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ALGODÃO - A fibra orgânica do pequeno produtor
rev 148 - junho 2010

“PLANTAR EM NÍVEL NÃO É BARREIRAR AS AGUÁS, MAS FAZER COM QUE A DISTRIBUIÇÃO DAS LINHAS DE PLANTIO SIRVAM DE REDUTOR DA VELOCIDADE DE DECIDAS DAS ÁGUAS. DIZER QUE ESTÁ EM NÍVEL É DIZER QUE A COTA EM QUE SE ENCONTRA A PRIMEIRA PLANTA DA LINHA DE PLANTIO É A MESMA COTA DA LINHA DA ÚLTIMA PLANTA DA LINHA DE PLANTIO.”

O MANEJO DO BICUDO PODE SER FEITO COM APLICAÇÃO DE CAOLIM, UM PÓ DE ROCHA ACEITO PARA O USO EM LAVOURAS ORGÂNICAS E QUE POSSUI UMA AÇÃO DE REPELÊNCIA AO INSETO.

Mesmo com toda informação necessária passada nos dias de campo desenvolvidos pela Embrapa Algodão, em Campinas (PB), os produtores recebiam também um passo a passo bem prático para fazer o acompanhamento da lavoura e assim poder seguir as indicações apropriadas para cada estágio da lavoura.

Pré-plantio

O trabalho tinha por início com os tratos para o pré-plantio. Com uma adubação geral no solo, à base de esterco, em toda a área a ser estabelecida as culturas. “Essa adubação é feita com esterco curtido ou com biofertilizante”, detalha o pesquisador Fábio Aquino de Albuquerque, especialista em sistemas de produção de algodão da Embrapa Algodão. “Nos dois casos ela é feita em toda a área independente da cultura. No entanto, o biofertilizante também é aplicado em datas específicas, por exemplo, na floração e quando as plantas sofrem algum déficit hídrico”.

Como o estabelecimento da lavoura tem de ser em nível, é ideal que o agricultor marque as curvas de nível para fazer plantio. “O plantio em nível se refere ao fato do plantio não ser realizado no sentido de corrimento das águas. Por exemplo, em um morro a água das chuvas descerá livre até a base dele, assim o plantio deve ser feito de modo a reduzir a velocidade de decida da água, permitindo uma maior infiltração e minimizando os problemas de erosão”, explica.

É altamente recomendado que se faça a incorporação de restos culturais como galhos e folhagens ao solo (enleiramento). E nesse caso, isso deve ser feito nas linhas de plantio, logo após a colheita, e também sobre as curvas de nível.

Plantio

Deve ocorrer logo nas primeiras chuvas, e o algodão é a primeira espécie a ser plantada. Com aproximadamente 20 dias após a emergência dele é que se plantam as demais espécies. Recomenda-se que o plantio seja estabelecido em faixas. Em consórcios com o mínimo de quatro culturas, com faixas de quatro a 10 linhas de cada cultura.

A inclusão do gergelim é imprescindível, nesse caso. Especialmente por estabelecê-lo na bordadura, contornando do a área de plantio. “Sendo assim, essa cultura funcionará como atrativo alimentar para a formiga, evitando ou reduzindo o ataque sobre o algodoeiro e as outras culturas do consórcio”, esclarece o pesquisador. “Outro destaque do gergelim é o preço que é bastante atrativo, é uma cultura de ciclo curto e de fácil manuseio. Além de produzir bem, pode ser comercializada em forma de semente (grão) ou pode ser beneficiada na própria comunidade agregando mais valor”.

Manejo de 0 a 30 dias

Com 15 dias de nascimento das plantas, é recomendado um raleamento delas. É o que se chama o desbaste. É indicado, nesse caso, duas plantas de algodão por cova.

Faz-se também uma adubação foliar, com biofertilizante pelo menos duas vezes. A primeira aplicação, no período do crescimento das plantas (depois do desbaste), e a segunda, na época de floração do algodoeiro. Caso ocorra estiagem, também é recomendável fazer essa adubação. “Esse biofertilizante, normalmente, é feito com esterco fresco, capim, raspas de rapadura ou melaço, água, urina de vaca e leite. Estes são os componentes básicos. Há ainda quem adicione folhas de nim, maniçoba, entre outras”, explica Albuquerque.

Diante desse período também é necessário capinar a área com enxada ou cultivador na época do desbaste, para deixar a área sempre limpa, para assim poder acompanhar melhor o desenvolvimento da lavoura e até mesmo o aparecimento do bicudo.

Manejo de 31 a 60 dias

Nessa fase começam-se as reais preocupações do produtor, em especial com o aparecimento do bicudo. Nesse sentido é importante que se faça a catação dos botões florais caídos, se possível diariamente logo no início do ataque do bicudo. Continuar colhendo duas ou três vezes por semana até a colheita.

Assim que o nível de controle atinge 10% de botões atacados e também com a catação de botões florais, o manejo do bicudo passa a ser feito com aplicação de caolim, um pó de rocha aceito para o uso em lavouras orgânicas e que possui uma ação de repelência ao inseto. Os botões catados são retirados das áreas de plantio e fornecido aos animais (vacas, caprino ou ovinos). Caso não haja animais na propriedade, esses botões devem ser enterrados, e jamais devem ser queimados.

Ainda seguem-se recomendações de adubação foliar com biofertilizante na floração ou se houver estiagem, e também a realização das capinas, na medida que as plantas espontâneas estejam atrapalhando as culturas.

Colheita

Recomenda-se não colher o algodão com umidade ou muito sujo e, ao colhê-lo, deve-se fazer de forma separada, o algodão de primeira com o de segunda. Em termos gerais essa análise, como se considerar um algodão de primeira ou de segunda, será um tanto subjetiva, e portanto o produtor deverá perceber os capulhos que se apresentarem mais vistosos e cheios. “Além desse aspecto visual, tem-se também a questão dos capulhos colhidos da parte mediana e inferior da planta, que são os capulhos maiores e mais bem formados. Ficando, então, os capulhos da parte superior como de segunda, por serem menores”, acrescenta Albuquerque.

O produtor deverá ir acondicionando as plumas em sacos de algodão, bem como na hora de armazená-las. O local ideal para deixar a produção deve ser bem arejado e sem o contato com chão e paredes.

A codificação dos sacos de armazenamento são necessárias para indicar dados sobre data de colheita, área de colheita, nome do agricultor responsável, qualidade da fibra, além de também identificar se é de primeira ou segunda o tipo do algodão.

Pós-colheita

Por fim, a área de lavoura é utilizada para pastejo animal, com a incorporação dos restos culturais da própria lavoura, ou mesmo a incorporação de restos culturais de fora da área.
É recomendada a eliminação dos pés de algodão antigos, depois da colheita, inclusive os de algodão mocó próximos às áreas de plantio.


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