Além
da atenção com o manejo nutricional, o período
mais seco do ano pede ainda que o pecuarista esteja atento
com a sanidade animal. Por conta da baixa umidade ambiental,
há uma queda no número nos casos de doenças
infectocontagiosas e também da presença de parasitas
no meio ambiente, o que favorece o tratamento e prevenção
dessas moléstias. O combate à verminose é
uma das prioridades. De acordo com a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade Rondônia,
os principais sintomas causados pela presença de vermes
no organismo são animais tristes e abatidos que apresentam
pelos secos e eriçados, abdômen aumentado, falta
de apetite, emagrecimento progressivo durante muito tempo,
desenvolvimento retardado, com diarreia, fezes escuras e às
vezes com sangue. Eles ainda procuram objetos como terra,
madeira e outros como alimento e podem mostrar anemia acentuada,
desidratação, chegando até a morte.
O médico veterinário Raul Santana, da Embrapa
Pecuária Sudeste (São Carlos/SP), explica que,
no caso de parasitas internos, principalmente os gastrintestinais,
embora não possuam condições favoráveis
no meio ambiente para completar seu ciclo, eles encontram
dentro do hospedeiro um ótimo ambiente para manter-se
vivo. Serão indicadas vermifugações estratégicas
para reduzir a população de indivíduos
e, consequentemente, a infestação e contaminação
da pastagem nos períodos úmidos. Para
tanto, vale ressaltar que sejam utilizados produtos que apresentem
eficiência comprovada naquele rebanho. De preferência
o uso de um único princípio e que sejam obedecidas
as recomendações dos fabricantes para reduzir
a resistências dos parasitas aos medicamentos,
destaca.
O primeiro passo, antes de iniciar esse tratamento, é
exatamente a análise da eficácia do produto,
que pode ser identificada por meio do exame de contagem de
ovos por grama de fezes (OPG). Uma análise antes da
mostra e outra depois da mesma passar por um processo de tratamento
com o produto mostrará qual será a carga de
vermes antes e depois da aplicação, permitindo
saber se há ou não resistência parasitária
na propriedade.
Vermifugações e outros cuidados
Os bezerros com idade de zero a dois anos são mais
susceptíveis aos parasitas, por isso, a Embrapa Rondônia
aconselha o controle a partir dos 2 a 3 meses até o
desmame, com vermifugação a cada 60 ou 90 dias.
Após o desmame, o controle estratégico prevê
que a 1ª vermifugação deve ser realizada
na segunda quinzena de maio, época de vacinação
contra a Febre Aftosa; 2ª vermifugação
na primeira quinzena de julho; 3ª na segunda quinzena
de agosto ou setembro e a 4ª na primeira quinzena de
dezembro. Após algum tempo a quarta vermifugação
pode deixar de ser realizada, porque os animais terão
a verminose controlada.
Nos bovinos de corte, em razão do manejo diferente,
em áreas maiores, os bezerros serão vermifugados
a partir do controle estratégico, com as três
primeiras aplicações. Para o controle biológico,
é recomendada a utilização do besouro
Digittonthophagus gazella, o popularmente conhecido Rola-bosta.
Também em relação à seca, o pesquisador
da Embrapa Pecuária Sudeste, Raul Santana, cita problemas
com quadros respiratórios principalmente em bezerros,
decorrentes de lesões primárias nas superfícies
mucosas do aparelho respiratório, seja devido ao excesso
de frio ou à baixa umidade, e infecções
oculares que surgem normalmente em surtos causados por bactérias
veiculadas pela poeira. Segundo ele, vale lembrar que em gado
de corte, o manejo dos animais torna-se bastante difícil
por conta da quantidade de partos em um mesmo período
e a possibilidade de acidentes e o estresse desencadeado por
passagens constantes dos animais no curral. Associado à
presença do umbigo, que ainda não está
totalmente cicatrizado e a colocação de brincos
de identificação, a existência de bicheiras
pode aumentar e, consequentemente, o manejo e a ocupação
da mão de obra. A seca é o momento que
deve ser priorizado para os animais nascerem pelo fato de
terem a incidência menos de doenças em termos
gerais. O uso de ectoparasiticidas em bezerros nos primeiros
dias de vida não pode ser abolido no gado de corte,
ressalta.
Por outro lado, de acordo com ele, no gado de leite, a história
é completamente diferente. O fato dos animais
estarem em constante observação já reduz
as possibilidades do aparecimento de bicheiras. Na Embrapa
Pecuária Sudeste preconizamos que não haja interferência
na relação de aprendizagem do convívio
entre a bezerra de leite e os parasitas transmitidos pelo
carrapato (babesia e anaplasma). Portanto, no gado de leite,
queremos que a bezerra entre em contato com o carrapato desde
seu primeiro dia de vida para aprender a se defender desses
parasitas, fazendo com que os sintomas da tristeza parasitária,
que aparecem principalmente na desmama, sejam minimizados,
diz.
Ele alerta que a seca também é um excelente
período para destinar cuidados aos problemas de cascos,
realizar casqueamentos profiláticos tanto de bovinos
como ovinos e adotar medidas preventivas para o período
das chuvas, como vacinações para leptospirose
para rebanhos que possuem casos de abortamentos diagnosticados
por essa bactéria.
Manejo
de ectoparasitas
O
Brasil, como país de clima predominantemente tropical,
é um ambiente propício para o desenvolvimento
de bernes, carrapatos e moscas-dos-chifres. A utilização
de substância correta também é prioridade
quando o assunto são esses ectoparasitas. No caso de
carrapatos, por exemplo, desde 1997 a Embrapa Gado de Leite
(Juiz de Fora/MG) disponibiliza, juntamente com uma rede nacional
de instituições parceiras, o carrapatograma,
principal teste para diagnosticar as fórmulas que atuam
da melhor forma em determinado rebanho.
O produtor interessado envia em potes plásticos por
SEDEX, amostras de fêmeas ingurgitadas do carrapato
dos bovinos (mamonas, jabuticabas) ao laboratório.
Após 35 a 40 dias, a propriedade recebe os resultados
do teste, que é gratuito, com informações
sobre o momento certo de entrar com tratamento, preparar e
administrar adequadamente o banho carrapaticida. A Embrapa
reforça que utilizando corretamente o produto recomendado,
a propriedade contará com uma droga eficiente por até
dois anos, findos os quais geralmente se desenvolve o processo
de resistência. Recomenda-se que o teste seja repetido
a cada ano, para que a troca por um outro produto seja orientada
por um resultado recente.
O médico veterinário e gerente de produtos da
Intervet/Schering-Plough Animal Health, Tiago Arantes salienta
ser fundamental o controle da primeira geração
de carrapatos que varia de acordo com a região, mas
geralmente tem início em outubro. A meta inicial é
de seis a oito banhos carrapaticidas em um intervalo de 21
dias, que corresponde ao ciclo do parasita. Se a primeira
geração não for controlada, eles se multiplicam,
dão origem a novos carrapatos e a população
explode. Uma curiosidade, é que cada carrapato dá
origem a quase três mil ovos e a maioria deles sobrevivem.
Fazemos de seis a oito banhos porque a sobrevivência
da larva na pastagem é possível por um período
grande. Estudos comprovam que elas podem ficar até
seis meses vivas no campo. Por isso, recomendamos um período
de tratamento longo para que se por ventura houver larva antes
do tratamento ela seja coberta com a forma, resume,
dizendo ainda ser necessário é indicado tratar
todos os animais e que, de preferência, os mesmos devem
voltar para o pasto onde estavam, para que eles não
se contaminem em novas áreas.
Para uma pulverização bem feita, Arantes recomenda
o uso de pelo menos cinco litros de calda por animal. Ele
observa que tanto no tratamento de verminose quanto no de
carrapato, existe o benefício inicial no primeiro ano,
mas os ganhos são muito maiores a partir do segundo,
porque o parasita é tratado no ambiente, o que impede
a multiplicação na fazenda. E no ano seguinte,
tendo abundância de capim, de chuva, temperatura adequada,
o animal vai estar livre de concorrência, livre de parasitas
para se desenvolver. Sabemos que em todo o rebanho há
animais com maior predisposição. Em linhas gerais,
de 10 a 20% das vacas vão albergar até 50% dos
parasitas de toda a fazenda. Esses sangues doces
merecem uma atenção especial. Assim, se no rebanho
inteiro se fazem de seis a oito banhos mais ou menos terminando
entre fevereiro e março, no decorrer do ano (a partir
de abril), só são tratados esses animais que
concentram mais parasitas.
O tratamento de carrapato é apontado pelo médico
veterinário como uma das soluções também
para a mosca-do-chifre. Porém, para combater esse mal,
o mais viável é o uso de brincos inseticidas,
tratamento muito prático que acaba com as moscas que
por ventura já existam. O ideal é colocar
o brinco no começo da chuva e retirá-lo no final
das chuvas, mais ou menos em maio. No período crítico
da mosca teremos animais protegidos por um tempo com um brinco
mosquicida, um produto eficaz que você consegue tratar
100% do rebanho com um tratamento individual, que controla
muito a população ambiental porque toda a mosca
que emergir e for sugar o gado vai encontrá-lo com
o brinco inseticida, recordando da questão das
bicheiras, problema cujos tratamentos devem ser priorizados,
principalmente, em dois momentos: no nascimento dos animais
e na castração.
Por fim, o veterinário Tiago Arantes sempre recomenda
aos pecuaristas programas integrados a fim de facilitar o
manejo e aponta que a prevenção no rebanho é
muito mais eficaz e barata em relação a um tratamento
curativo. Um trabalho bem feito, por exemplo, com produtos
eficazes aplicados em intervalos corretos, em geral, representam
de 3 a 5% dos custos de produção de uma propriedade.
É um investimento muito pequeno em relação
a todos os benefícios que podemos oferecer aos clientes,
desde prevenção de mortalidade, aumento de produtividade,
ganho de peso, segurança para o frigorífico
que está comprando essa carne. O Brasil tem um potencial
inquestionável na produção de carne.
O que impede o País em estar nos melhores mercados
e ganhando melhor: segurança, sanidade e qualidade
da carne. Daí, a importância de termos rebanhos
manejados da maneira adequada com procedimentos que possam
ser certificados pelo mercado comprador da carne brasileira,
explica.
Combate com substâncias naturais
A
Embrapa Pecuária Sudeste e outras unidades da instituição
têm pesquisado medicamentos naturais para combate a
parasitas de bovinos e ovinos, que eliminam ou reduzem o uso
de produtos químicos no controle de parasitas em animais.
As vantagens apontadas são a diminuição
de resíduos no meio ambiente e nos produtos alimentícios
de origem animal, como carnes, leite e derivados. A técnica
também pode significar redução de custos
para o pecuarista, além de maior vida útil do
medicamento, pois a resistência do parasita é
menor no caso de vermífugos naturais.
O produto natural pode ser utilizado com o princípio
ativo das plantas, isoladamente, ou associados a formulações
químicas. Em alguns casos, a planta pode ser utilizada
diretamente como vermífugo natural. Também há
em andamento estudos com marcadores moleculares para a resistência
à parasitas externos em rebanhos Nelores e cruzados.
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