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BALANÇO PECUÁRIA - Mais oportunidades aqui e lá fora
rev 155 - janeiro 2011

Ao longo de 2010, a recuperação da economia em países emergentes estimulou o consumo mundial de carnes favorecendo as perspectivas para 2011. As cadeias que não tiveram crescimento em exportação aproveitaram as chances no mercado interno.

O complexo de carnes mostrou também em 2010 sua importância e contribuição para o desempenho do agronegócio brasileiro, impulsionado pelo aumento de preço da carne bovina que puxou as médias dos preços de aves e suínos. Em São Paulo, por exemplo, a cotação da arroba, no mês de novembro, chegou a R$ 117,18, segundo o Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&FBovespa. A média anual da arroba teve incremento de 12,05% frente a 2009, fechando o ano em R$ 88,37.

No resultado da balança comercial do agronegócio, divulgado em janeiro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil registrou em 2010 exportações recordes no setor com US$ 76,4 bilhões - valor 18% maior que o apontado em 2009 - e superávit de US$ 63 bilhões. As carnes foram responsáveis por 17,8% do total das vendas externas do País, estando atrás da soja (com 22%) e do complexo sucroalcooleiro (18%). De acordo com o documento do Mapa, na análise dos 12 meses, a receita das exportações de carnes aumentou 15,6%, passando de US$ 11,8 bilhões, em 2009, para US$ 13,6 bilhões, em 2010. As vendas de carne de frango in natura foram 20,2% maiores (de US$ 4,8 bilhões para US$ 5,8 bilhões), por causa do aumento dos preços (13,4%) e do incremento da quantidade (6%).

A análise aponta ainda que devido à alta de 24,4% no preço da carne bovina in natura, e ao aumento de 2,7% na quantidade embarcada, o comércio do produto para mercados externos cresceu 27,7%, passando de US$ 3 bilhões para US$ 3,8 bilhões. A carne suína, no entanto, apresentou queda de 12,4% da quantidade exportada - redução, segundo o Ministério, compensada pela subida dos preços em 25,9%, o que resultou no aumento de 10,3% no valor exportado.

Apesar do saldo geral positivo em relação à comercialização externa da carne, internamente produtores e indústria continuaram a enfrentar em 2010 velhos problemas do setor. Questões como câmbio, logística e mão de obra qualificada figuram entre os principais entraves apontados por produtores rurais e indústria. Marcos Molina, fundador e presidente do Grupo Marfrig indica que "são desafios a serem superados para que o Brasil consiga manter o ritmo de crescimento dos últimos anos. Falta mão de obra em todas as áreas. Temos três mil vagas em nossas plantas no País e estamos com dificuldade para preenchê-las", conta.

O ano do frango

A União Brasileira de Avicultura (Ubabef) estima que a produção brasileira de carne de frango tenha alcançado em 2010 a produção recorde de 12,180 milhões de toneladas, o que representa crescimento de 10,9%, em relação a 2009. O consumo interno também aumentou, passando de 40 quilos (kg) registrados no ano anterior para 44 kg em 2010. O setor também comemora os índices dos volumes de exportação que mantém o Brasil no topo do ranking de maior exportador mundial - de janeiro a novembro, os embarques somaram 3,5 milhões de toneladas (t) (alta de 5,5%) e receita de US$ 6,187 bilhões, 17% maior no comparativo ao mesmo período de 2009. A projeção é que os embarques somem 3,830 milhões de (t) nos 12 meses de 2010 - um aumento de 5,5%.

Para o presidente executivo da Ubabef, Francisco Turra, o balanço de 2010 é positivo, assim como as perspectivas para 2011. Ele aponta que o ano só não foi fantástico por conta do expressivo aumento de custos com os insumos. "Além disto, o câmbio conspirou contra a nossa competitividade lá fora, diante da valorização do real frente ao dólar. Para este ano, as projeções da entidade apontam para um crescimento de 3% a 5% nos embarques. A demanda do mercado externo continuará aquecida, já que os estoques nos países importadores estão reduzidos", declara.

De janeiro a novembro de 2010, o Oriente Médio foi o maior comprador da carne de frango brasileira, com embarques de 1,2 milhão de toneladas. Na sequência, aparecem Ásia (857,7 mil t até novembro de 2010), União Europeia (429,5 mil t no período) e demais países europeus (183,7 mil t), África com 455,6 mil t e Américas com 260,4 mil t.

Suinocultura cresce internamente

De forma geral, 2010 foi um ano bom para a suinocultura, graças, principalmente, a força do mercado doméstico, conforme explica Fabiano Coser, diretor executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). "Fechamos o ano com rentabilidade, mas logicamente há disparidade. Houve aumento da produção em torno de 3,5%, queda nas exportações, aumento da disponibilidade interna em cerca de 6% e aumento no preço do suíno vivo ao longo do período o que demonstra a força desse mercado doméstico e isso foi a grande conquista: aumentar a disponibilidade e o mercado absorver isso", comemora.

As principais dificuldades sofridas pelo setor, segundo o diretor executivo, estiveram ligadas às exportações, de maneira macro, e ao arrojo nos preços dos grãos, sobretudo, no segundo semestre. "O primeiro desses pode ser atribuído à própria condição sanitária do País. Será muito difícil ganharmos qualquer mercado enquanto tivermos apenas um Estado livre de febre aftosa. Quanto à questão dos grãos, quando falamos em milho e soja não podemos pensar em estabilidade constante, já que trabalhamos em um mercado spot".

Segundo o presidente da ABCS, Irineu Wessler, para 2011, as perspectivas são positivas, considerando os avanços obtidos em 2010. "Os preços devem continuar deixando margens de lucros ao produtor, levando em conta vários aspectos. O primeiro deles porque a produção de suínos para este ano já está consolidada, por mais que se iniciem novos projetos. Um outro é o fato do produtor estar mais preocupado em investir em tecnologia para ser mais competitivo e bastante conscientizado sobre a importância da profissionalização. A cadeia está atenta desde a produção até a forma que este produto está sendo disponibilizado na gôndola do supermercado", enfatiza.

Aposta no potencial externo

No mês de dezembro, a Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne (Abiec) apresentou alguns dados relativos às exportações de carne bovina em 2010, levando em conta a soma de produtos in natura, industrializados, miúdos, tripas e salgadas - de janeiro a novembro. Nesse período, as vendas totalizaram US$ 4,4 bilhões - evolução de 19% em relação ao mesmo período de 2009, e a média dos preços ficou em 3.856 dólares por tonelada.

Segundo Antônio Jorge Camardelli, a entidade acredita que o Brasil pode chegar em 2010 a 5 bilhões de dólares. "Para 2011, estimamos que as vendas alcancem US$ 5,5 bilhões. Estamos otimistas quanto à ampliação das vendas para mercados em potencial, como a Angola, China, Cuba e Marrocos", disse.

No acumulado dos 11 meses, tanto em volume quanto em faturamento, o Oriente Médio aparece como o maior comprador da carne bovina brasileira por grupo de países, importando 25,1% do volume total e correspondendo a 27,72% da receita. Por compradores, a lista de embarques traz a Rússia, com 23,9% do volumes (22,08% do share faturamento), seguida pelo Irã, Hong Kong, Egito, Itália, Venezuela, Reino Unido, Holanda, Arábia Saudita, Argélia, Israel, Líbano, Chile, Estados Unidos e Líbia.

De janeiro a outubro, o número de Serviços de Inspeção Federal (SIFs) ativos no Brasil totalizou 228, com abate de 15.786.017 cabeças. No entanto, o número de abate dos SIFs por Estado vem caindo gradativamente, nos quatro últimos anos, de 25.150.845 em 2007 para 22.370.865 em 2008, a 21.604.064 em 2009 e 19.532.991 no ano de 2010 - dados sob responsabilidade dos Sipas/DFAs (Serviços de Inspeção de Produtos de Origem Animal/ Delegacias Federais de Agricultura). Por Estado, Mato Grosso lidera a lista de abates, na sequência estão Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás.

Febre Aftosa

O Mapa informou que os recursos para ações contra a febre aftosa passaram de 3,3 milhões, para R$ 55,9 milhões de 2003 a 2010. Para 2011, a previsão é de que R$ 59 milhões sejam investidos no combate a doença, em apoio à manutenção e melhoria estrutural dos serviços veterinários, capacitação de pessoal, campanhas de vacinação estratégicas e trabalhos de educação sanitária. No primeiro semestre de 2010, a primeira etapa da campanha teve 97,2% do rebanho vacinado.

O Brasil segue com o Estado de Santa Catarina como o único livre da doença sem vacinação e outros 15 Estados livres da doença com vacinação: Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins e o Distrito Federal. O noroeste do Pará passou de alto para médio risco e o Amazonas e o Amapá deixaram de ser risco desconhecido, passando para alto risco.

Leite preza qualidade

Após atravessarem um ano ruim em 2009, os produtores de leite pareceram respirar um pouco mais aliviados em 2010. A produção deu um salto de 5% em comparação ao ano anterior e deve chegar à cerca de 30 bilhões de litros. A remuneração esteve melhor, alcançando uma média geral em torno de R$ 0,71 por litro, e o setor mostrou que tem primado a qualidade, segundo frisa Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil). "O interessante de 2010 é que o preço da matéria-prima reagiu no final do ano e isso prova que pagando bem o produtor, sem onerar os custos de produção, ele produz bem em qualquer época, pois o setor tem se especializado", salienta.

Na opinião do presidente, um ponto que merece atenção diz respeito à maior remuneração que os pecuaristas têm recebido pela qualidade do leite, fato que tem incentivado a produção. "Além de considerarem volume, a maioria das grandes usinas está pagando por qualidade, o que favorece uma tendência da profissionalização no setor. Infelizmente, um problema que se arrasta para 2011 é a falta de mão de obra no campo, o que acaba comprometendo essa qualidade", considera.

Para 2011, a Leite Brasil está otimista quanto ao aumento de produção e dos preços do leite, levando em conta, primeiramente, o consumo interno dos lácteos e oportunidades para exportação desses produtos. "O Brasil é o maior consumidor de lácteos da América Latina e se a rentabilidade do trabalhador continuar crescendo esse mercado continuará em expansão. Atualmente, vendemos para mais de 80 países, com destaque para os Emirados Árabes, México e Venezuela, mas ainda nos faltam mais propagandas, campanhas e apoio para nos sobressairmos ainda mais nas exportações e isso acontece na maioria das cadeias produtivas", defende.

Sêmen mantém alta

O mercado de sêmen apresentou crescimento em 2010. Apesar de os números finais do setor só serem divulgados em fevereiro, a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) estima um crescimento na ordem de 10% a 15%. O vice-presidente da entidade, Márcio Nery, pontua que além dos preços pagos pela arroba, a valorização do bezerro estimulou os investimentos em genética na pecuária de corte. "Teremos um aumento de cerca de 20% nesse segmento, com destaque para as raças taurinas, pois o cruzamento industrial segue firme. O acréscimo só não é maior por conta do atraso na estação de monta. Mais uma vez, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) continua como locomotiva puxando as vendas no gado de corte", resume.

No mercado sêmen para a pecuária de leite, o crescimento deve girar entre 8% e 10%. "É também um bom resultado e mostra que o produtor hoje entende que o custo da inseminação artificial representa menos que 1,5% do custo total do leite e sabe que mesmo em um momento de crise vale a pena continuar investindo em genética de qualidade", diz. "Entre corte e leite, chegamos a 10% ou 11% do rebanho brasileiro inseminado, o que ainda é muito pouco, mas esperamos que em 2011 também haja um crescimento de, no mínimo, 10%, pois a arroba e os preços dos bezerros continuam fortes e temos uma perspectiva mais saudável no mercado em relação a 2010", completa Nery.

Ração

O crescimento estimado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) para o setor no Brasil em 2010 é de 4%. De janeiro a novembro do ano passado, foram produzidas mais de 55 milhões de t de rações. A produção total do ano deve ficar em torno de 61 milhões de t, movimentando cerca de US$ 16 bilhões, além de dois milhões de t de sal mineral com receita de US$ 1,1 bilhão.

Na estimativa de consumo de ração por espécie em 2010, frangos aparecem com 47%, seguidos por suínos (25%), poedeiras (8%), leite (7%), corte (4%), cães e gatos (3%). Equinos, aquários e outros aparecem com porcentagem de 1% cada um. O consumo de sal mineral representou 3%. Para 2011, Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindirações, acredita que a produção brasileira de rações ao longo do ano vai depender principalmente do crescimento das indústrias produtoras de aves e suínos influenciadas pelo desempenho das exportações, já que o mercado doméstico apresenta níveis de consumo bastante semelhantes aos dos países desenvolvidos.

Couro

Até novembro, as exportações de couros somaram US$ 1,58 bilhão, segundo cálculo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), com base na prévia da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior. "Ao analisarmos o comportamento do setor em relação ao acumulado de 2008, quando foi desencadeada a crise mundial, houve redução de 11%. O crescimento de 54% em valor dos embarques de janeiro a novembro de 2010, em relação aos onze meses de 2009, período crítico, é uma base de comparação que não pode servir de referência", esclarece Wolfgang Goerlich, presidente do CICB. A entidade prevê que as exportações de couros e peles em 2010 fiquem ao redor de US$ 1,7 bilhão, receita 10% inferior a de 2008 e 46% superior a 2009. O grande fato em 2010 é que a indústria brasileira do couro não conseguiu recuperar o preço médio das vendas do ano pré-crise mundial, quando o setor registrou exportações em torno de US$ 170 a US$180 milhões por mês.

Comércio mundial de carne bovina, suína, de frango e total de 2008 a 2010, em milhões de toneladas.

Dados:

Carne
2008
2009
2010
2010/2009
Bovina
7,4
7,4
7,6
+ 2,7%
Frango
11,1
11,1
11,3
+ 1,8%
Suína
6,3
5,8
6,1
+ 5,2%
Ovina
0,9
0,8
0,8
- x -
Total
25,9
25,4

26,1

+ 2,8%
Fonte: FAO / Scot Consultoria: www.scotconsultoria.com.br

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