Deste
total, duas chegaram no mercado recentemente, no final do
mês de novembro, que foram: o milho MON 89034 x NK 603,
da Monsanto do Brasil, e o evento que mistura três tecnologias
("Bt11", "MIR162" e "GA21"),
resistentes a insetos, tolerante ao glifosato e ao glufosinato,
desenvolvido pela Syngenta Seeds.
Deste total, segundo dados divulgados pela Associação
Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), as vendas de sementes
geneticamente modificadas de milho para a safra de verão
2009/2010, até setembro de 2009, era correspondente
a 40% do volume total comercializado. Vale frisar que na safra
de verão 2008/2009, quando a tecnologia foi utilizada
pela primeira vez em lavouras de milho do País, os
transgênicos representaram 5%. Na safra de inverno (safrinha)
2009, o índice de utilização chegou a
12%.
Há 20 anos, quando o produtor e engenheiro agrônomo,
Almir Rebelo, começou a plantar milho não imaginava
tanta tecnologia a favor do agricultor. Na sua propriedade,
localizada em Tupanciretã (município localizado
a 393 quilômetros da capital Porto Alegre/RS), o cultivo
do milho por lá ainda sempre foi pequeno, em torno
de cinco hectares. O agricultor confessa que a "menina
dos olhos" sempre foi a lavoura de soja, que hoje abrange
55 hectares. Porém, sendo um dos defensores da biotecnologia,
ele aguarda ansiosamente para aumentar a área e usar
outras tecnologias que possam beneficiar lucro no cultivo
do milho. "A questão dos transgênicos no
Brasil sempre foi complicada. Entretanto, o produtor hoje
é mais sedento e favorável à biotecnologia.
Cada vez mais, adquirimos produtos de qualidade e a viabilidade
da sua utilização é necessária
em termos econômicos e ambientais. No cultivo convencional,
o número de aplicações de inseticidas,
para combate a pragas como a lagarta do cartucho, varia de
três a cinco vezes. Com o híbrido geneticamente
modificado o produtor monitora as lavouras e, quando necessário,
realiza uma aplicação", explica o agricultor
gaúcho. "Esperamos agora que as novas tecnologias
venham logo para as mãos dos agricultores, e se tornem
cada vez mais acessível. Temos, agora até com
a benção do Vaticano", brinca Rebelo, referindo-se
a carta de liberação da instituição
católica, quanto ao uso de sementes transgênicas
(Ver Box: A igreja a favor).
Para o produtor, que apenas utilizava uma espécie de
semente disponível no mercado até a safra passada,
que traz em seu DNA um gene da bactéria (Bt) - responsável
pela síntese de uma proteína que é tóxica
para certos tipos de lagarta que atacam a lavoura, porém,
inofensiva para o homem e outros animais - a chegada de novas
variedades abriu oportunidades para todos do setor, principalmente
quando a questão envolve o bolso do agricultor. "Aguardamos
uma redução de custos, algo em torno de 12%
menos da produção envolvendo inseticida e herbicida
e um aumento em média de 10% de ganho de produtividade",
reforça.
Se o produtor enxerga vantagens, as empresas comemoram. De
acordo com Rolando Alegria, diretor de Negócios de
Sementes, Biotecnologia e Óleos Saudáveis da
Dow AgroSciences, a receptividade sempre é muito boa.
"Atingiu um nível de venda superior da primeira
safra, acima de 200 mil sacas. A aceitação em
geral, em todas as regiões produtores do grão,
tais como o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País",
diz.
O motivo dessa aceitação, segundo o diretor,
é que o produtor ganha no controle de pragas e doenças
importantes que possam derrubar seus lucros e acrescenta até
entre 10 a 15% de sua produtividade. A empresa é uma
das responsáveis pela tecnologia Herculex*I, que confere
a toda a planta de milho proteção contra a lagarta-do-cartucho
(Spodoptora frugiperda), principal praga foliar do milho.
A tecnologia oferecida pela empresa se estende a todo o ciclo
da planta, do nascimento à colheita. Ele também
proporciona controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis).
"A semente recebeu a aprovação da CTNBio
em 2008 e a empresa a lançou comercialmente no ano
passado. O plantio do milho com essa tecnologia está
em pleno crescimento na Argentina e em outros países
e seu consumo foi aprovado sem restrições pela
vários países da União Europeia",
reforça Alegria.
Outra empresa que também aguarda respostas do produtor
é a Syngenta. Em novembro do ano passado, a companhia
recebeu a aprovação para os milhos geneticamente
modificados MIR 162 e o evento combinado Bt11 x GA21. As duas
novas tecnologias representam uma conquista para os agricultores
brasileiros que, nessa última safra, passaram a ter
novas alternativas para aumentar a competitividade e produtividade
no campo já na safra de 2010/2011. "O evento MIR
162, sob a marca Agrisure Viptera, é hoje o principal
destaque no mercado de sementes de milho brasileiro para o
controle de lagartas", afirma o gerente de marketing
milho da Syngenta, Leandro Santos. "Sabemos que essas
tecnologias proporcionam um aumento da produtividade do cultivo,
maior segurança ao agricultor, qualidade superior nos
grãos e redução nos custos de produção.
Sabemos que hoje, apesar das modernas técnicas de proteção
de cultivos, cerca de 40% da produção agrícola
mundial se perdem devido às pragas, doenças
e ervas daninhas" conclui. Ainda segundo Santos, as principais
regiões produtoras de milho do País já
estão usando as tecnologias e a previsão é
de que o Agrisure ocupe 70% de toda a área plantada
com híbridos durante a safrinha e 80% na safra cheia.
"É o terceiro ano que o Brasil tem acesso a estas
variedades. A utilização aumenta a cada ano,
pois o produtor comprova a efetividade. E não para
por aí. Estamos buscando outras características
como híbridos com maior capacidade de conversão
de amido, resistência maior à seca e eficiência
superior no uso de nutrientes, como, por exemplo, o nitrogênio",
descreve.
Até no Paraná
O Estado, no qual a discussão dos transgênicos
sempre foi tumultuada, os produtores foram cautelosos com
a nova tecnologia e só aderiram após resultados
de testes de qualidade e produtividade efetuados pelas empresas
produtoras de sementes e centros de pesquisas privados é
o que afirma Alexander Mittelstedt, presidente da Associação
dos produtores de milho do Paraná (Apromilho). "No
início os produtores das regiões com mais dificuldades
de combater do ataque das lagartas alvos das tecnologias,
foram os primeiros a aderir a tecnologia", lembra ele.
No Paraná é permitido o cultivo desde que respeitado
as áreas de entornos dos parques e a área de
coexistência, ou seja, conjuntos de práticas
agrícolas que permita a produção de produtos
convencionais e orgânicos de acordo com padrões
de pureza exigidos. "Garantindo assim a liberdade de
escolha de cada produtor e a certificação de
produtos sem organismo geneticamente modificados", conta.
"Outra questão importante são os refúgios,
não obrigatórios por lei, áreas plantadas
com milho convencional para preservação da tecnologia".
A igreja a favor
No final de novembro, o Vaticano manifestou seu posicionamento
em um relatório publicado na revista New Bioctechnology.
Segundo no relatório divulgado pela instituição
religiosa, não há nada, inerente ao uso da engenharia
genética para melhorar as colheitas, que colocaria
em risco as plantas e os produtos alimentares deles derivados.
O documento é resultado de um seminário chamado
"Semana de Estudo - Plantas transgênicas para a
segurança alimentar no contexto do desenvolvimento",
que reuniu 40 especialistas e foi realizado em maio de 2009,
na sede da academia. Os especialistas também observaram
que a "aplicação adequada" da engenharia
genética e outras técnicas moleculares modernas
"ajudam a enfrentar esses desafios". Para eles,
é necessário que os agricultores pobres nos
países em desenvolvimento tenham acesso a variedades
melhoradas de culturas geneticamente modificadas adaptadas
às condições locais.
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