levando em conta o desmatamento para formação
de pastagens, queimadas e quantidade de animais que provoca
a fermentação entérica e
os seus dejetos (pois da deructação, ou arroto,
e da urina do boi são emitidos dois gases principais:
o metano CH4 e o óxido nitrososo N2O, ambos responsáveis
pela retenção de calor na Terra) - , por outro,
especialistas têm demonstrado através de estudos
quais os são impactos do setor sobre o meio ambiente
e como é possível minimizá-los, aliando
produção e preservação ambiental.
No Brasil, há uma preocupação constante
no setor de se elevar o nível desse debate. Entidades
como a Associação dos Profissionais da Pecuária
Sustentável (APPS), que reúne técnicos
e cientistas, têm desenvolvido uma série de ações,
como congressos e treinamentos, para levar conhecimento à
sociedade e mostrar de que forma os pecuaristas devem conduzir
seus projetos de forma sustentável.
O engenheiro agrônomo e presidente da associação,
Rodrigo Paniago, explica que muitos pseudo-especialistas têm
tratado o assunto apresentando apenas uma visão parcial
que, veiculada pela mídia e repetida inúmeras
vezes, acaba confundido a interpretação das
pessoas. A sustentabilidade na pecuária é
responsabilidade de todos. Por isso, temos realizado palestras
voltadas aos produtores rurais para que eles possam entender
o que realmente significa o termo sustentabilidade e que não
é preciso temê-lo, pois todas as iniciativas
a serem implantadas na fazenda visando à produção
correta podem tornar seu negócio muito mais interessante
para ele e o resto do mundo, destaca, falando que em
longo prazo a APPS deve interagir diretamente com escolas
de ensino fundamental visando que professores e alunos possam
ter um censo mais crítico sobre esse contexto.
Para José Olavo Borges Mendes, presidente da Associação
Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o produtor rural
está cada vez mais consciente de que é peça-chave
no processo da busca pela sustentabilidade, já que
são eles os maiores interessados em preservar o meio
ambiente, pois, afinal é da terra que tiramos nosso
sustento. Ele cita o melhoramento genético do rebanho
como uma das principais saídas para aumentar a produção
sem aumentar a área de pastagem. Quando se usam
animais de maior qualidade genética, é possível
reduzir o tempo de abate, aumentar a qualidade da carne e
do leite, entre outras ganhos para a produção
e o meio ambiente. Estudos apontam que o melhoramento genético,
com o ganho precoce de peso para o abate, pode reduzir em
até 60% a emissão de metano, diz.
Aplicando
as soluções
Para
criar sustentabilidade, muitos especialistas têm recomendado
a adoção das seguintes práticas: rotação
de pastos e culturas, integração lavoura-pecuária,
conservação de solo, sementes melhoradas e investimentos
em nutrição e melhoramento genético.
No caso desse último item, o presidente salienta que
os preços praticados nos leilões têm permitido
que um número cada vez maior de criadores adquira animais
geneticamente superiores. Ele acredita que as feiras de tourinhos
também estão garantindo a democratização
da genética zebuína para pequenos e médios
produtores, exemplificando que desde 2006, a ABCZ, em parceria
com vários governos estaduais e a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater), desenvolve
o projeto Pró-Genética, cujo objetivo é
fazer com que pequenos e médios produtores tenham acesso
à genética zebuína de qualidade. Feiras
de touros são realizadas nos municípios e os
criadores têm oportunidade de comprar esses animais
utilizando linhas de crédito com juros baixos e maior
tempo de pagamento. Na opinião do presidente, a iniciativa
está permitindo às pequenas e médias
propriedades aumentarem a produção e melhorarem
a qualidade de seus rebanhos.
Sobre
a importância da recuperação e da reforma
das pastagens na busca pela sustentabilidade na pecuária,
Welles Pascoal, diretor de marketing da Dow AgroSciences,
analisa os reais ganhos que uma propriedade pode obter com
investimentos voltados a tal fim, já que áreas
mais produtivas de pastagens podem trazer maior rentabilidade
ao pecuarista, por meio do aumento do volume de carne produzido
por área e por ano. De acordo com ele, a introdução
de novas gramíneas híbridos de braquiária
e uso de herbicidas para controle eficaz das plantas invasoras
serão críticos neste processo. No país,
a genética e a saúde animal já são
bastante desenvolvidas, mas a área onde realmente se
pode ter um grande salto na produtividade é a relacionada
à disponibilidade de pastagens para alimentação
do gado. Isto por meio da baixa capacidade de lotação
das nossas áreas de pastagens, média nacional
menor que 1 UA (unidade animal) por hectare. Existe um potencial
de otimização desta média entre 50% e
100%, dependendo das gramíneas utilizadas nas pastagens,
diz. Para Welles Pascoal, na tecnologia disponível
atualmente em pastagens no Brasil, apenas os materiais mais
básicos são acessíveis à maioria.
As novas soluções ainda necessitam de maior
trabalho de desenvolvimento e divulgação.
Segundo José Olavo, quanto mais se investe em genética,
pastagem e sanidade, mais qualidade a carne brasileira terá
e novos mercados poderão ser alcançados. Uma
preocupação é o fato do produtor rural
ser obrigado a arcar praticamente sozinho com os custos de
uma produção ecologicamente correta. Por isso,
é preciso ainda encontrar uma solução
para o problema da falta de crédito rural e do endividamento
do setor, que vem se arrastando desde a década de 1980.
Diante da necessidade de desenvolver uma pecuária sustentável,
o financiamento precisa contemplar outras áreas como,
por exemplo, a abertura de linhas de crédito para recuperação
de pastagem. No intuito de atender aos agricultores e pecuaristas
menos favorecidos em sua área de atuação,
o Banco do Nordeste, em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), criou em 2005 o AgroAMIGO
- Programa de Microcrédito Rural produtivo e orientado.
Em função da vocação natural da
Região Nordeste, o AgroAMIGO financia diversas atividades,
com destaque para a pecuária.
O programa tem o objetivo de trazer maior agilidade no processo
de concessão do crédito; expansão, qualitativa
e quantitativa, do atendimento aos agricultores familiares,
com redução de custos, tanto para o cliente
como para o Banco; maior proximidade com os clientes da área
rural de pequenos empreendimentos e atendimento integral ao
cliente buscando a identificação das necessidades
de serviços financeiros e bancários. Desde 2005,
quando foi implantada essa metodologia de atuação,
até abril de 2010, foram aplicados valores superiores
a R$ 1,3 bilhão; e contratadas em torno de 914,6 mil
operações de crédito. Os valores contratados
apresentaram crescimento real de 123,3% ao ano e as operações
contratadas tiveram crescimento de 108,4% ao ano, de 2005
a 2009. Até junho de 2010, estava prevista a contratação
de cerca de 1 milhão de operações.
Não apenas o mercado consumidor, mas também
os frigoríficos estão atentos à produção
ecologicamente correta no Brasil. Fernando Sampaio, coordenador
de Sustentabilidade da Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), cita
que a discussão ambiental chegou em um momento em que
o Brasil ainda tem grande parte dos recursos inalterados e
preservados, mas existem desafios a serem vencidos. Uma
pesquisa da Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo (Fiesp) aponta a intenção
do mercado em pagar mais por alimentos produzidos de forma
sustentável. A indústria tem feito sua parte,
focando a rastreabilidade, monitorando desmatamento, além
de levar em conta critérios sócios-ambientais
na seleção de seus fornecedores e incentivando
boas práticas na produção, aponta
ele, indicando os seguintes desafios a serem superados no
Brasil: desmatamento ilegal; insegurança jurídica,
ambiental, trabalhista e fundiária; clandestinidade;
controle sanitário; infra-estrutura; incentivos financeiros
e extensão rural e protecionismo.
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