Falar em trigo no País é falar do Estado do
Paraná, o maior produtor do cereal já desde
a década de 1970. A área cultivada na safra
2009/2010 chegou a quase 1,3 milhões de hectares (ha),
com uma estimativa de produção de mais 2,54
milhões de toneladas, ou um pouco mais de 50,5% da
produção nacional. Atualmente, em função
do comportamento pessimista do mercado e do preço do
grão, ainda não há estimativa para a
área a ser cultivada no Brasil para a safra 2010/2011.
Os indícios agora apontam uma redução
significativa da área de 2,4 milhões de hectares
(ha), semeada para a safra 2009/2010, segundo o 8º levantamento
da produção de grãos do País,
divulgado em maio deste ano pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab).
Vivendo entre altos e baixos, a produção paranaense
mostrou-se adaptada às condições de clima
e solo da Região Sul, a qual impera a cultura de sequeiro.
De maneira geral, o trigo deve ser semeado em condições
de boa umidade, principalmente, em casos de semeadura direta,
aconselha Luiz Alberto Cogrossi Campos, pesquisador e coordenador
técnico de trigo do Instituto Agronômico do Paraná
(Iapar), em Londrina. O agricultor deve evitar a semeadura
com pouca umidade ou no pó como chamado
costumeiramente. Também deve procurar semear dentro
do zoneamento agrícola da região dele, evitar
semeaduras com uma única cultivar de suscetibilidade
à mesma doença, procurar, na medida do possível,
escalonar a época de semeadura para cultivares de mesmo
ciclo, ou semear na mesma época cultivares de ciclos
distintos, acrescenta.
Em termos gerais, segundo dados do zoneamento agrícola
para a cultura de trigo no Paraná, divulgado por meio
da Portaria 79, de 30 de março de 2010, pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o
Triticum aestivum L. é sensível às geadas
na fase de espigamento, quando temperaturas abaixo de -2°C
podem provocar danos à cultura, ao contrário
da fase vegetativa, quando as plantas resistem até
-8°C. Deficiência hídrica na fase de espigamento
e formação dos grãos e excesso de chuvas
na colheita também são fatores de risco importantes.
As regiões produtoras do cereal paranaense se destacam
em volume e em qualidade. Sobre o quesito quantitativo, o
município de Tibagi, que fica a pouco mais de 200 quilômetros
da capital, Curitiba, apresenta uma média histórica
de maior produtividade, em função das características
de clima predominante na região onde ele está
localizado. Já em termos qualitativos, em geral, são
as regiões norte e oeste do Estado que apresentam condições
adequadas para a produção tritícola de
melhor qualidade industrial. Essas regiões são
marcadas pelas características de temperaturas mais
altas na fase de maturação dos grãos,
proporcionando uma melhor formação de glúten
mais forte, avalia Campos.
A cultivar certa
São inúmeras as opções de variedades
ao produtor paranaense, e com adaptação aos
392 municípios produtores do Estado. Aos que ainda
planejam a semeadura para esta safra que já se iniciou,
o conselho inicial é que se faça a escolha pela
cultivar adequada à região aonde irá
se estabelecer a lavoura. É importante que se conheça
as características de resistência ou de tolerância
a doenças das variedades para o melhor desenvolvimento
da cultura. Por exemplo, se a região é
quente, deve-se dar preferência à variedade mais
tolerante ao calor; se a região predomina a doença
brusone, com maior intensidade, deve-se evitar semear variedades
suscetíveis; se vai colher em períodos de maior
frequência de precipitação, deve-se evitar
cultivares sensíveis à germinação
pré-colheita; e um item que não deve ser esquecido,
é em relação à qualidade industrial,
ou seja, o agricultor deve ter em mente para quê e quem
se destina o trigo que ele vai cultivar, destaca Campos.
Uma condição de boa umidade na hora do plantio
é a garantia para uma boa emergência das plantas,
pois quando o trigo estiver bem estabelecido nessa condição,
ele poderá ficar maior tempo sem água, em relação
ao milho, segundo o pesquisador do Iapar. Na porção
norte do Paraná, onde as chuvas são mais escassas
durante esse primeiro ciclo da lavoura, e com probabilidade
de estiagens, faz-se necessário uma boa adubação
nitrogenada na base. É interessante fazer isso,
tendo em vista que, após a emergência, dependendo
do ciclo da cultivar, inicia-se aos 15 a 28 dias a formação
da espiga (duplo anel), e o nitrogênio tem função
importantíssima nesse momento. Se não houver
umidade ou chuvas neste período, a adubação
em cobertura fica prejudicada e ao meu ver não deve
ser efetuada, pois o produtor estará jogando dinheiro
fora, uma vez que o nitrogênio se perderá por
volatilização, explica Campos.
Sementes tratadas
Na opinião do pesquisador do Iapar, o tratamento de
sementes em relação ao controle inicial de doenças
é paliativo, podendo acabar o efeito do produto quando
a planta estiver já estabelecida, e aí, exposta
ao ataque dos fungos que se encontram no solo. Se a semente
for aquelas de bolsa branca, caracterizadas por serem sem
marca, e portanto, de origem desconhecida, é justificável
o tratamento. Se a semente for de produtor idôneo ou
de cooperativas, o tratamento se faz necessário quando
há materiais acusados de terem pouca infecção.
O tratamento com inseticidas para o controle de pragas como
o percevejo barriga verde (Dichelops sp.) seria quase que
obrigatório, em casos de constatação
de sua presença. Se não houve monitoramento
durante a cultura anterior (milho ou soja), seria conveniente,
antes de semear o trigo, verificar na lavoura a presença
deste inseto. Uma maneira prática seria pela parte
da tarde, colocar grãos de soja umedecidos por 20 minutos
em água com um pouco de sal em um recipiente (prato),
em alguns pontos na lavoura, e identificar esses pontos marcando-os
com uma estaca ou algo que possa facilitar a sua localização.
Na parte da manhã do dia seguinte, verificar nos pontos
marcados a presença ou não dos percevejos. Caso
existam mais de um por ponto, justifica-se o tratamento preventivo
com produtos indicados, alerta Campos.
Cuidado em todo o ciclo
Para se ter uma boa produtividade, a lavoura de trigo tem
de se desenvolver livre de pragas e doenças durante
todo seu ciclo. De acordo com Campos, a proteção
das folhas é fundamental, principalmente da folha bandeira,
que é responsável por 75% da translocação
(ou simplesmente, o transporte) de nutrientes ao grão.
Vale ressaltar novamente que a escolha da cultivar de
melhor resistência à maioria das doenças
pode proporcionar uma boa produtividade, com menor custo de
produção, frisa o pesquisador.
Nesse sentido, o produtor terá de estar bem atento
em todo o ciclo, para não deixar que as pragas e doenças
tomem conta da plantação. As condições
ambientais ou mesmo climáticas, como por exemplo, um
maior índice pluviométrico, podem influenciar
nesse manejo fitossanitário, o que pode acarretar numa
maior ou menor intensidade de perdas.
Atualmente há no mercado produtos capazes de controlar
a maioria das doenças da cultura de trigo. O desafio,
nesse caso, é quanto ao controle das doenças
fúngicas brusone e giberela, que se caracterizam por
um controle mais difícil, uma vez que elas ocorrem
no período de espigamento e floração
da planta. O trigo, por natureza, não tem sincronismo
de todas as espigas saírem ao mesmo tempo, e as aplicações
semanais são inviáveis economicamente,
justifica Campos.
Ciclo e manejo da lavoura
1-
Plântula. Germinação da semente à
emergência da plantinha na superfície (cinco
a sete dias). A partir emergências dá-se a fase
de plântula, o aparecimento das três primeiras
folhas verdadeiras (12 a 16 dias).
2- Perfilhamento. Abrem-se as folhas, surgem os perfilhos
(sete a oito unidades), a fase dura 15 a 17 dias. Logo no
início dessa fase deve ser feito o controle de pragas
do solo e insetos picadores e sugadores.
3- Alongamento (Elongação). Surge o primeiro
nó do colmo. A planta cresce, aparece a folha bandeira
(última da planta). Essa fase dura 15 a 18 dias. No
início dessa fase o produtor deve estabelecer o controle
de pulgões, oídio e ferrugens.
4- Emborrachamento. Dá-se logo final do alongamento,
e nessa fase é necessário o controle de ferrugens
e manchas foliares.
5- Espigamento. Emergência completa da espiga, floração,
frutificação e início de enchimento dos
grãos. Dura 12 a 16 dias. Com o início da floração,
faz-se o controle de ferrugens, manchas foliares, giberela,
brusone e lagartas.
6- Maturação. Término de enchimento dos
grãos, maturação do grão, folhas
e espiga secam. Fase dura 30 a 40 dias.
Giberela
É causada, principalmente, pelo fungo Gibberella zeae
(forma assexuada Fusarium graminearum), e é caracterizada
por ser uma doença de difícil controle. A ocorrência
dela é altamente influenciada pelo ambiente. A doença
ataca a planta de trigo especialmente em regiões em
que, principalmente a partir do início da floração,
ocorrem chuvas frequentes e contínuas. As condições
climáticas requeridas à infecção
são temperatura de variável de 20°C a 25°C
e duração do molhamento foliar de, no mínimo,
48 horas consecutivas. A aplicação de fungicidas
deve ser realizada a partir do início da floração.
O tratamento com fungicidas apresenta menor eficiência
de controle da giberela do que para doenças foliares.
Caso as condições climáticas impeçam
a realização das aplicações de
fungicidas no período indicado, não haverá
possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer
clima favorável à infecção, não
se justifica o tratamento. Como ferramenta auxiliar para tomada
de decisão do momento de controle de giberela, acesse
o aplicativo SISALERT, disponível no sítio da
Embrapa Trigo, www.cnpt.embrapa.br.
Brusone
Causada pelo fungo Pyricularia grisea, ela também se
caracterizada pelo difícil controle e por ser altamente
influenciada pelo ambiente. A doença ataca a planta
de trigo especialmente em regiões em que, a partir
do início do emborrachamento, ocorrem chuvas frequentes
e contínuas. A aplicação de fungicidas
deve ser realizada a partir do final do emborrachamento. O
tratamento com fungicidas apresenta menor eficiência
de controle da brusone do que para doenças foliares.
Caso as condições climáticas impeçam
a realização das aplicações de
fungicidas no período indicado, não haverá
possibilidade de controle, por outro lado, se não ocorrer
clima favorável à infecção, não
se justifica o tratamento.
Fonte: IBGE também há o gráfico
da produção de trigo (Conab)
A ÁREA CULTIVADA NO ESTADO DO PARANÁ, NA SAFRA
2009/2010, CHEGOU A QUASE 1,3 MILHÕES DE HECTARES (HA),
COM UMA ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO DE MAIS 2,54
MILHÕES DE TONELADAS, OU UM POUCO MAIS DE 50,5% DA
PRODUÇÃO NACIONAL.
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