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VINHO: Sucesso garantido com união!
rev 124 - junho 2008

Vitivinicultores familiares se unem para fundar uma cooperativa. Com isto, eles pretendem aumentar a renda, a qualidade dos vinhos e sair de vez da informalidade. As histórias das famílias Boschini, Galvão, Maziero e Tosin se misturam a de centenas de imigrantes italianos que se estabeleceram no Brasil no início do século 19. Além do mesmo destino (onde muitas serviam aqui de mão-de-obra para a plantação de café, principalmente em São Paulo e, posteriormente, no cultivo de uva) algumas dessas famílias traçam agora outro caminho e reúne esforços para dar continuidade a uma antiga tradição: a fabricação de vinho. Eles são vitivinicultores da cidade de Jundiaí, interior de São Paulo.

Durante algum tempo, estes produtores foram concorrentes entre si, mas depois começaram e compartilham até hoje diferentes subprodutos da uva. Os bagaços da fruta, por exemplo, que sobram da produção de vinho da família do Sr. José Antônio Boschini, são reaproveitados pelo também vitivinicultor Sr. Joaquim Galvão, “Seu Juca”, como é mais conhecido. As sobras (que são as películas, sementes e eventuais folhas) viram matéria-prima para produzir a graspa ou bagaceira, também conhecida pelos italianos como “grappa”. Já os vinhos dos dois vitivinicultores, junto com o do Sr. Pedro Maziero, que por qualquer eventualidade perde o paladar convencional, são reaproveitados pela bióloga Jacira Tosin, que é responsável pela produção de outro subproduto do vinho: o vinagre. “Deu para perceber que aqui nada se perde”, brinca a bióloga.

Porém, em 2003 eles foram mais além desta cadeia produtiva, com mais 18 produtores formaram a primeira associação dos vinhos artesanais de Jundiaí. A intenção era melhorar as condições de produção do vinho de cada um. A primeira ação foi contratar uma assessoria técnica, para realizar as análises, por exemplo, do teor alcoólico e da acidez, e se equiparam melhor para saber o momento certo de colher a uva. “Desde então, a qualidade do vinho de cada produtor melhorou 70%”, diz a também consultora dos vitivinicultores, Jacira Tosin.

Só que o vinho produzido de forma artesanal, sem registro, teve problema com a fiscalização sanitária. “Apenas a associação não garantiria a fabricação e comercialização legal do vinho. E se cada produtor tivesse de abrir uma empresa para regularizar a produção, a maioria acabaria desistindo e deixando a atividade”, conta o presidente da ex-associação, José Antônio Boschini. E para atender a Instrução Normativa (IN) do Ministério da Agricultura, os vitivinicultores tiveram que dar início a uma outra formação à de uma cooperativa. E hoje quase um ano e meio após a publicação da IN 34, a Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (Ocesp) registrou a primeira cooperativa vinícola do Estado, a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Vinho Jundiaí (AVA). “Ainda estamos ‘engatinhando’. Por enquanto, os produtores continuarão produzindo o vinho em suas adegas. Mas já começamos a estudar a construção da sede. Estamos nos adequando e solicitando ao Ministério da Agricultura a aprovação das adegas cooperadas”, diz o presidente da cooperativa recém constituída. “O que temos certeza é que com a cooperativa acabou a informalidade; tem-se uma forma de fiscalizar a produção de vinho da região”, afirma. De acordo com José Antônio Boschini, a cooperativa (mesmo em fase de implantação) desenvolve um papel fundamental na agricultura familiar. “Sendo a nossa produção pequena, nós precisamos unir forças para aumentar a quantidade de vinhos, destinado para as vendas”, argumenta. “A cooperativa também ficará encarregada do envase do vinho, a produção poderá alcançar 150 mil litros/ano e a comercialização continuará sendo feita diretamente nas adegas das famílias, aos turistas que visitam nossa região”, conta.

Segundo a bióloga Jacira Tosin, além de dar continuidade aos serviços realizados pela associação, a cooperativa também deve facilitar as questões burocráticas para os cooperados e formalizar a produção de vinho. A instrução normativa, explica ela, permitirá que os produtores saiam da clandestinidade.

Isto é o que acontecerá com o Sr. Joaquim Galvão “Seu Juca”, proprietário da Adega Juca Galvão. “Com a associação a nossa situação melhorou. Agora com a cooperativa só iremos ganhar, né! Se não formássemos a cooperativa talvez já tivéssemos parado de produzir”, diz “Seu Juca”. “Antes não sabia a quem pedir ajuda. Hoje, já temos toda assistência e apoio do ministério da agricultura. Isto é importante pra nós que somos agricultores, gente que ‘enfrenta sol a sol’. Estou até pensando em plantar mais na próxima safra e atender demanda do vinho”, conta sorridente o produtor.

Na adega Maziero, no bairro Caxambu, as mudanças para atender o IN já terminaram. “Construí um galpão maior, com pé direito de cinco metros e piso no chão e azulejos na parede, até o teto”, diz. Agora, com a cooperativa, ele espera trabalhar mais tranqüilo e melhor muito a produção. “Estamos dentro da lei e a nossa vantagem é que podemos trabalhar juntos e ser mais unido. A união faz a força, certo?”, diz Sr. Pedro Maziero, que produz em torno de 35 mil a 40 mil litros de vinho por ano.

Produtores do vinho no projeto de Desenvolvimento Sustentável

Diante desta nova estrutura, de cooperativa, os vitivinicultores chamaram a atenção do Banco do Brasil, que decidiu apóia-la com o programa DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável). De acordo com o gerente do banco regional de Jundiaí, Gilberto Orlandi, a instituição tem uma tradição histórica de apoiar muitos projetos que são voltados para a fixação do homem no campo. “O papel da instituição no programa do desenvolvimento sustentável é identificar onde estão estes projetos implantados e qual o potencial para o desenvolvimento sustentável. A partir deste ponto buscamos atuar como facilitadores e trazer para a mesa de discussão a Prefeitura, a Casa da Agricultura com a intenção que eles auxiliem o produtor na sua atividade”, ressalta. Outro ponto aponta o gerente é que futuramente, a instituição também poderá fornecer a estes vitivinicultores linhas de créditos com mais facilidades.


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