Os
ventos parecem estar soprando a favor do setor sucroalcooleiro.
Apesar de lidar com as inconstâncias climáticas
que influenciaram a colheita da safra e as sombras que ainda
cercavam a economia pós-crise pelo menos nesse
primeiro semestre do ano o setor hoje só tem
a comemorar. A alta dos preços dos produtos relacionados,
tanto para o mercado interno quanto ao externo são
os responsáveis por esse bom resultado.
No início de 2010, a manutenção da alta
demanda de açúcar pela Índia apontava
que o setor seguiria com o alto preço do etanol no
mercado interno e a boa quantidade captada pelas usinas deveria
apresentar alta, apesar de ninguém palpitar o volume
antecipadamente. Na opinião dos especialistas, isso
ocorreu porque em boa parte de 2009 foi de preços baixos,
as usinas sem crédito colocaram mais álcool
à venda, depreciando ainda mais os preços. A
queda refletiu na renda dos produtores. Entretanto, em janeiro
de 2010, os cifrões voltaram a subir bastante, chegando
a média de R$ 1,13. Se comparado à cotação
de R$ 0,78 do início do ano passado, o preço
do álcool nas usinas subiu consideravelmente. Já
no mercado do açúcar, a média de preços
ficaram em R$ 63,66 a saca de 50 quilos, ao passo que em abril
de 2009 registrava-se uma média de R$ 46,48 a mesma
saca. O mercado ainda está em recuperação.
Em 2010, as usinas começaram vendo perspectivas em
seus dois produtos: o açúcar e o etanol. É
bom frisar que, o que se vê agora é uma queda
nos preços, porém, a nova safra está
sendo colhida e o produto novo está com uma qualidade
superior, resultando na elevação dos preços.
Porém, sem dúvida nenhuma, a atividade está
remunerando e as perspectivas são boas, até
o momento, o que permitiu as indústrias respirarem,
analisa o representante da União da Indústria
de Cana de Açúcar (Unica), em Ribeirão
Preto (SP), Sérgio Prado.
Se no início da safra 2009/2010 havia um reflexo de
pessimismo, meses depois houve uma transição
para o otimismo, especialmente entre os meses de agosto e
setembro de 2009, quando os preços do açúcar
dispararam no mercado interno e externo. As usinas conseguiram
produzir, financiar e exportar tendo fluxo de caixa. Obviamente,
não foram todas. Há muitas renegociando dívidas.
Outras ainda enfrentam problemas de liquidez, de falta de
crédito e não conseguem obter financiamento
para construir estoques ou outros investimentos, apesar da
mudança no cenário, aponta sócio-diretor
da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa.
Na opinião dos usineiros, ainda é cedo para
dar respostas sobre a situação do mercado. De
acordo com o diretor de Novos Negócios do Grupo da
Usina São João, Narciso Bertholdi, não
há uma uniformidade da situação em que
se encontram as unidades produtoras nas diversas regiões
do Brasil. Acredito que só vamos ter uma noção
mais correta sobre este tema no final da safra 2010/2011,
o que acontece em março ou abril do próximo
ano, diz ele, que representa hoje um dos principais
grupos sucroenergéticos do Brasil. No início
de 2010, os preços do açúcar foram influenciados
de forma positiva pela grande demanda e pouca oferta. A quebra
de safra na Índia, aliado ao baixo processamento de
cana no Brasil por causa das condições climáticas
desfavoráveis, elevou os preços. Por outro lado,
já há uma forte pressão sobre os preços
da commodity no mercado mundial neste momento, por conta da
previsão de moagem de 600 milhões de toneladas
no Centro-Sul do País, e da recuperação
da produção indiana, cuja safra se iniciará
em setembro de 2010, conclui. Ainda segundo Bertholdi,
em relação ao etanol, muitas usinas brasileiras
têm, neste início de ano, vendido a maior parte
de seus estoques no mercado interno a preços abaixo
do custo de produção, por causa da necessidade
de caixa para financiar a safra atual. Isso é
preocupante para o setor, argumenta.
Cenário da Safra
O fato é que o setor vive um cenário bom para
o açúcar, cuja oferta está menor do que
a demanda. Já o etanol, as usinas mostraram que há
uma necessidade urgente da construção de um
estoque regulador, a fim de se evitar escassez do produto
e a consequentemente flutuação de preços
no mercado. O Brasil precisa crescer 11% da sua produção
de cana nos próximos quatro anos. No entanto, é
necessário investimento de US$ 35 bilhões e
isso é muito investimento. Isso faz com que nos próximos
anos o mercado sofra por algum problema de oferta do etanol
e afetarão preços futuros, analisa Corrêa.
No entanto, as previsões confirmam que há um
processamento de cana maior nesta safra. Mas, muito
mais porque a safra passada foi fraca, por causa do excesso
de chuvas, e não porque houve aumento da área
plantada no canavial, explica Bertholdi, do Grupo da
Usina São João.
Hoje 90% da safra nacional vêm da região do Centro-Sul
do País. Nesta área, a moagem de cana-de-açúcar
na alcançou 35,13 milhões de toneladas na primeira
quinzena de maio deste ano, um crescimento de 4,20 milhões
de toneladas em relação à segunda quinzena
de abril. No acumulado desde o início da safra, a moagem
totalizou 93,86 milhões de toneladas, contra 73,85
milhões para o mesmo período da safra passada,
segundo dados divulgados no início do mês de
junho, pela Unica. Na primeira quinzena de maio, a proporção
da cana destinada à produção de açúcar
alcançou 43,89%. Em relação à
quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis
(ATR), por tonelada de cana, na primeira quinzena de abril,
foram 126,96 quilos (kg) de ATR/t, cifra praticamente idêntica
a do mesmo período de 2009 (126,46 kg de ATR/t). No
acumulado desde o início da safra 2010/2011, a concentração
de ATR ficou em 118,30 kg por tonelada de cana, contra 117,32
kg obtidos na safra anterior, segundo dados da entidade.
Etanol
Dados da Unica apontam que as vendas de etanol pelas unidades
produtoras da região centro-sul do Brasil cresceram
5,39% em relação à quinzena anterior,
totalizando 1,02 bilhão de litros, contra 965,17 milhões
observados na segunda quinzena de abril desse ano. Desse total,
920,00 milhões de litros foram destinados ao mercado
doméstico, um crescimento 3,33% em relação
à quinzena anterior, quando foram vendidos 890,32 milhões
de litros. Na primeira quinzena de maio, as vendas de etanol
hidratado no mercado interno totalizaram 666,40 milhões
de litros. Já as vendas de anidro, estimuladas pela
volta da mistura de 25% do produto na gasolina, apresentaram
um crescimento de 18,66% em relação à
quinzena anterior, alcançando 253,59 milhões
de litros.
E as perspectivas para o setor são boas e são
a longo prazo. Para o consultor da Archer, as perspectivas
são as melhores para o próximo ano. Existe
um crescimento de consumo bastante elevado. Se olharmos o
consumo de etanol, estimado para os próximos anos,
haverá a necessidade de consumo de etanol no mercado
interno estimado em mais de 40 bilhões de litros e
em função de uma realidade, com mais de 70%
dos veículos vendidos com a tecnologia flex-fuel, com
motores funcionando a gasolina ou etanol, conclui Corrêa.
Já para o diretor do Grupo da Usina São João,
depois de um período de entressafra com oferta escassa
de etanol, devido à acentuada queda de produção
do último ano provocada pela grande intensidade de
chuvas no período produtivo no centro-sul do País,
voltou-se a ter ofertas adequadas no mercado. Levando
à estabilidade nos preços ao consumidor final,
bem como à reestruturação dos estoques
reguladores. Com preços mais competitivos na bomba,
a demanda voltou aos níveis históricos do último
ano. Além disso, há uma projeção
de aumento de 8% nas vendas de automóveis no Brasil
em 2010, e a maioria desses veículos será flex-fuel,
o que gera uma expectativa de aumento de consumo de etanol
da ordem de dois bilhões de litros, aponta Bertholdi.
Açúcar
Quanto ao açúcar, na primeira quinzena de maio
a produção totalizou 1,86 milhão de toneladas.
Já a de etanol neste período foi de 1,46 bilhão
de litros, sendo 384,80 milhões de etanol anidro e
1,08 bilhão de hidratado. No acumulado desde o início
da safra, a produção de açúcar
chegou a 4,43 milhões de toneladas, e a de etanol alcançou
3,78 bilhões de litros, sendo 829,0 milhões
de etanol anidro e 2,95 bilhões de etanol hidratado.
No ano passado, houve uma recuperação
do preço do açúcar devido à queda
de exportação na Índia e a demanda de
consumo pelo produto no mercado interno, reflexo dos bons
resultados da economia, fez com que o Brasil se beneficiasse.
Agora o rumo dos preços, até outubro, dependerão
mesmo do andamento da safra. Além disso, dependerá
do mercado indiano que pode voltar comprando, analisa
Corrêa.
De fato, no início da safra 2009/2010 havia muita preocupação
com a real demanda de açúcar no mundo, e isso
deixou os preços em patamares baixos. Contudo,
ao longo do período, duas coisas aconteceram: de um
lado, percebeu-se que a safra indiana seria bem menor do que
o esperado. De outro, choveu excessivamente no País
no segundo semestre de 2009, o que dificultou e até
impediu o processamento de grande quantidade de cana, diminuindo
sensivelmente a oferta de açúcar e etanol. Muitas
usinas puderam antecipar o início da moagem na safra
2010/2011 porque ainda tinham cana para processar da safra
passada, que não havia sido colhida. Com relação
ao próximo semestre, o momento ainda é de cautela,
pois precisamos observar como vai ser a evolução
da produção no Brasil e nos demais países
produtores, bem como o comportamento do mercado consumidor,
tanto de etanol quanto de açúcar, adverte
Bertholdi.
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