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PASTAGEM - Pasto que combina com tudo
rev 165 - novembro 2011

Do consorciamento com leguminosas até introdução de florestas ou produção de grãos - tudo isso é possível de se fazer nas áreas de pastagens. As práticas, além de fornecerem o alimento ideal ao rebanho, colaboram com o meio ambiente e com a qualidade do solo.

"PARA ESSES SOLOS QUE, DE CERTA FORMA, SÃO CONSIDERADOS MAIS FRACOS, A CULTIVAR QUE MAIS FUNCIONOU FOI UMA VARIEDADE DE ESTILOSANTES, LANÇADA PELA EMBRAPA GADO DE CORTE, EM ASSOCIAÇÃO A UMA BRAQUIÁRIA", DIZ JOSÉ ALEXANDRE AGIOVA DA COSTA, ESPECIALISTA EM FORRAGICULTURA E PESQUISADOR DA EMBRAPA GADO DE CORTE.

QUANDO O EUCALIPTO CHEGAR COM PELO MENOS UNS SETE OU OITO METROS DE ALTURA, FAZ-SE A DESRAMA DE GALHOS E, AÍ, OS ANIMAIS PODEM SER INTRODUZIDOS NA ÁREA, POIS A PASTAGEM, ATÉ LÁ, JÁ ESTARÁ FORMADA.

O consórcio de braquiária e estilosantes é de benefício mútuo, pelo fato de serem plantas de mesmo porte, por garantirem renovação e por não competirem uma com a outra por luz e nutrientes.

A vantagem do uso de pasto e lavoura está ligada essencialmente no adiantamento da entrada dos animais e o retorno mais rápido do capital investido para produzir a pastagem.

A leucena pode garantir o bem-estar dos animais e, consequentemente, promover a melhoria da produtividade, seja em termos de carne e ou de leite.

Entre as opções que podem ser avaliadas para o consórcio com as pastagens podem ser espécies leguminosas, milho, sorgo, soja e árvores - estas, como no caso do eucalipto, podem garantir renda extra ao pecuarista. No entanto, a opção clássica que tem feito muito sucesso, especialmente na região do Cerrado brasileiro, foi o consorciamento de espécies gramíneas com leguminosa. "Para esses solos que, de certa forma, são considerados mais fracos, a cultivar que mais funcionou foi uma variedade de estilosantes, lançada pela Embrapa Gado de Corte, em associação a uma braquiária", diz José Alexandre Agiova da Costa, especialista em forragicultura e pesquisador da Embrapa Gado de Corte. "O motivo pelo qual houve o maior sucesso desse sistema pode estar relacionado a dificuldades de adaptação de outras cultivares, que exigiam mais fertilidade do solo".

Para Costa, este seria o exato exemplo de consórcio de benefício mútuo que pode ser estabelecido com espécies gramíneas, pelo fato de serem plantas de mesmo porte, por garantirem renovação e por não competirem uma com a outra por luz e nutrientes, como há em outros tipos de consórcio.

Em consideração a esses fatores, a mistura de Brachiaria brizantha e Stylosanthes capitata 80% + Stylosanthes macrocephala 20% foi a de maior sucesso. De acordo com Costa, outras espécies exigiriam mais fertilidade do solo. "Nesse caso, esse tipo de consorciamento é para solo pobre, mesmo - do tipo arenoso. Outra coisa importante, encontra-se semente no mercado com facilidade", destaca.

Pelo relato do pesquisador da Embrapa Gado de Corte, é muito comum ouvir perguntas de pecuaristas quanto aos tipos de consórcio que conduzidos fora do Brasil, e se esses seriam viáveis por aqui. A reposta chave, nesse caso, é que para tudo há restrições e fatores limitantes no estabelecimento de uma cultura.

Um exemplo disso pode ser o próprio sistema de braquiária com estilosantes. Fatores como o manejo, o uso, a falta de interesse de comer do rebanho ou mesmo de provocar problemas nutricionais nos animais são algumas variantes que são passíveis de ocorrer e que limitariam esse sistema em determinadas regiões, de acordo com Costa. No entanto, no geral, o que a própria Embrapa tem pesquisado, esse sistema é o que vem conferindo maiores resultados.

Entre as vantagens do sistema de consorciamento de braquiária e estilosantes, pode-se destacar (1) a melhora o valor nutricional das pastagens, em função da presença da leguminosa - "essa tem uma digestibilidade maior que a da gramínea e, portanto, o animal come e aproveita melhor", atesta Costa; (2) a dispensa do uso de adubação nitrogenada; e (3) a melhor distribuição da produção de forragem durante o ano - "não vai resolver o problema do período seco, mas vai avançar dentro dessa época ainda com forragem", pondera o pesquisador.

Até antes de 2000, esse tipo de consorciamento com uma leguminosa só era visto em produção de pastagens temperadas. Com a entrada do estilosantes, essa questão foi resolvida e inaugurava-se a era do desenvolvimento da cultura de forragens tropicais.

Integração Lavoura-Pecuária

Se entrar para o ramo de integração lavoura-pecuária, o sorgo, ou mesmo o milho e a soja já se encaixam bem nisso - no entanto, cada qual terá de ser estabelecido um plano distinto. "Você pode plantar uma soja, que é uma leguminosa, e depois pode vir com pasto, formado na safrinha - que pode ser formado conjuntamente com o sorgo", exemplifica Costa. "No outro ano, nessa mesma área onde foi plantada a soja, pode ser estabelecido o pasto (se a opção não for milho). Então vai rolar dois anos e vai voltar a ter soja ali. Então, planta-se a soja, ali. Colhe lá no final de março. Semeia sorgo com a braquiária; o sorgo cresce rapidamente, adianta a entrada dos animais em 20 a 30 dias - enquanto isso a braquiária vai se desenvolvendo".

Nesse toada, os animais comeriam todo o sorgo e, posteriormente, teria a braquiária disponível. De acordo com o pesquisador, esse é um tipo de consórcio que se pode fazer para adiantar a entrada dos animais na área de pastagem. A pastagem fica formada com a braquiária, naquele ano. Passa o próximo verão, vai continuar com braquiária. Passa mais um período seco, e aí a soja volta. Aí, pode-se usar o sorgo, ou milheto, para adiantar a entrada dos animais. "No entanto, em termos de consorciação de benefício mútuo, em função de que a leguminosa fixa o nitrogênio do ar no solo, isso, não tem. Só há o benefício do adiantamento da entrada dos animais e mais rápido o retorno do capital investido para produzir a pastagem", afirma Costa.

Sistemas silvipastoris

Com a integração lavoura-pecuária-floresta, você tem outras opções que são novas, que também têm sido bastante utilizadas. Nesse sentido, árvores podem ser plantadas na pastagem, ou mesmo formar pastagem com uma leguminosa (arbórea ou arbustiva), que vão servir de sombra e pode ser utilizada pelos animais como alimento, eventualmente.

Um exemplo disso pode ser a leucena, por garantir o bem-estar dos animais e, consequentemente, promover a melhoria da produtividade, seja em termos de carne e ou de leite. A limitação do uso dessa espécie estaria relacionada à presença de alumínio nos solos, mas um bom manejo de correção desfaz essa condição antagônica, de acordo com Costa.

"Outra possibilidade é o uso do eucalipto, que não é uma leguminosa, mas pela grande procura que ele proporciona, pelo rápido crescimento e pela grande tecnologia que tem no Brasil na produção de mudas e máquinas para colher, a planta se torna economicamente interessante para o produtor", avalia. Nesse caso, o eucalipto vai pra produção de lenha, ou vai para produção de madeira para a construção civil ou rural.

É indicado o plantio dessa espécie em linhas solteiras, com um espaçamento e uma alternância da linha de árvores com uma faixa de pasto. Esse espaçamento não é fixo, nem o número de linhas que vai ficar junto. Se o que se almeja é uma produção de madeira com sombreamento para os animais, então o produtor terá de distanciar o pasto e a linha de árvores de acordo com o tamanho do maquinário que possui. Em termos gerais, há estudos onde com espaçamento de 11 metros (m) e com 22 m, nos quais a lotação média por ano chega a duas cabeças por hectare.

Na implantação desse sistema é necessária uma correção da fertilidade da área para o estabelecimento e bom desenvolvimento do eucalipto. Na época das águas as mudas são plantadas. A pastagem pode ser semeada mais tarde, em meados de janeiro e fevereiro, quando estiver chovendo bem. Quando o eucalipto chegar com pelo menos uns sete ou oito metros de altura, faz-se a desrama de galhos e, aí, os animais podem ser introduzidos na área, pois a pastagem, até lá, já estará formada.

"O eucalipto possui um crescimento muito rápido - se planta com cerca de 20 a 30 centímetros no campo e com dois anos ela já está com 12 m de altura. No período de crescimento ativo, ele exige a água compatível com a velocidade de crescimento que ele tem. Ele não pega mais água que outras espécies. A eficiência de uso da água dele é muito boa, pois é uma espécie de clima desértico praticamente. Na Austrália, por exemplo, onde nasce eucalipto quase nem chove", pondera Costa.


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