Edições Anteriores
SUCROENERGIA - MOVIDA À CANA
rev 130 - dezembro 2008

Usinas investem em produção de energia elétrica a partir do bagaço da cana. A atividade deve ser a segunda, em valor, superando o açúcar.
Um novo cenário começa a aparecer nas usinas de cana-de-açúcar brasileiras. Cada vez mais a energia elétrica entra como fonte de renda proveniente da queima do bagaço e da palha. “Não é energia alternativa, é uma realidade”, garante o vice-presidente executivo da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen-sp), Carlos Silvestrin. Investimentos na área estão em crescimento e a tecnologia das novas caldeiras é exigida para implantação nas usinas em busca de melhores resultados. O bagaço resultante do esmagamento da cana sempre foi usado como combustível nas caldeiras das usinas para fornecimento de energia elétrica dentro da própria empresa.

Mas as caldeiras eram de baixo rendimento, mais baratas e de pouca tecnologia. Neste processo, não se usava a palha como combustível, já que o bagaço bastava, e a matéria era usava para melhorar as condições do solo.
“A comercialização e a distribuição de energia elétrica no Brasil eram controladas exclusivamente pelo Estado. Com a regularização do sistema, no final da década de 1990, as usinas começaram a pensar na viabilidade econômica em investirem em caldeiras mais potentes e vender o excedente”, explica Marcelo Junqueira, da Clean Energy Brazil, empresa atuante no mercado sucroenergético brasileiro. Após o governo regularizar a comercialização e distribuição de energia elétrica no Brasil, autorizando empresas a venderem energia, algumas usinas já começaram a comercializar e outras estão investindo em caldeiras mais potentes para participarem do mercado.
As caldeiras antigas trabalhavam com pressão de 21 bar –medida usada para pressão - e as caldeiras mais novas estão sendo produzidas para atingirem 100 bar. O maior problema enfrentado pelas usinas é a substituição do equipamento, já que há grandes diferenças de espaço e até mesmo de funcionamento. Mas a tendência é que as usinas se esforcem para fazer a mudança.
Segundo especialistas, a cana-de-açúcar gera 1/3 de vinhaça, 1/3 de palha e 1/3 de bagaço. Ou seja, pode-se usar 2/3 para a produção de energia elétrica. A estimativa é que em 2020 a produção nacional de cana-de-açúcar atinja um bilhão de toneladas - hoje são 496 milhões de toneladas. Com esta projeção a produção de energia elétrica através das usinas deverá igualar a produção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que tem capacidade instalada de produção de 14 mil megawatts (MW).
A utilização de uma energia limpa e sustentável é claramente favorável em relação à energia nuclear que gera lixo radioativo e risco de acidentes. Mesmo assim, o governo federal deverá investir cerca de R$ 7,3 bilhões na construção da Usina Nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro. A expectativa é que a usina tenha capacidade instalada de 1.350 MW.
A utilização da palha e do bagaço na produção de eletricidade não poderia vir em melhor hora já que a colheita mecanizada aumenta ano a ano. Se antes era lei, pelo menos em São Paulo, agora é questão de lucratividade. A palha antes desperdiçada nas queimadas, agora vira energia elétrica.
Segundo Silvestrin, hoje são cerca de 50 usinas aptas a vender energia elétrica, sendo 40 só em São Paulo. Este número mostra a possibilidade de crescimento, já que temos cerca de 400 usinas no País. Além destas, outras 86 estão em fase de construção e devem ser finalizadas até 2012, isso se a crise financeira não atingir as usinas em construção.
A tendência para os próximos anos é que cresça a demanda por instalações de caldeiras eficientes nas usinas brasileiras, já que a energia elétrica deverá ser o segundo produto do das usinas em valor -o etanol seria o primeiro e o açúcar ficaria em terceiro. “Um usineiro que me apresentou o balanço em 2008 mostrou que do total das receitas, 74% foi de etanol, 14% do açúcar e 12% de energia elétrica. E no ano seguinte a energia já deverá ultrapassar o açúcar”, conta Silvestrin.
Apesar da certeza de crescimento na área, especialistas não arriscam palpites sobre quantidade de usinas preparadas para a comercialização. “Com certeza essa área irá crescer, mas não há a menor condição de passar uma projeção devido à crise no setor financeiro”, explica executivo da Cogen-sp.
Os investimentos das usinas serão apenas na aquisição de novas caldeiras, já que os gastos com a infra-estrutura da transmissão de energia elétrica ficam por conta do governo. As usinas serão responsáveis apenas pela infra-estrutura de dentro das propriedades, do portão para fora, é da concessionária que venceu o leilão realizado pelo governo.
Entre tantos pontos positivos para a produção de energia elétrica nas usinas (produção através de subproduto –bagaço – uso da palha ao invés de queimá-la nos canaviais, representar o segundo produto em valor, não precisar preparar a infra-estrutura da rede elétrica para distribuição) o período da safra também ajuda. A melhor época de geração de energia em hidrelétricas é no período das chuvas, entre novembro e março. Já a safra de cana-de-açúcar começa a ser colhida justamente na época em que diminui o fluxo nos rios. Ou seja, uma fonte de energia encobre a outra.
Para Marcelo Junqueira, da Clean Energy Brazil, o histórico do preço da energia prevê retorno ao investimento. “Os preços da energia elétrica sempre foram bons, definitivamente é uma boa oportunidade para as usinas”, avalia.


Edicões de 2006
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES