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BIODIESEL: “VAMOS PLANTAR GASOLINA!”
rev 122 - abril 2008

A euforia que tomou conta do agronegócio brasileiro em relação aos biocombustíveis se justifica. Com o preço elevado do petróleo, com as condições favoráveis oferecidas pelo país, e com o desenvolvimento acelerado das pesquisas envolvendo o biodiesel, o Brasil se vê diante de uma nova e promissora perspectiva. Apesar disso, é imprescindível planejamento e seriedade para não comprometer a produção nacional de alimentos e encarar a disputa por espaço no mercado internacional sem “calcanhares de Aquiles”. A partir de janeiro o diesel comum passou a ter 2% de biodiesel na fórmula. Isso acarretou mudanças na produção de “combustíveis limpos” no Brasil. Se em janeiro de 2005 o país não produzia um litro sequer de biodiesel, em 2008 serão fabricados 1,3 bilhão de litros.

Comparando os meses de dezembro dos últimos três anos, percebe-se o aumento superior a 4.000% (dezembro de 2005 a 2007). O crescimento assustador é compreensível devido à exigência do governo em incluir o biodiesel ao combustível comum.

Algumas usinas estão sendo ampliadas e novas estão em fase de implantação. Atualmente, a capacidade de produção brasileira é de 2,4 bilhões de litros/ano. Contando as indústrias que estão solicitando autorização do governo o número ultrapassa quatro bilhões de litros.

Existem duas fontes de matéria-prima para a produção de biodiesel: óleos vegetais e gorduras animais. Os óleos vegetais correspondem por cerca de 94% da produção nacional. No caso de gorduras animais, as mais comuns são o sebo bovino e a banha de porco.

Apesar da variedade de fontes, praticamente 90% é produzido da soja. Não porque o grão contenha grande porcentagem de óleo, nem mesmo devido ao baixo valor. Na verdade, é “por conta da logística existente e devido aos 22 milhões de hectares plantados no Brasil”, explica Frederico Duraes, Chefe Geral Embrapa Agroenergia. A quantidade de soja plantada oferece logística e dá segurança de fornecimento às usinas.

Para o futuro, a intenção é que os fabricantes deixem de usar soja e passem a utilizar produtos diversos, como a semente do algodão, mamona, girassol, entre outros. O caroço do algodão sempre foi, e ainda é, usado para produzir óleo alimentício, mas com o destino ao biodiesel, ele passa a ter mais valor. E esse é um dos desafios da Embrapa Agroenergia, agregar valor aos produtos. A entidade vem pesquisando algumas espécies a fim de encontrar as melhores oportunidades para o produtor e para toda cadeia.

O órgão pretende detectar quais são as espécies mais eficientes para cada tipo de solo e clima e desenvolver sementes visando aumento da produtividade. Além disso, também realiza diversos trabalhos específicos. Exemplo disso é a Mamona. Um dos desafios é tornar a semente apta para o plantio em grande escala, já que ela possui cerca de 50% de óleo. Além disso, a torta contém uma toxina que impede o uso na alimentação de animais. Com o estudo, além de melhorar a produtividade, a toxina deverá ser excluída e a torta poderá ser comercializada para alimentação animal. A venda da torta é essencial para agregar valor ao produto e conseqüentemente reduzir o preço do biodiesel.

Os estudos não estão encerrados, mas a expectativa dos pesquisadores da Embrapa e dos Ministérios (do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) é que as mais usadas nos próximos cinco anos sejam o girassol, o pinhão manso,a mamona, o algodão, o dendê, o amendoim e a soja.

O aumento da produção deve se manter por um longo período já que o governo determinou a porcentagem mínima de biodiesel de 3% em julho desse ano e de 5% para 2010. “E não há por que a indústria automobilística brasileira não começar a pensar em produzir um motor totalmente a diesel, porque não há nenhuma razão para que a gente não use biodiesel”, discursou o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.

O Brasil tem condições de ser uma potência nessa área. Isso porque as matérias-primas são grãos, amêndoas e sementes vegetais, todas provenientes do solo – o que não falta no Brasil. Além de o país possuir solo e clima variados, há alguns vegetais que podem ser cultivados em solos secos, como o caso do Pinhão Manso.

Exportação

As condições produtoras brasileiras deverão tornar o país o maior produtor de biodiesel. Além do consumo interno, que deverá chegar a 2,1 bilhões de litros em 2010, existe grande possibilidade de o Brasil exportar o combustível para a Europa. “O mercado externo será bom para o Brasil”, afirma o Ministério. E o especialista da Embrapa concorda. “Pode-se exportar no futuro. Ele tem um lastro de crescimento muito grande. Pode se tornar o programa do Brasil de energia”, afirma Frederico.

O velho continente utiliza o combustível há mais tempo que o Brasil e já apresenta maior mistura do biocombustível ao diesel - apesar de não ser determinado pelo governo. A grande questão é que a Europa precisará de algum fornecedor do combustível, pois ela não terá terra disponível para plantio. E o Brasil já tem produção e investimento em tecnologia, além de quantidade e qualidade e solo.


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