Mas,
uma vaca pode valer tanto? Pode. No show milionário
dos leilões tudo é possível. Até
mesmo uma vaca bem avaliada chega à cifra de dois apartamentos,
de 400 metros quadrados, em um bairro considerado nobre na
cidade de Curitiba, por exemplo. No caso da Parla FIV AJJ,
além de muitos componentes que são levados em
conta, como o seu aprumo, estão a genética
diferenciada e conhecida do animal, segundo conta Nilo
Sampaio Júnior, zootecnista e gerente da Chácara
Mata Velha. Com esses atributos, o que se busca agora é
multiplicar os bons resultados obtidos, nos descendentes dela.
Sua filha já foi comercializada por R$ 200 mil
e, recentemente, teve um embrião que foi negociado
por R$ 180 mil. Parla é um dos animais mais valorizados
da raça Nelore. A vaca, que é filha de um grande
campeão das pistas, conquistou de tudo que há
no circuito de exposições, justifica Sampaio
Jr., para tanta valorização.
No entanto, Parla não é única. Já
foram comercializadas outras fêmeas em leilões
brasileiros a preços exorbitantes. A vaca Fairani,
no ano de 2001, foi vendida por R$ 2 milhões, e seus
embriões foram comercializados por até R$ 100
mil. Em 2008, a Vala Barros Correia, vaca da raça Nelore,
puro sangue, do Estado de Alagoas, foi vendida por mais de
R$ 3 milhões. E até então, o animal mais
caro da ExpoZebu era a vaca Athena 5 SR da Sara, arrematada
por mais de R$ 2 milhões, na edição de
2007.
No mercado de elite, que por sinal corre muito dinheiro, o
que mais importa para os criadores é a genética
do animal, que no caso da vaca pode render embriões
de mesma qualidade e valor. Atualmente neste circuito, fêmeas
e machos têm exigências diferentes, assim
uma boa vaca não significa que será irmã
de um boi ótimo. Para isso, que o pecuarista
dispõe de diversas tecnologias reprodutivas, tais como
inseminação artificial, transferência
de embriões, Fertilização In Vitro (FIV),
sexagem de sêmen e marcadores moleculares. Esse último
é considerado um passo decisivo na seleção
de genética, uma vez que já é possível
de antemão saber as características que os animais
poderão ter antes mesmo de nascerem. Nada se compara
a antigamente. A seleção era feita por
meio de monta natural. Eram comprados touros ou escolhidos
normalmente dentro do próprio rebanho, após
a definição da aptidão para carne ou
leite. Os criadores iam experimentando, fazendo o rebanho
com muitos erros e acertos. Mais na frente, eles continuaram
fazendo a seleção tendo como base o touro, mas
realizando inseminação, isso após a escolha
de touros em Centrais, que se acreditava ter uma genética
melhoradora, relembra o criador mineiro Virgílio
Villefort, que vem se destacando na seleção
de animais puros e também em projetos de cruzamento.
Até então, naquela época, os machos eram
supervalorizados. Certo? Mas, será que com o avanço
de tantas tecnologias, as fêmeas aparentemente esquecidas,
no mercado de elite, começaram a se valorizar, pelo
menos nesses últimos anos? Na opinião do criador,
sim, principalmente quando se trata de doadoras (fêmeas
de alto valor genético, que se transformam em doadoras
de embriões). A FIV, segundo ele, uma das ferramentas
que oferece uma multiplicação e uma seleção
mais rápida, ou seja, que abrevia um trabalho de 50
anos para cinco, fez com que toda base principal de todo criatório
passasse a ser a de fêmeas. Uma vez que vai ela
será aspirada e os seus oócitos fecundados com
sêmen dos machos provados, isto no caso de Gir, Guzerá
leiteiro e Guzerá corte, que são raças
que crio, pontua Villefort.
A mesma opinião é do pesquisador da Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília
(DF), Maurício Machain Franco. Segundo ele, as vacas
ganharam mais destaque porque usando essas tecnologias de
reprodução conseguem-se produzir mais filhos
durante sua vida reprodutiva. Como são animais
de alto mérito genético, produzem muitos filhos
de alto mérito genético e se bem acasaladas,
com touros recomendados, de alto valor de mercado, frisa
o pesquisador.
Na fazenda do criador Virgílio Villefort, as doadoras
produzem a peso de ouro, mas o foco são os reprodutores.
Em meu criatório já tive doadora com produção
de 86 bezerros ao ano. Ainda assim, a produção
das fêmeas é limitada, enquanto que os machos
podem produzir mais de três mil doses por mês,
ou seja, perto de 18 mil filhos por ano, já descontados
os índices de infertilidade, revela.
Assim, mesmo produzindo muito, as doadoras têm um limite,
enquanto que a produção dos reprodutores é
muito maior. Daí a vantagem do macho sobre a fêmea.
Ano passado, vi anúncio de reprodutor Gir com
mais de 200 mil doses vendidas, ressalta o criador.
Ele ainda diz que existem exceções em toda raça.
No Gir, o reprodutor Radar dos Poções, morto
há muitos anos, atingiu o valor de R$ 18 mil a dose
de sêmen. O mais importante neste momento é
a doadora. Prova disto é que reprodutores provados
com preço acima de R$ 100 mil são poucos por
ano e doadoras acima de R$ 100 mil são vendidas quase
todos os dias, afirma.
Neste aspecto, a vaca sai na frente e o touro vem logo atrás.
Porém, nesse impasse, não dá para dizer
ou, tem de se dizer da importância de um bom reprodutor.
Apesar da média das fêmeas da raça Angus,
por exemplo, na Expointer 2010, ser de R$ 6,5 mil, número
superior aos R$ 4 mil comercializados ano passado. Macho
e fêmea têm importância exatamente igual,
ou seja, 50% dos genes de um produto vem do reprodutor e o
restante da vaca. A doadora de qualidade é sempre a
base de um bom rebanho, mas a forma mais prática e
usual para se evoluir um rebanho e por meio da utilização
de machos superiores, uma vez que eles deixam muitos descendentes.
Então, num processo de melhoramento progressivo de
um rebanho, onde você parte da base que se melhora esses
animais de geração a geração,
o macho é o fator chave. Mesmo assim, ele contribui
com apenas 50%, defende Fábio Schuler Medeiros,
médico veterinário D.Sc. e gerente do
programa de Carne Angus.
A mesma opinião é compartilhada pelo pesquisador
da Embrapa instituto responsável pelos estudos
no campo da genética ele afirma que, geneticamente
os dois têm a mesma contribuição, pois
a progênie (os filhos) tem a metade dos cromossomos
(DNA) do pai e a outra metade da mãe. Mas como
o touro pode ter muito mais filhos (devido à possibilidade
da inseminação artificial) do que uma vaca,
ele dissemina muito mais seus alelos (genes) na população.
Portanto, tendo uma contribuição mais evidente,
afirma o pesquisador.
Na lida dia a dia com o campo, essa diferença entre
macho e fêmea vai muito mais longe. A realidade é
bem diferente. O macho tem a sua reputação reconhecida
e em alguns casos bem acima da fêmea. Falamos
agora de um outro universo, o de produção. Aqui
a fêmea, a gente nunca deixa de lado, porém,
o foco são machos produtivos, a partir de uma boa avaliação
genética. Usamos touros com acurácia de 45%,
revela Frederico Pavão, zootecnista e gerente das Fazendas
Quilombo e Perdizes, sendo que a primeira fica localizada
em Indaiatuba (SP) e a outra na cidade de Campo Grande (MS).
Neste caso, reforça ele, o mercado está centrado
no sêmen de reprodutor e dele irá depender suas
características. O produto de touro mais novos,
que ainda não são comprovados, tem um valor,
e os mais velhos com validação, tem outro. No
mercado de elite é diferente, os animais reconhecidos
são valorizados e multiplicados ao extremo Existe hoje
valor no mercado surreal, pondera o gerente da fazenda.
Aliás, habituados a exposição e ao mercado
de elite durante longos 25 anos, a Fazenda Quilombo / Perdizes
deixou esse ramo neste ano, para seguir para o mercado de
produtividade, ou seja produzir animais geneticamente provados
a campo, com acasalamento dirigidos para produção
de matrizes e reprodutores. Hoje, por exemplo, na propriedade
de Campo Grande, há sete mil hectares e atualmente
tem 5.000 cabeças em produção. Nós
fizemos um direcionamento, pois o mercado de elite da raça
está se esgotado, pontua o gerente.
Não foi essa a impressão que se tem no mercado
de Angus, principalmente no Sul do País. Durante a
Expointer 2010 a raça bateu recordes. No Leilão
Seleção Angus, realizado na mostra, as médias
foram superiores a de R$ 7,1 mil. Ao comparar com os índices
obtidos no ano anterior, quando as médias foram de
R$ 4 mil, os números superação expectativas.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira
de Angus, Joaquim Francisco Bordagorry de Assumpção
Mello foram vendidas 80% da oferta e isso confirmou
o crescimento na comercialização de 15%.
Hoje, na raça, o sêmen de um animal passa a valer
na média de R$ 12 reais a dose. Um preço
bastante acessível, já o sêmen de elite
já é uma questão de disponibilidade do
que aquele animal está fazendo nas pistas ou até
o que seus filhos estão fazendo. Com isso, o valor
vai longe. Tem sêmen ofertado por R$ 2 mil, a dose de
sêmen, justifica Medeiros.
Sêmen X Oócitos
Já que se falam tanto de sêmen, como é
o mercado dos oócitos? De acordo com o pesquisador
da Embrapa, além da vaca, os oócitos se tornaram
ferramentas de valor. Hoje é avaliando morfologicamente
um oócito, qual tem mais chance de produzir um embrião
de maior qualidade. Mas na prática, todos eles
(independente de suas características morfológicas)
aspirados de uma doadora são levados para a fecundação
in vitro. Com relação a acasalamentos, o correto
é este ser feito dentro do contexto de um programa
de melhoramento, levando-se em conta as qualidades do touro
e da vaca (mérito genético) e o quanto eles
vão se complementar. Mas na prática, na produção
de embriões in vitro, um outro fator que é muito
levado em conta é a fertilidade do sêmen dos
touros no sistema in vitro. Hoje sabemos que há uma
variação muito grande na fertilidade in vitro
entre touros e isso é evidente no sêmen sexado.
Com isso, talvez a utilização mais intensa de
determinado touro seja também pela sua fertilidade
e não só pelo seu mérito genético,
justifica ele.
O valor de uma boa mãe
Vacas destinadas às mães de aluguel,
que não necessitam ter alto valor genético cuja
função é só parir
a cria, que nasce com o nível dos pais, esse é
o papel da receptora. O pecuarista seleciona novilhas com
melhor aptidão materna, utilizando sêmen sexado
de touros que transferem precocidade e aptidão maternal
para produzir novilhas. Hoje, os fazendeiros durante
a estação de monta, procuram vacas que são
80% férteis. Não adianta aquela que dá
leite e aquela que gera bezerros grandes, ela precisa dar
pelo menos um bezerro por ano para ser considerada uma boa
mãe, enfatiza o gerente da fazenda.
Já para o gerente do programa de Carne Angus, as receptoras
precisam ser animais bem adaptados ao ambiente. Elas
precisam ser boas mães, no que diz respeito à
produção de leite, uma vez que amamentará
um animal de alto valor zootécnico. Nesta questão,
a receptora mais valorizada tem sido a da Raça Angus.
Hoje é a principal para cruzamentos, pela habilidade
materna que possui. No Brasil Central, elas têm sido
usadas com cruzado com zebu, por ser precoce e fértil.
E no Sul do País, a fêmea pura Angus chega a
valer 16% acima, dentro do Programa de Carne Angus certificada.
Virou o pão quente do momento, brinca Medeiros.
O pesquisador da Embrapa, enfatiza que as exigências
são poucas para uma receptora, mas ela deve ter uma
condição sanitária adequada. Além
disso, ela precisa ter uma boa estrutura corporal, para ter
a capacidade de parir sem problemas e alimentar bem a cria,
descreve. Neste caso, as mais usadas habitualmente são
receptoras cruzadas, ou seja, uma mistura de duas raças.
Por exemplo, girolanda (cruzamento de Gir com Holandês),
ou uma receptora cruzada utilizando uma raça zebu de
corte com uma europeia que tem a capacidade de produzir leite,
ressalta.
Já quando o assunto são as doadoras, o assunto
muda de figura. O preço então nem se fala, o
que dependerá da doadora. Normalmente se vende
uma aspiração ou prenhez próximo a 10%
e 20% do valor da mãe. Já em comparação
o macho, o valor do sêmen é avaliado em função
da qualidade dos filhos do animal, diz o criador Virgílio
Villefort.
Essas vacas são especiais, provadas que já produziram
bons animais e recebem o status de doadoras. O ideal
é que ela já tenha resultado, por exemplo, uma
vaca que já teve um bezerro bom e queremos repetir
e multiplicar essa possibilidade, pondera Medeiros.
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