terceiro maior produtor mundial de carne de frango do mundo, encurtou ainda mais distância que o separa da China, o segundo país no ranking, atrás dos Estados Unidos. De acordo com projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a produção chinesa de carne de frango teria somado 13,2 milhões de toneladas em 2011, contra 16,757 milhões da norte-americana. Neste número, segundo dados da entidade, as exportações de cortes lideram, com embarques de 2,067 milhões de toneladas, aumento de 4,8% sobre 2010. Em seguida, estão as vendas de frango inteiro, com 1,5 milhão de toneladas, e as de frango industrializado, com embarques de 179,8 mil toneladas.

O Oriente Médio seguiu o ano de 2011 como o principal destino da carne de frango brasileira, totalizando 1,413 milhão de toneladas, um crescimento de 3,5%, em comparação ao ano anterior. A Ásia vem em segundo lugar, com 1,143 milhão de toneladas, e a África em terceiro, com um volume de 498 mil toneladas.

O setor também ressaltou em 2011 o peso da demanda do mercado interno, já que 69,8% da produção ficaram no país. No ano passado, o consumo per capita de carne de frango foi de 47,4 quilos, contra 44 quilos em 2010, com crescimento de 7,5% e registrando um patamar inédito. Ou melhor, um novo recorde. Isto significa que, no ano passado, o consumo de carne por habitante foi, em média, de quase quatro quilos mensais ou um quilo a cada semana. "O ano de 2011 encerrou com excelentes resultados. Chegamos a eles, devido o aquecido de consumo, advindo de um aumento na renda, principalmente, entre as classes C e D. Outro fator também é que o setor está investindo mais em tecnologia. Resultado: a qualidade superior da criação e o fim dos mitos, envolvendo as aves", afirma o presidente executivo da Ubabef, Francisco Turra.

Para o ano que vem...

Com relação às perspectivas para esse ano, a entidade destacou que, devido às incertezas da economia mundial, as empresas do setor estão adotando uma postura conservadora, prevendo um crescimento de até 2% tanto na produção quando nos volumes exportados.

"Em primeiro lugar, a crise internacional ainda não passou e a questão do Custo Brasil poderá agregar a uma fase negativa aos mercados neste ano. Tudo pode ser envolvido com a questão dos investimentos e infraestrutura", afirma. "Outro problema é a questão da estiagem nas regiões produtoras de milho, o que pode ocasionar um aumento no custo da produção. Provavelmente essa questão pode gerar um aumento no preço da venda da carne, que é considerada até então bem mais barata, em comparação as demais", pontua Turra.

Ovos superam mitos

Já a produção de ovos totalizou 31,5 bilhões de unidades (1,9 milhão de toneladas), com crescimento de 9,4%, exibindo um desempenho inédito. O Estado de São Paulo, com 35,85%, liderou a produção de ovos em 2011. Os outros grandes produtores foram Minas Gerais (11,45% do total), Paraná (6,92%) e Rio Grande do Sul (5,91%). Já o consumo per capita de ovos no Brasil, ano passado, chegou a 162,5 unidades, contra 148,8 unidades em 2010, com um crescimento de 9,2%. "O crescimento do consumo de ovos reflete na superação de mitos", afirma Turra.

As exportações de ovos somaram 16,6 mil toneladas em 2011, o que representou redução de 40% em relação a 2010. A receita cambial, de US$ 28,2 milhões, teve uma redução de 31%. O preço médio foi de US$ 1.697 a tonelada, com incremento de 14,7%. África, com 11,2 mil toneladas, e Oriente Médio, com três mil toneladas, foram as principais regiões de destino. Entre os países, os maiores compradores foram Angola, com 10,6 mil toneladas, e Emirados Árabes Unidos, com três mil toneladas.

Frango sobe na balança
Consumo per capita
Ano 2011
47,4 quilo
Ano 2010
44 quilos

Produção (milhões de toneladas)
Ano 2011
13,058 (milhões de toneladas)
Ano 2010
12,230 (milhões de toneladas)

Vendas Externas
Ano 2011
US$ 8,853 bilhões
Ano 2010
US$ 6,808 bilhões
Dados UBABEF

Mais leite e mais custo também

A pequena valorização do dólar deve garantir melhores condições de competitividade ao produto nacional e reduzir o ritmo das importações. Segundo Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil, entidade que representa os produtores de leite, esse fato pode favorecer o mercado, que aguarda um crescimento em torno de 4%, no ano de 2012. "O mesmo que ocorreu no ano passado. Apesar dos custos altos, os preços não foram dos piores. A demanda interna por lácteos subiu, o que agradou. O cenário tem tudo para se repetir", diz.

Estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o consumo litros "per capita" passou de 163 litros, em 2010, para 165 no ano passado. A expectativa é que alcance 170 litros, neste ano. Estimativas da Leite Brasil apontam que a produção brasileira de leite deve atingir 30 bilhões de litros, em 2012.

Acompanhando a demanda de consumo e produção, os preços também subiram. Em 2010, o preço pago ao produtor era de R$ 0,71 (litro), chegando no ano passado a R$ 0,83 (litro). Porém, além do preço subir para o produtor, por sua vez, ele também terá um reajuste para o consumidor em 2012, que pode chegar entre 5% a 6%. "O preço do leite subirá, uma vez que o custo de produção está aumentando. Não somente o custo primário como também nas indústrias lácteas", diz. Outra atenção é com relação à balança comercial. "Se no ano passado, registrou-se saldo negativo de 124 mil toneladas ou US$ 500 milhões. Em 2012, o déficit deverá ser menor, consequencia de uma produção suficiente para atender a demanda sem sobras", afirma Rubez.

Mais exportações à vista para os suínos

Os suinocultores podem comemorar os bons resultados obtidos em 2011 e aguardar por uma expectativa positiva, em 2012. O Brasil está prestes a conquistar a habilitação sanitária na Ásia para a carne suína. A China aprovou os primeiros frigoríficos durante a visita da presidente Dilma, em maio do ano passado, e o Japão e a Coreia têm processos de habilitação bastante adiantados. Entre uma negociação e outra, os russos também podem acenar positivamente para a carne brasileira. Sem mencionar a aprovação do Food Safety and Inspection Service dos EUA (FSIS), serviço semelhante às normas sanitárias de abate de suínos entre Brasil e os Estados Unidos.

Segundo nota da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), essa aprovação finaliza um longo processo de habilitação das exportações brasileiras. Só resta informar quais os estabelecimentos frigoríficos se enquadram nas normas equivalentes. "O ano de 2012 começa com boas notícias para o setor. A perspectiva com relação à exportação são as melhores possíveis", afirma Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

Em contrapartida a euforia das exportações, o mercado interno pode sofrer alguns reajustes, neste ano. Os custos mais altos de produção, envolvendo os principais insumos, entre eles, o milho, poderão afetar o produtor. "As fortes estiagens na região Sul do País é ainda um fato preocupante. O insumo representa 70% do custo da produção", diz. "Iremos aguardar os próximos meses para verificar a real situação", afirma Lopes.

Segundo o presidente da ABCS, por outro lado, a demanda de consumo interno segue aquecida e os preços pagos ao produtor também. De acordo com a entidade, o consumo "per capita" de carne suína atingiu os patamares de 15kg, no ano passado. Valor 1,5kg maior do que o Brasil vem apresentando desde 2006, período em que o consumo se manteve estagnado na casa do 13kg "per capita". "Esses números eram previstos para serem alcançados só em 2013. Com relação a preços alcançados no mercado, em algumas região, eles estão sendo mantidos em patamares que atendem às necessidades dos produtores, sempre acima dos valores de produção", afirma Lopes.

Rações: Crescimento com cautela

A produção brasileira de ração deve somar 66,6 milhões de toneladas em 2011, crescimento de 4,7% sobre o ano passado, segundo projeção do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações). Conforme a entidade, os números que são estimativas (uma vez que ocorre o fechamento no mês de março) mostram que as empresas do segmento vão gastar cerca de US$ 20 bilhões na compra de insumos para a produção de rações em 2011. Matérias-primas como os grãos estão incluídas nessa conta. A avicultura de corte já representa 50% da demanda nacional e a estimativa é que o setor tenha consumido mais de 32 milhões de toneladas em 2011.

Na opinião do vice-presidente da Sindirações, Ariovaldo Zani, a persistência do câmbio valorizado, os reflexos da crise fiscal da União Européia, os confrontos geopolíticos no Oriente Médio e os embargos da Rússia e África do Sul prejudicaram bastante as exportações quando comparadas ao mesmo período de 2010. "O crônico desgaste econômico no Japão, o imbróglio fiscal na União Européia e os conflitos geopolíticos e sócio-econômicos no mundo Árabe podem atrapalhar as pretensões de crescimento dos exportadores brasileiros e o excedente de produção inundar o mercado doméstico fazendo desabar o ritmo de alojamento de pintinhos e conseqüentemente esfriar a demanda por ração", pontua. "Da mesma forma, esse estado enfermo da economia global é sinal de alerta para que consumidores poupem mais e gastem com cautela o que pode prejudicar o acesso à carne bovina, considerada a mais cara e favorecer a carne de frango e suína, mais baratas", diz Zani. Entretanto, a Sindirações prevê com cautela que a produção em 2012 deve crescer de 3 a 5%.


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