E
tudo aconteceu porque aos poucos, por meio de parcerias, união
e força de vontade, Eldorado do Carajás começou
a despontar com forte potencial para a pecuária leiteira
- que se tornou a atividade principal às condições
da região - ao propiciar melhoria de renda às
centenas de famílias dos assentamentos. Além
disso, a atividade veio contribuir para o auxílio da
preservação do meio ambiente, por meio de tecnologia
que aos poucos ainda chega nas mãos dos produtores.
"Um exemplo é a preconização da
tecnologia da Embrapa de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
que vêm sendo difundida em parceria com a Secretaria
de Agricultura do Estado do Pará, Sebrae e Embrapa
Amazônia Oriental, proporcionando capacitações
para técnicos e produtores na região, além
de implantação de unidades demonstrativas junto
aos produtores modelos. É importante destacar que a
grande maioria de áreas onde esses produtores foram
assentados já era de pasto", descreve Andreos
Leite, gerente executivo de modernização de
produção leiteira do Estado, vinculado à
Secretaria de Agricultura do Estado do Pará (Sagri).
O projeto lá em Eldorado do Carajás, denominado
Programa Mais Leite, surgiu em 2007 em parceria com prefeitura,
a Sagri e a Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Pará (Emater). Depois
vieram outros parceiros, como o Sebrae. Hoje, além
de Eldorado do Carajás, o programa - que em outras
regiões recebeu o nome de Leite e Derivados no Sudeste
do Pará -, abrange também as famílias
residentes em projetos de assentamentos localizados nos municípios
de Canaã dos Carajás e Jacundá, totalizando
170 produtores participantes dos ciclos de capacitação
do Sebrae. Em média, as famílias atendidas produzem
de 50 a 300 litros de leite/dia, com rebanhos de 15 a 70 vacas.
O fato é que o projeto de pecuária leiteira
deu muito certo e isso se deve há alguns motivos, segundo
aponta o gerente executivo. "A atividade está
na sua grande maioria aqui no Estado nas mãos dos produtores
da agricultura familiar. O pequeno produtor não tem
condições viáveis de produzir gado de
corte devido à necessidade de grandes áreas
para esta atividade e em comparação com outras
atividades agropecuárias, o leite tem o advento de
garantir remuneração ao produtor no mínimo
mensalmente, ao contrário de fruticultura e horticultura,
por exemplo", justifica. "Outro fator é a
mudança nacional da geografia do leite. A pecuária
leiteira tem sido 'empurrada' para a parte Norte do Brasil
por encontrar terras mais baratas que no Centro-Sul, por exemplo,
e essas regiões experimentarem momentos mais propícios
para outras atividades. Mais um fator é a política
agrária. É visível a estreita ligação
entre a política de reforma agrária e o aumento
de produção de leite devido também aos
dois motivos supracitados. Um exemplo pode se visto nas cinco
microrregiões do Pará, que mais receberam assentamentos.
Elas aumentaram em 15 anos 549% a produção leiteira
passando a responder por 46% da produção estadual
contra 17% de participação antes de receber
tais assentamentos", salienta.
De acordo com Leite, diante das potencialidades do Estado
com áreas para a atividade bem como ótimo fotoperíodo
para a produção de pastagem além do tipo
de política agrária, o Pará começa
a se "enxergar" como potencial produtor lácteo.
Tanto que recentemente foi criada a câmara setorial
do leite do Pará. O Estado também recebe o primeiro
laboratório de qualidade de leite da Região
Norte que está sendo concebido numa parceria entre
governo do Estado, Ministério da Agricultura e Universidade
Federal Rural da Amazônia. Houve em junho de 2010, o
primeiro evento de amplitude estadual para a pecuária
leiteira, o Pará Fest Leite, com participação
de palestrantes da Embrapa Gado de Leite, Embrapa Amazônia
Oriental e Universidade Federal de Lavras, em Eldorado do
Carajás, sendo que o do ano que vem será em
Canaã dos Carajás.
No mês de dezembro, até um Workshop de Inovação
Tecnológica, na cadeia da Produção Artesanal
de Derivados Lácteos do Estado do Pará foi realizado,
com o foco de iniciar o processo de proposições
estruturantes em torno de um decreto para regulamentação
dos produtores artesanais lácteos do Estado do Pará,
que terá influência direta para pequeno produtor
que poderá ter maior facilidade de verticalização
de sua produção a partir de laticínios
artesanais.
Com toda essa estrutura, Eldorado do Carajás e outras
regiões já colhem resultados contados pelos
próprios personagens desta história: Em Jacundá
(sudeste do Estado) o projeto Leite e Derivados, leva a produtora
Jane Moreira uma grande satisfação da sua produção,
que segundo ela não está ainda no ponto ideal,
por enquanto. "São entre 200 e 250 litros/dia,
mas já chegou a 380 litros/ dia. Agora, estamos dividindo
os piquetes e organizando as pastagens. Selecionamos o gado
e fizemos o curral correto. Queremos dar mais um passo na
compra de equipamentos, precisamos de outros maquinários
para melhorar a produção, as cercas elétricas
já temos", diz.
Na propriedade de 27 alqueires, 43 vacas de raças mistas
são mantidas para a produção de leite,
que começou há seis anos. Com a ajuda e as parcerias,
a produtora conta que os resultados melhoram muito. Hoje toda
a produção da fazenda é destinada a um
laticínio, localizado a 23 quilômetros da propriedade.
Outro produtor satisfeito com a renda do leite é Welinton
Alexandrino Ribeiro. Na sua propriedade são 68 animais
em lactação, com uma produção
que já chegou a 500 litros/dia. A estrutura na fazenda
de Ribeiro, que possui 23 alqueires e é bem diferente.
Há ordenha mecânica e todos os equipamentos para
o leite sair fresquinho e chegar a cinco quilômetros
para o laticínio. A raça predominante é
o cruzamento Holandês. A família se divide e
se desdobra para dar conta da produção. "Com
as palestras e acompanhamentos melhoramos a qualidade do rebanho
e, consequentemente, a da reprodução e a tecnologia
como a inseminação artificial que chegou aqui
rapidinho", conta.
Hoje, em torno de R$ 0,48 litros são pagos ao produtor
que chegou a receber R$ 0,58 pagos pela qualidade superior
do leite, conseguida graças a uma boa criação
do gado devido ao manejo correto.
Estrutura leiteira
Segundo o gerente executivo, hoje ainda existe muito a chamada
"mestiçagem", ou seja, como o Estado se consolidou
como grande produtor de gado de corte, sendo o atual quinto
colocado no ranking nacional, e com taxa de crescimento constante
nos últimos anos os produtores familiares, que são
a grande maioria de produtores de leite no Pará, tinham
sua fonte de animais para produção de leite,
razão pela qual ainda se tem uma baixa produtividade
de leite por vaca no estado (1,73 l/vaca). "Porém,
visualizou uma mudança neste cenário. Com o
crescimento da pecuária leiteira no Estado muitos produtores
já se especializa na atividade leiteira e assim há
a inserção de raças como Gir Leiteiro,
Guzerá e Girolando nos planteis", destaca ele.
"E os resultados já são contabilizados
pelos produtores, que têm visto sua produtividade aumentar.
Cresceu tanto que eles pensam em realizar mais investimentos
como adquirir ordenha mecânica, tanques de resfriamento,
manejo nutricional e de saúde animal", conta Maria
Luzineuza Maia, gestora do Projeto Leite e Derivados do Sudeste
do Pará, do Sebrae-PA, que atua em parceria no projeto.
Com o foco em aumentar a renda de famílias, que vivem
na região. O Sebrae se propôs a ajudar as famílias.
"As ferramentas utilizadas para alcançarmos as
metas do projeto são até hoje as capacitações
por meio de cursos, consultorias, seminários e palestras,
além de visitas técnicas em outros municípios
e Estados e propriedades que também desenvolvem esse
trabalho. Os equipamentos são adquiridos pelos produtores
e o Sebrae entra com a educação na gestão
da propriedade. Uma vez corrigida as falhas no processo, os
produtores conseguem lucrar mais com a atividade", conta.
"Hoje, 80% deles já compraram tanques de resfriamentos
e comercializam o leite resfriado. Os exemplos de melhorias
são os tanques de resfriamentos, ordenhadeira mecânica,
trituradores, currais, implantação de cerca
elétrica", pontua Maria Maia.
Em Eldorado do Carajás existem 32 assentamentos, os
quais ocupam 64% da extensão do município. Hoje,
53% da população vivem na zona rural. Dos grupos
que o Sebrae atende na região, 80% compraram terra
de assentados com o propósito de tocar alguma atividade
agrícola ou pecuária, porém trazendo
pouca ou nenhuma experiência. O programa também
orienta os produtores a se organizarem em grupos para formar
associação ou cooperativa com o objetivo de
comprarem insumos em conjunto, ganhando maior poder de barganha
nas negociações.
Hoje, explica Maria Maia que muitas foram as mudanças
que se dão na melhoria da qualidade de vida destas
famílias, principalmente, na moradia. "Antes alguns
produtores residiam em casas humildes de madeira e hoje em
sua maioria são construídas. Houve melhoras
também na educação das crianças.
Temos produtores que os mantêm estudando em escolas
particulares nas cidades próximas da região",
diz. "Todos os objetivos pactuados no início do
projeto foram atingidos, principalmente a organização
do setor produtivo. Atualmente a maioria dos produtores atendidos
comercializa o leite em grupo organizado, e compram insumos
para as propriedades em conjunto, esse foi um grande desafio
superado para o bom andamento do projeto", diz. "Conseguimos
aprovar dois projetos junto ao Colegiado do Território
da Cidadania (MDA) e outro pelo Pará Rural, para Cooperativa
Agropecuária de Canaã dos Carajás, ambos
para equipamentos, com o valor aproximado 700 mil reais",
conta.
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