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MOFO BRANCO - Uma vez instalado na lavoura não sai mais
rev 163 - setembro 2011

Uma vez intalada na lavoura de soja a doença não sai mais, e assim, o produtor tem de conviver com ela pelo fato de o fungo conseguir permanecer por vários e vários anos no solo, ressalta o engenheiro agrônomo e especialista em fitopatologia da Embrapa Soja, Maurício Conrado Meyer.

A doença, também denominada podridão branca da haste, faz parte dos males que atingem haste, vagem e semente da soja. É causada por um fungo - Sclerotinia sclerotiorum - que possui uma qualidade muito indesejável, a de ser um hóspede muito persistente e resistente. De acordo com o engenheiro agrônomo e especialista em fitopatologia da Embrapa Soja [Londrina (PR)], Maurício Conrado Meyer, essa qualidade torna esse agente patológico impossível de ser expurgado totalmente dos campos.

"Uma vez instalada na lavoura de soja, a doença não sai mais, e assim, o produtor tem de conviver com ela pelo fato de o fungo conseguir permanecer por vários e vários anos no solo", ressalta.

O mofo branco, nos últimos seis anos, cresceu violentamente em importância para a cultura da soja. Já houve registros de danos - em pontos isolados - que chegaram a comprometer 40% a 60% da lavoura, no entanto, em média, as perdas giram em torno de 10%. Estima-se hoje que esse mal esteja presente em cerca de 2,7 milhões de hectares de área de soja, ou algo em torno de 10% a 11% da área cultivada da oleaginosa no País. As condições mais favoráveis ao desenvolvimento do fungo são em áreas com temperaturas mais amenas, com médias abaixo de 25º C - no Cerrado, as áreas mais altas podem apresentar essas condições.

A convivência com mofo branco deve envolver todo um manejo que passa pela aquisição de sementes certificadas, tratamento dos grãos destinados ao plantio, aplicação de fungicidas em época adequada, além de todo trabalho de rotação de culturas não hospedeiras e cuidados na hora da colheita.

Campo farto

Outro fator preponderante para a perpetuação do fungo nas lavouras Brasil afora também se relaciona a quantidade de espécies suscetíveis a ele. Segundo Meyer, atualmente há cerca de 400, incluindo aí plantas daninhas, que viabilizam o patógeno e, dessa forma, contribuem para que ele tome conta dos campos. Entre as lavouras hospedeiras estão o algodão, o feijão, o tomate e a ervilha. "Se não houver controle efetivo, essa doença se espalhará mais e mais pelo solo tornando inviável o cultivo de qualquer uma dessas lavouras", alerta o pesquisador.

Os primeiros sintomas são manchas aquosas que evoluem para coloração castanho-clara e logo desenvolvem abundante formação de micélio branco e denso (como uma película de algodão sobre o vegetal). O fungo é capaz de infectar qualquer parte da planta, porém, as infecções iniciam-se com frequência a partir das inflorescências e das axilas das folhas e dos ramos laterais. Ocasionalmente, nas folhas, podem ser observados sintomas de murcha e seca. Em poucos dias, o micélio transforma-se em massa negra e rígida, o esclerécio, que é a forma de resistência do fungo. Os esclerécios variam em tamanho, e podem ser formados tanto na superfície como no interior da haste e das vagens infectadas.

A fase mais vulnerável da planta vai do estádio da floração plena ao início da formação das vagens. Esclerécios caídos ao solo, sob alta umidade e temperaturas entre 10ºC e 21ºC, germinam e desenvolvem na superfície do solo demais estruturas do fungo, chamadas apotécios. Estes produzem ascósporos (ou esporos) que são liberados ao ar e são responsáveis pela infecção das demais plantas. A transmissão por semente pode ocorrer tanto através de micélio dormente (interno) quanto por escleóácios misturados às sementes.

Cuidados com a sementeira

Daí, então, deve-se iniciar o controle do mofo branco - com o uso de sementes certificadas, beneficiadas e devidamente tratadas a partir de produtos adequados. "Nossa legislação não permite que haja esclerócios em meio às sementes", afirma Meyer. "Nesse sentido, sementes que estão registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estão livres dessas partículas de S. sclerotiorum, eliminados no processo de beneficiamento. Por isso o produtor tem de sempre adquirir sementes certificadas, de boa procedência e qualidade.

No caso de produtores que fazem uso de grãos próprios para estabelecer o cultivo, é essencial que se observe se o material colhido não veio de áreas com infestação de mofo branco, se foi feito o devido beneficiamento para a retirada de possíveis esclerócios e, também, se as sementes foram tratadas com fungicidas apropriados.

Em geral, esse tratamento é composto por misturas de dois ingredientes ativos (um de contato e outro sistêmico) que são eficientes na erradicação desse fungo que, às vezes, pode estar aderido à semente. Meyer destaca que, na última Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil (RPSRCB), foram aprovadas já para essa safra algumas classes de fungicidas para o controle da doença tanto para a parte aérea da planta (em pulverizações) como para o tratamento de semente em si - dois produtos, à base do princípio ativo fluazinam, estão devidamente registrados pelo Mapa. "De fato são fungicidas de um custo bastante elevado se comparado, por exemplo, com o custo de controle da ferrugem, mas em áreas onde a doença já esteja se agravando, a opção deve ser estudada para ter o menor número possível de plantas infectadas. Outro princípio ativo que deve ter aprovação em breve e procimidona", diz Meyer.

Química e física

No caso do controle quÍmico, a época ideal se dá com o período de floração da soja, pelo fato de assegurar o melhor desenvolvimento dos grãos. O combate propriamente físico ao fungo pode ser feito a partir do controle biológico. Outras espécies de fungos são classificadas como antagônicas a S. sclerotiorum e, por isso, atuariam como agentes de equilíbrio fitossanitário. Mas para que isso ocorra é necessário haver uma palhada de cobertura no solo nos campos de soja, a qual resultará em sombreamento e umidade, ou seja, as condições adequadas para o estabelecimento desses tipos de fungo. Ainda, a express‹o física pode relacionar o estabelecimento de rotação de culturas não hospedeiras para diminuir a incidência e o progresso de infestação da doença. "Gramíneas, de forma em geral, como o arroz, o milho, e a braquiária são interessantes opções para se estabelecer na região do Cerrado", frisa o pesquisador da Embrapa Soja. "Esta última é especialmente uma boa opção para propriedades que possam implantar a integração lavoura-pecuária. Na Região Sul, as culturas como o trigo, a aveia e a cevada destacam-se como saídas viáveis à rotação".

Ainda são recomendadas práticas como a eliminação de plantas hospedeiras do fungo, adubação adequada, aumento do espaçamento entrelinhas, reduzindo a população ao mínimo recomendado, para evitar o acamamento e facilitar a ventilação e a penetração dos raios ultravioleta do sol, que diminuem a incidência do mofo branco.

Atenção aos maquinários

Por fim, outro cuidado que deve se ter é em relação à limpeza das máquinas agrícolas como plantadeiras e colheitadeiras - ainda mais pelo fato de haver a prestação de serviços de plantio e colheita àqueles produtores que não detém máquinas próprias. Esses equipamentos têm de ser muito bem limpos ao passarem de uma área a outra. "Se uma colheitadeira, por exemplo, colhe numa área de soja que tenha mofo branco, provavelmente, no interior dela vai ficar esclerócios, que podem propagar a doença em áreas que não havia registros da incidência do fungo", conclui.


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