Os
produtores gaúchos têm muito a comemorar. Neste
ano, o Rio Grande do Sul apresenta um cenário pra lá
de favorável para a agricultura e também para
a pecuária. Eles tiveram a maior colheita de grãos
da história, após as enxurradas que assolaram
o Estado, e discutem a condição de estado livre
de aftosa sem vacinação. Em entrevista concedida
à repórter Fátima Costa, o secretário
de Agricultura do Estado, Gilmar Tietböhl, fala sobre
os bons resultados e a expectativa principalmente para 33ª
Expointer, que acontece no Parque Estadual de Exposições
Assis Brasil, em Esteio (RS).
Revista Rural Nos últimos anos, a Exposição
Internacional de Animais, Máquinas e Implementos e
Produtos Agrícolas (Expointer) apontou um crescimento
expressivo da participação de estrangeiros,
que visitaram os estandes e fecharam grandes negócios
durante o evento. Na sua opinião, atualmente a feira
se configura uma grande vitrine de tecnologias para os demais
países?
Gilmar Tietböhl A Expointer é uma feira
internacional e serve de vitrine para os negócios,
incluindo, por certo, os produtos e mercados estrangeiros.
Na edição do ano passado, a comercialização
total de feira foi de R$ 1,011 bilhão, configurando-se
o setor de máquinas e implementos agrícolas
como a alavanca, com negócios na ordem de R$ 795 milhões.
Um volume bastante considerável se contarmos os nove
dias de feira.
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Participaram
25 países, entre expositores e delegações
visitantes de negócios, dentre os quais estão
o Reino Unido, Alemanha, Uruguai, Estados Unidos, Japão
e França. Muitos deles comparecem há anos no
evento, naturalmente porque existem fatores determinantes
para seus negócios. E isto, se reflete no retorno das
comitivas e expositores às seguintes edições
da mostra. Em 2007, 18 países participaram da feira
e, em 2008, tivemos a presença de 19. Para este ano,
já estão confirmados, até o momento,
Canadá, Uruguai, República Tcheca, Áustria,
Equador, Alemanha, Argentina e México.
Rural Representantes dos setores de máquinas,
pecuária e da agricultura estão confiantes e
preveem negócios superiores, em comparação
à edição anterior da feira. Muitos apostam
no aporte de recursos da Caixa Rio Grande do Sul, Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco
do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para alavancar negócios
na Expointer neste ano. Que contribuições esses
órgãos podem trazer à exposição?
Tietböhl As instituições bancárias
costumam oferecer recursos financeiros específicos
para as aquisições realizadas na Expointer e
isso tem sido fundamental para o sucesso dos negócios
de máquinas e implementos agrícolas na feira.
Todos os anos são destinados aportes suficientes para
a demanda. Como já mencionei, o setor de máquinas
negociou no ano passado R$ 795 milhões e isto que,
estávamos ainda nos recuperando do boom econômico
de 2008. Passado o momento, hoje acredito que o volume de
negócios desse segmento poderá superar o de
2009, até pela expressiva produção de
grãos apresentada pelo Rio Grande do Sul em 2010, quando
foram colhidas 24,373 milhões de toneladas, a maior
safra da nossa história. O Banrisul, por exemplo, anunciou
recursos de R$ 114 milhões aos produtores rurais para
a edição 2010.
Rural Aliado à disponibilidade de crédito
o produtor também deverá fazer largo uso dos
projetos como Programa de Sustentação dos Investimentos
(PSI) e Programa Mundial de Alimentos (PMA), de juros reduzidos
e de limites ampliados. Neste ano, quais são as perspectivas
de negócios com o apoio e a divulgação
mais ampla destes programas ao produtor rural?
Tietböhl A existência de programas específicos
de financiamento, com condições adequadas à
realidade dos produtores rurais, tem sido excelente alavancador
da produção. Mas, é preciso que se contemplem
todos os níveis de produtores. Destinar generosos recursos
para uma determinada parcela da produção e restringir
o apoio de crédito a outras, não contribuiu
para o desenvolvimento.
Rural Segundo dados publicados, o Estado tem muito
a comemorar em algumas culturas (milho e soja) que foram bem-sucedidas.
Hoje, quais destas culturas estão à frente no
Estado?
Tietböhl Nós tivemos em 2010, a maior
colheita de grãos da história do Rio Grande
do Sul, e isso após as enxurradas que assolaram o Estado
em novembro e dezembro do ano passado e janeiro deste. Os
destaques ficaram com a soja, que colheu 10,057 milhões
de toneladas, um crescimento de 27% se comparada à
safra 2009, o milho com 5,471 milhões de toneladas
(+28%) e o arroz que, apesar de ter sofrido uma perda em relação
ao ano passado, colheu 7,099 milhões. Aliadas ao trigo,
essas são as nossas principais culturas.
Rural Porém, quando o assunto é o
trigo os problemas aparentemente estão recorrentes.
Qual o trabalho que vem sendo realizado para auxiliar os triticultores
do Estado riograndense?
Tietböhl Como uma das principais culturas
de verão do Rio Grande do Sul, estado conhecido por
sua capacidade produtiva, o trigo vem se mantendo estável,
se compararmos as safras 2008/2009 e 2009/2010, quando a queda
na produção foi de apenas 10,8%. Como implemento
para a área do trigo, a Secretaria da Agricultura mantém
e coordena o que chamamos de Câmara Setorial do Trigo.
Hoje são 18 Câmaras, cada uma delas atende a
uma cultura ou produção e que reúne toda
a cadeia produtiva para discutir as principais demandas, assim
como levantar as alternativas para melhorar a organização
do setor. O Estado age, dentro de suas possibilidades, em
acordo com as necessidades originadas nas Câmaras Setoriais.
Rural É possível reverter essa situação
de baixos preços e grandes perdas na safra do trigo?
Tietböhl Os diversos instrumentos de comercialização
capazes de regular preços estão na competência
do governo federal. No caso do trigo, é preocupante
o que ocorreu com a redução de 10% no preço
mínimo, especialmente porque essa redução
foi informada após o plantio das lavouras.
Rural O agronegócio no Rio Grande do Sul
cresceu em 2009, exportou R$ 9 milhões no setor, o
que corresponde a 62% das exportações gaúchas,
sendo o segundo maior exportador do agronegócio do
País. Com esse quadro, quais foram os fatores determinantes
para alcançarem esses índices?
Tietböhl À boa colheita que vem pela
qualidade dos grãos, pelo desempenho e pelo uso de
tecnologia pelo produtor rural.
Rural Atualmente, qual é a posição
da agropecuária gaúcha em comparação
aos demais Estados brasileiros?
Tietböhl Com certeza, de destaque no cenário
brasileiro. O Rio Grande do Sul é o segundo maior exportador
do agronegócio, perdendo apenas para São Paulo.
Ano passado, foram cerca de US$ 9 bilhões, sustentando
62% do total das exportações gaúchas
que representa, e muito, para o lado positivo da balança
comercial brasileira, contribuindo com um saldo que pinta
de azul o resultado dos negócios do país.
Rural O governo do estadual criou o Programa
Troca-Troca, que submete parte da compra ao produtor.
Desde a implantação desta iniciativa, o que
vem sendo realizado para o desenvolvimento da agricultura
no Estado?
Tietböhl O Troca-Troca é um programa
que veio para beneficiar o pequeno agricultor, e traz, conjuntamente,
desenvolvimento para a agropecuária gaúcha.
Surgiu há 22 anos para auxiliar na compra de sementes
de milho de qualidade, em busca de maior produtividade e melhor
renda ao produtor. Atualmente, já estendemos o programa
às forrageiras, bem como às sementes transgênicas
de milho. Desde 2007, os subsídios do governo estadual
nessa ação somaram cerca de R$ 38 milhões.
Rural Quais as principais vantagens deste programa
em particular?
Tietböhl Por meio dele, cada agricultor cadastrado
tem direito a duas sacas de sementes e pode escolher até
dois tipos de cultivares dentre os aproximadamente 50 disponibilizados,
mais cinco tipos de sementes transgênicas. Este novo
tipo ofertado (transgênica), vem para atender demanda
do setor e, consequentemente, como mais uma opção
ao produtor de milho. Para a aquisição de sacas
de sementes transgênicas o agricultor terá do
Governo do Estado o mesmo subsídio oferecido para o
tipo híbrido que é de 23,79%. Ressalto que também
o preço da saca de sementes é negociado pelo
Governo com as empresas sementeiras, na procura de melhor
valor para o produtor.
Rural Falando um pouco sobre a pecuária.
Recentemente, o Rio Grande do Sul divulgou assuntos relacionados
à questão da Febre Aftosa, o Estado atingiu
a meta de vacinar 95,66% do rebanho e pleiteia a condição
de Zona Livre de Aftosa. De fato, como está essa questão?
Tietböhl Hoje nosso Estado é livre
de aftosa com vacinação. A Secretaria cumpre
as duas etapas anuais da campanha, vacinando seu rebanho em
maio e novembro, conforme calendário seguido por outras
unidades federativas que também vacinam seu gado. De
fato, na primeira etapa deste ano, foram vacinados 95,66%
do rebanho gaúcho, preservando a meta da campanha.
Agora, a condição de estado livre de aftosa
sem vacinação é um passo que precisa
ser dado com muita prudência. Estamos conduzindo a discussão
desse tema com toda a cadeia produtiva e nossa palavra de
ordem é cautela. A retirada da vacina não é
um fim em si mesmo, mas deve vir como decorrência de
todo um programa de sanidade agropecuária do estado.
Mas estamos prontos para avançar nessa discussão.
Rural
Qual o perfil dos criadores que fazem a pecuária
no Estado? Para onde a produção pecuária
do RS tem sido destinada?
Tietböhl Apesar da pecuária de corte
ter como principal mercado o interno, as propriedades estão
preparadas para suprir demandas de exportação,
como, por exemplo, o da União Européia. Exportamos
pouco e, se tivéssemos mais disponibilidade de produção
poderíamos suprir em maior quantidade aqueles mercados.
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