Segundo
a unidade Algodão da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), foi nesse bioma que o algodoeiro
encontrou condições adequadas ao seu desenvolvimento,
como clima favorável, terras planas, que permitem mecanização
total da lavoura, programas de incentivo à cultura
implementada pelos Estados da região e, sobretudo,
o uso intensivo de tecnologias modernas. Atualmente, a produção
nacional está bem concentrada em áreas no Mato
Grosso, norte do Mato Grosso do Sul, Goiás e oeste
baiano, regiões em que grandes produtores da fibra
têm demonstrado o dinamismo e empreendedorismo do setor.
Walter Horira, da Horita Empreendimentos Agrícolas,
foi um dos investidores que apostou no potencial do algodão
no cerrado baiano. Na safra 1999/2000, o produtor iniciou
o cultivo, motivado por fatores econômicos, basicamente
na análise da rentabilidade, após realizar estudos
sobre a cultura, mercado e participar de dias de campo. Não
fomos pioneiros no cultivo da fibra, porque preferimos esperar
os primeiros resultados nas lavouras da região. O preço
estava bom, os custos eram menores naquela época e
o retorno, sem dúvida, interessante, aponta ele
que já plantava soja e milho desde 1984. As lavouras
do Grupo Horita estão localizadas no município
de São Desidério, que é recordista nacional
na cultura (fibra). O algodão, na safra 2009/2010,
representou 60% na matriz produtiva do Grupo e a variedade
Delta Opal é a principal, mas, há ainda FMT
701, FM 993, FM 910, convencionais, e a NU Opal, que é
transgênica.
Segundo o produtor, a estimativa de produção
do Grupo Horita para a safra 2009/2010 é de 40 mil
toneladas de pluma, com produtividade de 340 arrobas por hectares.
Cerca de 20% maior que na safra anterior. Hoje, aproximadamente
70% do algodão produzido lá, segue para exportação,
tendo como destino principal o Sudeste Asiático, Indonésia,
China, Coréia, Japão e Paquistão. Os
outros 30% ficam no mercado interno, suprindo basicamente
o parque têxtil Nordeste. Para Walter Horira, o valor
de mercado nesta safra 2009/10 foi 30% melhor que no ano passado.
São preços acima da média. Agregar
valor na cotonicultura é cuidar desde o campo
na fase do desenvolvimento da lavoura e a colheita, até
o beneficiamento. Temos de atender a mercados muito exigentes,
sinaliza, ressaltando ainda que diferentemente da pecuária,
na qual o produtor investe em melhoramento genético
na propriedade, os cotonicultores já compram estes
pacotes das empresas, pagando às vezes, bem
caro por isto. São as multinacionais,
instituições de pesquisa, como a Embrapa que
fazem estes investimentos, desenvolvem tecnologias. Aqui na
Bahia temos um grande apoio da Fundação Bahia,
uma empresa privada de pesquisa mantida majoritariamente com
recursos dos produtores, que desenvolve variedades adaptadas
para as condições do cerrado baiano, acrescenta.
Outra que chegou em solos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás, Bahia e Maranhão, foi a SLC Agrícola
que tem praticado a rotação de culturas entre
soja, milho e algodão. A empresa, que atua na cotonicultura
desde 1997, apresentou na safra 2008/2009 o plantio de 458
mil hectares de algodão o que resultou na colheita
de 240.005 toneladas de algodão em caroço. Para
a safra 2009/10, está previsto o plantio de 64.717
mil hectares de algodão e a colheita de 270.008 toneladas
de algodão em caroço, que está em franca
realização neste período do ano. Para
o ano safra 2010/11 estimamos também que haverá
um novo aumento da área plantada de algodão.
Vale lembrar que o algodão adapta-se ao clima do cerrado
brasileiro, onde as chuvas são escassas nos meses de
colheita (junho, julho e agosto). Quando a maçã
do algodão se abre, expondo a pluma, não podem
ocorrer chuvas para que ele mantenha sua qualidade,
afirma Ivo Marcon Brum, diretor financeiro e de Relações
com Investidores da empresa.
Os clientes de algodão da SLC Agrícola têm
variado a cada safra. Neste ano, por exemplo, os compradores
majoritários são a Cargill Cotton, Toyoshima,
Noble, Olam, Glencore, Louis Dreyfus e Vicunha Têxtil.
A produção tem sido vendida através de
tradings para exportação e também diretamente
para indústrias têxteis do mercado interno. De
acordo com Ivo Marcon, o algodão tem sido a cultura
com maior receita e que tem oferecido as maiores margens para
a empresa, com preços altamente correlacionados com
o crescimento econômico. A retomada da economia
mundial gerou o aumento da demanda ao passo que sua produção
tem caído ano após ano nos países que
são grandes produtores. Esse descasamento permitiu
que os preços ficassem altos no ano-safra corrente.
Para o próximo ano-safra as entidades já projetam
um aumento de área dessa cultura.
Problemas da cultura
Tanto na opinião de ambas propriedades, quanto na do
presidente da Associação Brasileira dos Produtores
de Algodão (Abrapa), Haroldo Rodrigues da Cunha, a
questão da logística é apontada como
o maior gargalo para o produtor brasileiro. Segundo eles,
o algodão tem perdido competitividade devido ao custo
do frete se comparado a outros países. Walter Horita,
pontua que os problemas são crônicos nesse sentido
e envolvem desde a falta de infraestrutura no escoamento da
safra até o porto, como a inadequação
dos portos para exportar o produto, que é uma commodity,
especial e requer alguns cuidados para não comprometer
a sua qualidade. Isso o produtor não consegue
fazer, precisa do Governo Federal. Nosso papel é produzir
bem, no que hoje somos referência. Produzir mais significa
excedente, e, consequentemente, exportação.
O que fazemos é, através das nossas entidades
de representação, deixar claro ao Governo que
precisamos de estradas, portos, ferrovias e batalhar por isso,
defende.
Do lado de dentro da porteira, a maior adversidade está
na tentativa de redução de custos de produção
sem afetar o nível da produção, o que
passa, necessariamente, pela questão de preços
conforme explica Haroldo da Cunha. Para ele, o setor vive
uma etapa boa, com preços interessantes no mercado
interno e externo e uma produtividade satisfatória,
mas ainda há uma deficiência de variedades transgênicas.
A biotecnologia está ligada a esse desafio. São
poucos materiais disponíveis tanto em quanto a resistência
a insetos quanto a tolerância a herbicidas. O Brasil
precisa acelerar o processo e as empresas necessitam disponibilizar
novas tecnologias o mais rápido possível para
que o produtor tenha opção de plantar algodão
convencional ou transgênico e buscar melhor alternativa,
melhor relação de custo beneficio para ele.
Isso irá nos colocar, sem dúvida nenhuma, em
um nível de igualdade, de competitividade no cenário
internacional, aponta o presidente, ressaltando que
na atual safra em apenas cerca de 10% das lavouras estão
sendo cultivados algodão geneticamente modificados.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apontam
que a colheita na safra 2010/2011 está estimada em
3.176,8 mil toneladas de algodão em caroço.
Em pluma, a previsão é de 1.238,8 mil toneladas,
contra 1.213,7 mil toneladas da safra 2008/2009 estabelecendo
incrementos de 2,1%, na oferta brasileira da fibra. Na SLC
Agrícola, por exemplo, a safra corrente conta com 6%
da produção geneticamente modificada. A empresa
tem testado constantemente novas variedades em suas fazendas
antes de plantá-las em grande escala.
O presidente da Abrapa ressalta, no entanto, que apesar da
falta de variedades, as que estão disponíveis
já representam um avanço muito importante pelo
alto rendimento. Além disso, afirma que tem sido observado
no País um crescimento interessante do plantio adensado,
que visa o cultivo de mais plantas em menos área. O
sistema tem se tornado atrativo principalmente quando se considera
a possibilidade do algodão como uma segunda safra.
Não se tem o algodão como segunda safra
em nenhum outro lugar do mundo. Enquanto em alguns outros
países a única preocupação é
produzir um algodão barato, aqui está sendo
visto o algodão adensado, mas buscando a qualidade,
as melhores alternativas de colheita e também adequações
no sistema de beneficiamento, de descaroçamento do
algodão para garantir a qualidade da fibra.
Bicudo,
um caso a parte
Os
produtores, independentemente do tamanho, têm demonstrado
preocupação quanto à eficiência.
Em questões técnicas, o combate ao bicudo tem
sido uma das principais prioridades. O recente acordo fechado
entre o Brasil e os Estados Unidos, aprovado pelo Conselho
de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex)
no mês de junho, deve trazer benefícios nesse
sentido, garante Haroldo da Cunha. Pelos termos firmados,
está suspensa a sanção autorizada pela
Organização Mundial do Comércio (OMC)
até a aprovação da próxima lei
agrícola americana (Farm Bill) em 2012. Em agosto do
ano passado, a OMC permitiu ao Brasil retaliar os Estados
Unidos pelo apoio financeiro concedido pelo governo daquele
país a seus produtores de algodão. Isso
significa que o Brasil continua em contato com os americanos,
principalmente na questão de definição
dos rumos dos programas na lei de 2012. Temos a possibilidade
da compensação que vai ajudar a enfrentar alguns
gargalos, como, por exemplo, a própria questão
do combate ao bicudo, que é uma das possibilidades
de atividades autorizadas pelo memorando de entendimento entre
os dois países. Teremos mais recursos para acelerar
o combate desse que é um dos grandes problemas que
temos hoje do ponto de vista técnico e que tanto custa
ao produtor brasileiro.
Segundo a Abrapa, há um projeto em fase de conclusão
a ser iniciado na próxima safra visando o controle
dessa praga e desenvolvido em parceria com a Embrapa, fundações
de pesquisas e associações estaduais, o próprio
governo federal por meio do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Secretaria de Defesa
Vegetal. É um projeto muito amplo que precisa
do envolvimento de vários órgãos em diversas
instâncias para que possamos ter um controle efetivo,
resume o presidente da associação, destacando
a importância do acordo fechado entre o Brasil e os
Estados Unidos, aprovado pelo Conselho de Ministros da Câmara
de Comércio Exterior (Camex) no mês de junho
e os benefícios que o mesmo deve trazer.
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