Até
que um dia, eles contaram com um empurrãozinho
que faltava para fechar melhor as contas da fazenda. Há
quase dois anos, experimentaram uma técnica moderna
que vem sendo muito utilizada no campo: a denominada pecuária
de precisão utilizando-se de um dos alicerces
desta tecnologia: a suplementação estratégica.
A experiência deu certo. Com a chegada de
um novo jeito de administrar e manejar o gado, a criação
cresceu em números, em um mesmo espaço, e com
um custo bem mais baixo.
Com o foco de economizar e aumentar a produtividade, a empresa
Minerthal Produtos Agropecuários, ofereceu a ajuda
necessária e a produção da fazenda recebeu
uma cara nova. Hoje, cada centímetro de
lá é bem aproveitado. A propriedade iniciou
a implantação do Programa Minerthal de Suplementação
de Precisão, e os resultados já foram percebidos,
como explica o gerente da fazenda, Marconi Machado. No
ano passado, vendemos tourinhos com idade de três anos
a três anos e meio, com o peso aproximado de 19 a 20
arrobas. Neste ano, já estamos com eles prontos, seis
meses antes do esperado, ou seja, conseguimos uma produção
em menos tempo, ressalta Machado.
De acordo com Sérgio Franco Morgulis, diretor da empresa,
a proposta oferecida ao pecuarista é evitar o desperdício
e ser mais preciso possível. A realidade desse
momento pede por produzir com sustentabilidade e nós
utilizamos a tecnologia ao nosso favor. Com isso, é
necessário conhecer melhor como funciona a propriedade
e atender às reais necessidades do pecuarista,
explica.
Em um ponto todos concordam, que o futuro do agronegócio
passa pela redução de custos aliada ao aumento
da produtividade, sem necessidade de expansão da área
de plantio ou pasto, o que implica recuperação
de áreas degradadas. E foi exatamente isso proposto
na área da fazenda. Primeiramente, realizou-se um diagnóstico
para identificar o que seria preciso fazer em termos de suplementação
para atingir os resultados esperados pelo proprietário.
Com a estratégia, observou-se a redução
de custo com a suplementação, sem alteração
do desempenho dos animais. As avaliações qualitativas
e quantitativas das pastagens para determinar o potencial
nutritivo de produção da forragem também
foram realizadas. Tivemos uma economia muito grande.
Após a análise do solo verificou-se que a correção
do fósforo se concentrava em 80%, após a implantação
do programa concentramos em 65%. Há ainda um trabalho
de adubação de solo para futuras ampliações
de pastagens. Agora, a tendência é manter o mesmo
custo e aumentar animais por hectare. Além disso, a
partir de uma suplementação direcionada para
cada categoria, o produtor ganha no ciclo final, declara
o gerente. O trabalho realizado lá, ainda inclui um
bom manejo nas pastagens. Aprendemos a deixar os animais
num determinado tempo dentro do pasto, com ele nem muito baixo
e nem alto, na rotação de pastagem com capim
braquiária.
A Fazenda Santa Helena mantém um confinamento, onde
reservam espaço para os tourinhos no período
de seca até as vendas. Em geral, os animais permanecem
de julho a setembro e, dependendo do tempo, até outubro.
A ideia é manter o peso ideal e evitar o famoso boi
sanfona. De lá, são vendidos para os chamados
parceiros, que ainda recebem uma assistência pós-venda.
Aguardamos agora quais serão os futuros resultados.
Sem dúvida, já percebemos que podemos crescer,
porém, não será preciso abrir novas áreas
para a criação, diz. O melhor de
tudo é que antes eliminávamos um problema com
um canhão, hoje reconhecemos que seria necessário
apenas um estilingue, brinca Machado.
As inovações no pasto estão modificando
as grandes propriedades. Fazendas como a Santa Helena (Nelore
Água Bela) viraram empresas, com o propósito
de produzir mais e com grande economia. Agora, eles querem
investir mais. Não só eles, como outros produtores
também.
Lá na agricultura
O efeito produzido na pecuária também chegou
na agricultura, ou vice-versa. Aqui o termo utilizado é
a agricultura de precisão, que para muitos
deixou de ser um desconhecido e se tornou um aliado ao produtor.
Na prática, a chamada agricultura de precisão,
nada mais é que a informática (a informação
precisa) a serviço do agricultor. Em outras palavras,
trata-se da aplicação de tecnologias destinadas
ao manejo dos solos, das culturas e dos insumos, considerando
as variações de local e de época dos
fatores que afetam a produtividade.
Ela tem como objetivo principal o gerenciamento e a otimização
de recursos para o produtor e, consequentemente, para o mercado
consumidor. Porém, o uso desta tecnologia não
é nenhuma novidade. As primeiras experiências
em agricultura de precisão no País ocorreram
ao final da década de 1990, mas a disseminação
de uso dessa ferramenta nas principais regiões agrícolas
vem ocorrendo, principalmente, nos últimos cinco anos,
conta Álvaro Resende, pesquisador da Embrapa Milho
e Sorgo, com sede em Minas Gerais. Aliás, a unidade
é uma das 19 unidades que fazem parte de um projeto,
cujo objetivo são pesquisas no Sul, Sudeste, Centro-Oeste
e Nordeste, em culturas perenes (cana-de-açúcar,
uva, pêssego, laranja, eucalipto e pastagens), em culturas
anuais (trigo, arroz irrigado, soja, milho e algodão),
além do desenvolvimento e adaptação de
novos equipamentos. A Embrapa pretende, em quatro anos, ter
um levantamento detalhado do que é feito nessa área
nas propriedades rurais brasileiras.
A chamada agricultura de precisão surgiu nos países
europeus e, em seguida, nos Estados Unidos. No começo
da década de 1990, os norte-americanos transformaram
a agricultura de precisão em um grande negócio
e empresas começaram a colocar no mercado sensores,
, programas de computador e serviços. Na Argentina,
a tecnologia é referência no desenvolvimento
das tecnologias de agricultura de precisão. Hoje, o
país possui mais de 10 empresas que desenvolvem os
programas e os equipamentos de controle, utilizados pela agricultura
de precisão, tornando mais fácil levar a tecnologia
ao produtor.
No entanto, a agricultura de precisão é, ainda,
um ramo pouco explorado no Brasil. Hoje, as aplicações
da agricultura de precisão nas fazendas brasileiras
ainda se restringem à amostragem de uma imagem de solo,
com posterior geração de mapas de fertilidade
que permitem realizar manejo específico das lavouras
por meio de aplicações de corretivos e fertilizantes
em taxa variada, utilizando-se máquinas e implementos
dotados do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e dispositivos
que permitem variar a quantidade de calcário, gesso
e fertilizantes, conforme mapas de prescrições
gerados na etapa anterior, diz.
Segundo o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, as primeiras
intervenções com essa tecnologia, sobretudo,
em áreas de solos já cultivados e adubados há
muitos anos, normalmente possibilitam economia de insumos
e redução de custos para o agricultor, mas não
é possível estabelecer primeiramente a magnitude
desse benefício. Ou seja, o benefício
alcançado depende das particularidades de cada talhão,
ressalta Resende. De acordo com o ele, uma outra aplicação
da agricultura de precisão que tem se disseminado com
grande aceitação é a utilização
de máquinas equipadas com sistemas de guia por satélite
(GPS, barra de luz e piloto automático), as quais facilitam
e melhoram a qualidade das operações mecanizadas.
O monitoramento e mapeamento da produtividade das lavouras
também é uma tecnologia de grande potencial
para melhorar o manejo, mas que ainda não está
bem difundida entre os agricultores, esclarece.
Na opinião do pesquisador Alberto Carlos de Campo Bernardi,
da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP),
os conhecimentos e tecnologias gerados pela agricultura de
precisão possibilitarão o aprimoramento da produtividade,
da qualidade, do volume a ser produzido e da redução
do preço dos produtos, para competir no mercado interno
e externo. Hoje, a agricultura de precisão não
se limita a aparelhos de alta sofisticação que
exigem investimentos caros. Qualquer propriedade, inclusive
a familiar, pode adotar alguns desses procedimentos e equipamentos,
a baixos custos. É o caso de procedimentos para aplicação
de volumes exatos e precisos de calcário e de adubos,
reforça Bernardi.
Esses são os principais objetivos perseguidos pela
agricultura de precisão, que afirma que o meio ambiente
estaria mais protegido se a aplicação de adubos
e defensivos fosse restrita às necessidades específicas,
evitando excessos que possam causar toxidade e poluição
de solos e recursos hídricos. Economicamente, a vantagem
estaria na redução do custo do produto final.
Trabalho no campo
As etapas básicas do sistema de agricultura de precisão
consistem na coleta de dados, planejamento, gerenciamento
e aplicação localizada dos insumos. Na primeira
é identificada a variabilidade dos diversos fatores
de produção (solo, pragas, ervas daninhas, entre
outros) e da produção em si. Este processo é
realizado por meio da criação do mapa de produtividade
na colheita, feito por equipamentos instalados nas colheitadeiras,
que marcam cada posição geográfica no
campo por meio de sinais de satélite recebidos com
o GPS.
As informações recebidas são processadas
por programas de computador, que fazem os mapas com a quantidade
produzida em cada trecho colhido, o que possibilita ao produtor
ter a informação exata dos pontos onde sua produção
é menor, para posterior correção. Na
segunda fase, estes dados são processados, com o objetivo
de avaliar e quantificar a variação encontrada,
relacionar a variabilidade da produção e seus
fatores, além de propor estratégias de gerenciamento
agrícola, consolidadas nos mapas de aplicação
dos insumos.
Outra etapa importante é a confecção
dos mapas de fertilidade, produzidos a partir da coleta e
análise de amostras do solo. Estas representações
gráficas mostram onde há menor ou maior incidência
de nutrientes, em cada talhão, e a quantidade de aplicação
necessária para corrigir o problema e nivelar a produção.
Após, a interpretação dos mapas de produtividade
e fertilidade, somados a outras informações,
são realizados os mapas para aplicação
localizada dos insumos. Estes mecanismos indicam exatamente
quais insumos e a quantidade e posição exata
para sua aplicação. O grande benefício,
que tem atraído a maior parte dos agricultores brasileiros
hoje, é a possibilidade de aplicar apenas a quantidade
necessária de nutrientes para cada área do plantio,
e não uma média calculada para todo o terreno.
Não existe uma regra rígida, mas atualmente
muitos agricultores tem aderido à agricultura de precisão
mediante a contratação de serviços especializados
de amostragem de solo em grades regulares. O exemplo mais
comum é a coleta de uma amostra composta a cada dois
a cinco ha, com elaboração de mapas de prescrição
de corretivos e fertilizantes, seguido do serviço de
distribuição dos insumos de forma diferenciada
no campo o que chamamos de aplicação
a taxa variável ou manejo sítio-específico,
descreve Resende.
A correção do solo é o primeiro passo
para garantir uma boa colheita, mas muitas vezes os agricultores
esbarram nos custos elevados dos adubos e fertilizantes. Para
tentar driblar este obstáculo, eles apostam na agricultura
de precisão, um investimento que tem dado um retorno
certo, por meio da otimização do uso dos nutrientes
e do aumento do rendimento das lavouras.
Em parcerias
No final de 2008, a empresa Minerthal estabeleceu uma parceria
com a Embrapa Arroz e Feijão para desenvolver a estratégia
de suplementação mineral dos animais participantes
do Teste de Desempenho de Touros Jovens a Pasto. Em seu primeiro
ciclo completo (secas e águas), as metas de desempenho
foram atingidas com a utilização de suplementos
estratégicos, a fim de suplementar os déficits
existentes nas pastagens em sistema de integração
lavoura e pecuária. Com essa prática promoveu-se
um aumento de 10 kg de peso vivo em relação
à média dos anos anteriores, no período
de 294 dias, explica Fernando Schalch Júnior,
zootecnista e responsável técnico da empresa.
Ao longo de 10 anos de teste de desempenho de Touros Jovens
a pasto com a utilização de diversos tipos de
suplementos concorrentes (suplemento mineral, protéico
energético) o ganho de peso médio acumulado
no período de 294 dias foi de 149 kg. No sistema
intensivo observamos 2,9 arrobas, a mais no ganho de eficiência
de produção. O programa de suplementação
de precisão traça um diagnóstico preciso
ao cliente e com o acompanhamento, os resultados mostraram
uma redução entre 10% a 20%, com a tendência
de mais redução e ganho na eficiência.
O objetivo é a redução da idade de primeira
cria, em termo de produção leiteira, e de redução
de idade para abate, argumenta Schalch Júnior.
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