A
pesquisa realizada 2009 incluiu os três segmentos de
produção, indústria e varejo, sendo que
para elaborar o segmento da produção foram entrevistados
500 produtores, cobrindo todas as microrregiões da
unidade federativa em questão.
Os dados retratam a realidade do Estado que é terceiro
maior produtor de leite do País, com volume estimado
em 2.874 bilhões de litros por ano, segundo o Censo
divulgado em 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Essa produção representa
10% do Produto Interno Bruto (PIB) goiano, o trabalho de 60
mil produtores e demanda a mão de obra de 220 mil pessoas,
direta e indiretamente. No entanto, é válido
lembrar que esses números não demonstram a melhor
condição do Estado, que em 2000 ocupava a vice-liderança
no ranking da produção nacional do leite.
Para Alfredo Luiz Correia, diretor executivo do Sindicato
das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás
(Sindileite), é importante salientar que diversos fatores
têm interferido no crescimento da produção
estadual de leite em Goiás, como falta de assistência
técnica, inexistência de políticas eficazes
de renda, dificuldades em gerenciamentos de custos e riscos
da atividade, desestímulo ao produtor e a crise financeira
econômica, que atingiu o mundo em 2008 e 2009.
Enquanto cerca de 11% dos produtores consultados pela Faeg
para a realização do Diagnóstico têm
a pretensão de abandonar a atividade em curto prazo,
65% deles pretendem, nos próximos anos, melhorar a
tecnologia e aumentar a produção. Nesse sentido,
quando o assunto é produtividade, o consultor técnico
em Pecuária Leiteira da Premix, Liéber de Freitas
Garcia, salienta os caminhos a serem desbravados nacionalmente.
Alguns fatores das equações brasileiras
sobre produção média/vaca, produção/ha/ano,
entre outras, ainda deixam a desejar para um país que
almeja um papel melhor e mais atuante no cenário internacional.
No entanto, para que se obtenha esse aumento em produtividade,
é necessária utilização contínua
e orquestrada de ferramentas como genética, manejo
reprodutivo, bem-estar animal, sanidade e nutrição
adequadas, evitando-se assim gastos e ampliações
desnecessárias com rebanhos ou áreas produtivas:
a afamada eficiência produtiva, pontua, destacando
que, atualmente, a indústria tem se preocupado em bonificar
o produtor pela melhor qualidade de seu produto.
Dentro deste contexto, Goiás conta com uma iniciativa
pioneira que visa dar apoio, orientar, capacitar e treinar
produtores de leite, funcionários das propriedades
rurais, associações ligadas ao segmento da produção
leiteira, profissionais que trabalham oferecendo assistência
técnica, além de instituições
de ensino. Trata-se do Programa Piracanjuba Pró-Campo,
realizado pelo Laticínios Bela Vista no Centro de Apoio
Técnico aos Produtores de Leite Piracanjuba, localizado
em Bela Vista de Goiás. A ação teve lançamento
em março deste ano e até a segunda quinzena
de setembro já havia promovido o treinamento de mais
de 300 pessoas, com previsão de alcançar quinhentas
até o final de 2010 e dobrar esse número no
decorrer de 2011.
Como funciona
O Centro funciona como uma fazenda-escola e possui área
de aproximadamente 45 hectares, composta por unidades operacionais
para recria de reprodutores de raças leiteiras, treinamento
de mão de obra para inseminação artificial
de raças leiteiras e produção de leite.
A capacidade atual de hospedagem comporta 14 pessoas, sendo
que novos alojamentos estão em fase de finalização.
Os alunos passam uma semana no local de segunda a sábado
- tendo aulas ministradas por profissionais do Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (Senar - GO) e da CRV Lagoa.
Segundo Luiz Magno de Carvalho, diretor de Expansão
do Laticínios Bela Vista, e José Paulo Felipe,
Gerente de Política Leiteira, essa oportunidade é
oferecida ao produtor, independentemente se ele é ou
não fornecedor da empresa. Para participar não
há custos, o único gasto que o participante
tem é com seu deslocamento até o Centro de Apóio,
que conta também como uma unidade de recria e venda
de touros da raça Holandesa para fazer repasse àqueles
que desejam fazer a melhoria genética de seus rebanhos.
Os treinamentos ocorrem três semanas por mês.
Na semana em que não há, o local serve para
a realização de dias de campo e Visita Técnica,
na qual são ministrados cursos de um dia para em torno
de 25 a 30 pessoas. O grupo tem palestras sobre qualidade
do leite, processo de obtenção e ordenha do
leite, cria de bezerras, entre outros temas que são
determinados de acordo com a época do ano, com as necessidades
e a realidade do momento.
Estrutura e Aprendizado
Na fazenda há 38 vacas em lactação, 20
novilhas na fase de 15 e 16 meses adquiridas recentemente
e 26 bezerras descendentes dessas 38 vacas. São animais
de sangue holandês com grau de sangue máximo
7/8 e ½ sangue Jersolando (Jersey e Holandês).
A produção atual gira em torno de 800 litros
dia. É possível acompanhar toda a rotina
de uma propriedade de leite, sistemas diferentes de ordenha,
de recria de bezerros e de manejo de pastagens, por exemplo.
Nossa intenção é passar conceitos, mostrar
que técnicas simples ou de última geração
funcionam, basta fazer correto. Muitas vezes o produtor tem
determinado recurso, tem a mão de obra, mas falta informação
e qualificação para atingir bons resultados.
Existem casos em que não é preciso desembolsar
para melhorar a atividade, é uma questão apenas
de ajustar o manejo. Às vezes, são poucas as
modificações, explicam Luiz Magno e José
Felipe.
Os pecuaristas Euripedes Bassamurfo da Costa e Joaquim Mendonça
Neto já enviaram funcionários para participarem
da iniciativa e têm se mostrados satisfeitos com a motivação
e os desempenhos demonstrados por suas equipes. O primeiro
deles, que trabalha com pecuária leiteira desde 1996
mantém atualmente 150 vacas em lactação
com produção diária de 3.500 litros no
Sitio Irmãos Costa (município de Itaberaí),
afirma que além de uma melhora na produção
houve também mudanças positivas no relacionamento
interpessoal na propriedade.
A mão de obra qualificada e capacitada é
fundamental para o bom rendimento do trabalho, sobretudo quando
falamos no setor leiteiro, cuja importância passa tanto
pelo fator social, quanto pelo econômico. Após
passarem pelo programa, os colaboradores ganharam conhecimento
e têm o dividido com os demais que ainda não
passaram pelo treinamento ajudando até mesmo a corrigir
algumas práticas do manejo diário. Esse fato
certamente está favorecendo muito o entrosamento entre
eles. Isso reflete direto na qualidade do leite que está
com melhores índices de contagem bacteriana e de controle
de células somáticas, ressalta Euripedes
Bassamurfo que encaminhou dois de seus seis funcionários
e pretende encaminhar todos os restantes ao Pró-Campo.
Joaquim Mendonça, da Fazenda Rafaella (localizada em
Heitoraí), também enviou duas pessoas ao treinamento
e além desses pontos destaca ainda a intensificação
observada no procedimento de Inseminação Artificial.
A prática e os resultados obtidos com a técnica
após o programa foram aprimorados em quase 100%. Todo
o produtor que tiver condições deve investir
na capacitação de seus colaboradores e incentivá-los.
Trata-se de uma experiência na qual todos ganham,
explica e recomenda o criador que desenvolve a atividade há
cinco anos e atualmente conta com um plantel de 250 cabeças,
com 78 vacas em lactação e produção
de 1.300 litros/dia.
Além do Centro de Apoio Técnico aos Produtores
de Leite, o Piracanjuba Pró-Campo conta com Unidades
Demonstrativas de Produção distribuídas
em 12 regiões e assistência técnica gerencial
ao produtor. Cerca de 200 produtores já recebem esse
serviço que é terceirizado e funciona com apoio
financeiro dado pelo Laticínios Bela Vista nos quatro
primeiros anos de adesão. Uma curiosidade é
que a assistência técnica começou em outubro
de 2009, antes mesmo do Pró-Campo. Luiz Magno e José
Felipe comentam que nessas fazendas com acompanhamento já
de um ano, é nítida a diferença em aumento
de produtividade.
Quando aplicamos os treinamentos ou mesmo na assistência
técnica fazemos uma avaliação com o treinando
ou com o produtor para ver suas opiniões, o que pode
ser aprimorado ou deixando a desejar. O feedback tem sido
muito bom, pois o produtor está cedendo conhecimentos.
A informação que chegou a ele foi proveitosa
e ele quer mais para poder dar um passo seguinte e isso é
muito gratificante. Nos dá uma enorme satisfação
e por tudo isso esperamos que outras empresas nos tomem como
modelo para que tenham iniciativas semelhantes a essa. O setor
precisa se profissionalizar, tem muito espaço para
melhorar, pontuam.
O Programa, que tem parceria também com a Delaval,
prestará gratuitamente o teste de carrapatograma, por
isso, nos cursos já estão sendo explicados como
fazer a coleta do carrapato, como armazená-lo e enviá-lo
ao laboratório, que ficará pronto ainda neste
ano. O Piracanjuba Pró-Campo tem também um comprometimento
sócio-ambiental. O Centro conta com projetos de recuperação
de nascentes e reflorestamento da mata ciliar com espécies
nativas da região. Uma ação que está
para ser implantada é a Poupança Verde, com
o plantio de mogno, teca e acácia (um hectare de cada
variedade). Através dela, vamos mostrar ao produtor
que ele pode trabalhar com algumas variedades de árvores
cujas madeiras são nobres e vão proporcionar
a ele uma renda extra daqui a 15 ou 20 anos, finalizam.
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