Lá,
a atividade leiteira não é a principal, já
que muitos dividem suas terras com a plantação
de milho e fumo. Porém, o que para muitos é
sinal de pouco, para outros é sinônimo de bons
resultados e de uma verdadeira revolução. Graças
à junção dos pequenos produtores do município,
da Secretaria Municipal da Agricultura e da Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural (Epagri/SC), um
projeto se tornou uma das referências na criação
de bezerras no Sul, chamado de Centro de Criação
de Terneiras de Guarujá do Sul, tendo com um
dos focos principais: o aprimoramento no manejo das terneiras.
A ideia era que o local funcionasse como uma creche para bezerras
daqueles produtores.
Uma das primeiras famílias a participar e a ceder a
propriedade para a implantação do projeto foi
a de Lúcio Debortoli. A partir da cooperação
dele e de sua família, coordenado pelo filho Vanderlei
Debortoli, foi composta uma associação e definidas
as normas para a participação de outros produtores.
Segundo um dos responsáveis pelo projeto, Jonas Marcelo
Ramon, engenheiro agrônomo e técnico da Epagri/SC,
os produtores daquela região ganhariam a oportunidade
de investirem melhor nas suas criações, produzindo
mais e aproveitando melhor cada área da propriedade.
O objetivo do centro (até hoje) é criar
novilhas de qualidade, que tenham idade ao primeiro parto
de menos de 24 meses e com estrutura adequada, além
de especializar uma propriedade em criação de
terneiras, para aqueles produtores que não têm
tempo, mão de obra ou área disponível
para criá-las, diz. Após ter analisado
que mesmo com mais de 20 anos de inseminação
artificial com sêmen de touros provados, percebeu-se
a baixa evolução dos animais. Como depende de
genética, alimentação e manejo; focamos
nosso trabalho na alimentação e no manejo. No
Centro de Criação, os bovinocultores de leite
pagam R$ 95, 00 por mês, para que seja bem cuidada a
futura vaca que voltará à propriedade,
conta o engenheiro agrônomo e técnico da Epagri.
No Centro de Criação, o sistema funciona assim:
logo que chegam as terneiras são pesadas e medidas,
medicadas se necessário. Elas vão para os piquetes
individuais com acesso a água à vontade, ração
na medida adequada, feno e pastagem. Recebem em torno
de quatro litros de leite por dia, até serem desmamadas
entre 45 a 60 dias de vida, quando consumem um quilo de ração
por dia, durante três dias consecutivos, explica.
Lá, elas permanecem nos piquetes por aproximadamente
três meses, até que vão para lotes coletivos
onde além de ter acesso direto aos piquetes de pastagem,
recebem suplementação com ração,
feno, silagem e sal mineral. As terneiras criadas ao ar livre
tornam-se rústicas, já que são acostumadas
as intempéries e a pastagem, não tendo problemas
de adaptação nas propriedades. Em sistemas
confinados, os animais ficam mais suscetíveis a doenças
e menos resistentes ao manejo a base de pasto, frisa.
O sistema de criação já vem sendo desenvolvido
em Guarujá do Sul há quatro anos, nas propriedades
de forma individual. Além de conduzir melhor a criação,
ele abriu novas possibilidades para os produtores, uma vez
que a venda de novilhas se constitui com uma ótima
fonte de renda. Existem ainda produtores que tem novilhas
que pariram e produziram na primeira cria 24 litros de leite
por dia.
A capacitação do produtor
Como resultado, o centro conseguiu elevar a pecuária
leiteira e servir de exemplo às demais famílias
situadas no município, promovendo assim o sucesso da
criação. Caso como o do produtor Vilson Tizotti.
Ele foi um dos que há 11 meses ingressou no projeto.
Em sua propriedade hoje existem 50 animais, sendo 18 em lactação.
No começo, comprei um pouco mais de novilhas
e de lá pra cá a gente foi se ajeitando
e descartando vacas que não eram mais produtivas,
lembra.
Hoje, ele consegue alcançar índices de muitos
outros produtores, o que pelo menos era bem diferente quando
atingia apenas dois mil litros. O fator determinante, segundo
o produtor, para esses números foram com certeza mudanças
no manejo. Mudamos o modo de criá-las. Antes
tudo era a Deus dará, ri o produtor. Se
tinha ração, tinha. Se tinha feno, tinha. Elas
não eram tratadas como hoje. Agora, estamos no caminho
certo, argumenta.
Nos seus 17 hectares, o produtor tem pastagem perene piqueteada,
com animais jersolando (meio sangue holandês com Jersey).
Houve também grandes melhorias na propriedade, graças
a um curso que o produtor começou a fazer. Na propriedade
dos Tizottis está tudo organizado e acompanhado de
perto, com uma tabela que está inserida todos os dados
de cada animal.
Juntos, os produtores passam por uma capacitação
que enfatiza a importância dos cuidados com a vaca seca,
cuidados no pré-parto, cuidados no recém nascido,
importância do colostro e os cuidados com o umbigo.
As terneiras só vão para o centro com aproximadamente
15 dias. Além disso, eles se dedicam à criação
exclusiva das novilhas, deixando o trabalho do cuidado com
as terneiras com o pessoal treinado do Centro. O desempenho
das novilhas é excelente, faz-se o que é tecnicamente
recomendado, pois tem uma pessoa específica para isso,
além de acompanhamento técnico, veterinário
e agronômico, explica o engenheiro.
Atualmente, no centro tem 31 animais de oito produtores, mas
ele tem capacidade para 80 animais. O custo é
mínimo para os produtores. Na propriedade, cada novilha
custa em torno de R$ 1.425,00. Porém, elas saem do
centro de criação com 15 a 16 meses com prenhez
confirmada, retornando ao dono ou podendo ser vendida pelo
mesmo. Sendo que a novilha parirá com menos de 24 meses,
já ganha-se uma lactação, pois a média
de idade ao primeiro parto é de 36 meses. Além
de poder colocar mais vacas em lactação nas
propriedades, já que há disponibilidade de lugar
das novilhas, sem contar a liberação de mão
de obra.
Abrindo
novos caminhos
Outro produtor que faz parte do projeto é o Sr. Carlos
Possatto. Atualmente, na sua propriedade são 12 novilhas
e três lá no centro. Hoje, ele recorda como estava
acostumado a fazer a lida da sua criação. Elas
eram criadas amarradas, debaixo de um galpão e por
isso aqui tinham altos índices de morte, por causa
das doenças, relembra Possatto, que além
de produtor é também presidente da associação
do Centro. Em muitos casos, não recebiam ração
ou feno, pois não eram vistas como futuras vacas que
garantiriam a renda da propriedade, acrescenta o engenheiro.
Além disso, na região era muito difícil
encontrar terneiras para comprar. Hoje, esse negócio
tornou-se lucro. A venda das novilhas passou as ser fonte
de renda extra, aliada a venda do leite, enfatiza Possatto.
Totalizam hoje 22 propriedades que estão participando
do projeto. O leite tem sido rentável, resultado de
boa qualidade e de melhoramento genético, rotação
de piquete e melhoramento no manejo. Com os cuidados logo
após o nascimento, as vacas produzem mais do que as
mães, levando em conta os principais pilares da criação
leiteira. Os produtores também descobriram que os primeiros
meses são fundamentais para o futuro das vacas e que
animais mais rústicos são mais saudáveis
e adaptáveis ao ambiente que vive. Muitos produtores
tem medo de inovar e a gente inovou aqui, conta o produtor
Carlos Possato.
Além deste empurrão aos pequenos produtores,
para incentivá-los ainda mais anualmente a associação
promove um campeonato da Melhor Novilha. Foi
uma forma que encontramos para estimular ainda mais o produtor,
acentua o engenheiro.
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