A
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
por exemplo, está promovendo uma parceria com a Associação
dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja),
universidades, fundações de apoio à pesquisa,
consultores técnicos e produtores para conduzir experimentos
nas regiões de maior ocorrência do distúrbio.
De acordo com Maurício Conrado Meyer, fitopatologista
pesquisador da Embrapa Soja, instituições como
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD), Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Botucatu),
Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e as Fundações
MT, Rio Verde e Chapadão estão envolvidas nesse
projeto. O principal objetivo é uniformizar as informações
existentes e promover a troca de dados e experiências
de quem vem enfrentando o problema. Essas iniciativas
têm colaborado muito no planejamento da próxima
safra, por parte dos consultores e assistentes técnicos,
e também tem orientado as próximas ações
de pesquisa, enfatiza Meyer, ressaltando que ainda não
se sabe se há ocorrência de problemas semelhantes
a esse em outros países e que não existe tratamento a
ser feito caso seja constatada a Soja Louca II, pois ainda
não se conhece nenhuma medida de controle.
A anomalia foi pautada em dois encontros já no segundo
semestre de 2010. De acordo com Glauber Silveira da Silva,
presidente da Aprosoja e da Associação Brasileira
dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), esses eventos são
importantes porque tem reunido especialistas de todo o país
para discutir e formatar pesquisas com o objetivo de conhecer
as causas dessa anomalia e fazer ações de combate
à propagação nas lavouras. A partir
da demanda de produtores que relataram a presença da
anomalia e prejuízos na produção e da
constatação in loco da sua equipe técnica,
no início de julho a Aprosoja, em conjunto com a Embrapa,
realizou uma rodada de discussão e reuniu pesquisadores
da Embrapa, da Universidade Federal da Grande Dourados (MS),
o PhD em Fitopatologista, um dos mais renomados do país,
José Tadashi, entre outros importantes especialistas.
No encontro foi formado um Grupo de Trabalho que voltou a
se encontrar na XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da
Região Centro-Oeste, realizada em Brasília em
10 de agosto, conta Silva.
Segundo o dirigente, nesses dois encontros ficou decidido
que será feito o acompanhamento técnico nas
lavouras das regiões onde foi detectada a anomalia.
O trabalho será iniciado na safra 2010/2011 a partir
do surgimento dos primeiros focos nos Estados de Mato Grosso,
Tocantins, Pará, Maranhão e Mato Grosso do Sul.
Serão realizados experimentos (pesquisas) com manejo
de palhada e restos culturais para acompanhar o comportamento
do desenvolvimento das plantas. Amostras colhidas serão
encaminhadas para análise em laboratórios de
universidades. Em Mato Grosso serão acompanhadas propriedades
nos municípios de Cláudia, Sorriso, Primavera
do Leste e São Félix do Araguaia.
Glauber Silveira explica que as informações
sobre o trabalho a ser desenvolvido serão divulgadas
em reuniões e encontros técnicos promovidos
no interior e por meio de divulgação de panfletos
e canais de comunicação da entidade, como rádio,
site, newsletter, entre outros. Além disso, serão
enviados questionários para identificação
de sintomas nas áreas de incidência da anomalia,
registro do histórico de ocorrência do problema.
Esses questionários serão encaminhados a produtores
e pesquisadores. O objetivo é reunir o máximo
de informações para auxiliar o encaminhamento
das ações.
Perdas na produtividade
A Soja Louca II realmente é um assunto que envolve
mistério. Isso porque não se sabe ao certo qual
o real tamanho do prejuízo que ela já causou
e, talvez sua incidência nas lavouras possa ser um problema
mais antigo do que se tem registro. O dirigente da Aprosoja
conta que na safra 2009/2010, por exemplo, não foi
possível mensurar o prejuízo total porque ocorreram
casos isolados de registros do problema. Porém, pode-se
dizer que em alguns casos foi possível constatar, principalmente
na Região Norte, perdas localizadas, mas que mostram
que, onde foi registrada, a ocorrência foi severa, com
indicações de perdas na produção
de 100 hectares a 200 hectares por propriedade atingida.
Em outros casos, houve relatos de perdas na produção
de 40% a 60% por lavoura. A Soja Louca II começou a
ser registrada há quatro safras, com um caso ou outro
isolado e alternância entre as safras. Ou seja, nos
últimos quatro anos houve período em que a anomalia
apareceu e período em que não houve relato.
A anomalia atingiu tanto variedades convencionais quanto transgênicas,
fala o presidente da Associação, indicando que,
na prática, o monitoramento da lavoura deve ser feito
pelos produtores durante todo o ciclo para acompanhar a evolução
de qualquer tipo de anomalia, doença, pragas, ervas
daninhas. Entretanto, a Soja Louca II é notada
no período de pré-floração, por
impedir a floração da planta, ocasionando o
abortamento das flores e vagens. São notadas disfunções
como coloração verde escura, folha mais alongada
e sem pelos. O resultado é que a planta fica estéril
e não se desenvolve, completa.
Em artigo, Maurício Meyer e o entomologista e também
pesquisador da Embrapa Soja, Edson Hirose, também destacam
que a partir da safra de 2006 vem sendo observada a ocorrência
de plantas de soja com sintomas de haste verde e retenção
foliar em regiões produtoras de soja, denominadas popularmente
como Soja Louca II. De acordo com eles, não
se sabe precisar, ao certo, em que ano o problema se iniciou,
mas há relatos de que foram observados na safra de
1997 em Balsas, no Maranhão. Os pesquisadores apontam
que a denominação de Soja Louca II
foi sugerida por Gilioli et al. (2007) para diferenciar da
Haste Verde e Retenção Foliar,
comuns ao ataque de percevejos sugadores ou a algum problema
nutricional da soja, que não estão associados
ao problema em questão.
Os pesquisadores apontam que inúmeras causas têm
sido ligadas a este distúrbio, mas que nada foi cientificamente
confirmado até o momento. A associação
de ácaros pretos (oribatídeos) a planta de soja
com sintomas da anomalia parece existir, mas não se
sabe se eles causam o dano ou se são consequencia de
um desequílibro de outra origem. Estes ácaros
são mais comumente encontrados na palhada de cobertura
do solo. Maiores concentrações de ácaros
pretos foram encontradas na entressafra em plantas de capim
pé-de-galinha (Eleusine indica), timbete (Cenchrus
echinatus), capim amargoso (Digitaria inslaris) e Andropogon
sp.
Sintomas Segundo pesquisadores Embrapa, os sintomas
observados de Soja Louca II são o afilamento das folhas
do topo das plantas e o engrossamento das nervuras.
As folhas apresentam uma tonalidade mais escura em relação
às sadias. As hastes exibem deformações
e engrossamento dos nós. As vagens também apresentam
deformações, redução do número
de grãos e apodrecimento de grãos.
Plantas com problemas registram alto índice de abortamento
de flores e vagens. Esse fato é mais intenso na parte
superior das plantas, diminuindo em relação
à base, o que impede o processo natural de maturação,
fazendo com que a planta permaneça verde no campo,
fenômeno conhecido como Soja Louca.
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