Edições Anteriores


FEIJÃO - PEQUENOS, PORÉM, PRODUTIVOS!
rev 127 - setembro 2008

Pequenos e médios produtores do município do Rio das Ostras (RJ) mostram que apenas faltava um incentivo, para fazer toda a diferença.

Os produtores do município do Rio das Ostras, no Estado do Rio de Janeiro, já colhem os feijões plantados nos meses de abril, maio e junho. Segundo estimativas, dos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca do município, é que a colheita encerre até o final de setembro e alcance 200 toneladas.

Hoje, Rio das Ostras vive uma nova realidade. Além de nos últimos anos, o município receber altos investimentos aplicáveis em infra-estrutura, provenientes dos royalties da Petrobrás, o turismo é também um forte aliado na região Baixada Litorânea do Rio de Janeiro, por causa das suas praias, como a Praia da Tartaruga, Praia do Centro, entre outras. Porém, ao contrário do que se imagina, lá não se vive só da pesca e do turismo. Há quatro anos, os moradores vêm apostando em uma nova renda: o cultivo de feijão. Hoje, Rio das Ostras mantém a maior produtividade do Estado. E a safra tem se mostrando com uma das melhores, nos índices da média nacional. “Em 2005, eram 35 produtores, em uma área de 49 hectares e que alcançaram uma produtividade média de 680 quilos. Em 2006, a safra colhida por 41 agricultores – após investimentos com máquinas, implementos agrícolas e sementes certificadas – alcançou a produtividade média de 935 quilos. No ano seguinte, eram 55 produtores, em uma área de 73 hectares. Com isto, a produtividade média chegou em torno de 1.150 quilos. Já em 2008, são 119 atuando em uma área de 139 hectares e com uma expectativa de produtividade em torno de 1.200 quilos de feijões”, diz o diretor do Departamento Agropecuária da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca, Alexandre Tadeu Santiago Biscaia.

O êxito da cultura no município é resultado do programa “Renda no Campo”, realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca para incentivar o plantio de culturas, como o milho, aipim e o feijão. O objetivo do programa, que no caso do feijão também recebeu o nome carinhoso de “Feijão Maravilha”, é agregar renda à atividade de produção agropecuária, por meio de diversos projetos de fomento desenvolvidos em conjunto com os pequenos e médios produtores da cidade. Neste caso, a Prefeitura oferece apoio técnico e insumos e os produtores custeiam isto fornecendo o excedente do que iria ser vendido, para escolas, hospitais e creches da cidade. Além disso, as sacas são comercializadas nas feiras pelos próprios produtores, com preços tão similares aos de marca dos supermercados. E é isto, que move a economia interna de Rio das Ostras.

Como forma de estimular a produção, este ano, a contrapartida em feijão do agricultor ao município pode ser menor quanto maior for a sua produtividade (produção por hectare). Para o secretário do Meio Ambiente, Agricultura e Pesca, Ivan Nóe, foram muitos benefícios alcançados pelos produtores. “O principal é a renda. Este é o ganho mais visível. Com a produção atingindo níveis mais elevados, o produtor fica estimulado e confiante e, em muitos casos eleva até sua auto-estima. Este é um retrato bem diferente de anos atrás, onde a produção estava estagnada”, diz. “O feijão é uma cultura de agricultura familiar e teve mais intensificação em 2005, após a parceria entre a Prefeitura e os produtores. A região já cultivava a plantação, porém, não tinha registros de safras e nem números significativos”, comenta o secretário.

Outro problema que vinha ocorrendo na região é que após vários investimentos, Rio das Ostras ganhou visibilidade imobiliária. “A pressão para construções de novas moradias, principalmente, o aparecimento de muitas áreas para lazer, fizeram com o que o pequeno produtor vendesse suas terras e migrasse para a cidade. Hoje, a história é outra”.

De acordo com o secretário, o clima, o solo e a dedicação dos produtores favorecem a alta produtividade. Aliado, é claro, a assistência técnica permanente. “Futuramente, a idéia é ajudá-los a estruturar uma cooperativa, para favorecer a comercialização e agregar valor ao produto, já que o custo da produção ainda é alto em comparação aos demais estados. Mas neste momento, podemos afirmar que o feijão mudou a vida dos produtores. E porque não dizer, que o município virou a nova capital do agronegócio”, enfatiza Nóe.

Já para o diretor do Departamento Agropecuária da Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca, Alexandre Tadeu Santiago Biscaia, o feijão é também ponta-pé inicial para promover outras lavouras. “A cada ano, mais agricultores participam do projeto. O número de participantes é quase três vezes maior que no início do programa. Em 2005 eram apenas 35, em 2008 já são quase 119 trabalhadores, que na média somam até 2 hectares cada um”, menciona o diretor.

O Feijão do Otimismo

Plantando feijão há pelo menos 40 anos, o agricultor Irenio Rangel Guimarães está há pelo menos 13 na cidade de Rio das Ostras, cultivando o grão. Com 60 anos, o plantador viu o seu terreno de 2 hectares, no bairro de Cantagalo, registrar uma safra de aproximadamente 4 toneladas de feijão no último plantio – 500 quilos a mais que a última colheita. Agora ele está mais otimista do que nunca. “Eu sempre plantei o feijão, mas a colheita nunca foi tão prática e moderna como hoje. A prefeitura manda pra cá o maquinário e eles fazem tudo sozinhos. Antes, tinha de catar tudo na mão, num esforço danado. Com a idade chegando, é difícil plantar, colher e vender tudo sem uma estrutura dessas por trás. Hoje o trator vem e bate o feijão, com mais velocidade e higiene”, comenta o agricultor que vende o feijão pelo preço de R$ 2 o quilo.

Segundo conta, o grão, cultivado sem agrotóxico, atrai o gosto de consumidores especialmente interessados em adquirir produtos saudáveis. “O pessoal vem de longe comprar o feijão plantado aqui em Cantagalo (que fica cerca de 15 km do centro da cidade). Como aqui é uma área rural, eles vêm de carro e compram quilos e mais quilos de uma só vez. O feijão que tem mais qualidade acaba saindo mais barato que no supermercado da região”, diz o agricultor sorridente.

Outro produtor que participa do programa, desde 2005, é Waldemir Alves Barcelos, o “Seu Demir”. Atualmente, o produtor cultiva uma área três vezes maior que naquela época. “Com apoio dos técnicos da Prefeitura a gente vem evoluindo muito. Antes, a gente plantava, mas não tinha a expectativa boa que temos hoje. É garantido que teremos uma boa safra e dependemos disso para manter um bom rendimento”, afirma o agricultor.

Neste ano, parte da colheita revertida à Prefeitura será armazenada. Os grãos serão beneficiados e servirão como sementes no plantio do próximo ano.


Edicões de 2008
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES