A
mesma pesquisa indica que o desmatamento do Pantanal entre
2002 e 2008 ficou em 4.279 km2, com taxa anual média
em 713 km2, a menor dentre os quatro biomas observados no
período. Recentemente, um estudo coordenado pela WWF-Brasil,
com a participação das organizações
não-governamentais Ecoa, Avina, SOS Pantanal e Conservação
Internacional (CI) e a consultoria técnica da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - unidade
Pantanal -, revelou que cerca de 87% da vegetação
original da região está conservada, o que coloca
esse ecossistema como o mais conservado do País. O
trabalho se chama Monitoramento das alterações
da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do Alto Paraguai
Porção Brasileira.
Para o chefe geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal
Comastri Filho, por conta da prática tradicional da
pecuária na região e sua conservação,
o Pantanal deveria servir de exemplo para outros biomas e
até para outras regiões do mundo. O que
outros países estão fazendo para garantir a
conservação da vegetação nativa
de seus biomas? Há poucas informações
neste sentido. Os resultados do estudo demonstram que a produção
pode conviver com o meio natural, adaptando-se as suas condições
e gerando menor impacto sobre a biodiversidade e os demais
serviços ecossistêmicos.
Dados divulgados pelo projeto de Construção
da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal
estimam que a região possui um rebanho superior a 5,5
milhões de cabeças. Para a pesquisadora, zootecnista
e doutora em Produção Animal, Sandra Aparecida
Santos, é importante ressaltar que a região
tem aptidão natural para o desenvolvimento de uma pecuária
sustentável em termos ambientais. Isto se deve, principalmente,
pelo fato de muitas das paisagens pantaneiras serem formadas
por áreas de campos com predominância de gramíneas,
ervas e leguminosas forrageiras nativas que favorece a criação
extensiva sem precisar desmatar. Muito se tem trabalhado
para que essa conservação se mantenha, buscando
estimar a real capacidade de suporte dos diferentes tipos
de vegetação. Temos pastagens nativas de diversas
qualidades e quando há a intenção ou
necessidade de introduzir uma forrageira exótica, existe
sempre a preocupação de que isso seja feito
com bom senso, respeitando critérios técnicos
para que não haja interferência nos padrões
das paisagens. Não podemos interferir no padrão
das paisagens pantaneiras, pois além de ser considerada
única e um dos principais atrativos turísticos
da região devido a sua notável beleza cênica,
a paisagem revela a estrutura e funcionamento dos ecossistemas
naturais, por isso, buscamos otimizar seus recursos, de maneira
sustentável e equilibrada.
De acordo com a pesquisadora, a principal vocação
da região é a cria e recria de bezerros. Muitos
produtores tradicionais especializam-se na cria de bezerros,
pois, dependendo da localização da propriedade,
não vale a pena fazer a engorda dos animais, principalmente
devido à dificuldade de acesso aos frigoríficos.
Porém, há casos de produtores que possuem duas
propriedades, uma localizada na planície pantaneira
voltada para a cria e a outra na parte alta, voltada para
a engorda, permitindo a realização do ciclo
completo. A pecuária sustentável tem despertado
o interesse dos produtores da região, explica
Sandra Santos, lembrando que desde 2004 estudos vem sendo
realizados por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores
com o intuito de caracterizar os sistemas de produção
do Pantanal em relação aos aspectos econômicos,
sociais e ambientais. A partir desses estudos estão
sendo desenvolvidos indicadores contemplando as dimensões
da sustentabilidade. Esses indicadores permitirão avaliar
o impacto da pecuária como também fazer um diagnóstico
produtivo das fazendas de pecuária. Através
dessa análise será possível propor boas
práticas de manejo, como também direcionar as
pesquisas.
Essa ferramenta de avaliação, diagnóstico
e monitoramento está em fase de finalização
e seu modelo permite aplicação em todo o tamanho
de propriedade.. Estamos em processo de validação
e a ferramenta será constantemente ajustada, porque
o uso de indicadores nunca deve ser fixo, ou seja, a partir
dos novos conhecimentos que serão gerados, a ferramenta
deve ser ajustada tornando-se cada vez mais eficiente dentro
do que estamos buscando. Objetivamos indicadores práticos,
que realmente são fáceis de aplicar, porque
não adianta adotar um indicador muito complicado que
exige equipamentos sofisticados, inviabilizando o processo,
pois buscamos otimizar os sistemas, sem alterar a paisagem,
tornando-os multifuncionais, com maior rentabilidade e sustentabilidade.
Sobre o melhoramento genético do rebanho, estão
sendo priorizadas linhagens mais eficientes e precoces adaptadas
ao Pantanal. Além do aprimoramento desenvolvido nesse
sentido com a raça Nelore, há também
o trabalho para a conservação da raça
Pantaneira, um gado taurino, de origem européia. Segundo
Sandra Santos, essa é uma raça que está
há muito tempo na região e por ser de origem
européia provavelmente apresenta carne de excelente
qualidade. Estão sendo realizados estudos para avaliar
a qualidade dessa carne e mostrar o valor desse animal que
está em extinção. Além da
busca por linhagens mais precoces, procuramos melhorar a qualidade
das pastagens nativas por meio de práticas de manejo,
também com o objetivo de reduzir a emissão dos
Gases de Efeito Estufa (GEEs). No Pantanal, o gado só
é prejudicial quando ele está acima da capacidade
de suporte ou quando o manejo é inadequado, pontua
a pesquisadora, explicando que o boi tem moldado as paisagens
pantaneiras desde a sua introdução.
Quando a taxa de lotação é moderada
com capacidade de suporte adequada, o bovino pode prestar
alguns benefícios ambientais para o Pantanal. Portanto,
os estudos sistêmicos são fundamentais para aliar
produção e biodiversidade. O mundo precisa de
alimentos e para obter sistemas de produção
sustentáveis no Pantanal, os estudos devem buscar animais
realmente adaptados a essa diversidade, domesticar recursos
forrageiros nativos de maior potencial produtivo, otimizar
áreas pobres em nitrogênio, desenvolver ferramentas
de sustentabilidade, conhecer os serviços dos ecossistemas,
tais como o papel dos micro-organismos dos solos na fixação
de nitrogênio, disse. Uma análise de uma
fazenda tradicional local com mais de 20 mil hectares comprovou
que 98% da fazenda é proveniente de recursos renováveis.
Esse estudo foi feito em 2008 e está sendo feito em
outras propriedades para comparação.
Divulgando a pecuária sustentável do Pantanal
Em abril de 2010, a Embrapa Pantanal deu início a um
projeto de divulgação do conceito da pecuária
sustentável praticada na região pantaneira.
Alguns dos parceiros nessa iniciativa são: a Associação
dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a Universidade Federal
de Mato Grosso (UFMT), a Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS), a WCS (Wildlife Conservation Society) e a Associação
Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO). A divulgação
que envolve a mídia deve durar dois anos e será
focada em veículos de comunicação da
Região Sudeste, onde estão concentrados veículos
de abrangência nacional. Um dos planos de ação
prevê a formação de uma rede de comunicadores
das Unidades da Embrapa que desenvolvem pesquisas sobre pecuária
de corte e de assessores dos parceiros. Para o diagnóstico
das ações do projeto, serão aplicadas
duas pesquisas de opinião em âmbito nacional:
uma antes dos trabalhos de divulgação e outra
ao final do projeto, no início de 2012. A finalidade
é comparar a imagem da pecuária praticada no
Pantanal antes e depois do trabalho de divulgação.
A pesquisa inicial está em fase de contratação.
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