Em
suas mãos habilidosas, a palha uma fibra natural
de altíssima resistência (pois suporta fortes
trações) se presta muito bem ao trabalho
de artesanato, e que apesar de gerar pouca renda contribui
significadamente para o orçamento de muitas famílias
como a de dona Maria, que vive em Pato de Minas, a 415 quilômetros
da capital Belo Horizonte (MG).
Apesar de favorecer quanto às questões financeiras,
a palha ainda contribui em muitos outros aspectos. Depois
de uma vida inteira se dedicando ao lar, dona Maria de Lourdes,
63 anos, simplesmente largou as tarefas domésticas,
para mostrar que era capaz de fazer arte, produzir e de se
motivar. De artesanato só fazia crochê
mesmo. Hoje, tenho uma profissão definida, comemora
a artesã dona Maria de Lourdes Oliveira Paula, que
participa do projeto conhecido como Associação
das Marias Artesãs, grupo formado por 20 mulheres e
que existe desde 2002. Resgatar um grupo de senhoras,
antigas fiandeiras, que estavam sem estímulo e que
praticamente estavam abandonando o artesanato, era essa a
nossa missão. Demos o pontapé inicial e já
começamos com 12 senhoras, relembra a artista
plástica Marialda de Amorim Coury Martins, diretora
da Fundação da Casa da Cultura do Milho e coordenadora
da Associação das Marias Artesãs de Patos
de Minas.
A iniciativa dela junto com as donas Maria Rodrigues, Maria
de Lourdes, Maria Moreira, Maria Rosa, Irene Maria, Maria
Aparecida, Maria Conceição e Maria Salete, entre
outras, tornaram as Marias Artesãs, um
nome perfeito para um trabalho de cunho social. O serviço
é lento, delicado e sai de acordo com os pedidos,
conta a artesã. As senhoras mais idosas são
as que mais se destacam. São elas as primeiras a chegarem
a as últimas a saírem dos barracões.
Aqui, há uma grande troca grande de experiência,
salienta a coordenadora, que definiu os primeiros trabalhos
produzidos pelas Marias.
Historicamente, Patos de Minas tem a fama de ser conhecida
como a cidade do milho e também é hoje o grande
produtor. Lá, existe uma Fundação da
Cultura do Milho, uma espécie de memorial do grão.
E isso representa fatura de matéria-prima. O que era
jogado fora passou a ser alternativa de renda para a população
carente e transformou a cidade em um polo de artesanato. A
região é de agricultura, a gente tem conseguido
por meio das empresas o material, que vem gratuito. Em poucas
horas a matéria se transforma em um artesanato de grande
valor, revela orgulhosa a artesã.
E é nos barracões, que ficam ociosos fora do
período da Fenamilho principal festa que ocorre
na cidade que a palha de milho e o capim se transformam
em um trabalho ecologicamente correto. Nas mãos das
Marias, as vibras fibras naturais viram imagens sacras, como
São Francisco, Santo Antonio, além de bolsas,
porta-jóias, lindas bonecas, ornamentos, tapetes, jogos
americanos, rosas, tulipas, bonecas, entre outros objetos.
Os trabalhos são vendidos anualmente, porém,
ganham destaque no evento, que acontece todos os anos, no
Parque de Exposição Sebastião Alves
do Nascimento, no mês de maio. Fizemos deste
trabalho uma integração das fibras
naturais, o que normalmente era jogado fora, como: a palha,
o bambu, o algodão e restos do coqueiro, nós
aproveitamos tudo. Fizemos aqui a diferença,
conta a coordenadora do grupo. Na verdade além
de um trabalho que gera renda isso se transformou em uma terapia,
é um santo remédio, completa a artesã.
Em 2004, o grupo começou a expandir seus negócios
e graças ao apoio do Serviço de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae/MG)
principal defensora para inovação e parceira
na capacitação as Marias Artesãs,
hoje formada por mulheres de 65 a 80 anos a grande
maioria semianalfabeta e com pouca fonte de renda tomou
outra dimensão. Os técnicos tomaram conhecimento
da existência do nosso grupo e resolveram nos auxiliar.
Elas passaram por capacitação de mão
de obra, aprenderam gestão financeira e o reconhecimento
da valorização dos seus trabalhos. Como resultado
houve a margem de lucro tão esperada, contextualiza
a coordenadora. E não foi só isso, elas
resgataram a autoestima. E a parte mais importante deste projeto
foi preservar o nome das Marias, o trabalho artesanal desenvolvido
por essas senhoras e questão da religiosidade, que
é retratada nas obras pro elas produzidas, pontua
a técnica responsável do Sebrae/MG, Ivana Aguiar
Souza.
Esse último item foi um atrativo para o aumento das
vendas, que começaram a ser maior nos Estados do Rio
de Janeiro e de Pernambuco, dentre outras localidades do Brasil
e fora dele. Em 2008, alguns produtos fizeram parte de comércio
da Holanda. Só naquele ano foram 600 presépios
natalinos produzidos pelas Marias e enviados para o exterior.
Com o foco de produzir cada vez artesanatos de qualidade,
o próximo passo será investir no designer das
peças e trazer outras formas de comercialização,
como demonstração de produtos por meio dos catálogos.
Além disso, o Sebrae, em conjunto com a Universidade
Federal de Viçosa (MG), realiza pesquisas para encontrar
meio de evitar o caruncho, praga que perfuram sobretudo o
grão e a palha, reduzindo-os a pó, e que afeta
a lavoura da região e consequentemente a palha tão
preciosa, conta a técnica do Sebrae/MG.
Como os trabalhos são feitos principalmente pelas mulheres
com a cultura local, aconteceu um fato, no mínimo curioso:
as mulheres passaram a ter uma renda às vezes maior
do que os homens da região.
No outro extremo: A palha é um sucesso
A palha do milho também vira artesanato nas mãos
das mulheres moradores da cidade de Batalha, no interior do
Piauí. O assentamento Frexeiras, situado a seis quilômetros
do município (distante a 154 quilômetros da capital,
Teresina/PI) é um exemplo de desenvolvimento com a
produção do artesanato a partir da palha. Criado
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) no ano 2000, o assentamento possui
1,8 mil hectares, no qual oitenta famílias vivem. Lá,
as mulheres produzem sandálias e bolsas, com a aquilo
que viraria lixo. O projeto de Batalha tem caráter
social e foi incentivado pela prefeitura do município,
o Sebrae e empresários que viram na palha a oportunidade
de desenvolver o artesanato, relata Maria das Graças
de Sousa Batista, gerente do Sebrae no Piauí.
As famílias do assentamento sobrevivem da agricultura
familiar, consomem o que plantam. Na roça, enquanto
os maridos trabalham no campo e plantam outras culturas
além do milho que é destinado para o consumo
animal e para a venda elas aproveitam as sobras. E
foi assim que nasceu em 2003, o Grupo de Artesãs Andorinhas.
Dizem elas que foi por causa de um antigo ditado: Uma
só não faz verão. Eram seis mulheres
no começo. Hoje são 16, com idades entre 16
e 55 anos, que por meio da iniciativa do Sebrae/PI encontraram
uma forma de gerar renda na região. Diversos
artesanatos são produzidos com a palha de milho, fibra
de carnaúba, do buriti. Como resultado o grupo recebeu
a premiação Top 100 entre as melhores
unidades produtivas. Hoje, o material segue para grandes mercados
em outras capitais, como São Paulo, Goiânia e
o Rio de Janeiro, conta a gerente.
Diferente de Patos de Minas, são elas que caminham
até a plantação do milho e encontram
as palhas, que por sua vez são separadas pelas texturas.
Cada uma é apropriada para determinado trabalho.
A grossa serve para fazer a bolsa e a fina para fazer sandália.
Assim o trabalho segue para sustento da família. O
dinheiro ajuda muito, conta a artesã Maria José
de Carvalho Resende, mais conhecida como dona Zeca, de 50
anos. Aqui dizemos que largamos o milho e ficamos só
com a casca que não só contribuiu para o aumento
da renda das famílias, mas para a mudança na
vida de muita gente, pontua dona Zeca, uma das primeiras
a integrar o Grupo de Artesãs Andorinhas.
Atualmente, cada mulher recebe cerca de R$ 250 por mês.
Os fios, trançados manualmente a partir da palha em
estado natural, permitem um trabalho minucioso e delicado.
Para se transformarem em bolsas, as palhas são molhadas
e cortadas em tiras. Depois, os fios são trançados
na madeira. As artesãs vão enrolando uma palha
na outra para facilitar e ficar com a tira maior. O resultado
é um trabalho bem resistente. Cada artesã leva
pelo menos oito horas para fabricar uma bolsa, por exemplo.
A ideia inicial era produzir somente peças utilitárias,
porque elas acreditavam que seriam vendidas com mais facilidade.
O difícil foi segurar a criatividade. Em pouco tempo,
elas já estavam fazendo peças diferentes e mais
detalhadas, como bonecos de personagens típicos do
sertão. E quem não se lembra, do Visconde de
Sabugosa!
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