Quanto
maior o conhecimento que o pecuarista possuir, mais fácil
será tomar alguma decisão e avaliar o retorno
das medidas a serem tomadas em sua propriedade. No caso das
doenças reprodutivas, vale a máxima do ditado
que diz que prevenir é sempre melhor que remediar.
Os médicos veterinários da Bioembyo Biotecnologia
da Reprodução Animal Fernando Lopes,
Lorivaldo Paz Landin e Augusto Castro Netto recomendam
alguns critérios a serem considerados na seleção
de matrizes e touros em relação à capacidade
reprodutiva desses animais. No caso dos machos, eles indicam
atenção com os seguintes pontos: (1) desenvolvimento
corporal; (2) histórico genealógico, produtivo
e reprodutivo, bem como precocidade; (3) avaliação
de histórico sanitário e da progênie;
(4) libido; (5) exame clínico geral e exame específico
- andrológico (qualidade espermática e características
morfo-fisiológicas do aparelho reprodutivo); e (6)
perímetro escrotal e (7) exame de brucelose. As
três primeiras recomendações também
são válidas no caso das matrizes que devem passar
ainda por exames clínicos gerais e específicos,
com o exame ginecológico (análise morfo-fisiológica
do aparelho reprodutivo), a avaliação da ciclicidade
(idade ao primeiro cio, regularidade no intervalo entre-cios
e entre-partos, dias abertos de serviço, primeiro cio
pós-parto) e habilidade materna, aconselha Fernando
Lopes.
É fundamental para qualquer sistema de produção
de cria, ter um calendário sanitário adequado
em termos de doenças reprodutivas, no qual, a vacinação
contra a brucelose é uma das prioridades. Em 2001,
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) deu início ao Programa Nacional de Controle
e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal
(PNCEBT), que tornou obrigatória a vacinação
contra brucelose bovina e bubalina em todo o território
nacional e definiu uma estratégia de certificação
de propriedades livres ou monitoradas onde essas enfermidades
são controladas com rigor.
Os profissionais da Bioembryo explicam que o diagnóstico
dessa zoonose deve ser realizado associando-se exame clínico
e sanitário realizados por médicos veterinários
habilitados e provas sorológicas determinadas pelo
Mapa em estabelecimentos oficiais credenciados e que fazem
parte do PNCEBT. Inicialmente, realiza-se uma triagem dos
animais com o teste do Antígeno Acidificado Tamponado
(AAT). Os animais que reagirem positivamente a esse teste
poderão ser submetidos a exames confirmatórios
como o 2-Mercaptoetanol e o Teste de Fixação
de Complemento (FC). Em bovinos, a principal manifestação
clínica é o aborto, que ocorre em torno do sétimo
mês de gestação sendo pouco frequente
na segunda gestação após a infecção,
e muito raro nas subsequentes.
De acordo com o médico veterinário e gerente
de produtos da linha reprodutiva da Pfizer Saúde Animal,
Mauro Meneguetti, um dos momentos primordiais para a realização
do teste é sempre quando for feita a aquisição
de novos animais, de preferência, antes da introdução
do animal no rebanho. Quando esse é um exame
de rotina dentro da fazenda, a recomendação
é fazê-lo também antes de iniciar as parições.
O ideal é descartar os animais positivos antes que
eles venham a parir ou abortar, pois esses são momentos
em que a doença se espalha no rebanho. As únicas
ações preventivas contra a brucelose são
a vacinação das fêmeas quando bezerras
(de três a oito meses) e o descarte dos animais adultos
positivos. É essencial ressaltar que o teste para brucelose
é uma prova rápida, cujo resultado sai em poucas
horas e que, se no caso de negativo, a mesma mostra utilizada
serve ainda para identificar a incidência de outras
doenças que interferem na reprodução
como a leptospirose, IBR e BVD (siglas para Rinotraqueíte
Infecciosa Bovina e Diarréia Viral Bovina), que são
muito comuns no rebanho brasileiro. Existem ainda outras doenças
secundárias, mas não tão menos importantes
quando presentes, afirma.
Meneguetti faz um alerta quanto aos custos da prevenção.
Quando se identifica animais positivos para leptospirose,
IBR e BVD, as vacinações normalmente são
encaixadas no calendário que a fazenda já segue,
então, o gasto com mão de obra e manejo não
é relevante. Com isso, o pecuarista pode aproveitar
uma vermifugação, uma vacinação
contra febre aftosa para vacinar contra doenças reprodutivas
também. Geralmente, a prevenção contra
essas enfermidades são preconizadas da seguinte maneira:
a vacinação contra IBR e BVD é feita
anualmente e a leptospirose semestralmente. Então,
nesse caso vai ter: brucelose em bezerras e no restante das
matrizes duas vacinações, uma contra leptospirose,
no mínimo semestralmente e outra contra IBR e BVD no
mínimo anualmente. A relação custo x
benefício é imensurável em relação
ao que traz de resultados no rebanho. Em uma conta rápida,
quando se vacina um lote de cem animais, apenas com a prevenção
de um aborto ou aumento uma prenhez esse investimento já
é pago. O retorno sobre essa aplicação
não é garantido, mas não vale a pena
correr o risco por causa disso.
Mais do PNCEBT
No final do ano passado, o Mapa anunciou a meta de alcançar
três mil propriedades livres de brucelose e tuberculose
até o final de 2011. Segundo a fiscal federal agropecuária
e chefe da Divisão de Brucelose e Tuberculose Animal,
Barbara Medeiros Rosa, ao longo dos anos de existência
do PNCEBT houve o aumento gradativo do número de bezerras
vacinadas com a amostra B19, à medida que os produtores
tomavam conhecimento das novas regras e que os serviços
veterinários estaduais fiscalizavam a vacinação
e criavam normas estaduais para o controle da brucelose. Quanto
à certificação de propriedades como livres
ou monitoradas para brucelose e tuberculose também
houve avanço, contudo ainda aquém das expectativas.
Sobre a situação atual da brucelose no Brasil,
Bárbara Medeiros ressalta que em novembro de 2009 foi
publicado um estudo de caracterização epidemiológica
da brucelose realizado nos Estado da Bahia, Santa Catarina,
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Sul, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins,
além do Distrito Federal. O estudo foi realizado
entre 2001 e 2004, com exceção de Mato Grosso
do Sul, que aproveitou os trabalhos de campo realizados em
1998. Os resultados mostraram que a doença está
distribuída em todo o território nacional. As
prevalências são mais baixas nos Estados da Região
Sul e mais altas no Centro-Oeste, variando de 0,06 a 10,2%
[conforme mostra a tabela], declara Medeiros. Ainda
de acordo com ela, deve-se levar em consideração
que o estudo foi iniciado em 2001, ano em que foi instituído
o PNCEBT. Com a vacinação sistemática
dos rebanhos, e com uma alta cobertura vacinal, depois de
aproximadamente 10 anos, espera-se a redução
significativa dessa prevalência.
Em relação às perspectivas do PNCEBT
a curto e médio prazo, a chefe da Divisão declara
que o estímulo da indústria é fator determinante
para o aumento da procura dos produtores pela certificação.
Neste último ano foi notável o despertar
das indústrias lácteas para a certificação
de propriedades livres de brucelose e tuberculose. O acesso
a mercados restritivos é o motivo principal desse interesse.
Recentemente foi acordado o certificado sanitário para
exportação de lácteos à Federação
da Rússia que exige que os produtos sejam fabricados
a partir de matéria-prima oriunda de propriedades oficialmente
livres de brucelose e tuberculose, afirma, lembrando
que, além disso, iniciativas de certificação
de regiões livres de brucelose e tuberculose também
começaram a surgir. No ano passado teve início
projeto piloto na comarca de Arroio do Meio, no Estado do
Rio Grande do Sul, que envolve a certificação
como livres de brucelose e tuberculose de todas as propriedades
existentes nos 6 municípios pertencentes à comarca.
Esses fatores nos levam a prever um aumento significativo
na certificação de propriedades livres de brucelose
e tuberculose a partir do próximo ano, finaliza.
1ªPrimeira vacina contra brucelose para vacas adultas
No segundo semestre de 2009, a Intervet/Schering-Plough Animal
Health apresentou a primeira vacina contra brucelose aprovada
para vacas adultas, a RB-51. O plano de vacinação
da nova vacina contempla fêmeas bovinas com idade superior
a oito meses, não vacinadas com a cepa B-19 entre três
e oito meses de idade; fêmeas bovinas adultas vacinadas
com a cepa B-19 entre três e oito meses de idade, não
gestantes e não soro-positivas no exame de brucelose
e com mais de 24 meses de idade: novilhas e vacas dois meses
antes do período de reprodução, todas
as novilhas e vacas introduzidas no rebanho e todas aquelas
que estiverem em áreas de risco da doença. Com
a publicação da Instrução Normativa
nº 33, de 24 de agosto de 2007 da Secretaria de Defesa
Agropecuária no Diário Oficial, o Mapa regulamentou
o uso de vacinas não indutoras da formação
de anticorpos aglutinantes contra brucelose característica
da RB-51 que é a vacina oficial dos Estados Unidos,
México e Chile e que também é utilizada
ao lado da cepa B-19 em outros países como África
do Sul, Colômbia, Costa Rica, Paraguai e Venezuela.
UF
|
%
ANIMAIS
INFECTADOS
|
BA
|
0.66
|
DF
|
0.16
|
ES
|
3.5
|
GO
|
3
|
MG
|
1.1
|
MS
|
8.55
|
MT
|
10.2
|
PR
|
1.7
|
RJ
|
4.1
|
RO
|
6.2
|
RS
|
1
|
SC
|
0.06
|
SE
|
3.4
|
SP
|
3.8
|
TO
|
4.4
|
|