No
saldo de janeiro a julho deste ano, a oleaginosa, em todo
seu complexo de produtos e subprodutos, rendeu mais de US$
12,3 bilhões, correspondendo a 32,8% do montante total
exportado pelo agronegócio brasileiro, segundo dados
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa). Nesse sentido, o tamanho esforço para garantir
mais rendimento se justifica diante de um mercado que é
crescente e constante. Dispor, então, de ferramentas
para a melhor condução de plantio e colheita
é o desejo de todo o agricultor brasileiro afinal,
quanto mais por hectare, melhor aos bolsos de quem colheu.
Estudo contra a resistência
Para começo de história, não há
como falar em soja se não falar em P. pachyrhizi. O
fungo tem uma característica perniciosa é
um hábil mutante, possui muitas raças, por isso
é difícil frear a disseminação
dele, até mesmo com o cultivo de variedades resistentes
e a aplicação de fungicidas adequados. Entender
como isso funciona será uma das bandeiras do recentemente
inaugurado Laboratório de Monitoramento de Resistência
e Testes com Pragas Urbanas, da empresa química alemã,
BASF.
A unidade agora compõe, entre outros mais, a Estação
Experimental Agrícola da empresa, localizada em Santo
Antônio de Posse, na região metropolitana de
Campinas (SP).
O novo laboratório vai possibilitar a realização
de análises com o objetivo de monitorar possíveis
resistências de fungos, insetos e plantas daninhas a
diferentes famílias de produtos químicos. No
caso da ferrugem, a doença está no foco principal
dos estudos atualmente. Coletamos várias amostras
dela em grandes regiões produtoras do País para
realizarmos as pesquisas, declara Gilberto Fernando
Velho, engenheiro agrônomo e gerente de Departamento
da Estação Experimental da BASF. Aqui
elas são replicadas e analisadas com os produtos da
empresa, para saber como está o nível de controle
de nosso fungicida. Isso servirá para monitorar o ciclo
de vida dele e poder antever qualquer mudança que possa
ocorrer caso haja alguma resistência, e, assim atualizar
as formulações com maior rapidez.
Estar à frente do que possa ocorrer com o sistema de
controle do fungo é a prioridade da empresa, que declara
que esse tipo de estudo serve para dar mais opções
ao agricultor na hora de estabelecer boas práticas
de manejo, seja na utilização de cultivares
mais produtivas e resistentes como no uso racional de defensivos
agrícolas.
Para o futuro, Velho destaca que o laboratório servirá
para o estudo de resistência em demais pragas como,
por exemplo, a mosca-branca e plantas daninhas. Além
disso, poderão ser desenvolvidas soluções
não só para o Brasil, mas para demais regiões
produtoras na América Latina.
Ferrugem mapeada
Enquanto o fungo causador da ferrugem asiática é
observado, microscopicamente, pelos laboratórios da
BASF, por outro local é possível perceber a
disseminação dele por todo o território
nacional e isso pode ser feito de casa, através
do sítio de Internet www.consorcioantiferrugem.net.
O gerenciamento das informações coletadas a
campo por técnicos, e analisadas pelas dezenas de laboratórios
credenciados no País, resultaram numa ferramenta muito
útil à classe produtora no sentido de saber
como está o nível de infestação
de P. pachyrhizi no campo.
A ideia foi um aprimoramento do trabalho da parceria público-privada,
a qual congrega mais de 130 entidades entre universidades,
empresas, associações, cooperativas e centros
de pesquisa o Consórcio Antiferrugem, o qual
é coordenado atualmente pela Embrapa Soja, Londrina
(PR).
O sítio tem sido nossa principal ferramenta,
afirma o pesquisador especialista em fitopatologia da Embrapa
Soja, e também integrante da coordenação
do consórcio, Rafael Soares. Lá são
registradas todas as ocorrências, que agora estão
apresentadas com maior riqueza de detalhes, depois que nós
o remodelamos. Mais moderno, agora ele tem possibilidade de
conter um maior número de informações,
além de contar com um sistema de pesquisa mais detalhado,
descreve.
Gráficos, textos e informações por município
são alguns dos itens que se podem perceber logo de
cara em algumas passadas de mouse pela ferramenta virtual,
que até mereceu espaço nas discussões
na última Reunião de Pesquisa de Soja da Região
Central do Brasil (RPSRCB), realizada no início de
agosto, em Brasília (DF).
Além do sítio, o consórcio promove ações
para a melhor divulgação das pesquisas para
o melhor manejo da doença tanto aqui no Brasil como
em países vizinhos como a Argentina e o Paraguai. Dentre
essas iniciativas destacam-se a instituição
obrigatória do Vazio Sanitário da Soja e a indicação
de formulações misturadas de fungicidas no momento
da aplicação, em função da notícia
de resistência do fungo ao grupo químico de triazóis,
em Mato Grosso.
Quanto às previsões da ferrugem para esta
próxima safra 2010/2011, estamos muito em função
das condições de tempo. Agora como está
esta seca brava em todo o País, praticamente. A despeito
de todos os problemas causados pela seca à saúde
humana, para a ferrugem está sendo muito bom. Ainda
mais com período do vazio sanitário, isso indica
que não está sobrando nenhuma planta voluntária
de soja no campo, avalia. No entanto, esses efeitos
não são bons para a produção de
soja, pois há grandes riscos de perdas nítidas
em função da seca. É exatamente como
se diz que, ano bom para soja é ano bom para a ferrugem,
que é de chuvas frequentes, bem distribuídas
o que acaba favorecendo os dois lados, pondera.
Aplicação consciente
Saber onde a ferrugem ocorre não resolverá de
nada se o sojicultor não souber lidar com as duas ações
integradas, que guiarão os trabalhos dele para não
ter de perecer em função da ferrugem ou demais
problemas de ordem fitossanitária da lavoura
o uso de cultivares resistentes e, em especial, o manejo responsável
de defensivos agrícolas. Nesse sentido, a Dow AgroSciences
em conjunto com a Universidade Estadual Paulista (Unesp) lançaram
o Programa de Aplicação Responsável (PAR),
a sojicultores em Rondonópolis (MT), município
que fica a cerca de 220 quilômetros de Cuiabá.
Também participam da iniciativa a Fundação
de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso
(Fundação MT) e a Associação dos
Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja).
Os defensivos representam um dos componentes de maior
custo no processo produtivo, avalia o engenheiro agrônomo
e pesquisador da Unesp, Ulisses Antuniassi, por isso,
o uso desses componentes deve ser criterioso do ponto de vista
econômico. Além disso, o uso responsável
destes produtos é de suma importância para a
segurança ambiental do processo, frisa.
O pesquisador foi um dos palestrantes nesse primeiro encontro
do PAR, o qual esclareceu pontos importantes do manejo com
os defensivos para 30 produtores e operadores da região.
Segundo ele, o programa tem como norte, o incentivo às
boas práticas na aplicação de defensivos,
como a completa revisão de conceitos nos aspectos de
uso de equipamento de proteção individual (EPI),
qualidade na aplicação, aplicações
em condições climáticas adequadas, redução
do risco de deriva e, ainda, inspeção periódica
de pulverizadores. Se estes aspectos forem de alguma
forma otimizados, os participantes certamente terão
vantagens econômicas, pela racionalização
do processo, assim como estarão fazendo um processo
produtivo mais responsável do ponto de vista ambiental,
atesta Antuniassi.
Para a Valeska De Laquila, coordenadora técnica de
Sustentabilidade da Dow AgroSciences, o grande objetivo da
empresa, a partir do PAR, é o estímulo em se
reduzir as perdas e os riscos de deriva nas aplicações,
além de estimular a adoção de práticas
seguras de aplicação. Ainda temos como
objetivo incentivar a melhoria na qualidade das aplicações
de defensivos por meio da correta manutenção
e calibração dos pulverizadores a campo e da
adoção de boas práticas de aplicação,
acrescenta.
Além do treinamento, a equipe do PAR pretende levantar
informações sobre como é feito as operações
de aplicação de defensivos agrícolas
nas propriedades visitadas, analisar qualitativa e quantitativamente
o processo de aplicação e inspecionar os pulverizadores
utilizados nas fazendas que receberão a equipe.
Semente muito bem tratada
Fechando os exemplos de incrementos tecnológicos atualmente
existentes para uma lavoura de soja sã e rentável,
há que se falar também de todo o sistema de
proteção da planta, ainda quanto uma simples
semente.
O know-how nesse aspecto é da empresa multinacional
suíça, Syngenta, a qual inaugurou no início
de outubro de 2009, um dos mais modernos laboratórios
de tratamento de sementes do grupo na América Latina
o Seed Care Institute, que está localizado no
município de Holambra (SP). Lá, os resultados
de desenvolvimento de pesquisas na área guiarão
os trabalhos fabris espalhados pelo País, e ainda contará
com o apoio das unidades de estação experimental
para a avaliação e validação das
tecnologias estudadas. Além da soja, também
são desenvolvidas tecnologias para as culturas de milho,
algodão, feijão, cereais, vegetais, girassol
e amendoim.
Para José Veiga, gerente de Desenvolvimento de Produtos
para Tratamento de Sementes para a América Latina da
empresa, o conceito de tratamento de sementes deixou de ser
um simples seguro ao produtor para ser uma ferramenta com
maior suporte tecnológico, com maior adição
de propriedades que atendam as necessidades dos produtores.
Para se ter uma ideia, hoje é possível
se oferecer aos produtores um pacote mais completo de tecnologia
em tratamento de sementes, não só simplesmente
que permita que a planta nasça, mas que também
garanta o número adequado de plantas, que faça
com que elas se estabeleçam mais rapidamente e se transformem
em plantas vigorosas, pontua Veiga.
O mais recente pacote tecnológico em tratamento de
sementes Horizon oferece fungicidas, o grupo
químico thiomethoxam, que possui o efeito bioativador
e controla algumas pragas iniciais, e um inoculante, que auxilia
a planta na fixação de nitrogênio. De
acordo com Veiga, esse incremento à semente pode garantir
um rendimento de três a quatro sacas por hectare (ha),
enquanto que o mais recente pacote Avicta pode
garantir dez sacas por ha. Este último pode ser uma
promessa e tanto aos produtores, pois resolveria a questão
dos nematóides por controlá-los.
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