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TRIGO - Semeando bem para colher bem também
rev 147 - maio 2010

A concentração do plantio de trigo no Estado do Paraná vai de 21 de março a 10 de maio, no entanto há regiões em que a semeadura do cereal pode ser indicada até o dia 10 de julho, de acordo com a região e as cultivares dispostas para a semeadura. Nesse sentido a atenção do triticultor paranaense deve ser redobrada para não perder a época adequada de se instalar a lavoura e, principalmente, ter a disposição das sementes das variedades mais indicadas à região em que está produzindo.

Falar em trigo no País é falar do Estado do Paraná, o maior produtor do cereal já desde a década de 1970. A área cultivada na safra 2009/2010 chegou a quase 1,3 milhões de hectares (ha), com uma estimativa de produção de mais 2,54 milhões de toneladas, ou um pouco mais de 50,5% da produção nacional. Atualmente, em função do comportamento pessimista do mercado e do preço do grão, ainda não há estimativa para a área a ser cultivada no Brasil para a safra 2010/2011. Os indícios agora apontam uma redução significativa da área de 2,4 milhões de hectares (ha), semeada para a safra 2009/2010, segundo o 8º levantamento da produção de grãos do País, divulgado em maio deste ano pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Vivendo entre altos e baixos, a produção paranaense mostrou-se adaptada às condições de clima e solo da Região Sul, a qual impera a cultura de sequeiro. “De maneira geral, o trigo deve ser semeado em condições de boa umidade, principalmente, em casos de semeadura direta”, aconselha Luiz Alberto Cogrossi Campos, pesquisador e coordenador técnico de trigo do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Londrina. “O agricultor deve evitar a semeadura com pouca umidade ou no ‘pó’ como chamado costumeiramente. Também deve procurar semear dentro do zoneamento agrícola da região dele, evitar semeaduras com uma única cultivar de suscetibilidade à mesma doença, procurar, na medida do possível, escalonar a época de semeadura para cultivares de mesmo ciclo, ou semear na mesma época cultivares de ciclos distintos”, acrescenta.

Em termos gerais, segundo dados do zoneamento agrícola para a cultura de trigo no Paraná, divulgado por meio da Portaria 79, de 30 de março de 2010, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Triticum aestivum L. é sensível às geadas na fase de espigamento, quando temperaturas abaixo de -2°C podem provocar danos à cultura, ao contrário da fase vegetativa, quando as plantas resistem até -8°C. Deficiência hídrica na fase de espigamento e formação dos grãos e excesso de chuvas na colheita também são fatores de risco importantes.

As regiões produtoras do cereal paranaense se destacam em volume e em qualidade. Sobre o quesito quantitativo, o município de Tibagi, que fica a pouco mais de 200 quilômetros da capital, Curitiba, apresenta uma média histórica de maior produtividade, em função das características de clima predominante na região onde ele está localizado. Já em termos qualitativos, em geral, são as regiões norte e oeste do Estado que apresentam condições adequadas para a produção tritícola de melhor qualidade industrial. “Essas regiões são marcadas pelas características de temperaturas mais altas na fase de maturação dos grãos, proporcionando uma melhor formação de glúten mais forte”, avalia Campos.

A cultivar certa

São inúmeras as opções de variedades ao produtor paranaense, e com adaptação aos 392 municípios produtores do Estado. Aos que ainda planejam a semeadura para esta safra que já se iniciou, o conselho inicial é que se faça a escolha pela cultivar adequada à região aonde irá se estabelecer a lavoura. É importante que se conheça as características de resistência ou de tolerância a doenças das variedades para o melhor desenvolvimento da cultura. “Por exemplo, se a região é quente, deve-se dar preferência à variedade mais tolerante ao calor; se a região predomina a doença brusone, com maior intensidade, deve-se evitar semear variedades suscetíveis; se vai colher em períodos de maior frequência de precipitação, deve-se evitar cultivares sensíveis à germinação pré-colheita; e um item que não deve ser esquecido, é em relação à qualidade industrial, ou seja, o agricultor deve ter em mente para quê e quem se destina o trigo que ele vai cultivar”, destaca Campos.

Uma condição de boa umidade na hora do plantio é a garantia para uma boa emergência das plantas, pois quando o trigo estiver bem estabelecido nessa condição, ele poderá ficar maior tempo sem água, em relação ao milho, segundo o pesquisador do Iapar. Na porção norte do Paraná, onde as chuvas são mais escassas durante esse primeiro ciclo da lavoura, e com probabilidade de estiagens, faz-se necessário uma boa adubação nitrogenada na base. “É interessante fazer isso, tendo em vista que, após a emergência, dependendo do ciclo da cultivar, inicia-se aos 15 a 28 dias a formação da espiga (duplo anel), e o nitrogênio tem função importantíssima nesse momento. Se não houver umidade ou chuvas neste período, a adubação em cobertura fica prejudicada e ao meu ver não deve ser efetuada, pois o produtor estará jogando dinheiro fora, uma vez que o nitrogênio se perderá por volatilização”, explica Campos.

Sementes tratadas

Na opinião do pesquisador do Iapar, o tratamento de sementes em relação ao controle inicial de doenças é paliativo, podendo acabar o efeito do produto quando a planta estiver já estabelecida, e aí, exposta ao ataque dos fungos que se encontram no solo. Se a semente for aquelas de bolsa branca, caracterizadas por serem sem marca, e portanto, de origem desconhecida, é justificável o tratamento. Se a semente for de produtor idôneo ou de cooperativas, o tratamento se faz necessário quando há materiais acusados de terem pouca infecção.

O tratamento com inseticidas para o controle de pragas como o percevejo barriga verde (Dichelops sp.) seria quase que obrigatório, em casos de constatação de sua presença. “Se não houve monitoramento durante a cultura anterior (milho ou soja), seria conveniente, antes de semear o trigo, verificar na lavoura a presença deste inseto. Uma maneira prática seria pela parte da tarde, colocar grãos de soja umedecidos por 20 minutos em água com um pouco de sal em um recipiente (prato), em alguns pontos na lavoura, e identificar esses pontos marcando-os com uma estaca ou algo que possa facilitar a sua localização. Na parte da manhã do dia seguinte, verificar nos pontos marcados a presença ou não dos percevejos. Caso existam mais de um por ponto, justifica-se o tratamento preventivo com produtos indicados”, alerta Campos.

Cuidado em todo o ciclo

Para se ter uma boa produtividade, a lavoura de trigo tem de se desenvolver livre de pragas e doenças durante todo seu ciclo. De acordo com Campos, a proteção das folhas é fundamental, principalmente da folha bandeira, que é responsável por 75% da translocação (ou simplesmente, o transporte) de nutrientes ao grão. “Vale ressaltar novamente que a escolha da cultivar de melhor resistência à maioria das doenças pode proporcionar uma boa produtividade, com menor custo de produção”, frisa o pesquisador.

Nesse sentido, o produtor terá de estar bem atento em todo o ciclo, para não deixar que as pragas e doenças tomem conta da plantação. As condições ambientais ou mesmo climáticas, como por exemplo, um maior índice pluviométrico, podem influenciar nesse manejo fitossanitário, o que pode acarretar numa maior ou menor intensidade de perdas.

Atualmente há no mercado produtos capazes de controlar a maioria das doenças da cultura de trigo. O desafio, nesse caso, é quanto ao controle das doenças fúngicas brusone e giberela, que se caracterizam por um controle mais difícil, uma vez que elas ocorrem no período de espigamento e floração da planta. “O trigo, por natureza, não tem sincronismo de todas as espigas saírem ao mesmo tempo, e as aplicações semanais são inviáveis economicamente”, justifica Campos.

Ciclo e manejo da lavoura

1- Plântula. Germinação da semente à emergência da plantinha na superfície (cinco a sete dias). A partir emergências dá-se a fase de plântula, o aparecimento das três primeiras folhas verdadeiras (12 a 16 dias).

2- Perfilhamento. Abrem-se as folhas, surgem os perfilhos (sete a oito unidades), a fase dura 15 a 17 dias. Logo no início dessa fase deve ser feito o controle de pragas do solo e insetos picadores e sugadores.

3- Alongamento (Elongação). Surge o primeiro nó do colmo. A planta cresce, aparece a folha bandeira (última da planta). Essa fase dura 15 a 18 dias. No início dessa fase o produtor deve estabelecer o controle de pulgões, oídio e ferrugens.

4- Emborrachamento. Dá-se logo final do alongamento, e nessa fase é necessário o controle de ferrugens e manchas foliares.

5- Espigamento. Emergência completa da espiga, floração, frutificação e início de enchimento dos grãos. Dura 12 a 16 dias. Com o início da floração, faz-se o controle de ferrugens, manchas foliares, giberela, brusone e lagartas.

6- Maturação. Término de enchimento dos grãos, maturação do grão, folhas e espiga secam. Fase dura 30 a 40 dias.

Giberela

É causada, principalmente, pelo fungo Gibberella zeae (forma assexuada Fusarium graminearum), e é caracterizada por ser uma doença de difícil controle. A ocorrência dela é altamente influenciada pelo ambiente. A doença ataca a planta de trigo especialmente em regiões em que, principalmente a partir do início da floração, ocorrem chuvas frequentes e contínuas. As condições climáticas requeridas à infecção são temperatura de variável de 20°C a 25°C e duração do molhamento foliar de, no mínimo, 48 horas consecutivas. A aplicação de fungicidas deve ser realizada a partir do início da floração. O tratamento com fungicidas apresenta menor eficiência de controle da giberela do que para doenças foliares. Caso as condições climáticas impeçam a realização das aplicações de fungicidas no período indicado, não haverá possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer clima favorável à infecção, não se justifica o tratamento. Como ferramenta auxiliar para tomada de decisão do momento de controle de giberela, acesse o aplicativo SISALERT, disponível no sítio da Embrapa Trigo, www.cnpt.embrapa.br.

Brusone

Causada pelo fungo Pyricularia grisea, ela também se caracterizada pelo difícil controle e por ser altamente influenciada pelo ambiente. A doença ataca a planta de trigo especialmente em regiões em que, a partir do início do emborrachamento, ocorrem chuvas frequentes e contínuas. A aplicação de fungicidas deve ser realizada a partir do final do emborrachamento. O tratamento com fungicidas apresenta menor eficiência de controle da brusone do que para doenças foliares. Caso as condições climáticas impeçam a realização das aplicações de fungicidas no período indicado, não haverá possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer clima favorável à infecção, não se justifica o tratamento.

Fonte: IBGE – também há o gráfico da produção de trigo (Conab)
A ÁREA CULTIVADA NO ESTADO DO PARANÁ, NA SAFRA 2009/2010, CHEGOU A QUASE 1,3 MILHÕES DE HECTARES (HA), COM UMA ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO DE MAIS 2,54 MILHÕES DE TONELADAS, OU UM POUCO MAIS DE 50,5% DA PRODUÇÃO NACIONAL.


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