Essencialmente,
a veia produtiva da propriedade botucatuense é a produção
de ovos e a silvicultura, a partir do eucalipto. Entram também
a produção de suínos, feno e, agora,
a produção de carne bovina. Outra vantagem do
confinamento, vista por Moretto, é a liberação
da área de pastagens para a produção
de bezerros, dinamizando o sistema de produção.
O número de cabeças é modesto
300 estáticas. A opção escolhida pelo
produtor é de uma engorda não tão exigente
em função do favorecimento econômico.
Por ter uma produção farta de capim Napier (Pennisetum
purpureum) e milho, ele faz questão de fazer uma oferta
maior de volumoso aos animais, com a silagem desses dois produtos,
e depois se complementa com os demais ingredientes necessários
à engorda dos animais equilibrando assim a dieta.
No final das contas, foi estabelecido uma porcentagem de 14%
de proteínas e 74% de Nutrientes Digestíveis
Totais (NDT) valor obtido a partir da soma das digestibilidades
dos nutrientes da dieta, como a proteína bruta (PB),
carboidratos fibrosos (FDN), carboidratos não fibrosos
e extrato etéreo (cujo valor calórico é
2,25 vezes superior aos demais nutrientes).
Com um período de terminação variável
de 90 a 100 dias, é possível fazer três
giros no confinamento. O giro começa em março,
depois de 90 a 100 dias, são retirados animais,
diz Moretto. Logo em seguida, entram mais 300 cabeças,
e assim vai até o terceiro ciclo, e aí só
no próximo ano é que voltamos a fazer o confinamento.
Equilíbrio alimentar
A empresa de nutrição animal, Tortuga, é
quem tem ajudado o produtor a fazer o balanceamento da dieta
a partir do desejo do produtor. O rendimento por cabeça
por dia é estimado na faixa de 1,4 quilo (kg) e 1,5
kg. Tendo, então, a silagem de milho e capim
Napier, como volumoso, analisa o zootecnista e técnico
em sistema de confinamento da Tortuga, Aydison Takaguchi Nogueira,
trabalhamos com energéticos, como o resíduo
de milho e gérmen de milho gordo, e na parte protéica,
o farelo de soja, além do núcleo mineral, o
Fosbovi Confinamento Leveduras, que é um produto mineral,
com ureia, vitamina A, leveduras vivas e monensina sódica
(ionóforo). Todos esses ingredientes são
misturados e oferecidos aos animais quatro vezes ao dia.
Para cada item da dieta, foi estudado o que melhor se enquadraria
em termos econômicos e que também garantisse
o bom desempenho de engorda. No caso do resíduo de
milho, ele sai da própria produção voltada
ao atendimento à alimentação das aves
de postura da propriedade. Como para elas, o milho tem de
ser padronizado, é feita uma seleção
dos melhores grãos o que sobra é utilizado
para compor a ração do gado. Esse resíduo,
que é de qualidade, é analisado bromatologicamente
[identifica-se a qualidade alimentar] nos laboratórios
da Tortuga, e com base nessa amostragem, fazemos o balanceamento
da dieta, destaca Nogueira.
Quanto ao gérmen de milho gordo, sua opção
também se tornou mais viável economicamente,
além de possuir grãos num tamanho adequado,
sem ser preciso fazer a moagem prévia para se oferecer
aos animais. Em termos nutricionais, segundo Nogueira, ele
apresenta um bom nível de proteína (10% a 12%)
e algo em torno de 8% de extrato etéreo.
Outro que se mostra viável atualmente no mercado de
insumos para a alimentação do gado é
o farelo de soja. Trata-se de um de um ingrediente protéico,
com 46% de proteína, e bastante palatável.
Superconfinamento
Se o rendimento é favorável com 300 cabeças,
quem dirá com 20 mil. Esse é o número
estático trabalhado pela Fazenda Santa Fé, no
município de Santa Helena de Goiás (GO), conduzida
por Ricardo de Castro Merola, atual presidente da Associação
Nacional de Confinadores (Assocon).
Lá, desde 1985 é desenvolvida a atividade, e
desde então foi agregando novas tecnologias para sustentabilidade
da produção de uma carne tipo exportação.
E no início, eram apenas 300 cabeças. Naquela
época as dietas eram com base em alto volumoso e pouco
grão, lembra Merola. O intuito era realmente
pegar um boi, já quase pronto de 400 kg, tirar do sofrimento
da seca em Goiás, e terminá-lo em confinamento
num período com um pouco mais de 70 a 90 dias. Ele
dava um bom acabamento porque já era um animal desenvolvido,
mas o ganho era baixo, observa o produtor. O ganho no
início era de 900 gramas ou até no máximo
1,1 kg. Com o passar dos anos, melhores informações
tecnológicas acerca da produção de corte,
em especial, sobre a nutrição animal, a fazenda
passou a obter ganhos diários de 1,7 kg por cabeça
por dia.
Sem menor sombra de dúvida, o produtor destaca que
o futuro da pecuária de corte no Brasil será
o confinamento. Isso significará uma redução
drástica de tempo de abate se um animal, de
10 arrobas, for conduzido em regime de pasto, ele levará
um ano para ser terminado, ao passo que a mesma rês,
confinada, levará três meses, e ainda com a vantagem
de apresentar um melhor rendimento de carcaça.
A evolução no campo
A menor idade de abate e a concentração dos
animais geram vantagens para o meio ambiente, pois as áreas
de pastagens podem ser convertidas para produção
de alimentos. Quanto às emissões de metano,
elas serão menores em função da redução
do tempo de abate.
Mesmo sendo um tipo de manejo favorável, a veia produtiva
brasileira continua sendo a extensiva a pasto. Estima-se que
90% do rebanho nacional sejam criados extensivamente
isso pelo fato de o sistema de manejo ser recente em comparação
à idade da atividade pecuária do País.
A indústria do confinamento começou a
se desenvolver fortemente a partir do ano 2000, destaca
Merola. Até então, os confinamentos no
Brasil eram para especulação daquele preço
que se dava entre safra e entressafra tínhamos
diferenças de até 50%. Parte isso se devia à
inflação, mas depois dessa época, com
a estabilização da moeda, nós tivemos
períodos de confinamento sempre crescentes, ressalta.
A questão da demanda é, ao mesmo tempo, o inferno
e o céu para o crescimento da atividade. Atualmente
tem sido um pouco infernal por conta da baixa demanda pelo
mercado externo assim como pela falta de animais para se para
confinar. De acordo com o presidente da Assocon, hoje é
estimado o confinamento de um pouco mais de 2 milhões
de cabeças em todo o País, sendo que já
houve época em que se chegou a confinar, pelo menos,
1 milhão a mais que isso.
Espera-se uma queda de 5,89% no número de cabeças
confinadas este ano em relação a 2009. Este
foi o resultado do levantamento de intenção
feito com os associados à Assocon, que reúne
confinadores dos Estados de SP, GO, MT, MS, MA, PR, RJ e MG.
A pesquisa, feita com 50 produtores entre os dias 19 de abril
e 7 de maio, apresentou duas situações distintas.
A primeira, é que o grupo de pecuaristas que tem sistemas
próprios de cria e recria, que, em geral, é
formado por pequenos e médios produtores, deve crescer
na atividade cerca de 8,5%. A segunda situação
é a dos grandes confinamentos que estimam uma queda
de 16,46%.
Produção padronizada
De um lado, a disponibilidade de uma boa dieta para o rebanho,
que está relacionada com o uso de alto grão,
numa média de 30% da matéria seca como volumoso
e 70% de grão; de outro lado, as questões pertinentes
à condução de um manejo correto com os
animais em termos de sanidade, com respeito ao meio ambiente
e socialmente comprometida os trabalhadores que conduzem o
dia a dia do confinamento.
É nesse sentido que o sonho de poder padronizar a produção
de carne é amplamente destacado para quem quer ser
um associado à Assocon. E isso foi possível
com a implantação do Programa de Qualidade Assegurada
(PQA), saído da parceria a entidade de confinadores
com a empresa de sanidade animal, Intervet/Schering-Plough.
Para Merola, a iniciativa será de grande valia para
certificação da carne produzida, a partir de
um controle mais rígido em diversos pontos do manejo,
como, por exemplo, o uso incondicional de medicamentos autorizados,
o oferecimento de dietas de qualidade, feitas a partir de
matérias-primas testadas e ministradas de forma correta
e, principalmente, o respeito ao período de carência
de todos os medicamentos. Recentemente, houve um acidente,
que foi uma carne de saiu do Brasil, e foi rejeitada pelos
Estados Unidos porque tinha uma dose elevada de ivermectina,
conta Merola. Por quê? Porque, talvez, não
tenha sido cumprido o prazo legal que aquela ivermectina necessitava,
e com o PQA, eliminamos esse problema, atesta.
Pelo programa, também é feito um controle total
do meio ambiente, como por exemplo, a proteção
de fontes de água e mananciais contra os dejetos dos
animais. Vistorias periódicas, feitas de quatro em
quatro meses nas propriedades, conduzirão essa nova
filosofia da produção de carne.
Censo
2009 do confinamento paulista
É
o primeiro censo de confinamento para o Estado de São
Paulo com base em dados de 2009. A iniciativa é fruto
da parceria entre a Assocon, o Centro de Defesa Animal (CDA),
ligado à Secretaria de Agricultura e Pecuária
do Estado de São Paulo, e o Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba
(SP).
Total
do rebanho:
342.297 animais
Estabelecimentos
rurais:
121
Raças em destaque:
Nelore, 36,4%
Anelorados, 35,97%
Cruzamento industrial, 19,71%
Raças leiteiras, 2,04%
Sem registro de raça definida, 2,08%
Não responderam, 3,8%
Distribuição
geográfica:
Araçatuba, 40,4%
Ribeirão Preto, 21%
São José do Rio Preto, 11,9%
Bauru, 10,1%
Araraquara, Assis, Campinas, Itapetininga, Marília,
Piracicaba, Presidente Prudente, Vale do Paraíba, litoral
sul e região metropolitana da capital, somaram juntas
16,6% do confinamento estadual.
Direção
do confinamento:
Proprietário, 66,1%
Diretor ou gerente, 26,4%
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