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CACAU - A Bahia do cacau fino
rev 157 - março 2011

Está localizada na Bahia, mais precisamente no município de Ibicaraí, no sul do Estado, a primeira fábrica de chocolates finos do País resultado do trabalho da agricultura familiar, a Bahia Cacau.

Reconhecida por sua importância na produção cacaueira, a Bahia é o principal Estado produtor do fruto no Brasil. Dados do levantamento de Lavoura Permanente, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que em 2009, a produção baiana de cacau (em amêndoa) alcançou 137.929 toneladas, com 549.769 hectares (ha) de área plantada, 513.935 ha de área colhida e rendimento médio de 268 kg/ha.

A relevância da cultura cacaueira no Estado é tanta que ganhou notoriedade além de seu aspecto econômico e sociocultural, chegando à dramaturgia em 1993, com a telenovela Renascer. A obra de Benedito Ruy Barbosa contava a saga de um fazendeiro da zona cacaueira de Ilhéus e retratava a rotina de algumas propriedades da região.

Agora, o Estado ganha uma nova aliada para expandir além de suas fronteiras a tradição e o sabor de seu cacau, com a chegada da "Bahia Cacau", instalada no município de Ibicaraí. Inaugurada há cerca de três meses, é a primeira fábrica de chocolates finos da agricultura familiar, no Brasil, nesta modalidade. Construída em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Sedir/CAR), a unidade opera em sistema cooperativista, envolvendo agricultores cadastrados na Cooperativa dos Agricultores Familiares da Bacia do Almada e Adjacências (Cooafba), sediada na cidade de Coaraci.

De acordo com o Sedir e com o responsável pela fábrica, Rogério Augusto Silva Pinto, a produção atual está entre 50 e 100 quilos por dia. O número só não é maior devido à falta de uma máquina embaladeira já pleiteada e a expectativa é que em cerca de seis meses a Bahia Cacau já esteja produzindo de 500 a 600 kg por dia. A capacidade é de produção é de 32 mil arrobas por ano, mas de acordo com as possibilidades, a unidade pretende atingir 15 mil ainda em 2011. "Ainda estamos em processo de aprendizagem, pois a fábrica foi inaugurada há apenas três meses. Produzimos chocolates finos feitos a partir do cacau premium, com qualidade superior aos demais. São 30 tabletes de seis gramas, barra de 20 gramas, bombom recheado (com frutas da região com 50% de cacau) e barra de um quilo (para produtos Gourmet)".

Inicialmente, os produtos têm sido vendidos na região e nos municípios de Coaraci e Itabuna, a venda está cotada em R$ 60 o quilo. Sobre a valorização, a fábrica está revendo custos junto ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O iniciativa conta com 100 agricultores envolvidos e já existem mais 150 cadastrados. A Sedir/CAR é responsável pela elaboração, sistematização e implantação do projeto e foi quem disponibilizou técnicos e engenheiros e outros profissionais. "A obra custou cerca de R$ 2 milhões e chegou em um momento de desenvolvimento econômico regional. A fábrica fortalece a agricultura familiar e revitaliza a economia do município", conta Rogério Pinto.

A unidade recebe matéria-prima dos cooperados, porém, em época de entressafra, é necessário recorrer a outros pequenos agricultores. O responsável pela fábrica ressalta que para testar a qualidade do produto recebido, as amêndoas do cacau passam por toda uma triagem e por classificação física e química. São estudadas, primeiramente, características como o aroma, a cor e outras que comprovem a excelência dessa amêndoa que ainda é submetida a um higroscópio - para fazer o teste de umidade.

Garantia de qualidade

Para Joel Pimenta, chefe do Escritório Local da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), empresa vinculada à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), em Coaraci, é necessário lembrar da importância da capacitação para que o agricultor alcance a qualidade do cacau necessária à fábrica. Para tanto, a EBDA realizou uma grande mobilização entre os agricultores da região, e os encaminhou aos cursos de capacitação oferecidos pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). "Sempre que necessário, estamos capacitando os agricultores no sentido de melhor prepará-los para atender a um mercado exigente como o de cacau. O agricultor entendeu que para o cacau ser bem classificado ele precisa redobrar a atenção no manejo das amêndoas, da colheita, quebra, fermentação e secagem", explicou o técnico.

Isso aconteceu, por exemplo, com a agricultora Maria Luiza Brandão, do município de Itapitanga, que participou do curso de classificação oferecido pela Ceplac, em parceria com a EBDA, e já provou que está capacitada. O cacau produzido na sua fazenda passou pelo processo de amostragem da fábrica e foi aprovado. "Eu já vendi oito arrobas para a fábrica. Estou muito satisfeita e trabalhando, junto com meu marido, para entregar muito mais", afirmou a agricultora.

Os pequenos produtores, que vendem o cacau para a fábrica, recebem assistência técnica da EBDA, com o objetivo de melhorar a produção, a produtividade e a qualidade do fruto, uma vez que a indústria exige um chocolate com teor entre 50% e 70% de cacau. Apesar do curto tempo de instalada, a indústria já apresenta resultados positivos. O secretário estadual da Agricultura, engenheiro agrônomo Eduardo Salles, abriu as portas do escritório de negócios da agropecuária baiana em Pequim para a comercialização do chocolate produzido na Bahia Cacau para a China, entre vários outros itens da agricultura familiar. Já para o mês de março, está previsto o envio de um lote do chocolate à China para análise e posterior adequação da embalagem do produto.


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