Os
produtores aguardavam vender a metade da safra de 2009. Mais
de 500 mil toneladas de trigo da safra ainda esperavam comprador,
por exemplo, nas cooperativas do Paraná, maior produtor
de trigo do País.
De lá para cá, o cenário não mudou
muito. Apenas alterou num requisito: uma nova safra chegará
em breve aos moinhos. Com esse fato, resta para os agricultores
paranaenses armazenarem o excedente da última safra
em pátios e esperar. Para o presidente do Sindicato
Rural de Londrina (SRL), Narciso Pissinatti, o encalhe é
absurdo, já que o Brasil produz só a metade
do trigo que consome. Há pedidos para que os
estoques possam ser comercializados. Estamos com a safra para
sair e não temos a quem vendê-la, revela.
Fatores como a alta carga tributária, o preço
mínimo e a importação de trigo pelos
moinhos que já contam com bons estoques
são os problemas que a entidade aponta como explicação
para a comercialização quase zero do trigo do
Paraná.
Na última safra, a produção nacional
de trigo foi de cerca de 5,9 milhões de toneladas e
o Paraná respondeu por mais da metade dessa quantidade.
Este ano, quase toda a safra está prevista em cinco
milhões de toneladas, mesmo com a diminuição
de 13% da área plantada em relação à
safra anterior.
Para agravar a situação no mercado, nem mesmo
o volume abaixo do esperado consequência da redução
de área e das doenças causadas pelo excesso
de chuvas na colheita do ano passado, que derrubaram a safra
em mais de um milhão de toneladas conseguiu
ajudar a melhorar o preço do grão para o agricultor.
Dados da Federação da Agricultura do Estado
do Paraná (Faep) apontam que o custo da saca com 60
quilos de trigo está em R$ 33, mas o preço de
mercado não passa de R$ 23. Mesmo com preços
já abaixo do custo de produção, os produtores
não conseguem arranjar compradores nacionais, já
que muitos têm preferido importar o produto de países
como a Argentina.
Com tudo isso, os especialistas já advertem: esse será
mais um ano de comercialização complicada, com
larga oferta de trigo no mundo inteiro. O produtor nesta
safra está numa encruzilhada. Ele enfrenta o problema
da super safra, dos preços baixos no mercado mundial
e o câmbio nada favorável. A expectativa é
que a safra mundial colhida gire em torno de 200 milhões
toneladas. Com esse montante, os preços não
têm condições de subir. Não há
perspectiva de alta no trigo como ocorreu no passado. Isso
não irá repetir-se em 2010 e infelizmente nem
2011, aponta Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico,
atualmente a maior processadora individual de trigo da América
Latina.
Atualmente, a situação do mercado é a
seguinte: o produtor só consegue comercializar a produção
pelo preço mínimo e só quando o governo
faz algum programa de compra, os chamados Prêmios de
Escoamento da Produção (PEPs). Em outras palavras,
são os famosos leilões realizados pelo governo
para garantir ao produtor o preço mínimo e uma
alternativa encontrada para valorizar comercialmente o grão
e viabilizar o escoamento da produção. No entanto,
no caso do trigo há uma ressalva. Para os Estados do
Nordeste do País, por exemplo, compensa mais importar
o trigo argentino do que comprar o produzido no Paraná.
Até o frete fica bem mais barato a partir do país
vizinho, acostumado a exportar o produto.
Na opinião do presidente do Moinho Pacifico, o governo
federal continuará apoiando o setor por meio dos prêmios.
Para Pih, o governo investirá em leilões. Entretanto,
ele justifica que deve haver uma cautela de como irá
alocar os recursos para a próxima safra. O mercado
mundial tem o preço do trigo em queda. O ideal seria
equilibrar o preço mínimo nacional com o mundial,
o que acarretaria queda na produção, argumenta.
A mesma opinião é compartilhada pelo vice-presidente
do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São
Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh. Ele acrescenta que falta
uma política definida, inclusive nas regiões
produtoras. Nem mesmo os dois últimos leilões
de PEP, solicitados pelos produtores paranaenses, foram confirmados
pela Conab. Além disto, há pouca intervenção
do governo em leilões para garantir preço mínimo
competitivo ao trigo. O modelo do governo para escoamento
da safra precisa ser planejado. O governo ainda não
pagou as compras. Recentemente realizamos uma reunião
com câmara setorial cobrando o Ministério da
Fazenda e a Conab, porém, eles não têm
nenhum prazo. Aguardamos o pagamento para poder dar um andamento
nas próximas safras, adverte Saigh.
O panorama do trigo nacional em 2010 deve reproduzir cenário
semelhante ao ano passado, com o possível agravante
de o Brasil, este ano, competir com a Argentina na importação
do produto. Um cenário nada favorável aponta
o vice-presidente do Sindustrigo, que enfatiza ser um ano
complicado para a cultura se comparado ao do ano passado.
Os moinhos esperavam uma safra boa, mas o clima não
ajudou. O trigo colhido no mercado nacional está de
péssima qualidade, com isso houve quebra de um milhão
de tonelada. O produto em grande parte foi destinado à
ração. Perdemos em quantidade e qualidade,
ressalta Saigh. O executivo ainda estima que o Brasil deve
importar, este ano, uma média de 6 a 6,5 milhões
de toneladas de trigo. Os moinhos estão focando
nos Estados Unidos e Canadá, diz.
Cenário dos Preços
Se por um lado os compradores argumentam que a qualidade caiu
por conta do excesso de chuvas na colheita, os produtores
afirmam que ainda tem muito trigo bom sem preço. No
entanto, o fato é que diminuição dos
custos de produção é o caminho que os
agricultores têm usado para enfrentar a baixa rentabilidade.
O presidente do Sindicato Rural de Londrina, filiado à
Faep, diz que não sabe se o governo federal quer que
o País ainda plante trigo. A saída são
as PEP, uma vez que os moinhos não têm interesse
nas compras. Eles estão com os estoques bons, uma vez
que tiveram o benefício da importação
do produto, pontua. Daqui a 60 dias o trigo já
está todo colhido e até o final serão
500 mil toneladas armazenadas, alerta Pissinatti.
A situação é dramática.
Se o governo custear a produção haverá
problemas com relação aos cofres públicos.
Nesta safra será um bilhão de reais para arcar
com o prejuízo esse é o grande desafio tanto
para o produtor quanto para os consumidores e as indústrias.
Se o governo não paga o prejuízo na certa sobrará
para o produtor, Lawrence Pih, presidente do Moinho
Pacífico.
Mercado
sinaliza o quê?
No mercado internacional, os preços de venda do trigo
estão nos níveis mais baixos do ano e no Brasil,
são os menores já registrados pelo Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) desde
2004, em termos reais. Quanto aos estoques de passagens, estão
nos maiores patamares históricos. Com a estimativa
de que a produção seja maior que o consumo,
os estoques mundiais devem aumentar, o que pode reduzir as
cotações. No Brasil, praticamente não
há negócios, nem variações nos
preços. Na Argentina, o clima não favoreceu
o avanço do plantio nas últimas semanas. (Fonte:
Cepea)
A posição do Governo
O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
confirmou no dia 23 de junho que o preço mínimo
do trigo foi reduzido em 10%. A decisão foi tomada
em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o preço
mínimo estava muito acima do praticado no mercado,
após reunião dele com cerca de 40 representantes
da cadeia produtiva do trigo para analisar as políticas
de curto e médio prazo para o setor.
Há um ano, foram estabelecidos os preços mínimos
de R$ 441 por tonelada do trigo tipo brando, considerado de
pior qualidade, de R$ 530 para o tipo pão e de R$ 555
para o tipo melhorador. A intenção era estimular
a produção nacional, que atualmente atende apenas
à metade do consumo da população. O novo
valor máximo pago aos produtores pela Política
de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), com essa
medida, será de R$ 499,50.
Essa é a primeira vez que há uma redução
de valores na PGPM desde que ela foi criada, em 1943. O secretário
adjunto de Política Econômica do Ministério
da Fazenda, Gilson Bittencourt, disse que a tese defendida
para adoção dessa medida é que é
preciso reduzir os preços mínimos quando for
possível para elevá-los com agilidade quando
for preciso.
|