Sessenta
anos separam a chegada de um grupo de imigrantes japoneses,
sem dinheiro, sem sorte, mas com muita esperança e
vontade de trabalhar, e a consolidação de uma
das maiores empresas brasileiras que atuam no agronegócio.
Matsu,
em japonês, significa pinheiro. Mais precisamente, uma
espécie de pinheiro muito comum por lá. Diz
um ditado antigo da terra do sol nascente que aquele
que conseguir superar as agulhadas das folhas do matsu e escalar
seus galhos, alcançará o nirvana. Assim,
o nome e o símbolo desta família, que começou
a criar seus ramos no Brasil a partir dos anos 30, não
poderia ser mais apropriado.
|
|
Na
verdade, a família Matsuda brasileira nasceu de um
elo, forjado pelo destino, que uniu três diferentes
famílias japonesas: Suzuki, Sammi e a própria
Matsuda. As histórias de cada uma delas seguiu seu
caminho até aqui, do outro lado do planeta, e coube
a Schichiro Matsuda, que chegou ao Brasil com apenas 14 anos,
cheio de medo e curiosidade, a tarefa de uni-las e capitaneá-las
em torno de um projeto maior. O começo foi difícil
nas lavouras paulistas. A inevitável pobreza, as dificuldades
para se adaptar a uma nova cultura, ao idioma completamente
diferente, e o tratamento pouco amistoso dos empregadores
e comerciantes da época foram ingredientes que deram
contornos épicos à trajetória da família.
A experiência adquirida nas lavouras de café,
logo em sua chegada ao Brasil, levaram Schichiro, ou Seu
Zé, como preferiu ser chamado por aqui, a optar
pela agricultura. A cultura escolhida foi o algodão.
Embora aos poucos, o negócio estivesse prosperando,
um susto o fez desistir da roça, vender tudo e comprar
um bar na cidade. Começava ali uma nova empreitada
que transformaria a vida de todos.
As atividades comerciais da família começaram
em 1948, com o bar ABC, depois passando pelo armazém
Zé Matsuda. Foi na década de 60,
porém, que a empresa cresceu. No ramo cerealista, ela
se expandiu, apoiada no sucesso do amendoim, tanto para a
produção de óleo como para a indústria
alimentícia. Até que a grande geada de 1975
devastou as lavouras do Paraná e oeste de São
Paulo. Nesse momento, uma decisão de Jorge, filho de
seu Zé, que começava a tomar a frente dos negócios,
mudou radicalmente a trajetória da Matsuda. Era hora
de apostar em um novo ramo de atividade, que abrisse novos
horizontes para a empresa e, ao mesmo tempo, evitasse a iminente
decadência dos negócios, acompanhando a crise
que havia se instalado em dois importantes estados produtores
do país.
A idéia, aparentemente ousada, assustou aos mais velhos.
Produzir sementes para pastagem parecia algo desconhecido
e diferente demais das outras atividades da empresa para despertar
confiança. Jorge, porém, atento a tudo que via
e ouvia a respeito do futuro do agronegócio, decidiu
apostar suas fichas numa atividade que começava a ganhar
corpo no país: a criação de gado. Coube
a ele provar sua tese para ganhar definitivamente o aval para
a nova empreitada. Não teve medo. Apostou tudo que
tinha. Acertou na mosca. Com a ajuda de seu primo Arilton,
filho de Skio Sammi, que era sócio de seu pai, arregaçou
as mangas e transformou a Matsuda na maior empresa de sementes
para pastagem do país, líder de mercado e com
fôlego suficiente para alçar novos vôos.
Um deles foi a sociedade firmada com o empresário Leonardo
Cerise, que resultou na criação da Matsuda Minas,
ampliando significativamente a atuação da empresa
e abrindo as portas para a região que, no futuro a
empresa também iria conquistar: o nordeste brasileiro.
Outros passos significativo foram o investimento em pesquisas
e o desenvolvimento de novas variedades de forrageiras cada
vez mais produtivas e nutritivas, a entrada no segmento de
suplementação mineral, a construção
de novas fábricas no nordeste, o desenvolvimento de
linhas pet e a recente entrada no setor de saúde animal.
Festa
à altura
A vitalidade desta nova sexagenária fica estampada
na própria disposição de seus diretores.
Nas festividades que marcaram a comemoração
dos sessenta anos da Matsuda, realizada no final de novembro
em Álvares Machado, sede da empresa, várias
novidades foram apresentadas, entre elas, o novo capim elefante
Carajás, e o anúncio de novos investimentos
na produção. Isso tudo, num momento em que o
mundo inteiro sofre os efeitos de uma séria crise econômica,
que já levou vários países a recessão
e num cenário de demissões, corte de gastos
e quebradeiras.
Sabe o que faço quando chego em casa, ligo a
tevê e estão dando notícias ruins? Eu
desligo, vou ouvir música ou ler um livro. O pior parceiro
de um empresário é o medo, ensina Jorge,
com a simplicidade que só a sabedoria oriental poderia
conceber. Ele aponta a soma da coragem diante das dificuldades,
a capacidade de acreditar mesmo quando todos os indicadores
são desfavoráveis, e o trabalho duro, como o
único caminho certo para a superação
e o sucesso.
E não se deve duvidar do que este visionário
diz. Basta olhar para a trajetória da empresa, as inúmeras
crises e reveses enfrentados, e as vitórias conquistadas
às custas de muito esforço e persistência.
Parece que as agulhadas das folhas e os galhos do matsu, pelo
menos para o clã Matsuda, já começaram
a ficar para trás.
|