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CAFÉ - Qualidade made in Brasil
rev 149 - julho 2010

Não é a toa que o café brasileiro ocupa hoje a liderança em produção e exportação do grão. A preocupação com questões como aroma, sabor e qualidade do café tem sido constante em toda a cadeia para levar o que há de melhor nas lavouras às xícaras dos consumidores de todo o mundo.

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) comprovam que mais de 31% do café produzido no mundo é brasileiro. O País que figura como o líder em produção e exportação do grão é também o segundo maior consumidor do fruto, atrás somente dos Estados Unidos. Estimativas apontam que no ano passado, em solos nacionais foram colhidas cerca de 39,4 milhões de sacas de 60 quilos do produto.

Dessas, 18,5 milhões de sacas foram consumidas por aqui. Projeções divulgadas pela Assessoria de Gestão Estratégica (AGE) do Ministério para os próximos dez anos apontam que o consumo interno deverá crescer muito acima do crescimento populacional, com taxa prevista de 2,65% ao ano para o período 2009/10 a 2019/2020. A Organização Internacional do Café – OIT (2009), estimou uma taxa anual média de crescimento do consumo no mundo de 1,54% nos últimos 37 anos. A área plantada, no entanto, pode sofrer uma redução de 2,11 milhões de hectares em 2009/10 para 1,94 milhão de hectares no período em questão. Mas afinal, quais regiões produtoras têm oferecido um produto diferenciado aos consumidores e que devem atender a toda essa demanda?

Para o segundo semestre de 2010, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) lançará a segunda edição do Guia da Qualidade do Café, publicação que traz o estudo sobre as características de qualidades dos cafés de diferentes regiões produtoras no País. Por conta de levantamentos como esse, o diretor executivo da entidade, Nathan Herszkowicz, afirma que é possível sim traçar um mapa das localidades que atualmente oferecem ao mercado um grão de melhores padrões. Antes, porém, é importante lembrar que o Brasil, conhecido pelas suas dimensões continentais, abriga uma impressionante diversidade geográfica graças à sua particular abrangência de latitudes. “Temos o chamado Cinturão Brasileiro de Café, por exemplo, que estende-se ao longo da linha Norte-Sul, desde 12º até mais de 24º de Latitude Sul, o que representa aproximadamente 1.200 km em linha reta, mesclando diversas altitudes de produção e suas topografias características, ora montanhosa, ora um imenso planalto. Combinando o amplo leque de variedades botânicas e os distintos manejos que podem ser dispensados durante a colheita e secagem dos grãos, fica evidente a rica gama de aromas e sabores que o Brasil pode produzir”, conta.

No mês de junho, foram publicados no Diário Oficial da União os zoneamentos agrícolas de risco climático para o café com as condições favoráveis ao plantio da cultura, safra 2010, para o Distrito Federal e os Estados de Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rondônia e São Paulo e indicação das as melhores épocas para a plantação da lavoura, que variam do início de outubro ao final de dezembro. O volume de chuvas e a temperatura são os fatores climáticos que mais impactam no desenvolvimento da planta. O intervalo entre 19ºC e 21ºC são os ideais para a cultura, mas o cafeeiro tolera temperaturas de 18ºC a 23ºC.

A planta também necessita de umidade adequada durante os períodos de vegetação e frutificação. A falta de chuva pode causar ressecamento dos ramos, morte das raízes e deficiência de nutrientes no cafeeiro. “O café é um produto terroir, ou seja, influenciado diretamente pelos aspectos geográficos, climáticos e culturais. A imensa variedade de aromas e sabores advém exatamente das características específicas de cada região ou microrregião produtora, com suas diversas altitudes e topografias, que variam de montanhas a largas planícies”, lembra o diretor Natan, ressaltando que as variedades botânicas influenciam igualmente nesse verdadeiro cardápio de cafés oferecidos pelo Brasil, assim como os distintos procedimentos que cada produtor utiliza durante a colheita e a secagem dos grãos.

Responsabilidade compartilhada

“O Brasil produz cafés para todos os bolsos e gostos – tanto dos brasileiros quanto dos diversos mercados que abastece. Isso decorre de dois importantes agentes do agronegócio: do empenho do cafeicultor em investir na maior qualidade das suas lavouras, e da maior capacitação profissional e tecnológica das indústrias torrefadoras”, comenta Nathan Herszkowicz. De acordo com ele, os processos e tecnologias industriais de ponta têm permitido preservar todos esses aromas e sabores nas etapas de torra, moagem e embalagem do café, garantindo que a qualidade e peculiaridades obtidas na lavoura cheguem intactas à xícara do consumidor.

Para a indústria, ele diz ser essencial conhecer bem o processo desde a lavoura até a industrialização, para entender todos os fatores que podem influenciar na qualidade, desde a seleção de mudas, plantio, colheita, o pós-colheita, métodos de secagem e preparo dos cafés, a torração e a moagem, e que utilize grãos de qualidade boa à excelente. “É imprescindível que a indústria possua um bem equipado laboratório e uma equipe de classificadores e profissionais de prova capacitados a avaliar a qualidade dos grãos. Outra preocupação da indústria deve ser com os equipamentos de torra e moagem, que devem estar adequados e regulados para atender às linhas de produção de cada uma das marcas. O uso da embalagem correta é outro fator determinante para se manter a qualidade do café dentro do prazo de vida útil que a indústria pretende do seu produto”, sinaliza.

Além dos produtores e da indústria, a qualidade do café é ainda responsabilidade de outros agentes, como o mercado e o próprio consumidor final. Herszkowicz atenta o armazenamento correto como um fator determinante para que a qualidade do café seja preservada no mercado, independente se em uma pequena mercearia ou em um hipermercado, que, por conta da absorção de odores jamais deve ser colocado próximo a produtos de limpeza ou de higiene.

Para o consumidor, as recomendações para preservar a qualidade são que se prepare corretamente o café, que deve ser feito sempre com água filtrada ou mineral, não fervida, mas em início de ebulição; se for guardar na garrafa térmica, deve-se preparar a quantidade que for ser consumida em 1 hora – depois desse tempo, o café oxida e perde o sabor; deve-se adoçar apenas quando se coloca o café na xícara; no momento da compra, verificar a data de fabricação, pois cafés recém torrados têm mais sabor, e adquirir quantidades adequadas à família, ou seja, 500 gramas para atender a um maior número de pessoas e de 250 gramas para casais ou solteiros.

Opções de boxes:

1- A ABIC, fundada em 1973, gerencia um programa de certificação e qualidade que monitora anualmente mais de 1100 marcas quanto à pureza e quanto à qualidade, sabor, aroma e consistência do produto. Faz isto por meio de seus inúmeros programas tais como, o Selo de Pureza; o Programa de Qualidade do Café - PQC; o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil – PCS, e o Programa Circulo do Café de Qualidade - CCQ, este último destinado a melhorar continuamente a qualidade do produto e dos serviços nas cafeteiras. A entidade atua em diversas esferas: junto aos industriais, aos produtores, ao varejo, aos consumidores e também junto aos centros de pesquisas, universidades e órgãos governamentais.

2- Em junho, o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), do Mapa, autorizou a liberação de R$ 345 milhões, do montante de R$ 2,088 bilhões previstos para a safra de 2010. Os recursos serão aplicados na contratação de linhas de crédito, sendo R$ 145 milhões para colheita, R$ 170 milhões para estocagem e R$ 30 milhões em Financiamento para Aquisição de Café (FAC).

O quadro elaborado por Ensei Neto, da Specilaty Coffee Bureau, consultoria parceira da ABIC, apresenta as principais regiões produtoras de café no Brasil, incluindo informações sobre topografia e perfil da qualidade de cada uma delas:

UF
REGIÃO
CIDADES-POLO
TOPOGRAFIA SENSORIAL
BOCA
PR Norte Londrina, Jacarezinho Ondulada Suave, Pouco Montanhosa Acidez delicada, medianamente encorpado, predomínio de notas de caramelo e nozes.
SP Alta Paulista Garça Planalto, Ondulada Suave Acidez delicada, medianamente encorpado, predomínio de notas de caramelo e nozes.
Sorocabana Piraju Montanhosa Suave Acidez média, medianamente encorpado, toques de ervas como capim limão, rapadura e nozes.
Alta Mogiana Franca Planalto, Ondulada Suave Acidez média, corpo de médio a intenso, caramelo, eventual frutas amarelas, chocolate e finalização média a longa.
Média Mogiana E. S. do Pinhal Ondulada Suave, Montanhosa Acidez média a alta, corpo de médio a intenso, floral, frutas como uvas, caramelo, chocolate e amêndoas.
MG Cerrado Patrocínio, Araguari Planalto, Ondulada Suave Acidez média a delicada, encorpado, frutas amarelas como pêssego, caramelo, dark chocolate, amêndoas e nozes. Finalização longa.
Sudoeste Guaxupé, S. S. Paraíso Ondulada Suave, Montanhosa Acidez média a alta, encorpado,floral, frutas como uvas, caramelo, chocolate e frutas secas.
Sul - Planalto Varginha, Três Pontas Ondulada Suave, Pouco Montanhosa Acidez média, corpo de médio a intenso, presença de caramelo, chocolate e frutas secas. Finalização de média a longa.
Sul - Montanha Poços de Caldas, Carmo de Minas Montanhosa Acidez média a alta, corpo de médio a intenso, floral, frutas como uvas, caramelo, chocolate e amêndoas.
Matas de Minas Manhuaçu Montanhosa Acidez média a alta, corpo médio a intenso, mel, floral, ervas como capim limão, caramelo e chocolate.
ES Montanhas Venda Nova do Imigrante Montanhosa Acidez média a alta, corpo médio a intenso, floral, frutas a uvas, caramelo e chocolate.
BA Oeste Luis Eduardo Magalhães Planalto Acidez delicada, medianamente encorpado, predomínio de notas de caramelo e nozes.
Centro-Sul Barra do Choça Ondulada Suave a Montanhosa Acidez média a alta, corpo de médio a intenso, floral, frutas como uvas, caramelo e amêndoas.





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