Edições Anteriores
SAFRINHA - Em constante evolução
rev 156 - fevereiro 2011

Cultivo do milho safrinha cresce em importância na produção total do grão. No campo, novas variedades chegam ao mercado para garantir melhor desempenho da safra em cada uma das principais regiões produtoras.

A evolução do milho safrinha tem ido além dos índices de área, produção e comercialização. Um dos grandes fatores responsáveis pelo sucesso e aprimoramento desse cultivo está em outro campo, o das pesquisas. De acordo com a Embrapa Milho e Sorgo, para a safra 2010/2011, os agricultores contam no mercado com 362 cultivares de milho convencionais e 136 variedades transgênicas. Ano após ano, o mercado recebe novas versões a serem introduzidas nessa lavoura, com características e exigências distintas de acordo com cada região. O pesquisador da área de fitotecnia e manejo de solos da unidade, José Carlos Cruz, acredita que, nesse sentido, é importante ressaltar que o melhoramento genético do milho é muito dinâmico, pois em todas as safras cultivares deixam de ser comercializadas e são substituídas por outras de maior potencial e melhores características agronômicas.

"Para esta safra, mais de 50 novas cultivares substituíram 34 que deixaram de ser comercializadas, demonstrando o dinamismo do setor. Obviamente, as maiores modificações nos últimos três anos foi a entrada de cultivares transgênicas no mercado. Na safra de verão (2009/2010), cerca de 35% das sementes de milho comercializadas foram de cultivares com eventos transgênicos e na safrinha (2010) este percentual atingiu cerca de 42%. Em alguns dos principais Estados produtores, as cultivares transgênicas ultrapassaram as convencionais, podendo ser citados os Estados de São Paulo e Bahia na safra de verão e São Paulo e Paraná, na safrinha", conta.

Dentre as prioridades buscadas no progresso e aprimoramento no melhoramento genético das variedades do milho safrinha, o pesquisador conta que para a safra 2010/2011 as cultivares transgênicas disponibilizadas no mercado são resultantes de cinco eventos transgênicos para o controle de lagartas: 50 cultivares contêm o evento MON810 - marca registrada YieldGard; 41 apresentam o evento TC1507 marca Herculex I e 17 o Agrisure TL - conhecido como Bt11; quatro apresentam o evento MON89034 e duas o evento MIR 162. "Além destes foram também disponibilizados dois eventos transgênicos que conferem resistência ao herbicida glifosato aplicado em pós-emergência: o evento NK60 3 Milho Roundup Ready 2 e o evento GA21. São 13 cultivares transgênicas que apresentam o evento NK60 3, mas o evento GA21 só aparece associado ao evento Agrisure TL - conhecido como Bt11 em uma cultivar. Temos oito cultivares transgênicas resistente a insetos da ordem lepidóptera e tolerante ao herbicida glifosato (quatro apresentam os eventos Milho TC1507 x NK603 e quatro apresentam os eventos Milho MON810 x NK603)".

Sanidade no safinha

A cultura é uma só, mas por ser estabelecida em época distinta, o milho na condição de safrinha assume particularidades e maiores exigências no controle de doenças. Segundo Cruz, embora haja uma variação relativamente acentuada entre anos, regiões e épocas de semeadura, há uma tendência das doenças apresentarem-se num nível de maior severidade no período de cultivo da safrinha.

Ele esclarece que isso ocorre tanto para as doenças não infecciosas e que são causadas por agentes - como temperatura, estresse hídrico, toxidez por produtos químicos, deficiência nutricional, entre outros -, como também para as doenças infecciosas que são causadas por fungos, bactérias, vírus, micoplasmas e nematóides. "A falta da prática da rotação de culturas, o uso de cultivares com baixo nível de resistência e as condições de estresse que as plantas frequentemente enfrentam no período, aliados às condições do ambiente mais favoráveis para a manifestação dos agentes causadores das doenças determinam a maior incidência destas no milho safrinha", completa.

Já com relação às pragas, o especialista destaca que não há grandes diferenças entre safra ou safrinha, entretanto o procedimento de tratamento de sementes com inseticida é uma técnica que não pode ser dispensada, especialmente para o cultivo do milho safrinha. O principal objetivo é proteger as plantas na fase inicial do desenvolvimento vegetativo contra o ataque principalmente de percevejos, especialmente do percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus), presente em praticamente todas as áreas onde se cultiva essa segunda safra de milho. Além disso, e dependendo do produto utilizado para o tratamento, há um efeito protetor também para outras pragas iniciais que atacam a lavoura. Entretanto, a decisão de gastar com o tratamento de sementes deve ser pautada no monitoramento prévio da palhada ou com base em histórico da área de cultivo.

Interferências externas

A ocorrência de geada (quanto mais ao sul do País), de seca nas regiões mais ao norte (em Goiás e Mato Grosso, por exemplo) e as características de solo são enumerados por José Carlos Cruz como os principais fatores que afetam a produção de milho safrinha em uma determinada região. "Ele tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura na fase final de seu ciclo. A época de plantio é, pois, o principal fator determinante do nível tecnológico das culturas considerando que, à medida que atrasa o plantio, há uma acentuada queda no potencial produtivo e aumento substancial do risco de perdas total ou parcial da lavoura", pontua, enfatizando que associado à época de plantio o mais cedo possível, toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração propiciar maior quantidade de água disponível para as plantas.

Híbridos e ciclos

Quanto ao tipo de sementes plantadas, ele salienta que, a exemplo da safra de verão, na de inverno, os híbridos simples, de maior potencial produtivo são os mais cultivados. De acordo com ele, os híbridos simples ocuparam, em 2010, cerca de 60% da área plantada com milho no verão e de aproximadamente 65% na safrinha. "À medida que se atrasa o plantio da safrinha, aumentando os riscos climáticos, o agricultor reduz o nível tecnológico, e ocorre um aumento do plantio de milhos híbridos duplos de menor custo. Verifica-se ainda uma maior preocupação de plantio de cultivares mais precoces, para escapar de provável déficit hídrico no final do ciclo. Pela mesma razão a densidade de plantio normalmente é menor na safra. Geralmente a densidade desse plantio é cerca de 20% menor do que na safra normal".

Com relação ao ciclo, José Carlos Cruz detalha que as cultivares são classificadas em normais, semiprecoces, precoces e superprecoces e que algumas outras são classificadas, pela empresa produtora, como hiperprecoces. "Esta classificação quanto ao ciclo não é muito precisa. Provavelmente por esta razão, para efeito do Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos, houve uma grande mudança em relação ao ciclo das cultivares. Para efeito de simulação, o Ministério da Agricultura classifica as cultivares em três grupos de características homogêneas: Grupo I (n < 110 dias); Grupo II (n maior ou igual a 110 dias e menor ou igual a 145 dias); e Grupo III (n >145 dias), onde n expressa o número de dias da emergência à maturação fisiológica".

Por fim, ele aponta que no mercado há ampla predominância de variedades precoces (72,5%) que são as mais plantadas em ambas safras. Entretanto, em situações especiais, para escapar de estresses climáticos como geada, em plantios tardios de safrinha nos estados mais ao sul, as cultivares hiperprecoces ou superprecoces que representam cerca de 24% do mercado, são utilizadas preferencialmente.

Cultura desenvolvida de janeiro a abril, o milho da segunda safra - ou safrinha - já corresponde, atualmente, a boa parte de toda a produção do grão no Brasil. O cultivo da safrinha compreende a região centro-sul do País, presente nos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

Para a atual safra, o milho safrinha deve participar com 41,7% de toda a área cultivada, apesar do atraso verificado para o começo do plantio, desencadeado pelo atraso ocorrido no cultivo de soja, cultura que normalmente antecede o ciclo do milho safrinha na maior parte das regiões produtoras. O quarto levantamento divulgado em janeiro, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), indica que a produção esperada para a Primeira Safra de Milho 2010/2011 está estimada em 31.511,20 mil toneladas, com uma redução entre 7,5%, enquanto a safra total de milho esperada é de 52.723,3 mil toneladas. O documento informa ainda que a expectativa da área total cultivada com milho em todo o País está em torno de 12.682,2 mil hectares, sendo 7.393,3 mil hectares cultivados na primeira safra.


Edicões de 2011
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES