Quando
o assunto são os ectoparasitas, a correlação
também é válida. Os carrapatos, por exemplo,
necessitam de uma umidade média acima de 60% para sobreviverem,
conforme explica a doutora em Parasitologia Animal e pesquisadora
da Embrapa Pecuária Sul, Claudia Gulias Gomes. O ciclo
de desenvolvimento da espécie Rhipicephalus (Boophilus)
microplus |(é junto), carrapato que ataca bovinos,
dura de 18 a 35 dias, com média de 21 dias, passando
pelas fases de larva, ninfa e adulta. As fêmeas ao se
desprenderem dos animais caem no pasto e ali depois de alguns
dias é iniciada a postura de ovos e, consequentemente,
a liberação das larvas. Com condições
de ambiente favoráveis, todo esse processo ocorre mais
rapidamente.
O tempo que ela pode aguardar as condições
ideais para colocar seus ovos varia muito, podendo chegar
de dois meses a mais de cem dias. É claro que nesse
intervalo muitas fêmeas vão morrer. A relação
do tipo de pasto com o carrapato tem a ver com a formação
do microclima que vai interferir diretamente ou não
na sobrevivência daquele parasita na pastagem. Quando
você tem uma forrageira mais baixa, a incidência
do sol faz com que a umidade próxima ao solo seja menor,
por conta da evaporação da água e isso
prejudica a manutenção do carrapato ali. Os
pastos mais altos tendem a formar um microclima perto do solo,
favorecendo o carrapato. Deve-se evitar a superlotação
de animais em uma mesma área, pois quanto menor o local
para ele pastejar, maior serão as chances do encontro
do parasita com o hospedeiro, afirma a pesquisadora.
Ainda segundo ela, há estudos que comprovam que em
algumas espécies de pasto existem características
que dificultam a subida e fixação da larva na
planta.
Uma curiosidade é que cada carrapato chega a dar origem
a quase três mil ovos e a maioria são viáveis.
Por isso, para um combate eficiente é fundamental estar
atento ao controle da primeira geração, que
varia de acordo com cada localidade, mas em geral tem início
no mês de outubro. Para determinar a periodicidade e
intervalo do tratamento, seja por banhos carrapaticidas ou
fórmulas injetáveis ou pour-on, deve considerar,
além do ciclo desse parasita, as características
de clima da região e o período de efeito residual
da base química a ser utilizada. O carrapaticida
atua na fase em que os indivíduos estão sob
o animal, o controle no pasto se dá indiretamente.
Quando se faz a introdução de novas pastagens,
o trabalho do solo também acaba diminuindo bastante
a infestação da população no campo,
alerta Claudia Gomes, recomendando ainda que o correto sempre
é que o produtor procure uma orientação
técnica, para esquematizar a estratégia de controle
mais adequada ao sistema.
Resistência
A identificação da substância a ser utilizada
é prioridade, dada a resistência parasitaria
que esses seres conseguem alcançar. Desde 1997, a Embrapa
Gado de Leite (Juiz de Fora/MG) disponibiliza, juntamente
com uma rede nacional de instituições parceiras,
o carrapatograma, principal teste para diagnosticar as fórmulas
que atuam da melhor forma em determinado rebanho.
O produtor interessado envia em potes plásticos por
SEDEX, amostras de fêmeas ingurgitadas do carrapato
dos bovinos (mamonas, jabuticabas explica melhor) ao
laboratório. Após 35 a 40 dias, a propriedade
recebe os resultados do teste, que é gratuito, com
informações sobre o momento certo de entrar
com tratamento, preparar e administrar adequadamente o banho
carrapaticida. A Embrapa reforça que utilizando corretamente
o produto recomendado, a propriedade contará com uma
droga eficiente por até dois anos, findos os quais
geralmente se desenvolve o processo de resistência.
Recomenda-se que o teste seja repetido a cada ano.
Endoparasitas
Parasitas internos, principalmente os gastrintestinais, também
encontram melhores condições para completar
seu ciclo na incidência do período das águas.
O médico veterinário Raul Santana ressalta que
ainda na época seca já se deve fazer o tratamento
e prevenção desse mal, devido à queda
da presença de parasitas no meio ambiente no período
em questão. Serão indicadas vermifugações
estratégicas para reduzir a população
de indivíduos e, consequentemente, a infestação
e contaminação da pastagem nos períodos
úmidos. De preferência o uso de um único
princípio e que sejam obedecidas as recomendações
dos fabricantes para reduzir a resistências dos parasitas
aos medicamentos, destaca.
O primeiro passo, antes de iniciar esse tratamento, é
exatamente a análise da eficácia do produto,
que pode ser identificada por meio do exame de contagem de
ovos por grama de fezes (OPG). Uma análise antes da
mostra e outra depois da mesma passar por um processo de tratamento
com o produto mostrará qual será a carga de
vermes antes e depois da aplicação, permitindo
saber se há ou não resistência parasitária
na propriedade.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), unidade Rondônia, os principais sintomas
causados pela presença de vermes no organismo são
animais tristes e abatidos, que apresentam pelos secos e eriçados,
abdômen aumentado, falta de apetite, emagrecimento progressivo
durante muito tempo, desenvolvimento retardado, com diarreia,
fezes escuras e às vezes com sangue. Eles ainda procuram
objetos como terra, madeira e outros como alimento e podem
mostrar anemia acentuada, desidratação, chegando
até a morte.
Os bezerros com idade de zero a dois anos são mais
susceptíveis aos parasitas, por isso, a Embrapa Rondônia
aconselha o controle a partir dos 2 a 3 meses até o
desmame, com vermifugação a cada 60 ou 90 dias.
Após o desmame, o controle estratégico prevê
que a 1ª vermifugação deve ser realizada
na segunda quinzena de maio, época de vacinação
contra a Febre Aftosa; 2ª vermifugação
na primeira quinzena de julho; 3ª na segunda quinzena
de agosto ou setembro e a 4ª na primeira quinzena de
dezembro. Após algum tempo a quarta vermifugação
poderá ser realizada, porque os animais terão
a verminose controlada.
Nos bovinos de corte, em razão do manejo diferente,
em áreas maiores, os bezerros serão vermifugados
a partir do controle estratégico, com as três
primeiras aplicações. Para o controle biológico,
é recomendada a utilização do besouro
Digittonthophagus gazella, o popularmente conhecido Rola-bosta.
Combate com substâncias naturais
A Embrapa Pecuária Sudeste e outras unidades da instituição
têm pesquisado medicamentos naturais para combate a
parasitas de bovinos e ovinos, que eliminam ou reduzem o uso
de produtos químicos no controle de parasitas em animais.
As vantagens apontadas são a diminuição
de resíduos no meio ambiente e nos produtos alimentícios
de origem animal, como carnes, leite e derivados. A técnica
também pode significar redução de custos
para o pecuarista, além de maior vida útil do
medicamento, pois a resistência do parasita é
menor no caso de vermífugos naturais.
O produto natural pode ser utilizado com o princípio
ativo das plantas, isoladamente, ou associados a formulações
químicas. Em alguns casos, a planta pode ser utilizada
diretamente como vermífugo natural. Também há
em andamento estudos com marcadores moleculares para a resistência
à parasitas externos em rebanhos Nelores e cruzados.
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