Como se fazer mais, com menos?, indaga Marcelo
Habe, diretor financeiro do CESB. A resposta tem de partir
diretamente dos próprios produtores, na utilização
dos recursos e tecnologias que dispõem na propriedade.
A partir dessa ideia, foi criado o Desafio Nacional de Máxima
Produtividade safra 2009/2010 o primeiro de muitos
tantos outros que poderão vir, para instigar o produtor
a superar os próprios índices.
Ricci, dentro dos critérios estabelecidos pela entidade,
foi o exemplo e sagrou-se o grande campeão em produtividade
nacionalmente. Sabíamos que haveria uma alta
na produção, mas não que alcançaria
a marca de 108,35 sacas por hectare isso sim, foi uma
surpresa, declara o paranaense.
Ótima safra
O primeiro item destacado por Ricci, que contribuiu bastante
para o resultado final da safra, foi o clima. Muitas chuvas
e nas épocas propícias ajudaram o desenvolvimento
da lavoura e garantiram a produtividade. De acordo com o sojicultor,
foram 115 dias de chuva, ou uma chuva a cada dois dias, no
período estabelecido por ele para o cultivo da soja.
Foi uma ótima safra, tudo favoreceu o desenvolvimento
da lavoura, e nem sei quando isso poderá se repetir,
frisa.
Aliado ao clima favorável, as condições
de solo também tiveram participação significativa.
Isso porque Ricci opta pela rotação de culturas
nas áreas de produção, feita em parcelas
de safra para safra. O milho entra no verão, e o trigo,
a aveia, ou mesmo o milho safrinha, no inverno.
Com o incremento de tecnologias, como a técnica de
plantio cruzado (feita a partir de uma semeadura cruzada,
por exemplo, iniciando o plantio na área no sentido
Norte-Sul, e logo depois, Leste-Oeste), o uso de insumos de
boa qualidade e de uma variedade de semente que demonstrou
ser mais eficiente, o produtor fechou o programa estratégico
da fazenda.
Numa área de 7,42 ha, localizada próxima ao
município vizinho a Mamborê, em Campina da Lagoa,
Ricci semeou em 29 de outubro de 2009 e colheu de 24 a 27
de fevereiro deste ano. Considerando a área total colhida,
a produção total foi de 48,11 toneladas de soja.
[confira no quadro A radiografia da lavoura campeã,
os detalhes que fizeram parte do resultado que rendeu mais
sacas por ha na região Sul].
Transferência de tecnologia
O plantio cruzado e a utilização da cultivar
de variedade SYN 3358, da Syngenta, proporcionaram uma maior
densidade de plantas por hectare. Conseguimos ter no
final, cerca de 500 mil plantas por ha, quando normalmente
colocamos de 250 a 270 mil, certifica o produtor. Com
uma adubação dobrada, a variedade de soja escolhida
foi a que especialmente brilhou nos resultados da lavoura
pois não acamou o risco de acamamento
da lavoura, ou a prostração das plantas devido
a ação das chuvas e ventos, é maior quando
existe um grande número de plantas pela área
cultivada.
Nesse sentido, Ricci, com a ajuda do irmão, que é
engenheiro agrônomo, encontrou a resposta positiva para
resolver a questão do acamamento e de quebra, com mais
plantas por hectare, conseguiu uma maior produtividade.
Em cálculos estimados, o custo de cada saca saiu a
R$ 26 incluso aí apenas o que foi gasto com
os insumos, como sementes, tratamento de sementes, fungicidas,
inseticidas e fertilizantes; ficando de fora o custo de mão
de obra. O valor pago por saca foi de R$ 31. A gente
não visou lucros e sim saber a capacidade de produtividade
de soja, justifica o produtor.
O resultado obtido por Ricci torna-se, com a ideia do desafio
do CESB, um tipo de transmissão de conhecimento e de
tecnologias que, se bem adaptadas às demais condições
regionais brasileiras, poderão ser aplicadas e, assim,
instigarão mais a produção de alimentos
no País. O agricultor é vaidoso, quer
mostrar que está produzindo mais para o outro, e este
outro, por sua vez, também quer alcançar essa
tal produtividade, acredita Habe.
Com a popularização do desafio, os sojicultores
brasileiros estariam cada vez mais empenhados a garantir melhores
resultados nas lavouras fato que promoveria um incremento
na produção de grãos, pensando que daqui
a 40 anos, por exemplo, haveria cerca de um bilhão
de pessoas a mais no mundo, e daí, a preocupação
em garantir alimento para tanta gente.
E para aumentar essa produtividade, deve-se pensar basicamente
no incremento do rendimento das áreas já destinadas
para a agricultura, já que existem limitações
de recursos ou mesmo pressões ambientalistas para a
abertura de novas áreas para a produção
agrícola, pondera o representante do CESB.
A ideia do desafio surgiu lá nos Estados Unidos
um produtor de grãos quis que a lavoura dele rendesse
mais por hectare. Todo o planejamento e empenho deram resultado
foram 174 sacas de soja atingidas, ou, mais de dez
toneladas por ha. Isto é três vezes mais
do que a produção nacional. Como esse cara conseguiu
fazer isso? Então, será que nós, que
estamos numa média de 60 sacas por ha, não podemos
produzir mais?, questiona Habe.
Instigar então que os produtores tenham resultados
semelhantes é o papel que norteia o CESB, que fortalecerá
a semente dessa ideia tanto com o desafio quanto com a realização
de fóruns regionais, palestras com especialistas e
demais encontros para difundir mais o conhecimento entre os
agricultores.
O CESB é uma entidade sem fins lucrativos, criada no
final de 2007 por 12 integrantes, entre profissionais da área
agrícola, pesquisadores de instituições
como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), a Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (Esalq), a Universidade de Santa Maria, e representantes
de instituições financeiras, consultorias e
empresas de semente e defensivos do País.
Desafio
Nessa primeira edição, o Desafio Nacional de
Máxima Produtividade Safra 2009/2010 contou com 800
áreas inscritas e também premiou os melhores
produtores de soja das regiões Centro-Oeste, Sudeste,
Sul, Norte e Nordeste, divididos pelas categorias área
irrigada e não irrigada. Os vencedores ganharam uma
viagem técnica aos principais centros de tecnologia
e produção de soja dos Estados Unidos.
Já para segunda edição, o CESB espera
pelo menos 1.500 áreas inscritas. Entre os requisitos
para participar está o pagamento de R$ 100 à
entidade no sentido de viabilizar o desafio e se caso a área
inscrita for atingir mais de 90 sacas por ha, o produtor deverá
informar com antecedência para que uma equipe de consultoria
acompanhe a colheita e possa garantir a autenticidade dos
números obtidos na lavoura. Todas as regras e demais
informações poderão ser encontradas pelo
endereço de Internet www.cesbrasil.org.br.
Os vencedores
Ganhador Nacional Categoria Não Irrigada
Produtor: Leandro Sartoreli Ricci
Consultor: Vitor Colman Otano
Fazenda: Sítio Santo Antônio - Mamborê
(PR)
Produtividade obtida: 108,4 sc/ha
Ganhador Nacional Categoria Irrigada
Produtor: Cláudio Lopes Nunes
Consultor: Cleber Longhin
Fazenda: Sítio Fazendinha - Itapetininga (SP)
Produtividade obtida: 88,1 sc/ha
Ganhadores Regionais Categoria Não Irrigada
Sul
Produtor: Leandro Sartoreli Ricci
Consultor: Vitor Colman Otano
Fazenda: Sítio Santo Antônio - Mamborê
(PR)
Produtividade obtida: 108,4 sc/ha
Sudeste
Produtor: Cleber Longhin
Consultor: Rosival Ventura de Proença
Fazenda: Sítio Santa Terezinha - Itapetininga (SP)
Produtividade obtida: 87,3 sc/ha
Centro-Oeste
Produtor: Cristiano Petrykoski
Consultor: Gleison da Silva Machado
Fazenda: São Francisco - Itaquiraí (MS)
Produtividade obtida: 86,5 sc/ha
Norte e Nordeste
Produtor: Volnei Martinazzo
Consultor: Ivair Gomes
Fazenda: Iguaçu II - Correntina (BA)
Produtividade obtida: 83,4 sc/ha
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