A
implantação de Sistemas de Gestão Ambiental
(SGA) baseado na norma ISO 14001 é um requisito importante
para os empreendimentos que visam manter e ganhar espaço
em um mercado cada vez mais atento ao desenvolvimento sustentável
do planeta. As certificações garantem que determinada
empresa ou produto obedeça a uma série de boas
práticas voltadas à adequação
a legislação ambiental e contribui para conhecer
e aprimorar processos, reduzindo possíveis impactos
ao ecossistema, o que pode possibilitar acesso a novos clientes
e mercados. No caso da Conformidade do sistema com a ABNT
NBR ISO 14001, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) explica que há a garantia de
redução da carga de poluição gerada
por essas organizações, porque envolve a revisão
de um processo produtivo visando à melhoria continua
do desempenho ambiental, controlando insumos e matérias-prima
que representem desperdícios de recursos naturais.
As normas para sistemas de gestão são voluntárias,
o que significa que não há nenhuma obrigatoriedade
legal de estabelecer um sistema e se certificar. Francesco
de Cicco, diretor-executivo do Centro da Qualidade, Segurança
e Produtividade para o Brasil e América Latina (QSP),
ressalta que no País a busca por certificações,
tanto de empresas quanto de produtos, tem aumentado, porém,
ainda existe defasagem entre o discurso e a prática.
De uma forma geral, acontece no mercado muito marketing
institucional e ainda não na mesma proporção
às ações efetivas como, por exemplo,
a implantação de um sistema de gestão
ambiental baseado na ISO 14001. Na maioria dos casos, a procura
pela certificação se dá em função
das demandas de mercado e das relações clientes
e fornecedores, aponta ele, explicando que na área
agrícola cada vez mais os importadores querem que seus
fornecedores de qualquer parte do mundo comprovem as boas
práticas ambientais. O agronegócio brasileiro
está em franco desenvolvimento, com tecnologias cada
vez mais sofisticadas sendo utilizadas. Ao passo que as exportações
aumentam, as exigências certamente aumentam e fazem
com que produtores e outros elos da cadeia busquem a certificação
como a ISO 14001, que é a única existente para
sistemas de gestão ambiental, acrescenta.
Mas afinal, qual o tempo e o investimento necessário
para que uma empresa possa se adequar a essa norma? De acordo
com Guy Ladvocat, gerente de Certificação de
Sistemas da ABNT, o processo de certificação
começa pelo diagnóstico e ajuste interno da
empresa para implantar um sistema que atenda aos requisitos
da norma. Dependendo do tamanho da empresa, tipo de atividade
(com mais ou menos impacto ao meio ambiente), situação
atual com relação às questões
ambientais, ele aponta que o tempo para implementação
de um sistema pode levar, em média, de 8 a 18 meses,
embora isto seja muito relativo. Porém, o processo
de certificação é mais rápido,
pois depende apenas da avaliação do organismo
certificador. Se a empresa estiver com o sistema atendendo
à norma, em um ou dois meses o processo está
concluído.
O custo da certificação depende sempre de diversos
fatores. Ladvocat explica que o valor da certificação
é apenas da prestação de serviço
do organismo certificador. Mas que, em alguns casos, há
alguns gastos adicionais, como emissão de certificado,
custos de acreditação no Sistema Brasileiro
de Avaliação da Conformidade (SBAC) no Instituto
Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Inmetro), entre outros. De qualquer forma,
não é um valor que venha a impactar significativamente
os custos das empresas. Inclusive, se for um sistema bem implementado,
a relação custo x benefício certamente
irá pesar positivamente a favor da empresa, pois ela
irá melhorar sua imagem, reduzir seus riscos ambientais,
fortalecer sua posição no mercado e melhorar
sua relação com os organismos regulamentadores,
afirma ele.
Segundo o Inmetro, as certificações com base
na ISO 14001 podem ser realizadas dentro ou fora do Sistema
Brasileiro de Avaliação, por organismos credenciados
ou não pelo Instituto. O órgão disponibiliza
um banco de dados estatísticos com dados de empresas
certificadas por organismos de certificação
acreditados pelo Inmetro na área de SGA. O relatório
emitido em 1º de junho apontava até a data 346
Unidades de Negócio com Padrão Normativo ISO 14001:2004,
válidas emitidas dentro e fora do SBAC. Na tabela das
certificações em vigor por Estado da Federação,
São Paulo liderava com 177 certificados, seguido pelo
Paraná (44), Santa Catarina (21), Minas Gerais (19)
e Bahia (18).
O processo de certificação envolve todas profissionais
da empresa que são um pilar fundamental de todo o processo
e por isso passam por cursos, treinamentos e capacitação.
Francesco De Cicco aponta a necessidade da conscientização
e motivação de todos os profissionais-chaves
para que as práticas realizadas durante a adequação
às normas sejam seguidas após a certificação.
Para isso, na fase inicial dos trabalhos em um empreendimento
que visa se enquadrar ao ISO 14001 é sempre feito o
treinamento das pessoas, inclusive na parte da legislação
aplicável àquela organização.
Elas devem entender claramente o que é um aspecto ambiental,
o que é um impacto significativo para a empresa e quais
prioridades para os planos de ação que devem
ser adotados para poder controlar adequadamente esses aspectos
e impactos, lembra, enfatizando ainda a importância
da formação de auditores internos para que eles
possam fazer periodicamente, como a própria norma exige,
o monitoramento do sistema de gestão para identificar
se aquilo que foi planejado está sendo cumprido, colocado
em prática e principalmente identificar oportunidades
de melhoria.
Certificação
de culturas
No
campo, o protocolo Globalgap (Sistema Integrado de Garantia
da Produção) segue como referência mundial
em normas de Boas Práticas Agrícolas e para
muitos compradores, principalmente na Europa, é uma
exigência para novos negócios. Karina Passos,
coordenadora de certificação da Organização
Internacional Agropecuária (OIA), afirma que há
uma demanda crescente na procura por esse selo, principalmente,
pelos produtores de frutas que exportam ou desejam exportar
seus produtos e que atualmente os produtores ainda têm
bastante dificuldade em cumprir exigências legais brasileiras,
como, por exemplo, o uso de agrotóxicos registrados
para a cultura, o que dificulta a obtenção da
certificação Globalgap.
De acordo com ela, a certificação possui exigências
referentes às questões ambientais, saúde,
segurança e bem-estar dos trabalhadores, rastreabilidade
e principalmente segurança do alimento. Boa parte do
protocolo é referente a exigências relativas
ao uso adequado de agrotóxicos (para evitar contaminação
química do alimento) e cuidados higiênicos na
colheita e pós-colheita (para evitar contaminações
microbiológicas). Para cada atividade que se
deseja certificar há uma quantidade de pontos a serem
verificados. O Globalgap permite certificar frutas e verduras,
flores e plantas ornamentais, culturas anuais, café,
chá, bovinos e ovinos, gado de leite, suínos,
avicultura e aquicultura. Como pré-requisito para a
certificação o produtor deve ter conhecimento
do protocolo, implantá-lo na propriedade, documentar
suas atividades produtivas durante pelo menos três meses
e realizar uma avaliação interna.
Nesse caso, Karina Passos, alerta que o tempo do processo
e seu custo também variam dependendo das condições
da propriedade e da disponibilidade em solucionar os eventuais
problemas, da complexidade do trabalho, número de culturas
a ser certificadas, área, distância das áreas,
sistematização dos documentos, entre outros
pontos. Vale lembrar que o protocolo de certificação
exige que todos os funcionários das propriedades passem
por capacitações anuais, de acordo com as atividades
que desenvolvem. Os treinamentos englobam temas como: procedimentos
de emergência, manuseio de equipamentos perigosos, uso
e manuseio de agrotóxicos e higiene na colheita e pós-colheita.
Os profissionais também passam diversas capacitações
externas para estarem atualizados quanto às legislações
vigentes e exigências do mercado e novas possibilidades
de atuação.
Em certificações específicas, requisitos
entram no processo. Em certificação de sustentabilidade
de cana-de-açúcar, por exemplo, os pontos mais
importantes, de acordo com a coordenadora, se referem às
condições ambientais (respeito ao Código
Florestal, plantio em áreas econômica e ecologicamente
adequadas, uso de água e poluição do
ar) e questões sociais (respeito às leis trabalhistas
e saúde, segurança e bem-estar dos trabalhadores).
Além disso, os protocolos também envolvem
questões relacionadas às Boas Práticas
Agrícolas. A certificação de cana-de-açúcar
visa confirmar ao comprador que as condições
de produção são adequadas e não
condizem com as críticas discutidas mundialmente, como
desmatamento e trabalho escravo, finaliza.
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