Edições Anteriores
SINCRONIZAR o cio para ganhar tempo
rev 162 - agosto 2011

E para ganhar dinheiro também, pois a prática reduz os custos da propriedade, facilitando muito o manejo e proporcionando um número maior de vacas prenhes num periodo pré-estabelecido.

É possível escolher o momento de inseminar as vacas, sem a necessidade de esperar que a natureza determine. Trata-se da inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Essa ferramenta tem movimentado o dia-a-dia das fazendas e dos grupos de pesquisa em reprodução animal. Pela técnica as vacas têm a ovulação induzida, e a inseminação pode ser feita com data marcada, tudo com a maior naturalidade, apenas com a utilização de produtos específicos. A forma de aplicá-los nos animais depende de fatores como, a raça, a idade, a condição corporal e o número de crias. Além disso, a condição nutricional da vacada é fundamental para garantia dos resultados.?

Hoje a IATF já é uma tendência mundial e importante para o desenvolvimento da pecuária no Brasil. A adesão de usuários em todas as regiões do país é crescente e o número de cabeças inseminadas aumenta exponencialmente a cada ano. Com a técnica, a inseminação do animal é feita antes da ovulação. Desse modo, quando a vaca ovula, já está preparada para ficar prenhe. Assim todas as vacas de um rebanho podem ser sincronizadas para serem inseminadas num único dia. ??

O método ainda facilita o manejo nas fazendas, além de melhorar a qualidade de vida do homem do campo. Ele passa a programar a inseminação do animal. Em um dia, é possível inseminar de 100 a 250 vacas, observa Pietro Baruselli veterinário e professor da Universidade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o uso da IATF é vantajoso porque permite inseminar maior número de vacas em menos tempo, além de induzir ciclicidade. ´´O resultado final é maior produtividade para a fazenda, ressalta ele. "É por meio da inseminação artificial que as fazendas garantem a melhoria genética de seus rebanhos". conclui. ?

?O professor faz algumas considerações que acha importantes para o emprego da sincronização de cio. Para ele, a técnica facilita e viabiliza o emprego da Inseminação Artificial, pois diminui o impacto do anestro pós parto (intervalo para apresentação do cio após a parição). Segundo Baruselli, o grande problema no Brasil relacionado a essa questão é que 80% do rebanho de fêmeas é formado por animais zebuínos. "As vacas paridas criadas a pasto, restabelecem seu ovário de 6 a 8 messe após o parto, observa. Com a sincronização de cio o produtor traz esse intervalo para no máximo 80 dias e deduzindo-se os 285 dias normais de gestação, ele vai ter um bezerro por ano e 560 de aproveitamento na sua propriedade". ??

Outra vantagem é a redução gradativa da baixa taxa de fêmeas inseminadas na estação de monta, problema sérios enfrentado pelos criadores. Além disso, a técnica possibilita que o criador trabalhe com progênie superior, de animais com DEPs positivas para varias características fisiológicas e físicas desejadas.

Vantagens na ponta do lapis

As vantagens econômicas da IATF para os criadores é outra questão importante colocada pelo pesquisador. O custo da utilização da técnica por animal, incluindo o protocolo de sincronização, a compra do sêmen e a mão-de-obra. O retorno desse investimento, de acordo com o professor da Universidade de São Paulo, depende do uso correto da técnica. Experimentos realizados pelo Departamento de Reprodução Animal da USP, mostram que os ganhos econômicos nos rebanhos que utilizaram a técnica são muitos. A taxa de prenhes no final da estação de monta cresceu 8%, o que significa para um lote de 100 vacas, 8 bezerros a mais. ??

O professor faz os cálculo: "Esse, é o principal apelo para o criador sobretudo o pequeno e o médio", declara. Além disso, a técnica possibilita ao produtor economizar com touros de repasse. Estudos realizados em varias fazendas mostraram que, quando se usa a IATF, a taxa de prenhez, já no meio da estação de monta é de 50% a 75% das vacas, em média. O restante, que normalmente segue para o repasse, já está com o ovário funcionando, o que eleva essa média para mais de 90%. "Com isso o produtor, ao invés de comprar três tourinhos de campo pode comprar somente dois, que vai dar conta de cobrir a vacada e economiza", enfatiza. ??

O passo da passo

O gerente de bovinos da Pfizer Saúde Animal, Mauro Meneghetti, apresenta um trabalho que mostra de forma prática e didática tudo o que é necessário para a aplicação com sucesso da IATF em rebanhos de corte (veja esquema anexo). No primeiro dia deve-se reunir as vacas para passarem pelo brete de contenção, onde sera feita a aplicação intramuscular de 2ml de estrogin (benzoato de estradiol, ou BE) e depois a aplicação do CIDR. Para isso utiliza-se um aplicador apropriado. É importante lembrar que, em caso de reutilização do CIDR, deve-se passar Terra-Cortril.

O procedimento para a aplicação do CIDR na vaca requer uma limpeza da vulva, que pode ser feita com papel toalha, a abertura da vulva suficiente para a colocação do aplicador (que deve ser introduzido até o fundo da vagina sem ferir o animal) e a aplicação propriamente dita, apertando o embolo até o fim. Entre uma aplicação e a seguinte é importante lavar o aplicador com uma solução de Biocid.

Sete dias depois, é o momento da aplicação intramuscular do Lutalyse, através de uma seringa de 3ml (a dose do produto é de 2,5 ml), que pode ser feita no tronco, agilizando o trabalho dos peões.

Dois dias depois chega a hora de retirar o CIDR. Antes, é necessária a aplicação intramuscular de 0,3ml de ECP. No caso de se optar pela não retirada, deve-se então fazer uma aplicação de 1,5ml de eCG (Foligon ou Novormon). Para guardar o CIDR retirado para futuras aplicações, recomenda-se logo após a retirada a lavagem em água corrente e depois mergulhar em uma solução de Biocid por cerca de um minuto, deixando secar à sombra antes de guardar.

O próximo passo é a retirada dos bezerros do pé da mãe, que ficarão afastados por um período de cerca de 48 horas. Esse trabalho exige alguns cuidados no manejo, não apenas para evitar estresse de ambos (mãe e filho) como também evitar dificuldades na contenção dos animais em piquetes separados. Para isso, dois dias antes da remoção (no dia em que se fez a aplicação do Lutalyse) é interessante trazer as vacas com os bezerros para o pasto onde ficarão durante a remoção de bezerros. Esse detalhe evita que as vacas tentem voltar (quebrem e amarrem nas cercas) para o pasto que estavam antes da remoção, o que normalmente ocorre quando as vacas são trazidas para o pasto apenas no dia da retirada do CIDR.

Tanto no manejo do sétimo dia (aplicação do Lutalyse) como no do nono dia (retirada do CIDR), após procedimento no tronco coletivo, os animais devem sair através do brete de contenção e não pelo apartador que, normalmente, fica antes do brete. Este cuidado facilitará a entrada dos animais no brete durante a IATF no décimo primeiro dia.

Todo o trabalho de remoção dos bezerros deve ser feito com extremo cuidado. Os piquetes em que ambos vão ficar (mães de um lado e filhos do outro) precisa permitir um contato visual e auditivo, evitando-se apenas o contato físico. Assim, orienta-se a manter os piquetes separados a uma distância de uns oito metros um do outro, com duas cercas de aproximadamente seis a sete fios lisos e uma distância não superior a 2 metros entre os balancins. O objetivo é evitar matrizes enroscadas nas cercas de arame tentando se aproximar de suas crias. O comportamento das fêmeas nesse período é típico, pois elas retornam sistematicamente ao ponto mais próximo dos bezerros constantemente, mantendo-os sempre sob suas vistas.

O piquete que comportará os bezerros deve ser seco e limpo, garantindo conforto térmico através de sombreamento natural e com pasto e ração abundantes e água de qualidade. Isso tudo vai minimizar problemas com diarreias. Mesmo assim é importante monitorar o comportamento dos bezerros durante todo o período de remoção.

Aproximadamente 36 horas após a remoção a maioria das matrizes já deverão estar apresentando sinais de cio, deixando-se montar. Outro sintoma típico, em decorrência do afastamento dos bezerros é as vacas apresentarem úberes cheios. Mesmo assim, não se deve permitir a amamentação nesse período, mantendo sempre os bezerros totalmente separados da mãe.

O reencontro só deverá ser promovido 48 horas depois, no décimo primeiro dia. Mistura-se mães e filhos em remanga do curral ou piquete. Deve-se permitir um tempo suficiente para que todas as matrizes e suas crias se reencontrem. Um bom indicativo é esperar até que não existam mais vacas ou bezerros berrando.

Finalmente chega a hora da inseminação. O bom armazenamento e manuseio do sêmen, tanto no processo de descongelamento quanto na sua aplicação, são fatores preponderantes no sucesso do trabalho. Para o repasse, as fêmeas devem ser colocadas junto ao touro a campo três dias após a inseminação. Deve-se observar o cio do retorno 18 a 23 dias depois.

Tecnologia é atestada na prática

Vários estudos e experimentos práticos mostram que a aplicação da IATF acelera o processo de melhoramento genético dos rebanhos. Na Fazenda Campo Grande, em Santo Antônio do Caiuá (PR), por exemplo, o uso da sincronização de cio e da inseminação artificial vêm garantindo ao produtor determinar quando e quantos animais serão inseminados. O resultado é maior produtividade e melhoria da qualidade genética do rebanho. ??O veterinário Marcelo Boskovitz, responsável pela fazenda, sincroniza o cio de um lote de 200 vacas paridas, com 60 dias pós-parto e em bom estado corporal. Segundo ele, ao aplicar a técnica, cerca de 130 vacas (65%) entram no cio ao mesmo tempo. O grupo é então inseminado num intervalo de apenas cinco dias.

A taxa de prenhez atinge 70%, o equivalente a cerca de 90 vacas gestantes nessa primeira etapa da sincronização. ??Boskovitz, conta o passo a passo de como é realizado o trabalho na fazenda. No primeiro dia, as vacas recebem um dispositivo intravaginal de progesterona natural, CIDR que fica alocado durante uma semana. No oitavo dia os dispositivos são retirados dos animais, sendo em seguida, aplicado uma dose de Lutalyse (prostaglandina natural). Do nono ao décimo terceiro dia, é o período onde a vaca fica em observação de cio para proceder à inseminação artificial. A partir daí o produtor tem um período para realizar a primeira inseminação. Esse período dura, normalmente até trigésimo quarto dia, quando é feito o levantamento do retorno da inseminação nesses animais.

A partir do trigésimo quinto dia as vacas que não foram inseminadas são soltas com o touro. ??Ao final de todo o processo, a Fazenda Campo Grande consegue obter de 65% a 70% de vacas gestantes em relação ao lote inicial de 200 animais sincronizados. Apenas as vacas não inseminadas são soltas para a cobertura com o touro. Isso significa menor número de vacas para cruzar com o touro, diz Boskovitz. "O que por sua vez significa que podemos ter touro de melhor qualidade porque precisamos de menos touros para cobrir as vacas".


Edicões de 2011
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES