Dados
da Embrapa Trigo (com sede no Estado do Rio Grande do Sul)
revelam que a fitossanidade da lavoura é um assunto
sério. Para se ter uma ideia, por falta de cuidados,
o triticultor perde em média 40% do que se produz.
Isso significa que de 100 sacas, 40 não chegam ao destino
final. Porém, o volume dessas perdas está relacionado
também a variação anual e dependerá
fundamentalmente das condições climáticas,
assim como em qualquer cultivo.
Quando se fala em doenças, segundo com o órgão
de pesquisa, o número é bastante grande. Em
todo o mundo já foram relatadas quase uma centena delas
e que podem afetar a cultura, as quais podem ser causadas
pela ação de vírus, bactérias
ou fungos. Felizmente, no Brasil, nem todas essas doenças
ocorrem ou têm alguma expressão. O número
de doenças que causam algum tipo de problema aos produtores
brasileiros, especialmente àqueles da Região
Sul do País, situa-se ao redor de 12, explica
o pesquisador da área de fitopatologia da Embrapa Trigo,
João Leodato Nunes Maciel.
Entre as mais temidas, estão: o mal-do-pé, o
carvão, a podridão comum de raízes, a
ferrugem da folha, a mancha da gluma, a mancha amarela, a
mancha marrom, o oídio, a fusariose, a brusone, o vírus
do mosaico comum do trigo e o vírus do nanismo amarelo
da cevada. Destas doenças, ao longo dos últimos
anos, as mais comuns e as que mais têm trazido perdas
aos produtores têm sido o oídio, a ferrugem da
folha, o complexo de manchas, a fusariose ou giberela e a
brusone, destaca o pesquisador. A ocorrência
de doenças nas lavouras de trigo é um evento
comum considerando que os seus agentes causais são
componentes naturais do ambiente, seja ele um vírus,
uma bactéria ou um fungo. Evitar o contato desses agentes
causais com uma planta de trigo de uma lavoura é uma
ação que exige conhecimento e planejamento,
explica Maciel.
Conhecê-las, pelo menos as principais, dentro de suas
características específicas e formas de controle,
já é um passo para amenizar perdas, de acordo
com o pesquisador. Em geral, as doenças citadas aqui
normalmente ocorrem nas lavouras de trigo da Região
Sul do Brasil.
Oídio
O oídio (Blumeria graminis f.sp. tritici) é
uma doença causada por fungos fortemente destrutiva.
Ela ocorre em todas as partes das plantas, mas é mais
comum nas folhas e bainhas. Em anos secos, pode ocorrer a
predominância dessa doença. A principal medida
de controle desta doença é o uso de cultivares
resistentes. Se, no entanto, a cultivar for suscetível
recomenda-se o tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos
específicos e, até mesmo, a pulverização
de fungicidas na parte aérea.
Ferrugem da folha
A ferrugem da folha de trigo é causada pelo fungo Puccinia
recondita f. sp. tritici. Ela ocorre em praticamente todos
os locais onde se cultiva trigo no mundo. No Brasil, o seu
agente causal, o fungo Puccinia triticina, sobrevive durante
o período de ausência da cultura em plantas voluntárias.
Uma importante medida de controle da ferrugem da folha também
é o uso de cultivares resistentes. Por outro lado,
a pulverização de fungicidas na parte aérea
também tem demonstrado boa eficiência para controlar
a doença.
Manchas foliares
Representa todo um complexo de doenças, e são
causadas por um grupo de microorganismos onde destacam-se
patógenos, como Bipolaris sorokiniana (mancha marrom),
Stagonospora nodorum (mancha da gluma) e Drechslera tritici-repentis
(mancha bronzeada). As sementes e os restos culturais são
os locais mais importantes para sobrevivência dos patógenos,
causadores das manchas foliares durante a ausência da
cultura no campo. As principais medidas de controle das manchas
foliares incluem a rotação de culturas, o tratamento
de sementes com fungicidas, uso de sementes sadias e a aplicação
de fungicidas na parte aérea das plantas.
Giberela
É causada, principalmente, pelo fungo Gibberella zeae
(forma assexuada Fusarium graminearum), e é caracterizada
por ser uma doença de difícil controle e muito
comum na Região Sul, especialmente no Rio Grande do
Sul. A ocorrência dela é altamente influenciada
pelo ambiente. Várias espécies de plantas cultivadas
como milho, sorgo, triticale, centeio, entre outras, são
suscetíveis a essa doença, que ataca a planta
especialmente em regiões em que, principalmente a partir
do início da floração, ocorrem chuvas
frequentes e contínuas. As condições
climáticas requeridas à infecção
são temperatura de variável de 20°C a 25°C
e duração do molhamento foliar de, no mínimo,
48 horas consecutivas. A aplicação de fungicidas
deve ser realizada a partir do início da floração.
O tratamento com fungicidas apresenta menor eficiência
de controle da giberela do que para doenças foliares.
Caso as condições climáticas impeçam
a realização das aplicações de
fungicidas no período indicado, não haverá
possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer
clima favorável à infecção, não
se justifica o tratamento. O uso de cultivares tolerantes
à doença ameniza o problema. Outra alternativa
é a pulverização de fungicidas com o
objetivo de proteger a espiga. No entanto, esta última
medida nem sempre atinge níveis de eficiência
adequados.
Brusone
Causada pelo fungo Pyricularia grisea, ela também se
caracterizada pelo difícil controle e por ser altamente
influenciada pelo ambiente. A doença ataca a planta
de trigo especialmente em regiões em que, a partir
do início do emborrachamento, ocorrem chuvas frequentes
e contínuas. Possui esporos bastante leves permitindo
que os mesmos possam ser transportados a longas distâncias
pelo vento. O uso de cultivares resistentes e a pulverização
de fungicidas para proteger as espigas são as principais
medidas de controle. O tratamento com fungicidas apresenta
menor eficiência de controle da brusone do que para
doenças foliares. Caso as condições climáticas
impeçam a realização das aplicações
de fungicidas no período indicado, não haverá
possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer
clima favorável à infecção, não
se justifica o tratamento.
As condições favoráveis
O pesquisador da área de fitopatologia reforça
que deve ser feita uma associação entre o clima
e a ocorrência de doenças. Segundo ele, existem
condições climáticas que são ótimas
para desenvolvimento de agentes causais de doenças.
O problema é que essas condições
são relativamente comuns durante ciclo de desenvolvimento
da cultura do trigo na Região Sul do Brasil, principalmente
durante o estágio de espigamento. Dentre dessas condições
climáticas, por exemplo, a umidade em excesso é
a que mais tem influenciado o desenvolvimento de doenças
na cultura do trigo e, em consequência, a sua produtividade,
menciona. Durante o espigamento, no Rio Grande do Sul,
essa condição favorece a doença conhecida
por fusariose ou giberela. No Paraná, especialmente
no norte do Estado, o problema é a brusone, afirma.
Outros fatores que podem favorecer o desenvolvimento ou ocorrência
de doenças, apontam o pesquisador, estão relacionados
à não observação de indicações
técnicas geradas pela pesquisa e ao clima. Sobre
as indicações técnicas, cabe ressaltar
a ação das empresas de pesquisa de trigo, as
quais procuram encontrar as melhores alternativas para a condução
das lavouras de acordo com parâmetros técnicos
e de viabilidade econômica, finaliza.
Os tratamentos
Para evitar o volume de perdas, o agricultor precisa estar
atento aos tratamentos específicos, para cada fase
da cultura do trigo. O pesquisador afirma que na verdade,
as ações de controle das doenças de trigo,
as quais compõem o que se chama de manejo integrado
das doenças do trigo, tentam evitar esse contato ou,
ao menos, minimizar os efeitos da ação dos agentes
causais dessas doenças, mesmo depois que o processo
infeccioso nas plantas já tenha sido iniciado ou estabelecido.
Em relação à origem das doenças
do trigo, também chamada de fonte de inóculo,
a mesma pode ser bem variada, podendo ser a própria
semente, o solo, a palha que ficou na lavoura, plantas voluntárias,
hospedeiros alternativos, entre outros, explica. Estas
são possibilidades ou locais onde o agente causal pode
sobreviver de uma safra para outra, permitindo, que em uma
safra seguinte, um novo ciclo de uma determinada doença
se inicie, justifica.
De acordo com Maciel, o que varia de uma doença para
outra é a estratégia ou local que seu agente
causal utiliza para sobreviver. Por exemplo, os agentes causais
das manchas foliares, de maneira geral, podem utilizar os
restos culturais ou as sementes como fonte de inóculo
para iniciar o ciclo da doença. Neste caso, ações
como a rotação de culturas e o tratamento de
sementes com fungicidas são fundamentais para o controle
dessas doenças.
Para eliminá-las, segundo o pesquisador, não
é uma tarefa fácil considerando a grande variabilidade
e capacidade de sofrer mutações que os agentes
causais de doenças apresentam. De qualquer forma, ao
longo dos anos, têm sido disponibilizadas para os produtores
de trigo do Brasil cultivares com características cada
vez melhores em termos de resistência a doenças.
Pragas - O outro lado do prejuízo
E quando o assunto são as pragas. Elas também
contribuem para uma redução significativa da
produção. De acordo com o pesquisador da Embrapa
Trigo, Paulo Roberto Valle da Silva Pereira, especialista
no assunto, entre as principais pragas, que com maior frequência
atingem essa condição na cultura do trigo a
campo, estão: os afídeos (pulgões), o
coró-das-pastagens, o coró-do-trigo, a lagarta-do-trigo,
a lagarta-militar e os percevejos.
Os afídeos ou pulgões
Os principais afídeos que atacam trigo. a) pulgão-verde-dos-cereais,
Schizaphis graminum; b) pulgão-do-colmo-do-trigo ou
pulgão-da-aveia, Rhopalosiphum padi; c) pulgão-da-folha-do-trigo,
Metopolophium dirhodum; d) pulgão-da-espiga-do-trigo,
Sitobion avenae; e) pulgão-preto, Sipha maydis; f)
pulgão-do-milho, Rhopalosiphum maidis.
Várias espécies de afídeos (Hemiptera,
Aphididae) ou mais conhecidos como pulgões do trigo,
ocorrem na cultura de trigo, dependendo da época do
ano e da região tritícola. As mais comuns são
o pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum), o
pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia
(Rhopalosiphum padi), o pulgão-da-folha-do-trigo (Metopolophium
dirhodum) e o pulgão-da-espiga-do-trigo (Sitobion avenae).
Devido à alta proliferação e ao ciclo
biológico curto, em condições favoráveis,
as pragas se desenvolvem rapidamente. Os afídeos desenvolvem-se
e multiplicam-se melhor em temperaturas amenas (entre 20°C
a 22°C) e em períodos de estiagem; o clima frio
prolonga o ciclo de vida e retarda a multiplicação.
Os danos causados por eles podem ser ocasionados diretamente,
por meio da sucção da seiva e de suas consequências
no rendimento de grãos, diminuindo tamanho, número
e peso dos grãos e o poder germinativo de sementes.
O manejo integrado dos afídeos do trigo, no extremo
sul do Brasil, fundamentado no controle biológico e
no uso criterioso do controle químico, se constitui
num dos exemplos mais expressivos de sucesso, em culturas
não perenes.
Corós
a) aspecto geral do macho;
b) aspecto geral da fêmea;
c) aspecto da larvaa triticophaga
Os corós são larvas de solo cujos adultos são
besouros (Coleoptera, Melolonthidae). As espécies associadas
ao trigo são Diloboderus abderus e Phyllophaga triticophaga.
Os corós constituem problema dos mais sérios
para o trigo, no extremo Sul do Brasil. Embora a semelhança
das larvas possa levar a alguma dificuldade de identificação,
estas espécies são facilmente reconhecidas e
distinguidas quanto a aspectos morfológicos e biológicos.
Um único coró, em atividade plena e em seu tamanho
máximo, é capaz de consumir em torno de duas
plântulas de trigo, em uma semana. Por se tratarem de
insetos de ciclo longo, para o manejo dos corós é
fundamental que seja feito o monitoramento periódico
das áreas, tanto no inverno como no verão, visando
constatar o início e a evolução das infestações
e identificar e quantificar as espécies. O monitoramento
deve ser feito ao longo de todo o ano, antes da semeadura,
durante o desenvolvimento da plantas e após a colheita
das culturas, por meio da observação da ocorrência
de sintomas em plantas (morte de plântulas ou de afilhos,
desenvolvimento reduzido), da ocorrência de perdas na
produtividade e da abertura de trincheiras.
Lagartas desfolhadoras
Lagartas desfolhadoras.
a) lagarta-do-trigo (adulto), Pseudaletia sequax;
b) lagarta-do-trigo (larva), P. sequax;
c) lagarta-militar, Spodoptera frugiperda e
d) lagarta-dos-capinzais, Mocis latipes
Considerando toda a região tritícola brasileira,
as lavouras de trigo podem ser atacadas principalmente por
três espécies de lagartas, que se alimentam das
folhas e de outros órgãos da parte aérea
das plantas. Conhecidas pelo nome comum de lagarta-do-trigo,
lagarta-militar e lagarta-do-cartucho-do-milho, elas podem
ocorrer na lavoura, às vezes até simultaneamente,
a partir do espigamento até a fase de maturação
e colheita do trigo. Os danos decorrem do ataque às
espigas, onde destroem aristas e espiguetas; muitas vezes
as lagartas cortam a base da espiga, derrubando-as ao solo.
As lagartas que atacam o trigo possuem um número apreciável
de inimigos naturais predadores, parasitóides e patógenos,
que impedem que grandes surtos. No manejo das lagartas do
trigo deve-se procurar preservar os inimigos naturais e usar
o controle químico apenas quando necessário
e de forma bastante criteriosa.
Percevejos
Percevejos comuns em trigo. Percevejo-barriga-verde
a) Dichelops furcatus e
b) D. melacanthus;
c) percevejo-raspador Collaria scenica;
d) percevejo-verde Nezara viridula e
e) percevejo-do-trigo Thyanta perditor.
As espécies mais comumente encontradas em trigo pertencem
à família Pentatomidae como os percevejos-barriga-verde,
na fase inicial da cultura, o percevejo-verde, percevejo-do-trigo
e à família Miridae, como o denominado percevejo-raspador
e o percevejo-do-capim ou percequito. Espécies do percevejo-barriga-verde
que historicamente eram citadas apenas em soja, recentemente
passaram a ocorrer em trigo. Plântulas atacadas apresentam
folhas com perfurações transversais, inclusive
com necrose do tecido. As folhas dobram ou quebram nas linhas
de perfuração; algumas ficam enroladas e deformadas.
Ocorrem problemas no afilhamento, no desenvolvimento das plantas
e redução no rendimento de grãos. A população
desta praga cresce a partir do mês de setembro, quando,
normalmente, o trigo está emborrachado ou em espigamento.
Altas populações na fase de enchimento dos grãos,
como 10 percevejos por planta podem comprometer a folha bandeira
e provocar redução no rendimento de grãos.
No
combate delas
Segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Pereira, para
o controle químico das pragas de trigo devem ser utilizados
apenas produtos registrados pelo Ministério da Agricultura.
Recomenda-se que, preferentemente, sejam empregados produtos
referendados pela Comissão Brasileira de Pesquisa de
Trigo e Triticale e que, entre estes, sejam preferidos os
que têm menor efeito tóxico sobre inimigos naturais
das pragas e outros animais não visados e para o homem.
Também é necessário considerar
que, por força de fatores climáticos e da ação
de inimigos naturais (predadores, parasitóides e entomopatógenos),
as pragas-chave da cultura de trigo flutuam naturalmente dentro
da estação de cultivo ou mesmo de um ano para
outro, adverte o pesquisador.
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