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INPEV - “Embalagens no destino certo”
rev 148 - junho 2010

Com base em uma lei rígida que compartilha a responsabilidade sobre a destinação final de embalagens vazias de agrotóxicos, indústrias mostram seu comprometimento para que o Brasil torne-se referência mundial em todo o processo.

Não é de hoje que a indústria de defensivos agrícolas tem ido além da pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de seus produtos. O cuidado com a segurança ambiental, com a saúde dos agricultores e daqueles que aplicam na lavoura as fórmulas – desenvolvidas para o controle de pragas, doenças e plantas infestantes – fez com que essas empresas desenvolvessem uma série de ações orientadoras, com a finalidade de ensinar de que forma os agentes envolvidos devem lidar com esses itens, evitando ao máximo a contaminação do ecossistema pelos agrotóxicos químicos e biológicos.

No ano de 2001, a indústria fabricante de produtos fitossanitários do Brasil foi uma das principais responsáveis pela fundação do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV), organização sem fins lucrativos, que dá o destino final adequado dessas embalagens e articula toda a cadeia do setor para o cumprimento da Lei 9.974/00, que regra o recolhimento e rumo final das embalagens determina a responsabilidade compartilhada para agricultores, canais de distribuição, indústria fabricante e poder público. Para que a estrutura funcione, os associados ao Instituto fazem uma contribuição anual de acordo com uma divisão que considera o perfil e volume das embalagens colocadas no mercado e o custo da sua destinação final. Atualmente, são membros do InpEV 99% das empresas fabricantes de defensivos agrícolas do Brasil e sete entidades, incluindo as de classe representativas da indústria, dos canais de distribuição e dos agricultores.

João César Rando, presidente do Instituto, considera a entidade um núcleo de inteligência do sistema e não tem dúvida de que todos os atores envolvidos têm executado corretamente suas obrigações. “O Brasil hoje ocupa uma posição de liderança no mundo, é uma referência em centro de excelência graças aos esforços de todos. Temos uma lei inteligente que faz com que haja um compartilhamento e um comprometimento de cada elo e que trouxe uma solução para um problema que antes estava no campo: as embalagens dispostas de maneira irregular causando um problema não só para o meio ambiente como para a saúde humana”, comemora. Segundo ele, um ponto muito importante no processo é a conscientização do agricultor quanto à tríplice lavagem. “Temos investido muito nesse sentido. Tanto que, hoje, as embalagens tecnicamente lavadas representam 95% do volume total recebido e podem ser recicladas”.

Na opinião de Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), é fato que a indústria independente do tempo, talento e dinheiro se preocupa em explicar, treinar e educar seu público usuário. “A dinâmica desse processo é muito rápida e nos obriga a nos atualizarmos e a reciclar o aplicador. Evidentemente, é um processo que temos que nos aprimorar e em algumas novas áreas somos obrigados a ir cada vez mais longe”, conta Daher, ressaltando que para esse trabalho de orientação em grandes centros é o menos importante, pois o que interessa mesmo é o Centro-Oeste, as novas áreas do cerrado, o circuito MA-PI-TO (Maranhão, Piauí e Tocantins), onde o agronegócio brasileiro tem tido melhor atuação e desempenho, mesmo que tenha entraves em logística, não-reforma tributária e nos problemas de crédito. “Entretanto, o Brasil é líder absoluto incontestável no recolhimento e reprocessamento de embalagens usadas de defensivos. Somos copiados pelos Estados Unidos, Canadá e países da Europa e a soma das três maiores nações que recolhem depois do Brasil, não alcança o número nacional. Isso é feito por meio de dois processos: o da instrução, desde às crianças da comunidade até o agricultor, e, é claro, por conta da responsabilidade compartilhada”.

De acordo com o InpEV, nos primeiros quatro meses de 2010, as unidades de recebimento de todo o País encaminharam para o destino ambientalmente correto 10 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas. Esse volume representa um crescimento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2009, quando foram processadas 8.098,4 toneladas. Um levantamento apontou que, 93,7% das mais de 10 mil toneladas de embalagens seguiram para reciclagem. Os dados revelam ainda que os Estados que mais destinaram embalagens de janeiro a abril foram: Mato Grosso (com 1.996,8 toneladas), Paraná (com 1.376,6 toneladas), São Paulo (com 1.267,2 toneladas), Goiás (com 1.259,5 toneladas) e Minas Gerais (com 884 toneladas). Esses cinco Estados representam mais de 70% do volume destinado em todo o Brasil. “Hoje no Brasil, temos cerca de 412 unidades de recebimento. São 298 postos e 113 centrais de recebimento que estão em todos os Estados da federação, evidentemente, a maior parte onde está a maior produção agrícola. Toda essa estrutura é compartilhada e pertencente a todo o sistema que apoiam, apontam metodologias, processos de trabalho e procedimentos, fazendo com que os centros e a unidades funcionem da forma mais eficiente possível”, finaliza João Randon.

Atuação de empresas no campo

No campo, a Syngenta também promove campanhas de educação e treinamento junto aos agricultores e distribuidores destacando seu papel no cumprimento desta legislação.  São ações de stewardship com foco no agricultor, como por exemplo, o trabalho em dias de campo, palestras educativas com orientação sobre aquisição segura dos produtos via o receituário agronômico e nota fiscal, transporte adequado, armazenagem segura, uso adequado de EPI, preparo da calda, tecnologias corretas de aplicação e a destinação correta das embalagens vazias. “Os investimentos são realizados em educação, treinamento, desenvolvimento de novos materiais, incineração dos produtos que têm que ser destruídos, entre outros. Além disso, a Syngenta também participa ativamente do Dia Nacional do Campo Limpo, comemorado todo dia 18 de agosto”, afirma Egidio Moniz, gerente de segurança de produtos da Syngenta Crops.

Ele destaca ainda que o Projeto EPI é muito importante para a Syngenta, que sempre focou nesta questão e foi a primeira empresa de agroquímicos do Brasil que ajudou a fabricar o primeiro EPI Tropical do mundo, o EPI de algodão, em 1989. “Atualmente, todos os que comercializam os conjuntos de segurança, vendem EPIs desenvolvidos pela Syngenta. Em 2009 colocamos no campo 65 mil EPIs. Atualmente, nós temos quatro fornecedores do equipamento: um para São Paulo, um para Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, outro para Minas Gerais e Nordeste e o outro para o resto do país”, aponta ele lembrando que desde 2007, a equipe de campo da empresa, em parceria com os fabricantes de EPI, realizou 62 treinamentos destinados a agricultores e técnicos sobre a importância do uso dos equipamentos. “Para incentivar o uso dos equipamentos, estabelecemos uma política de distribuição que inclui a atuação em parceria com as revendas e as cooperativas que comercializam produtos da Syngenta. Por meio desse projeto são comercializados, anualmente, sem lucro para a organização, cerca de 50 mil kits de EPI, o que coloca a companhia como referência nessa área no Brasil”, acrescenta.

Na Monsanto, além de palestras e treinamentos sobre agroquímicos e orientação sobre o descarte correto de embalagens, a empresa inclui também nos rótulos das embalagens de todos os seus produtos a orientação de como o produtor deve proceder para fazer essa operação. A indústria também participa, através do Comitê Andef para Boas Práticas (COGAP) de ações da indústria para promover o uso correto e também a questão do descarte de embalagens. Em 2009, os eventos relacionados a químicos alcançaram 156 Dias de Campo, com 13.212 participantes, 73 palestras que contaram com 3.187 pessoas, 38 treinamentos sobre o uso correto e seguro de defensivos atingindo 803 envolvidos e a participação em 37 grandes eventos que alcançaram mais de 292 mil pessoas.

Já a Basf disponibiliza conhecimento por meio de iniciativas como o Programa QualificAR, um serviço de consultoria e treinamento para os canais de distribuição nas áreas de armazenamento e transporte de produtos fitossanitários, onde são analisados todos os aspectos de segurança, saúde e meio ambiente. “Desde que foi iniciado em 2001, ele já percorreu mais de 321 cidades, em 16 Estados. São mais de 565 clientes, como revendedores, cooperativas, grandes agricultores, usinas de cana-de-açúcar e sementeiras”, garante Roberto Araújo, gerente de Marketing e Comunicação da Divisão de Proteção de Cultivos da Basf América Latina e representante da empresa no InpEV.

A empresa também mantém um programa na área de EPI, no qual por meio de uma parceria com seus distribuidores disponibiliza equipamentos nos pontos de venda de seus produtos. Os EPIs possuem certificação e são os mesmos utilizados pela equipe de campo da Basf. A companhia estimula continuamente o uso correto dos EPI no campo através de ações de assistência técnica, palestras, dias de campo e treinamentos. A Basf divulga a legislação e orienta agricultores e trabalhadores rurais sobre a importância do uso das vestimentas para proteção da saúde. Em 2010, o Programa EPI está completando 12 anos e desde que foi criado já ajudou a comercializar mais de 430 mil kits.

Em relação ao trabalho junto ao InpEV, Roberto Araújo, fala sobre a importância da economia gerada por meio do Instituto obtida por meio da otimização da logística reversa. “Ficaria muito mais dispendioso para os fabricantes, distribuidores e agricultores atender à legislação se a entidade não existisse. Vale destacar que o custo médio por quilo de embalagem recolhida pelo órgão é o mais baixo do mundo (menos de US$ 0,25/kg). Isto se deve a excelência operacional do sistema desenvolvido no Brasil”, aponta ele, lembrando que entre 2002 e 2008 foram retiradas mais de 145 mil toneladas de embalagens vazias da natureza. Com base num estudo de ecoeficiência realizado pela Fundação Espaço Eco, o gerente diz que comprovou-se que nestes sete anos, a destinação adequada de embalagens vazias pelo InpEV gerou um ganho ambiental que equivale a 164 mil toneladas de carbono que deixaram de ser emitidas na atmosfera ou a quantidade de 816 mil árvores que deixaram de ser cortadas. Isto é, sem dúvida, o maior benefício para a sociedade e para o ambiente.


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