(2ª) a ambiental, pela utilização de práticas
conservacionistas e de melhor uso da terra, além da
utilização de manejo e insumos adequados às
recomendações oficiais; e por fim, (3ª)
a social, por ser aplicável a qualquer tamanho de propriedade,
aumentar e distribuir melhor a renda no campo, além
de incentivar a competitividade do agronegócio do País.
Na bovinocultura de corte do País, um outro trio é
alvo de vários estudos que deverão mostrar que
a atividade possui todas as características para ser
gerida sustentavelmente e não se trata de uma
grande novidade, mas sim, de uma prática bastante discutida
e que visa o melhor aproveitamento da área.
Distribuir o boi pelo capim, através de um sistema
de rotação na qual entra a produção
de grãos, numa área sombreada por árvores
que podem servir posteriormente para exploração
madeireira é a ideia em questão. A Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), ou Sistema Agrossilvipastoril,
é o que poderá tomar conta da produção
de carne, ou mesmo, leite, no Brasil, e tem como objetivo
unir as várias atividades desenvolvidas no campo para
o incremento na produção de alimentos, fibras,
energia e madeira.
O projeto Transferência de Tecnologia em ILPF
uma parceria da Embrapa com a empresa multinacional Bunge
possui pelo Brasil, 26 centros de pesquisa para avaliar
esse sistema de produção das mais variadas formas
possíveis nos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga,
Mata Atlântica e Pampa. Além da Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta, também são
estudados os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária
(Agropastoril), Pecuária-Floresta (Silvipastoril) e
Lavoura-Floresta (Silviagrícola).
A partir dessa iniciativa, dos cerca de 50 milhões
de hectares (ha) de pastagens degradadas que são considerados
agricultáveis no País, estima-se que 36 milhões
de ha poderão ser abrangidos pelo projeto.
Mais carne em menos área
Duas pesquisas correm juntas na Embrapa Pecuária Sudeste,
em São Carlos (SP), e fazem parte do Projeto de ILPF
uma avalia a recuperação de área
de pastagens degradadas com o estabelecimento de uma cultura
anual consorciada a uma forrageira com objetivo de engorda
e terminação de gado de corte; a outra busca
saber que espécies florestais nativas da região
mais se adaptariam ao sistema de criação de
gado de corte a pasto.
Ao que tudo indica, os dois sistemas demonstraram eficiência
para a produção de carne, recuperação
de pasto degradado, além de apresentar uma receita
maior ao produtor que pode faturar com a lavoura produzida
ou mesmo com o potencial madeireiro da silvicultura.
Quando nós iniciamos o trabalho aqui na nossa
área a gente tinha 20 animais sendo manejados, hoje
nós temos 70, isso mostra o aumento da capacidade de
suporte da área, destaca Alberto Carlos de Campo
Bernardi, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e
especialista em fertilização do solo e implantação
do Sistema Integração Lavoura-Pecuária.
Graças à promoção de melhoria
de fertilidade do solo, ao manejo adequado com a pastagem,
com a troca de uma variedade de baixa produção
e baixa capacidade de suporte para uma mais eficiente à
adubação, e com melhor capacidade de suporte,
foi possível perceber o aumento da lotação
do pasto.
O estudo começou em 2005, com a implantação
de uma unidade experimental da Embrapa aos moldes de uma autêntica
propriedade para fazer também toda a avaliação
econômica do sistema em questão.
Numa área de 21 ha de pastagem de Brachiaria decumbens,
na qual era estabelecido o manejo extensivo de criação
e já com sinais de início de degradação,
foi estabelecido todo um trabalho de reforma de pasto para,
gradativamente, aumentar a produtividade da forrageira. Uma
pastagem degradada, a gente sabe que tem um sério risco
de erosão, e a baixa capacidade de suporte obriga a
ocupação de cada vez mais áreas para
produzir a mesma quantidade de carne. Então, ao intensificar
a produção, numa área menor, nós
estamos tendo uma maior produção de carne, com
a melhoria das características físicas, químicas
e biológicas do solo, avalia o pesquisador.
A Brachiaria brizantha cultivar Piatã foi a escolhida
para ser consorciada ora com o milho, ora com o sorgo num
sistema de rotação. Nossa ideia quando
nós implantamos essa unidade demonstrativa era mostrar
que era viável a implantação do Sistema
Lavoura-Pecuária aqui para a nossa região,
declara Bernardi. No verão nós fizemos
o plantio após a reforma, com o preparo e a correção
de solo necessários. Colhida a cultura anual, nós
temos a área reformada, com o solo corrigido e a pastagem
reformada e implantada, então, essa é uma das
vantagens que a gente já enxerga nesse sistema. Numa
área que a gente só tinha pasto, a gente tem
também uma renda de grãos ou produção
de silagem.
Menor impacto ambiental
O semiconfinamento foi o escolhido para a produção
na unidade experimental da Embrapa, e agregou outras vantagens,
especialmente quando o assunto é o impacto ambiental
inerente à pecuária de corte. Nós
fizemos estimativas de emissão de metano, com base
nos resultados que estamos tendo nessa área,
explica o pesquisador, e essas estimativas foram baseadas
em modelos que haviam sido desenvolvidos pela nossa equipe
na Embrapa e os resultados têm mostrado que, com o aumento
do ganho de peso dos animais e a melhoria da qualidade da
oferta de alimentos, há uma tendência a se produzir
menos metano por área.
Outro fator positivo está relacionado à diminuição
da idade de abate dos animais, que influi diretamente na emissão
de metano quanto menos tempo o rebanho estiver no pasto,
menos metano produzirão.
Já sobre a questão dos dejetos, como a urina
e as fezes dos animais, de acordo com Bernardi, esse material
é distribuído durante o pastejo, sem que haja
concentração, e por isso o risco é menor
em termos de emissão de gases de efeito estufa (GEEs)
o contrário, com a concentração
dos dejetos, poderia ocasionar em mais emissão de metano
pela fermentação.
Manejo nutricional
As respostas ao sistema de produção se deram
a partir do segundo ano. Como a área foi divida em
três partes, no primeiro ano havia somente a lavoura
anual mais a forrageira. No segundo já havia a área
de pasto, e outra com lavoura mais forrageira, e no terceiro,
duas áreas de pastagem e outra com o consórcio
de sorgo e forrageira para a produção de silagem,
completando, assim, a totalidade da área.
No verão os animais são criados a pasto e no
inverno são mantidos com a silagem produzida pelo consórcio
lavoura-forrageira, além de outros insumos. Ao fazer
a reforma nesse sistema, observou-se que é possível
manter o ganho de peso e às vezes até aumentá-lo
num período seco do ano.
Parte dos animais que já estão próximos
de dois anos, são confinados, e lá recebem como
volumoso a silagem produzida na área de reforma feita
durante o verão. Então o sistema está
fechado de tal maneira que a gente consegue reformar a pastagem,
ter uma oferta de alimentos para os animais na época
seca, e ainda ter uma sobra de alimentos para fazer o confinamento,
e aí a terminação chegando com um peso
de abate aos dois anos de idade, afirma Bernardi.
Além de tudo isso, ainda há um excedente de
volumoso que, aos moldes de uma propriedade rural, pode ser
negociado e comercializado ou seja, uma renda a mais
ao produtor. E ainda é possível se for
favorável a produção de grãos
ao invés de silagem, o que diversificaria ainda mais
a renda no final das contas.
A favor da mata nativa
Os tradicionais sistemas de silvicultura implantados nas regiões
Sul e Sudeste, para associação à pecuária,
levam em conta a produção do Eucalipto, do Pinus,
ou mesmo da Grevilha. No entanto, no sentido de valorizar
o que o bioma da Mata Atlântica e do Cerrado têm
a oferecer, tanto em ganhos pela exploração
madeireira e como para ajudar na reforma de pastagem, os estudos
da Embrapa Pecuária Sudeste começaram a avaliar
espécies nativas desses dois biomas numa área
de 7,7 ha é o segundo experimento conduzido
pela unidade, o Sistema Silvipastoril.
Sete árvores fazem parte do estudo, o Angico-branco
(Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan), a Canafístula
(Peltophorum dubium), o Pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha),
o Ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa), o Jequitibá-branco
(Cariniana estrellensis), o Mutambo (Guazuma ulmifolia) e
o Capixingui (Croton florisbundus). O que a gente pretende
aqui, é associar a produção florestal
com a produção pecuária, frisa
Maria Luiza Nicodemo, pesquisadora da Embrapa especialista
em sistemas silvipastoris. Desde o desenho que a gente
faz dessa combinação até o manejo utilizado
para o desenvolvimento desse sistema visam manter benefícios
para esses dois lados para a produção florestal
e para a produção do gado.
O estudo ainda é recente tem um pouco mais de
dois anos e meio e, por tratar de espécies que
ainda não têm relatos consolidados em aplicação
econômica, os resultados, até agora, são
poucos. Segundo Nicodemo, a pesquisa poderá servir
de ponta-pé inicial para estudos de melhoramento genético
dessas espécies nativas fato que veio muito
antes para o Eucalipto, e o consagrou a grande opção
para muitos produtores. O que a gente nota é
que, com essas espécies nativas, não há
nenhuma seleção e nenhum melhoramento genético,
e isso faz com que elas têm uma variabilidade de crescimento
muito grande. Por exemplo, no caso do Ipê-felpudo, você
pode encontrar indivíduos de 40 centímetros
(cm) ou até mesmo com três metros (m) de altura.
Isso vai envolver um trabalho importante de seleção
e melhoramento futuro das espécies que são de
interesse para a produção, acredita.
Mesmo com pouco tempo de estudo, o Sistema Silvipastoril da
unidade da Embrapa em São Carlos, já apresenta
algum resultado. Inicialmente, três espécies
merecem o destaque por terem alto valor comercial, como é
o caso da Canafístula, do Ipê-felpudo e do Jequitibá-branco.
Outra que merece atenção, é o Angico,
que é uma espécie que fixa nitrogênio
no solo e assim atua na melhoria de fertilidade dele. Há
colegas nossos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro que têm
trabalhado com o Angico para a recuperação de
pastagens degradas. Temos também o Pau-jacaré,
que é outra leguminosa que fixa nitrogênio e
produz um carvão de excelente qualidade, atesta
Nicodemo.
Manejo silvícola
De modo geral, o espaçamento adotado pela Embrapa,
entre linhas e faixas de árvores, costuma ser de 15
m a 40 m, dependendo da situação. Uma faixa,
com três linhas de árvores, corre lateralmente
com a área destinada à pastagem. As faixas de
árvores são protegidas com cerca elétrica,
para favorecer o desenvolvimento e o crescimento delas
caso contrário os animais causariam muito dano às
plantas, prejudicando o potencial que elas teriam nesse sistema.
A gente espera que, quando as árvores estiverem
com seis a oito cm de diâmetro da altura do peito, quer
dizer, 1,30 m de altura, a gente já possa deixar os
animais pastejando junto às árvores, estima
Nicodemo.
No geral, o que a pesquisadora observa no sistema é
o favorecimento do bem-estar animal, por trazer mais conforto
ao rebanho e, com isso, ele gastaria menos energia para manter
a temperatura, usando esse potencial para a produção
de mais carne, ou leite, ou mesmo a melhora na fertilidade,
na produção de mais bezerros. Além
disso, você produz madeira, que é um adicional
de renda, e da forma como trabalhamos, não há
redução na produção de matéria
seca da pastagem.
No entanto, não é só porque é
uma árvore que o produtor plantará, isolará
e pronto. São necessários cuidados com as plantas,
manejo e intervenções necessárias quando
for preciso. Então você faz a desrama das
árvores, corta alguma quando for preciso mais luz entre
elas não é um sistema que você
deixa a planta e esquece. Tudo tem de ser bem planejado, com
as espécies que mais se adaptam à tua região
e às tuas necessidades. E ainda, se o tipo de capim
que queira utilizar, ou já usa, tolera um certo grau
de sombreamento há muitas braquiárias
e panicuns que são adequados, e assim você consegue
muitos bons resultados, conclui Nicodemo.
No
futuro, todos
Inicialmente,
na unidade de São Carlos da Embrapa, são avaliados
dois sistemas separadamente. No entanto, pelo maior apelo
e demanda por mais informação sobre a integração
dos sistemas agropecuários, a pretensão é
chegar a implantar, lado a lado, quatro sistemas distintos:
(1) o de Integração Lavoura-Pecuária,
que já está em estudo; (2) o de Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta; (3) o de Pecuária-Floresta,
com pasto e árvores plantadas na área e que
também é alvo de estudos na instituição
de pesquisa; (4) e o último de pastagem sob manejo
intensivo, para servir de comparação com os
demais.
Foram cinco anos de levantamento de dados tanto técnicos
como econômicos aqui do sistema de Integração
Lavoura-Pecuária, diz Bernardi, e agora
nós estamos fazendo uma nova reavaliação
e chegamos à conclusão que a gente deve aumentar.
Então, para melhor serem demonstrados, vamos fazer
uma nova redistribuição da área para
abrigar todos esses sistemas. A partir dessa ideia, poderemos
ter todas as variações possíveis desses
sistemas e, assim, teremos mais respostas ao produtor.
Avaliação
do Sistema Agropastoril em 3 anos estudo
Características
21 hectares
Recria e engorda de Canchim
Pastagem Capim-Piatã (Brachiaria brizantha)
Culturas anuais para silagem: milho (Zea mays) e sorgo (Sorghum
bicolor L. Moench)
Margem
bruta de lucro obtida (por hectare)
1º ano: R$ 251,62*
2º ano: R$ 124,34*
3º ano: R$ 923,41
*
Resultados superiores aos verificados pelo Anualpec 2008 e
2009 em propriedades de recria e engorda extensivas e intensivas,
com lucro/ha de R$ 59,90 e R$ 84,10 e de R$ -36,50 e R$ -29,20,
respectivamente.
Fonte:
Alberto Carlos de Campos Bernardi (et al.), 2009
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