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RASTREABILIDADE - BANANA "ALPHA-NUMÉRICA"
rev 129 - novembro 2008

De olho no diferencial de mercado, produtores de bananas investem no sistema de rastreamento. Com isto, eles geram mais lucro, mantêm-se no mercado e garantem uma alimentação mais saudável aos consumidores O conceito de rastreabilidade tem adquirido importância significativa nos últimos anos, nos mercados internacionais de produtos agrícolas. O Brasil, como sendo destaque nesse cenário, tanto quanto produtor e exportador desses produtos, já tem iniciado a implementação do sistema de rastreabilidade em várias cadeias produtivas, principalmente na pecuária. A rastreabilidade é um mecanismo que permite identificar a origem do produto desde o campo até o consumidor, podendo ter sido, ou não, transformado ou processado. É um conjunto de medidas que possibilitam controlar e monitorar todas as movimentações nas unidades, de entrada e saída, objetivando a produção de qualidade e com origem garantida.

Com isto, os produtos rastreados possuem um diferencial no mercado, entre eles, tornam-se mais competitivos, mais fácil à detecção de problemas ocorridos durante o processo de produção, bem como a adoção de medidas preventivas.
Hoje, além da carne bovina e da soja, as frutas também ganharam a atenção especial neste segmento. E muitos produtores começaram a olhar para este diferencial. Foi o que aconteceu com a família Magário. Nas duas propriedades – que somam mais de 320 hectares – sendo uma localizada em Sete Barras (SP) e a outra em Janaúba (MG), o principal cultivo é a banana, das variedades: Nanicão, Terra, Figo, Ouro, Nanica e Prata.
Produtores há mais de 50 anos, eles seguem à risca – desde 2004 – as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), do manejo sustentado implantado por meio da Produção Integrada de Frutas (PIF) e ainda concentra uma padronizada e exigente logística. Tudo para atender a um mercado diferenciado. “Todo o controle na produção, nós já executávamos há alguns anos. Só que na época, fazíamos o caminho inverso”, explica a gerente geral da Magário Comércio de Frutas, Érica Magário.
E com a chegada do programa de rastreamento, denominado “Qualidade Desde a Origem” – do Grupo Pão de Açúcar –, a rotina das propriedades dos Magários só melhorou. Desde a preparação do solo até a entrega das frutas no Centro de Distribuição (CD) do Pão de Açúcar, o processo teve que ser remanejado. “Com isto, alcançamos o que mais desejávamos. Todos os dias, informações sobre a produção chegam até nós, pelo sistema on-line”, diz Érica Magário.
Antigamente, quando precisavam levantar alguma informação sobre algum talhão (área de produção) que por qualquer motivo não estava dentro dos padrões exigidos, era necessário seguir um longo caminho, que começava pela verificação da carga, passava pelo setor de embalagens, e ia até as áreas de plantio, um a um. O que gerava uma demanda grande de logística e mão-de-obra. “Hoje, o programa nos permitiu fazer as correções da produção com maior rapidez. E só chegar, identificar a área e o técnico vai direto verificar a causa”.
Porém, seguir as regras da rastreabilidade não é tarefa fácil. De acordo com os produtores que adotaram o sistema, há todo um método para produzir o que se pede. É quase um quebra-cabeça. “Tudo isto, para obtermos um produto com código de rastreamento, no qual o consumidor poderá conhecer toda a cadeia que envolve a fruta, legume ou verdura – do campo à mesa. Acredito que o programa deveria ser uma obrigatoriedade, pois o consumidor esta mais exigente”, menciona Érica.
Na opinião do engenheiro agrônomo Roberto Tokihiro Kobori, a rastreabilidade tem favorecido não só o consumidor – que tem o benefício de adquirir uma fruta de qualidade –;
mas o produtor, principalmente quando o assunto é obter – no caso dos Magários – bananas de altíssima qualidade, evitando perdas, garantindo lucros maiores e certeiros.

De Olho na Origem

Por meio de um software, frutas, legumes e verduras comercializados nas lojas do Grupo Pão de Açúcar são rastreados, analisados e auditorados. “Nós pretendemos garantir ao nosso consumidor um alimento seguro, para isto nós implantamos este sistema de informação que faz toda a leitura do produto na origem até as nossas lojas”, diz o diretor comercial de frutas, legumes e verduras (FLV), do Grupo Pão de Açúcar Leonardo Miyao.
Segundo ele, o sistema totalmente informatizado permite o monitoramento de defensivos agrícolas e o controle de contaminações por microorganismos, como vírus e bactérias. Na origem todos os fornecedores, de acordo com as fichas técnicas, colocam todas as informações sobre o produto. Ao receberem na Central de Distribuição do Grupo, são coletadas amostras e são verificadas e a rede de supermercado consegue ter uma performance sobre a qualidade do produto. Além de monitorar e promover um acompanhamento mais detalhado das atividades de produção, o programa contribui para melhoria dos processos de cultivo e conscientização do uso correto de aditivos junto aos fornecedores. Sendo que, as análises são realizadas por laboratórios independentes e reconhecidos, e seguem os padrões do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
De acordo com Leonardo Miyao, no programa piloto de avaliação de resíduos, iniciado em 2004, foram avaliadas mais de quatro mil amostras. Entre 2004 e 2006, das 3.887 análises realizadas, 82%  delas estavam dentro dos padrões de conformidade, 14% não possuíam registro  e 4% apresentavam resíduos acima do permitido. Para os produtos que apresentaram resíduos acima do permitido o Grupo promoveu  reuniões com fornecedores informando as irregularidades identificadas. “Muitos deles sofriam com os altos índices de rejeição, ou seja, de devolução de carga, prejuízo para o produtor que não obedecia a todos os critérios de qualidade impostos pelo Grupo. Hoje, já houve uma redução significativa, em torno de 60%”, informa.
Na opinião de Leonardo Miyao, o sistema de rastreabilidade poderá ser uma tendência. Na Europa já existe, mas não com disponibilidade das informações na Internet, apenas em sistemas internos. Dê olho nisto, o Grupo Pão de Açúcar investiu mais de três milhões de reais, incluindo o desenvolvimento e implantação do Paripassu (sistema de computador de rastreabilidade), o controle de desempenho de fornecedor (CDF), check-list (ficha técnica), análises de resíduos (química e microbiológica), auditoria de campo e performance de recebimento e capacitação dos fornecedores. Mas, a previsão é de que em 2008 sejam aplicados mais R$ 2 milhões, incluindo ainda  ações para divulgação.

Bananas Sob Padrão de Qualidade

Para atender também as outras redes de supermercados, a família Magário investiu na eficiência. Em uma das propriedades, a Fazenda São Carlos, em Sete Barras (SP), os cachos colhidos chegam ao packing house (barracão de embalagem) em um caminhão de cegonha adaptado com trilho. Trata-se de um sistema onde os cachos são pendurados por meio de uma corda – a um gancho que contém um par de roldanas – que deslizam sobre um cabo de aço. Com isso, há pouco manuseio da fruta, que é bastante suscetível a danos físicos desde o transporte até a comercialização. Elas seguem penduradas até serem descarregadas simultaneamente. Lá, os cachos são desensacados, ocorre a limpeza dos restos florais e a pré-seleção. “As bananas recebem um tratamento especial de limpeza à base de água, detergente neutro e flucolante”, explica o engenheiro agrônomo Roberto Kobori. No packing house, acontece também o despencamento, ou seja, a retirada das pencas e depois é feita a confecção do buquê. Nesta etapa, é realizada uma nova seleção. Frutas rachadas, em fase de maturação precoce, riscada ou machucadas são retiradas. Há também uma outra seleção, onde se separa as bananas do tipo 1 e 2. “Aqui, as embalagens também recebem uma atenção especial. São higienizadas com detergente neutro, desinfetante e extrato de citros com água quente. Com este processo, evitamos qualquer contaminação e garantimos a qualidade das bananas”, finaliza o engenheiro da Magário Comércio de Frutas.
Outro produtor que apostou no sistema de rastreamento foi o empresário Carlos Alberto Fava. Nas duas propriedades – Fazenda Lagoa e São Miguel Arcanjo – em Miracatu (SP), o que existe são 80 hectares em produção de banana Nanica. Há 40 anos, na prática de produção e distribuição, a empresa apostou na rastreabilidade e já está se adaptando ao programa de Produção Integrada de Frutas (PIF). Lá, todas as atenções são voltadas para o campo. Porém, o trabalho de produção rastreada envolve também um sistema ecologicamente correto (principalmente na região do Vale do Ribeira, onde há uma grande predominância ainda de Mata Atlântica) – socialmente justo, economicamente viável e que vai muito além de um programa de alimentação saudável. “O sistema de rastreabilidade tem estabelecido ganhos sociais, ambientais e econômicos para todos os produtores, que nele estão engajados”, conta o engenheiro agrônomo da Fava Agrocomercial LTDA., Evaristo de Castro. “Trabalhamos com meio eficiente da aplicação correta de defensivos, uso de equipamento de proteção ao trabalhador e utilização somente de produtos registrados, para que a fruta chegue ao mercado de acordo com as exigências do consumidor moderno. Com isto, quem não ganha?”, completa o proprietário Carlos Fava.
Na opinião dos produtores, ao contrário do que se pensa, neste programa de rastreabilidade não há intervenção no processo de produção. “E os ganhos são positivos”, conclui ele, que segue à risca o controle de qualidade, nos 10 setores de produção, das duas propriedades.
Diferente de outros produtores da região, as bananas chegam a um packing house ambulante (um trator adaptado). Lá, recebem os tratamentos necessários, incluindo a elaboração de buquê e a pré-seleção. O controle de doenças, como a Sigatoka Negra – um dos maiores inimigos da banana – e monitoramento de pragas e os tratos culturais são todos supervisionados. “Dizemos até que estamos com produção mais racional. Com isto, estamos prontos para uma exportação também”, diz Fava.
De acordo o empresário, ao aderir o programa de rastreabilidade, o produtor pode oferecer uma fruta com maior qualidade e melhorar a eficiência na distribuição, para outras redes de supermercados também. “As primeiras mudanças foram dentro dos padrões físicos”, conta. Outro ponto, que o proprietário apostou foram câmaras, que adotaram o sistema de climatização automatizado. Com o objetivo de controlar o amadurecimento, em períodos que duram de 4 a 10 dias, elas ganharam novos tamanhos e quantidades. “Fatores como temperatura e umidade relativa é acompanhada de perto, para finalizar o processo de maturação e alcançar o ponto ideal para comercialização”, conta Carlos Fava.
Da propriedade, onde são colhidas 700 cachos por dia, para o Centro de Distribuição da empresa em Jundiaí (SP), seis caminhões completam o serviço. Lá, as bananas são cadastradas e levadas as câmaras de climatização, por último recebem as etiquetas para o destino final. “Além da nossa produção, ainda agregamos pequenos produtores da região”. Para Carlos Fava, cada vez o mercado está exigente. “Acredito que nos próximos anos, a Anvisa fará exigências mais sérias. Quem estiver capacitado, fica. Quem não se adequar, não irá conseguir colocar seus produtos nas grandes redes de supermercados”. “Nós já estamos rastreados”, brinca o empresário.




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