Durante algum tempo, estes produtores foram concorrentes entre si, mas depois
começaram e compartilham até hoje diferentes subprodutos da uva.
Os bagaços da fruta, por exemplo, que sobram da produção
de vinho da família do Sr. José Antônio Boschini, são
reaproveitados pelo também vitivinicultor Sr. Joaquim Galvão, Seu
Juca, como é mais conhecido. As sobras (que são as películas,
sementes e eventuais folhas) viram matéria-prima para produzir a graspa
ou bagaceira, também conhecida pelos italianos como grappa.
Já os vinhos dos dois vitivinicultores, junto com o do Sr. Pedro Maziero,
que por qualquer eventualidade perde o paladar convencional, são reaproveitados
pela bióloga Jacira Tosin, que é responsável pela produção
de outro subproduto do vinho: o vinagre. Deu para perceber que aqui nada
se perde, brinca a bióloga.
Porém, em 2003 eles foram
mais além desta cadeia produtiva, com mais 18 produtores formaram a primeira
associação dos vinhos artesanais de Jundiaí. A intenção
era melhorar as condições de produção do vinho de
cada um. A primeira ação foi contratar uma assessoria técnica,
para realizar as análises, por exemplo, do teor alcoólico e da acidez,
e se equiparam melhor para saber o momento certo de colher a uva. Desde
então, a qualidade do vinho de cada produtor melhorou 70%, diz a
também consultora dos vitivinicultores, Jacira Tosin.
Só
que o vinho produzido de forma artesanal, sem registro, teve problema com a fiscalização
sanitária. Apenas a associação não garantiria
a fabricação e comercialização legal do vinho. E se
cada produtor tivesse de abrir uma empresa para regularizar a produção,
a maioria acabaria desistindo e deixando a atividade, conta o presidente
da ex-associação, José Antônio Boschini. E para atender
a Instrução Normativa (IN) do Ministério da Agricultura,
os vitivinicultores tiveram que dar início a uma outra formação
à de uma cooperativa. E hoje quase um ano e meio após a publicação
da IN 34, a Organização das Cooperativas do Estado de São
Paulo (Ocesp) registrou a primeira cooperativa vinícola do Estado, a Cooperativa
Agrícola dos Produtores de Vinho Jundiaí (AVA). Ainda estamos
engatinhando. Por enquanto, os produtores continuarão produzindo
o vinho em suas adegas. Mas já começamos a estudar a construção
da sede. Estamos nos adequando e solicitando ao Ministério da Agricultura
a aprovação das adegas cooperadas, diz o presidente da cooperativa
recém constituída. O que temos certeza é que com a
cooperativa acabou a informalidade; tem-se uma forma de fiscalizar a produção
de vinho da região, afirma. De acordo com José Antônio
Boschini, a cooperativa (mesmo em fase de implantação) desenvolve
um papel fundamental na agricultura familiar. Sendo a nossa produção
pequena, nós precisamos unir forças para aumentar a quantidade de
vinhos, destinado para as vendas, argumenta. A cooperativa também
ficará encarregada do envase do vinho, a produção poderá
alcançar 150 mil litros/ano e a comercialização continuará
sendo feita diretamente nas adegas das famílias, aos turistas que visitam
nossa região, conta.
Segundo a bióloga Jacira Tosin,
além de dar continuidade aos serviços realizados pela associação,
a cooperativa também deve facilitar as questões burocráticas
para os cooperados e formalizar a produção de vinho. A instrução
normativa, explica ela, permitirá que os produtores saiam da clandestinidade.
Isto é o que acontecerá com o Sr. Joaquim Galvão
Seu Juca, proprietário da Adega Juca Galvão. Com
a associação a nossa situação melhorou. Agora com
a cooperativa só iremos ganhar, né! Se não formássemos
a cooperativa talvez já tivéssemos parado de produzir, diz
Seu Juca. Antes não sabia a quem pedir ajuda. Hoje, já
temos toda assistência e apoio do ministério da agricultura. Isto
é importante pra nós que somos agricultores, gente que enfrenta
sol a sol. Estou até pensando em plantar mais na próxima safra
e atender demanda do vinho, conta sorridente o produtor.
Na adega
Maziero, no bairro Caxambu, as mudanças para atender o IN já terminaram.
Construí um galpão maior, com pé direito de cinco metros
e piso no chão e azulejos na parede, até o teto, diz. Agora,
com a cooperativa, ele espera trabalhar mais tranqüilo e melhor muito a produção.
Estamos dentro da lei e a nossa vantagem é que podemos trabalhar
juntos e ser mais unido. A união faz a força, certo?, diz
Sr. Pedro Maziero, que produz em torno de 35 mil a 40 mil litros de vinho por
ano. Produtores
do vinho no projeto de Desenvolvimento Sustentável Diante
desta nova estrutura, de cooperativa, os vitivinicultores chamaram a atenção
do Banco do Brasil, que decidiu apóia-la com o programa DRS (Desenvolvimento
Regional Sustentável). De acordo com o gerente do banco regional de Jundiaí,
Gilberto Orlandi, a instituição tem uma tradição histórica
de apoiar muitos projetos que são voltados para a fixação
do homem no campo. O papel da instituição no programa do desenvolvimento
sustentável é identificar onde estão estes projetos implantados
e qual o potencial para o desenvolvimento sustentável. A partir deste ponto
buscamos atuar como facilitadores e trazer para a mesa de discussão a Prefeitura,
a Casa da Agricultura com a intenção que eles auxiliem o produtor
na sua atividade, ressalta. Outro ponto aponta o gerente é que futuramente,
a instituição também poderá fornecer a estes vitivinicultores
linhas de créditos com mais facilidades. |