Só
no ano de 2000 foram gerados quase 20 mil vagas no setor sucroenergético,
em Goiás, enquanto que em 2008 foram mais de 92 mil
(um salto em oito anos de 360% no número de empregos).
Apesar desses e outros benefícios, vemos também
que as expansões sem projetos e discussões mais
apuradas podem trazer problemas aos municípios, principalmente
no quesito mão de obra qualificada, que constituem
um problema sério no Estado de Goiás, assim
esses trabalhadores tem que ser importados de
outras regiões e as cidades não têm estruturas
de saúde e educação para comportar essas
famílias, opina engenheiro agrônomo, Alexandro
Alves dos Santos, assessor técnico da Federação
da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), para
a área de cana-de-açúcar e bioenergia.
No entanto, essa geração de empregos citada
pelo assessor da Faeg, nem sempre será suprida de forma
suficiente. Hoje, segundo aponta o setor, um dos principais
problemas enfrentado pelas usinas para implantar a mecanização
é a falta de mão de obra qualificada. Atualmente,
é difícil encontrar, desde operadores de colhedoras
até de profissionais de nível superior com um
mínimo de conhecimento de mecanização
de colheita, por exemplo. E a dificuldade está se agravando.
Desde que a legislação ambiental proibiu a instalação
ou implantação de usinas, cuja colheita não
sejam mecanizadas, começou uma corrida no setor. As
usinas que se anteciparam estão tranquilas, mas boa
parte delas ainda não se adaptou e até 2014,
todas serão obrigadas a eliminar as queimadas e substituir
a colheita manual pela mecanizada.
Para o consultor José Darciso Rui, fundador e diretor
executivo do Grupo de Estudos em Recursos Humanos na Agroindústria
(Gerhai), a falta de mão de obra especializada não
está ligada diretamente somente ao setor sucroenergético,
mas em todos os segmentos, de uma maneira geral. Porém,
neste caso, está associado à grande expansão
do setor ocorrida nos últimos anos, principalmente
nos Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Hoje, mesmo no campo, as novas máquinas estão
exigindo um tipo de trabalhador qualificado. Sendo assim,
um dos grandes problemas das empresas é que elas precisarão
investir maciçamente na qualificação
desses trabalhadores, explica.
No entanto, lembra Rui, o setor está se preparando
para essa grande transformação que vem ocorrendo
no campo. Na prática, haverá uma requalificação
de um grande contingente de pessoas que trabalham com o corte
manual da cana, de modo que esses trabalhadores possam ser
reaproveitados, não apenas como operadores de colhedoras,
mas em diversas áreas da indústria ou até
mesmo no setor agrícola. Porém, é bom
alertar que, nem toda a mão de obra que hoje está
na lavoura será absorvida. O que acontecerá
será uma migração, por exemplo, o responsável
pela colheitadeira deixou de ser o tratorista, dando lugar
ao cortador de cana, pontua. Em geral, os trabalhadores
que migravam de diversas regiões do País, principalmente
do Norte e Nordeste, estão sendo substituídos
por pessoal capacitado na operação das máquinas,
finaliza Rui.
Uma colheitadeira, com toda a tecnologia agregada, requer
cerca de 16 pessoas, envolvendo uma operação
que exige um mecânico, um operador, entre outras funções,
no campo. Mas, dependendo do tipo de cana e da topografia,
uma máquina substitui até 80 homens. A mecanização,
contudo, contribui para a redução dos danos
ambientais causados pelas queimadas, como também para
uma migração da mão de obra. Porém,
isso leva um tempo. O treinamento dos trabalhadores precisa
de no mínimo uma safra, até que ele possa se
profissionalizar, justifica.
A requalificação
Como a qualificação e requalificação
realizadas pelas usinas, abrangem um número muito pequeno
de pessoas e são insuficientes para atender a demanda,
empresas se mobilizaram para solucionar a questão.
Várias desenvolvem projetos de educação,
de alfabetização e de melhoria do grau de escolaridade.
Além disso, algumas mantêm parcerias com
o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e
com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
no sentido de oferecer cursos, não só para os
operadores de colhedoras ou mecânicos, mas também
para aqueles trabalhadores que podem ser aproveitados em outros
setores, atesta Rui.
Além destas entidades, a União da Indústria
de Cana-de-Açúcar (UNICA) em parceria com a
Federação dos Empregados Rurais Assalariados
do Estado de São Paulo (Feraesp), com o patrocínio
das empresas Syngenta, John Deere e Case IH e o apoio do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) realizaram uma importante
iniciativa para o setor. Juntas elas implantaram o Projeto
Renovação, com o objetivo de requalificar trabalhadores
do corte manual da cana-de-açúcar em novas atividades.
Até 2017, a colheita realizada com a queima da
palha já estará erradicada, conforme prevê
o Protocolo Agroambiental, acordo afirmado em 2007, entre
os setores privado e público. Desde então, começou
a movimentação para encontrar soluções,
pontua a consultora em responsabilidade social corporativa
da Unica, Maria Luiza Barbosa.
Ela lembra que a iniciativa é qualificar sete mil cortadores
de cana por ano. Em uma turma, cortadores de cana fazem curso
de mecânico de colheitadeiras de tratores, soldador
e eletricistas. É claro que nem todos os empregados
que estão sendo capacitados voltarão para a
lavoura. Porém, colocamos à disposição
outros dos cursos de requalificação para outros
setores como apicultura e reflorestamento, horticultura, artesanato
e computação, por exemplo, explica a consultora.
Seis macro-regiões no Estado de São Paulo, centradas
em: Araçatuba, Bauru, Piracicaba, Presidente Prudente,
Ribeirão Preto e São José do Rio Preto
já entraram no circuito do Projeto Renovação.
Além de ajudar as indústrias do setor
sucroenergético a suprirem suas necessidades de recursos
humanos para várias atividades, temos também
a intenção de oferecer oportunidades para muitas
famílias e comunidades, ou seja, atender a exigência
daquele local com a visão bem mais humanista,
complementa Maria Luiza Barbosa, consultora em responsabilidade
social corporativa da Unica.
|