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CAFÉ GOURMET - PERSEGUIDORES DA QUALIDADE
rev 128 - outubro 2008

Consumo de café gourmet cresce a cada ano no Brasil aumentando a sua importância no mercado de café e desenvolvendo a produção. O aumento do consumo de café no Brasil cresce ano a ano e transforma o País no segundo maior consumidor da bebida no mundo (com 17 milhões de sacas por ano), só perdendo para os EUA. Mas o que mais chama a atenção é o crescimento do consumo do café gourmet, ou seja, o café de alta qualidade que, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), os brasileiros passam a consumir 20% a mais do café de alta qualidade por ano no Brasil. A maior cafeteria do mundo, a norte-americana Starbucks, que vende cafés de alta qualidade, já percebeu a demanda brasileira por este tipo de bebida e atualmente possui 14 lojas em São Paulo e tem um programa de expansão para o Rio de Janeiro, ainda no final do ano.

Este consumo reflete no produtor já que a exigência por bons grãos é crescente. Apesar de grande parte da produção nacional ser comercializada no exterior, o que significa que esses grãos são de boa qualidade, a tendência é que cada vez mais o cafeicultor venda para o mercado interno devido ao crescimento do consumo de café de qualidade no País. A safra 2008 deverá atingir 45,85 milhões de sacas de 60 kg, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso significa 27,1% a mais que a safra anterior, quando produzimos 36 milhões de sacas. Se a safra se confirmar, a produção de 2008 é a segunda maior dos últimos 10 anos, atrás do ciclo 2002/03 quando o País atingiu as 48,48 milhões de sacas.

Minas Gerais continua dominando a produção nacional com pouco mais de 50% da área plantada no País (23,38 milhões de sacas). Na seqüência, Espírito Santo, com 10,23 milhões de sacas, e São Paulo, com 4,6 milhões de sacas, vêm em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Somando a produção de todos os estados do sudeste (38,51 milhões de sacas), a região produz aproximados 84% do total colhido no País. No quesito variedade, a arábica ainda predomina nos cafezais brasileiros com praticamente 77% da produção (35,27 milhões de sacas) e outras 10,58 milhões de sacas conilon, também conhecida como robusta.

E nesse mercado que demanda qualidade, um dos fatores que contribuem é a altitude em que a planta se desenvolve. “É comprovado que produções acima de 900 metros produzem cafés de maior qualidade. Tecnicamente, uma região muito baixa encurta o ciclo da planta devido à alta temperatura o que certamente diminui o desenvolvimento do café. Se um produtor busca qualidade, ele tem que buscar altitude”, explica o engenheiro agrônomo do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Roberto Tomazzielo.

Cidade gourmet

Pardinho, cidade de 5.500 habitantes, localizada a 210 km da capital paulista tem muito prestigio entre os cafeicultores por ser uma região de boa altitude para a cultura da planta. “Aqui temos terra acima dos 800 metros, tornando uma boa área para o plantio do café, com clima ameno e baixa umidade. Tudo isso reflete em grãos de qualidade na região”, afirma a engenheira agrônoma, Andréa Bosco. A região é repleta de pequenos produtores do grão que somados devem atingir 1 milhão de pés, segundo a engenheira.

Adilson Pauletti produz café há oito anos na cidade, desde quando resolveu retomar os trabalhos na fazenda praticamente abandonada da família. “Na época, o café estava com preço bom e eu comecei a plantar novamente. Meu pai já plantava café há um bom tempo, mas na década de 1990 já não tinha mais pés do grão. Em 2000, comecei a plantar e a buscar informação para poder ter uma boa colheita”, afirma o produtor de 40 anos. Hoje, são 17 hectares de café no Sítio Santo Antônio, que está mecanizando a plantação em busca de produtividade. “Agora eu plantei uma parte da lavoura para fazer todo o processo mecanizado, porque assim é muito mais ágil a pulverização e me traz bem mais produtividade”, explica Pauletti.

O produtor trabalha praticamente sozinho na lavoura durante o ano e contrata mão-de-obra apenas em época de colheita. Um dos pilares para ter sucesso com o cafezal é a redução de custos. “Produzo minhas próprias mudas o que já me traz uma boa economia e, além disso, conservo muito bem o solo, isso é fundamental na lavoura de café. A questão é não mexer muito no solo, porque se não você acaba tirando a matéria prima”, diz o produtor que reclamou da chuva neste ano. “O problema desta safra é a chuva que acabou deixando o café no chão antes da colheita. No ano passado, isso não aconteceu e acabei tendo uma qualidade muito boa no café que vendi”, lembra Pauletti.

Para o produtor Alcides Bosco, proprietário da Fazenda Água Santa, também localizada em Pardinho, e que trabalhou com café durante toda a vida, a cidade é uma das melhores para a cultura. “Eu tenho outras duas propriedades em que produzo café, uma delas fica aqui perto, em Botucatu (28 km de distância), e o grão que dá melhor qualidade de café é esse aqui de Pardinho mesmo”, confirma o cafeicultor que atualmente planta 15 hectares. “Esse ano realmente a chuva acabou estragando um pouco a nossa colheita. Eu sempre coloquei lona no solo para colher e poder separar o que já estava no chão dos melhores grãos, mas como a chuva derrubou muito, eu resolvi não usar a lona e juntar tudo”, explica Bosco. Com a altitude das terras, o produtor sempre conseguiu exportar a produção. “Antes eu vendia direto para os exportadores, hoje continuo vendendo para exportação, mas não de forma direta”, afirma o produtor de 78 anos.

Mudanças no campo

Com a maior demanda por grãos de qualidade provavelmente teremos algumas mudanças no campo. Adilson Pauletti, que há oito anos produz café, está buscando conquistar certificações, devido ao valor que o mercado internacional dá para esses documentos. “O consumo de café de alta qualidade, o gourmet, representa 4% do mercado nacional, são 600 mil sacas por ano, e o quesito faturamento representa 7% de todo o café que é produzido no Brasil”, explica Nathan Herskowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). “Para o produtor, essa demanda é ótima porque ele pode investir em qualidade, em certificação porque ele sabe que será valorizado por isso”, afirma Herskowicz.

Algo muito importante para os cafeicultores é a instrução normativa que o governo está para implantar que determinará um limite de qualidade mínimo do café. “O Ministério da Agricultura está finalizando estudo para uma instrução normativa que vai limitar a qualidade do café no Brasil. Acredito que até o final do ano isso já esteja resolvido”, diz o diretor da Abic. Realmente o assunto está ganhando espaço no Brasil e no mundo e Andrea Illy, presidente da Asic, a maior conferência mundial do café, comenta a mudança sobre a produção de café. “Antigamente, nós discutíamos produtividade por hectare, hoje as coisas mudaram e nos preocupamos com qualidade, sabor e saúde. Hoje o produtor tem que focar em qualidade e consumo”, afirma Illy.

Muito se fala sobre as mudanças na produção de café com o aumento da temperatura global. Alguns cafeicultores da região de São Paulo e Minas Gerais estavam com medo do calor acima da média acabar com as lavouras. “Mesmo que o aumento de temperatura do planeta ocorra, nós já temos tecnologia para solucionar o problema. Basta arborizar os cafezais, o que já é muito usado na Colômbia, por exemplo. Temos dados do Paraná e no interior de São Paulo que a arborização abaixou 2º.C. Se a temperatura variar, bastar ter uma mudança na atitude que atenua o problema da temperatura”, explica o engenheiro agrônomo do IAC, Roberto Tomazzielo.

Maior conferência do mundo (ASIC 2008)

Em setembro, o Brasil sediou a maior conferência do café do mundo, a ASIC (“Associação para ciência e informação sobre café”, traduzido literalmente). “Hoje o Brasil é o maior produtor de café e o segundo em consumo. Mas em 10 anos o País já deverá ser o maior consumidor também, ultrapassando os EUA”, afirma o presidente da conferência, Andrea Illy.

Os principais temas da ASIC 2008 foram as tendências de consumo, a ciência do café e a saúde. Experiências que demonstraram a relação entre a ingestão da bebida e a melhora ou prevenção de doenças como Alzheimer, por exemplo, foram expostas na conferência que ocorreu em Campinas, no interior de São Paulo.


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