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SOJA - Alta produtividade
rev 152 - outubro 2010

Foram 108,35 sacas por hectare (s/ha), ou 6.501 quilos por hectare (kg/ha), o resultado da lavoura de soja de Leandro Sartoreli Ricci, do município de Mamborê (PR), a 452 quilômetros da capital da paranaense, Curitiba. A produtividade alcançada, referente à safra 2009/2010, foi maior 122,1% sobre a média nacional (2.927 kg/ha); ou 107,1% maior do que a média do próprio Estado do Paraná (3.139 kg/ha); foi ainda 103,41% superior do que a produtividade registrada no Distrito Federal, onde foram estimados os melhores índices do grão no País naquela safra (3.196 kg/ha), segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O incentivo a essa alta produção foi provocado pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), o qual preconiza, antes de tudo, uma forma de se disseminar a transferência de tecnologia com o único propósito – desenvolver ainda mais a agricultura brasileira.

“Como se fazer mais, com menos?”, indaga Marcelo Habe, diretor financeiro do CESB. A resposta tem de partir diretamente dos próprios produtores, na utilização dos recursos e tecnologias que dispõem na propriedade. A partir dessa ideia, foi criado o Desafio Nacional de Máxima Produtividade safra 2009/2010 – o primeiro de muitos tantos outros que poderão vir, para instigar o produtor a superar os próprios índices.

Ricci, dentro dos critérios estabelecidos pela entidade, foi o exemplo e sagrou-se o grande campeão em produtividade nacionalmente. “Sabíamos que haveria uma alta na produção, mas não que alcançaria a marca de 108,35 sacas por hectare – isso sim, foi uma surpresa”, declara o paranaense.

Ótima safra

O primeiro item destacado por Ricci, que contribuiu bastante para o resultado final da safra, foi o clima. Muitas chuvas e nas épocas propícias ajudaram o desenvolvimento da lavoura e garantiram a produtividade. De acordo com o sojicultor, foram 115 dias de chuva, ou uma chuva a cada dois dias, no período estabelecido por ele para o cultivo da soja. “Foi uma ótima safra, tudo favoreceu o desenvolvimento da lavoura, e nem sei quando isso poderá se repetir”, frisa.

Aliado ao clima favorável, as condições de solo também tiveram participação significativa. Isso porque Ricci opta pela rotação de culturas nas áreas de produção, feita em parcelas de safra para safra. O milho entra no verão, e o trigo, a aveia, ou mesmo o milho safrinha, no inverno.

Com o incremento de tecnologias, como a técnica de plantio cruzado (feita a partir de uma semeadura “cruzada”, por exemplo, iniciando o plantio na área no sentido Norte-Sul, e logo depois, Leste-Oeste), o uso de insumos de boa qualidade e de uma variedade de semente que demonstrou ser mais eficiente, o produtor fechou o programa estratégico da fazenda.

Numa área de 7,42 ha, localizada próxima ao município vizinho a Mamborê, em Campina da Lagoa, Ricci semeou em 29 de outubro de 2009 e colheu de 24 a 27 de fevereiro deste ano. Considerando a área total colhida, a produção total foi de 48,11 toneladas de soja. [confira no quadro ‘A radiografia da lavoura campeã’, os detalhes que fizeram parte do resultado que rendeu mais sacas por ha na região Sul].

Transferência de tecnologia

O plantio cruzado e a utilização da cultivar de variedade SYN 3358, da Syngenta, proporcionaram uma maior densidade de plantas por hectare. “Conseguimos ter no final, cerca de 500 mil plantas por ha, quando normalmente colocamos de 250 a 270 mil”, certifica o produtor. “Com uma adubação dobrada, a variedade de soja escolhida foi a que especialmente brilhou nos resultados da lavoura pois não acamou” – o risco de acamamento da lavoura, ou a prostração das plantas devido a ação das chuvas e ventos, é maior quando existe um grande número de plantas pela área cultivada.

Nesse sentido, Ricci, com a ajuda do irmão, que é engenheiro agrônomo, encontrou a resposta positiva para resolver a questão do acamamento e de quebra, com mais plantas por hectare, conseguiu uma maior produtividade.

Em cálculos estimados, o custo de cada saca saiu a R$ 26 – incluso aí apenas o que foi gasto com os insumos, como sementes, tratamento de sementes, fungicidas, inseticidas e fertilizantes; ficando de fora o custo de mão de obra. O valor pago por saca foi de R$ 31. “A gente não visou lucros e sim saber a capacidade de produtividade de soja”, justifica o produtor.

O resultado obtido por Ricci torna-se, com a ideia do desafio do CESB, um tipo de transmissão de conhecimento e de tecnologias que, se bem adaptadas às demais condições regionais brasileiras, poderão ser aplicadas e, assim, instigarão mais a produção de alimentos no País. “O agricultor é vaidoso, quer mostrar que está produzindo mais para o outro, e este outro, por sua vez, também quer alcançar essa tal produtividade”, acredita Habe.

Com a popularização do desafio, os sojicultores brasileiros estariam cada vez mais empenhados a garantir melhores resultados nas lavouras – fato que promoveria um incremento na produção de grãos, pensando que daqui a 40 anos, por exemplo, haveria cerca de um bilhão de pessoas a mais no mundo, e daí, a preocupação em garantir alimento para tanta gente.

“E para aumentar essa produtividade, deve-se pensar basicamente no incremento do rendimento das áreas já destinadas para a agricultura, já que existem limitações de recursos ou mesmo pressões ambientalistas para a abertura de novas áreas para a produção agrícola”, pondera o representante do CESB.

A ideia do desafio surgiu lá nos Estados Unidos – um produtor de grãos quis que a lavoura dele rendesse mais por hectare. Todo o planejamento e empenho deram resultado – foram 174 sacas de soja atingidas, ou, mais de dez toneladas por ha. “Isto é três vezes mais do que a produção nacional. Como esse cara conseguiu fazer isso? Então, será que nós, que estamos numa média de 60 sacas por ha, não podemos produzir mais?”, questiona Habe.

Instigar então que os produtores tenham resultados semelhantes é o papel que norteia o CESB, que fortalecerá a semente dessa ideia tanto com o desafio quanto com a realização de fóruns regionais, palestras com especialistas e demais encontros para difundir mais o conhecimento entre os agricultores.

O CESB é uma entidade sem fins lucrativos, criada no final de 2007 por 12 integrantes, entre profissionais da área agrícola, pesquisadores de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), a Universidade de Santa Maria, e representantes de instituições financeiras, consultorias e empresas de semente e defensivos do País.

Desafio

Nessa primeira edição, o Desafio Nacional de Máxima Produtividade Safra 2009/2010 contou com 800 áreas inscritas e também premiou os melhores produtores de soja das regiões Centro-Oeste, Sudeste, Sul, Norte e Nordeste, divididos pelas categorias área irrigada e não irrigada. Os vencedores ganharam uma viagem técnica aos principais centros de tecnologia e produção de soja dos Estados Unidos.

Já para segunda edição, o CESB espera pelo menos 1.500 áreas inscritas. Entre os requisitos para participar está o pagamento de R$ 100 à entidade no sentido de viabilizar o desafio e se caso a área inscrita for atingir mais de 90 sacas por ha, o produtor deverá informar com antecedência para que uma equipe de consultoria acompanhe a colheita e possa garantir a autenticidade dos números obtidos na lavoura. Todas as regras e demais informações poderão ser encontradas pelo endereço de Internet www.cesbrasil.org.br.

Os vencedores
Ganhador Nacional Categoria Não Irrigada
Produtor: Leandro Sartoreli Ricci
Consultor: Vitor Colman Otano
Fazenda: Sítio Santo Antônio - Mamborê (PR)
Produtividade obtida: 108,4 sc/ha

Ganhador Nacional Categoria Irrigada
Produtor: Cláudio Lopes Nunes
Consultor: Cleber Longhin
Fazenda: Sítio Fazendinha - Itapetininga (SP)
Produtividade obtida: 88,1 sc/ha

Ganhadores Regionais Categoria Não Irrigada

Sul
Produtor: Leandro Sartoreli Ricci
Consultor: Vitor Colman Otano
Fazenda: Sítio Santo Antônio - Mamborê (PR)
Produtividade obtida: 108,4 sc/ha

Sudeste
Produtor: Cleber Longhin
Consultor: Rosival Ventura de Proença
Fazenda: Sítio Santa Terezinha - Itapetininga (SP)
Produtividade obtida: 87,3 sc/ha

Centro-Oeste
Produtor: Cristiano Petrykoski
Consultor: Gleison da Silva Machado
Fazenda: São Francisco - Itaquiraí (MS)
Produtividade obtida: 86,5 sc/ha

Norte e Nordeste
Produtor: Volnei Martinazzo
Consultor: Ivair Gomes
Fazenda: Iguaçu II - Correntina (BA)
Produtividade obtida: 83,4 sc/ha


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